“Time To Be Free” é o nome do primeiro disco solo do maestro André Matos. Aliás, é um ótimo álbum, mas por inúmeros motivos ele não recebeu o alcance e o reconhecimento que merecia.
Você, jovem padawan que adora este álbum e provavelmente nem deve estar entendendo nada ao vê-lo neste quadro de obras injustiçadas, te peço calma. Já você, veterano de batalhas que se lembra da época em que “Time To Be Free” chegou às lojas, não adianta se fazer de sonso…
Eu vou arrancar seu coro nesta resenha!
Estilo em baixa
Hoje, André Matos é uma unanimidade entre fãs de Metal no Brasil (com toda a justiça), mas nem sempre foi assim. Em 2007, a modinha do momento entre os “trues” (sempre eles, né!?) era odiar, desdenhar, minimizar e esculhambar, as obras gravadas pelo maestro André. Como estamos falando de uma época pré-Facebook e pré-redes sociais, os fóruns de debate na internet estavam abarrotados de “haters”. E eles vociferavam as maiores infâmias sobre o Power Metal em geral. Como a maior personalidade brasileira do gênero sempre foi André Matos, era quase um crime se dizer um fã do músico perto desse pessoal.
Ok, o gênero como um todo havia realmente se desgastado e a superexposição que ele teve em boa parte da década de 90 e início dos anos 2000, resultou numa espécie de ojeriza coletiva. Nada e ninguém era poupado, mas pegavam pesado demais com André. Chegou ao ponto em que fãs do Angra e demais bandas nacionais com sonoridade mais melódica começaram a se fechar em uma bolha. Eles “pararam de conviver” nos mesmos ambientes onde se falava de Metal em geral. Os que não se isolaram em bolhas, ficavam quietinhos ao ver os comentários esdrúxulos para “não se queimar” com os descolados e “trues”.
O resultado dessa patifaria é que esse disco passou batido para a maioria dos fãs aqui no Brasil e, até hoje, ele não é muito comentado. “Time To Be Free” nunca recebeu o reconhecimento que merecia e olha que estamos falando de um trabalho simplesmente impecável e repleto de composições avassaladoras.
Banda individualmente excelente
Nesta época, o vocalista André Matos, o baixista Luis Mariutti, assim como o guitarrista Hugo Mariutti, tinham acabado de deixar o Shaman por diferenças musicais com o baterista Ricardo Confessori. Para variar, o nome Shaman estava registrado em posse do baterista e, repetindo o que houve na separação do Angra, Matos e os irmãos Mariutti tiveram que abandonar a marca que ajudaram a criar. Deixar a música não era sequer uma opção, então montaram uma nova banda e desta vez a chamaram apenas de “André Matos”. Desta forma, o vocalista jamais precisaria passar novamente por uma situação como esta e, basicamente, este seria um recomeço totalmente estruturado. Para completar a formação, adicionaram o guitarrista André Hernandes, o baterista Rafael Rosa e, novamente, trouxeram Fabio Ribeiro para os teclados.

Uma viagem ao passado de André
Musicalmente, o debut de André é uma absoluta viagem por todas as fases de sua carreira, inclusive, trazendo Pit Passarel (Viper) como compositor em duas faixas: “Letting Go” e “Remember Why”. O single de maior sucesso foi a energética “Rio”, mas o álbum é um festival de momentos marcantes. A canção título é um épico com mais de 8 minutos de duração que mescla o melhor das sonoridades de Angra e Viper em uma perfeita simbiose. Este olhar pelo passado ainda nos traz “Rescue”, com uma uma pegada a lá Shaman da fase “Ritual”, “Looking Back” e, além disso, “Face The End”, todas estas poderiam facilmente ter figurado no tracklist de “Reason”, também do Shaman.
E o mais gratificante é que o trabalho ainda permite aos músicos seguir adiante com músicas modernas como “How Long (Unleashed Way)” e “Endeavour”. Ademais, André presta algumas homenagens bastante dignas, a primeira no cover de “Separate Ways (Worlds Apart)”, do Journey, e a segunda numa releitura belíssima de “Moonlight”, do Viper.
A produção e co-produção ficaram a cargo de nada menos que Roy Z e do amigo de longa data Sascha Paeth, portanto, nem preciso mencionar que a qualidade sonora do registro é impecável. Amanda Sommerville é a responsável pelos diversos backing vocals e Marcus Vianna toca todo tipo de instrumento “diferente” ou “não habitual” em um disco de Heavy Metal.

Resumindo a história, “Time To Be Free” é um daqueles trabalhos que não deveria de forma alguma ter sido ignorado, mas graças as contínuas babaquices de muitos ditos headbangers na época, além de ter tido receptividade quase nula em seu país de origem, fez com que diversos jovens ouvintes ficassem com uma visão absolutamente equivocada tanto de André Matos quanto de sua obra.
Lá fora é outra história
Ao menos internacionalmente o disco foi muito bem e chegou a obter resultados históricos em países como Russia (4° lugar nas paradas), assim como no Japão (2° lugar nas paradas e também um dos mais vendidos do ano). É lamentável ver que, desde sempre, músicos e bandas brasileiras precisam buscar respeito e reconhecimento em outros países por que mesmo com todo o talento do mundo (e isso André Matos tinha de sobra), é praticamente impossível agradar os headbangers tupiniquins.
Se você foi um dos que deixou esta pepita de ouro passar despercebida mas é muito fã do trabalho do saudoso André Matos, corre atrás do tempo perdido e vá imediatamente colocar suas audições em dia. Se você é muito jovem para se lembrar destes fatos, fica a lição de nunca deixar se levar por regrinhas ou jargões reproduzidos por manadas. Agora, se você é um dos trouxas que ajudaram a criar todo aquele ambiente hostil, em primeiro lugar, pega toda essa sua vergonha e enfia… bem fundo!
Nota: 9,5
Integrantes:
- Andre Matos (vocal)
- Hugo Mariutti (guitarra)
- André Hernandes (guitarra)
- Luis Mariutti (baixo)
- Rafael Rosa (bateria)
- Fábio Ribeiro (teclado)
Faixas:
- Menuett
- Letting Go
- Rio
- Remember Why
- How Long (Unleashed Way)
- Looking Back
- Face The End
- Time To Be Free
- Rescue
- A New Moonlight
- Endeavour
- Separate Ways (World Apart) – cover do Journey
Redigido por Fabio Reis
Andre está no meu Top 3 vocalistas de Metal Melódico!!!! A verdade é que Andre não teve tanto reconhecimento como deveria, fato!!!! Muita gente lembra do ¨projeto¨Shaman…que hoje em dia pode ser considerado projeto, marcou muito na época com André!!!! Time to be free tem boas músicas, bons riffs e tem algo e uma certa mescla entre Angra e Shaman!!!!
Valeu!!!!