Em 1985, o Anthrax lançou o álbum “Spreading The Desease”, foi a estreia de Joey Belladonna nos vocais em um disco completo e o primeiro a realmente colocar a banda em um patamar de franca ascensão na mídia.
Ao vivo, o grupo estava literalmente voando. As performances eram catárticas e o próximo trabalho passou a ser aguardado com muita expectativa. Com a evolução musical notória demonstrada no segundo trabalho, o Anthrax deixou de ser uma banda de bares para tocar em arenas e estádios. Fizeram uma tour com o Black Sabbath e depois foram suporte do Metallica na turnê de divulgação do aclamado “Master Of Puppets”.
Como tudo vinha dando certo, o renomado produtor Eddie Kramer (famoso por ter trabalhado com Jimi Hendrix, Kiss, Peter Frampton, Triumph, Led Zeppelin e outros) foi designado pela Megaforce Records para dar suporte aos thrashers novaiorquinos. E foi aí que quase tudo foi por água abaixo.
Uma visão equivocada
O Anthrax compôs e gravou as faixas de “Among The Living” sem muitos problemas, mas quando começaram as mixagens, os integrantes da banda tomaram um verdadeiro susto. Kramer tinha uma visão muito diferente dos músicos de como o disco deveria soar. Na ótica do produtor, o terceiro registro do Anthrax deveria ter um som moderno e alinhado com trabalhos como “Pyromania”, do Def Leppard.
A ideia era transformar “Among The Living” em um disco palatável para as rádios. Sendo assim, Kramer adicionou uma quantidade insana de reverbs gigantes e estourados, além de todo o tipo de efeitos que deixavam as músicas menos pesadas e mais estereotipadas.
O guitarrista Scott Ian comentou:
“Quando entramos na sala, ficamos paralisados e pensamos, ‘meu deus, o que ele está fazendo?’. Pro inferno com isso, não! Queremos tudo seco, tudo cru, tudo sendo jogado na cara do ouvinte.”
Mas o produtor era um cara conceituadíssimo, era uma espécie de lenda, todos tinham receio de enfrentá-lo de uma forma mais contundente. E é claro que ele não aceitou as reivindicações do Anthrax. Dessa forma, tudo encaminhava para um final trágico, até que Ian resolveu que não. Os dois discutiram aos berros sobre a mixagem e o guitarrista disse o seguinte:
“O Anthrax não precisa ser moderno, você precisa ser moderno e está no limite usando toda a tecnologia à sua disposição. Mas nós pensamos, ‘foda-se isso’, queremos que soe como se o disco tivesse sido feito em 1977”
Scott ainda ponderou:
“Este é um disco do Anthrax, não um disco de Eddie Kramer, você pode seguir em frente e fazer mais 100 discos, esta pode ser a última coisa que faremos, é o nosso álbum, será do nosso jeito, e é só isso que você poderá fazer.”
Convicções não são negociáveis
Foi nesse ponto que Kramer recuou e acabou ajustando a produção para muito próximo do que a banda realmente tinha em mente. Mas o Anthrax ainda não tinha ficado satisfeito com o resultado e levou as fitas para outro estúdio, o Compass Point, onde Chris Blackwell (que tinha trabalhado no álbum “Piece Of Mind”, do Iron Maiden), finalmente, conseguiu fechar a mixagem do jeito que os músicos queriam.
O maior acerto do Anthrax neste episódio foi não ceder e se manter fiel as suas convicções. Muitas bandas não fizeram isso e pagaram um preço alto demais. “Among The Living” é um dos maiores clássicos do Thrash Metal justamente por conta de sua sonoridade crua e energia. Caso Eddie Kramer tivesse vencido o braço de ferro, provavelmente, um capítulo importante da história do Thrash teria sido modificado.
“Among The Living” chegou às lojas em 22 de março de 1987 através do selo Megaforce. Considerado até hoje o masterpiece da carreira do grupo, o disco apresenta hinos do porte de “Caught In A Mosh”, “I Am The Law”, “Efilnikufesin (N.F.L.)”, “A Skeleton In The Closet”, “Among The Living”, assim como a épica “Indians”.
Álbum atemporal, sem ressalvas e feito para apreciação completa da primeira até a última faixa. Boa pedida para hoje, não é mesmo?