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Clássicos: Behemoth – “Pandemonic Incantations” (1998)

“Pandemonic Incantations” é um dos clássicos da banda polonesa de Metal extremo, Behemoth.

Durante o passar dos anos, o Black Metal foi se moldando e construindo vários galhos em sua árvore genealógica de modo que pudéssemos enxergar as principais fases do mais polêmico dos subgêneros do Metal.

Boa parte das bandas acrescentaram e/ou mudaram de caminho em se tratando de sonoridade. Esse segundo caso se encaixa perfeitamente no que o polonês Behemoth se proporia a fazer desde então.

A era Black Metal

Considerado o divisor de águas da banda de Nergal, “Pandemonic Incantations” (1998) é o álbum que guiou a horda polaca até o Death Metal, sendo visivelmente explorado dentro das canções que ganharam uma grande massa corpórea sonora, ampliando o peso e a agressividade dos riffs, porém sem deixar os tremolos, linhas velozes e estridentes de bateria, características do Black Metal de lado.

“Satanica” (1999) também é considerado um desses divisores, enquanto “Thelema.6” (2000) fortalece ainda mais o caminho, mas a história começa mesmo com “Pandemonic Incantations”.

É aqui que o grito contra a falsa luz ecoa mais forte, abalando as estruturas tanto do plano carnal quanto astral.

Os representantes de Gdańsk, Pomerania, decidiram se afastar do som primitivo e com aquele rastro de rascunho proposital, partindo para algo mais trabalhado, equilibrado, agressivo e coeso.

Line-up

O Behemoth tem sua fundação datada em 1991, formado pelo trio à época com Nergal (guitarra e vocal), Desecrator (guitarra) e Baal (bateria).

E em determinado momento foi notado que a trama precisava evoluir para algo no formato já citado acima, e foi com seu terceiro álbum de estúdio que a banda partiu do Black Metal mais cru e primitivo para o algo ainda sombrio, mas com elementos que pertencem ao Metal da morte, tornando sua sonoridade além de obscura, também sanguinária.

“Pandemonic Incantations”

Porém, graças ao espaço nos casts de eventos cada vez mais garantidos para os polacos, a banda conseguiu maior notoriedade frente aos veículos voltados para o Metal.

Embora “Pandemonic Incantations” fosse o responsável por colocar de vez a banda em rota de colisão com o sucesso, este não foi tão divulgado quanto merecia devido à falta de promoção e campanha de marketing em prol do material.

Porém, foi através dele e da extensa turnê realizada na Europa que a banda conseguiu seu primeiro grande contrato, e foi com a Avantgarde Music da Itália em meados de 1998, garantindo à banda o lançamento de dois álbuns, que viriam a ser “Satanica” (1999) e “Thelema.6” (2000), respectivamente.

Clássico Tardio

Mesmo sem vender tantas cópias e mal ser divulgado em seu tempo, “Pandemonic Incantations” ganhou força ao ser encontrado em meio a rica discografia dos caras e ser exaltado a plenos pulmões por grande parcela de seus fervorosos fãs.

Informações técnicas

O álbum foi lançado no dia 2 de março de 1998 via
Solistitium Records.

Gravado entre agosto e setembro de 1997 no Selani Studio e mixado por Jacek Gawłowski no mesmo ano em outubro.

As orquestrações e fraseados de teclado foram constituídas por Piotr Weltrowski.

O próprio Nergal cuidou da produção, arte e conceito de design.

O logo foi elaborado por Marqvis, enquanto Graal ficou a cargo da obra, arte da capa, layout e design.

Já as partes de engenharia tiveram como condutora a figura de Andrzej Bomba.

Stephan Giuliano/Mundo Metal / Clássicos: Behemoth – “Pandemonic Incantations” (1998)

Adam Michal Darski

Portanto, para melhor compreender esse momento da história que iniciou a transformação e evolução da sonoridade da banda de Adam Michal Darski, vamos encarar de perto essa questão junto aos mínimos detalhes contidos na obra.

O artefato sonoro envolto por negro e dourado apresenta-se ao honorável público com “Diableria (The Great Introdvction)” com seu tilintares em forma de notas isoladas, até que a grande massa sonora chega.

O acompanhamento sonoro é envolto pelas chamas destes dizeres:

“Dominus sathanas
Pandemonium
Capricornus
Dominus”

“The Thovsend Plagues I Witness”

A sequência armada pelo exército “de las tenieblas” é marcada pela marcha de “The Thovsend Plagues I Witness”, que faz parte da emenda junto à introdução.

Logo, a camada pútrida de guitarra e baixo, sujos e estridentes, acobertados por uma linha incessante de bateria, dá as cartas nesse jogo de céu e inferno.

Os panos de fundo em formato orquestral são bem colocados por Piotr Weltrowski, enquanto Nergal recita o comunicado em voz plena e grave, até que seus vocais rasgados e gélidos entram em cena.

Blackened Death Metal

A riqueza da poesia nefasta sonora é encontrada através das variações e dos riffs que se complementam.

O Black Metal segue com o poderio marcantes dos discos anteriores, porém com muito mais autenticidade.

Os elementos voltados para o Death Metal ainda são contidos nesse início de filme, mas logo terá seu espaço ampliado ao decorrer do manuscrito.

“Eu era Judas em seu sonho / Quem adorava o dinheiro acima de tudo / eu era o guerreiro romano / Quem te feriu e bebeu o sangue divino / Eu era Pilatos em seu julgamento / Quem cuspiu em seu rosto pálido / Cada espinho era um feitiço pecaminoso / Cada prego o cumprimento da vingança / Pelo qual esperei tantos anos”

Aliás, era como Julius, pai do Chris (Everybody’s Hates Chris), que em um episódio da série disse que estaria em todo lugar que o malfeitor estivesse.

Deixando o humor de lado, é claro que Mr. Satan estava dando o recado para o “crucificado”.

Stephan Giuliano/Mundo Metal / Clássicos: Behemoth – “Pandemonic Incantations” (1998)

“Satan’s Sword (I Have Become)”

Na contramão do paraíso temos a terceira ponta do tridente do rei soberano contornada por “Satan’s Sword (I Have Become)”, que de forma ainda mais direta e ensurdecedora, ataca seus tímpanos com o máximo da potência dos blast beats proferidos por Inferno.

As linhas de guitarra, embora distorcidas e dissonantes em prol do Black Metal, ganham mais notas voltadas ao Death Metal.

Orion

Isso enriquece o artefato obscuro de “múzga” maléfica e sangrenta. Orion faz um belo trabalho de baixo, aliás. Momento de reza, sofrimento e oferendas surgem sem que se perca o compasso.

A canção oferece grandes motivos para festejar e essa celebração é em homenagem à antítese da Eucaristia, que com o gesto sacerdotal nos acolhe e o ser que se proclama como nosso limiar estonteante, aproveitando-se de sua influência direta e relacionada aos corpos carnais vazios, que por sua vez, serviram para espalhar o seu veneno através de seu sêmen, junto ao ventre que corrompera e pronto para carregar mais uma semente do mal.

“In Thy Pandemaeternum”

No quarto capítulo bíblico do sul do céu temos a lança do destino jogada com aquela mira perfeita e trilhada por “In Thy Pandemaeternum”.

A cavalaria infernal ascende ao plano carnal, elevada pelo poderio massacrante dos bumbos e pedais duplos de Inferno, os fraseados viscerais e pesados como rocha bruta de Orion, e interpretada de forma contundente com versos convidativos a uma viagem até o passado, feitos por Nergal.

Pois então, o que dizer das guitarras? Astaroth, Pazuzu, Beherit, Abaddon, Drekavac, Abraxas, Lilith, Succubus, Baal, Chico Xavier, Asterix e Obelix, erguem os braços e fazem o famoso maloik, eternizado pelo saudoso mestre Ronnie James Dio.

“Pai! / Você é cego e surdo? / Velhote / Decrépito e medonho / Escondido na floresta de loucura e ansiedade / Eu sou a besta, tu – o refúgio do amor / Considerando que seu amor como uma barata / Sob minha bota de ferro”

“Driven By The Five-Winged Star”

o amor incomoda até se for bom, te trava e te deixa sem vida sempre que entra em cena. A bota de ferro pode ser associada às botas que levamos da vida, mas se você esmagar essa barata, terá sua reputação suja por este grande amor.

Os detalhes de “Driven By The Five-Winged Star” podem e devem ser conferidos a partir desse grandioso momento.

Apoteose

Grandioso por ser a faixa apoteótica do álbum, melodias que atingem o âmago da alma.

Eu disse melodia? Sim, mas não em questão de ser algo voltado para o Metal melódico, e sim por inserir notas agudas como sopros vindos das montanhas do esbranquiçado norte.

Os solos de guitarra ganham bastante espaço em meio às variações dentro da canção.

É mais vagarosa que suas antecessoras, mas sem deixar a intensidade de lado, possuindo momentos que podemos inserir como um Black/Heavy Metal, até pela condução dos pratos exercida por Orion.

Narrações

Partes narradas enfeitam o versículo e o salmo do submundo até que os solos vão de encontro à vítima.

“Nós escondemos nossos segredos malditamente profundos / E estas são a chave para a glória sempiterna / Para a harmonia do corpo e da alma / Imortalidade, êxtase espiritual e diableria”

Profecias e desejos que contornam a linha do tempo, porém a espera e o avanço pela vingança do impuro diante do seu pregador.

A glória e a soberania eterna permeiam este mundo e nunca a colocarão de lado.

Stephan Giuliano/Mundo Metal

“The Past Is Like A Fvneral”

Em fim, fechando a segunda tríade temos “The Past Is Like A Fvneral” que possui um formato mais tradicional dentro do Black Metal europeu.

Com nuances assertivas, a canção ganha fortes tons de crueldade, impetuosidade e malevolência. O tema envolve a celebração de um nascimento em meio a um passado remoto, carregado de frustações e motivos para vingar-se do verdadeiro mal, mesmo que este nascimento represente alguém mais velho que o próprio mundo.

O passado é como um funeral eterno

O passado é como um funeral eterno. Nergal manda o recado desenvolvido nas sombras do apocalipse.

O passado cheira a um caixão de carvalho, tão molhado e velho. Guitarras que ganham cores vermelho-sangue, mas sem perder o preto fosco carbonizado das trevas.

O passado é como a areia que o coveiro joga em seus olhos. Olhos estes voltados para o baixo condutor de impureza e amplitude maléfica de Orion, somado à bateria esmaga-ossos de Inferno.

O céu está simplesmente em chamas após esse ritual macabro.

“The Entrance To The Spheres Of Mars”

“The Entrance To The Spheres Of Mars” chega para afundar ainda mais a cabeça do anjo Gabriel ao solo!

O poder do rei do submundo cresce durante o tremular do encordoamento.

“Liberdade – disse eu / E então o sol se pôs e o anoitecer / Caiu na minha vida / Transformações e metamorfoses / Foi o que eu experimentei lá, no sul do céu”

Behemoth é uma banda fantástica

O sul do céu golpeia o norte com a sequência supersônica de bateria, incluindo os avanços por terra do baixo, e alavancando o sucesso da batalha com guitarras flamejantes e um vocal digno de um… Behemoth!

“Eu estava golpeando com meus punhos nos tetos dos céus
Muito baixo eu caí, não alcancei o pescoço do padrasto
Embora seu rosto parecia tão perto
Com dedos ossudos desejei apertar a coroa de espinhos
Em vão, pisei a paradisíaca flor do amor
E pisoteio seus direitos aqui, na terra”

Esse trecho destacado acima é interessante por montar praticamente uma história em quadrinhos sobre os acontecimentos entre os mundos superior e inferior.

Behemoth/Divulgação

Horda Nefasta

O desfile da horda nefasta e sangrenta de Nergal é apresentada pelos horrores  de “With Spell Of Inferno” e penúltimo ataque ao falso santo, evocando o nome de Mephisto aos primeiros instantes do hino pantanoso, abrindo espaço para iniciar os atos percussivos de Inferno, até que toda a horda se reagrupa e provoca um almanaque inteiro de sons maquiavélicos, onde riffs influenciados pela ferrugem corrosiva do Death Metal, além de solos vibrantes e estarrecedores, elevam o poder da música descrita.

Reencarnação

A poesia engloba o fato da reencarnação do antidivino e da relação com a imposição do mesmo ao seu hospedeiro, enquanto o ambiente escurece e apodrece impiedosamente ao seu redor.

“Se eu sou quem sou, então bombardearei a raça humana / Com o feitiço do inferno / Eu irei mais fundo o que Dante fez”

Só para destacar um trecho em específico.

Em ritmo de festa no corredor polonês se apresenta ao impetuoso público o fechamento do livro arcano com uma canção impronunciável, chamada “Chwała mordercom Wojciecha (997-1997 dziesięć wieków hańby)”, em que o pano orquestral de fundo está mais presente novamente, servindo como um banquete sob a carcaça imunda do antigo bispo e missionário Wojciecha.

Wojciecha

Um invasor que busca doutrinar outros povos sem que lhe possam questionar ou sequer lhe impedir de colocar os pés imundos em terras sagradas não deveria receber honraria alguma.

A canção é uma mistura de rito operístico com variações vocálicas, hora narrando, hora vibrando, hora convocando para a grande festa em homenagem ao fim do bispo e missionário Adalberto, assim conhecido no ocidente.

Metal em polones

Os representantes dos espíritos da floresta estão prontos para defender suas terras.

Nós somos o mar do Apocalipse, a última esperança de renascer, seu inferno, nosso consolo.

Queda final do Vaticano

A luta pela queda final do Vaticano segue em pauta por mais de mil anos e a sombra daquela cruz de madeira faz com que a humanidade siga sendo corrompida pelo desabrochar das flores venenosas e pelo falso brilho da luz divina.

O final é como em uma apresentação ao vivo. Sem martírio algum, apenas um cortejo e uma festa merecida.

Desfrute da curiosidade referente ao trecho da letra em dialeto local:

“Dzisiaj… ścinamy głowę Watykanu, w koronie
Ludzie, ludzie się od śmierci ociągają
Nienawiść… lecz tego miejsca już nie ma!
Pomścimy! Pomścimy, tak!

Wojna!”

Nergal/Behemoth – Pandemonic Incantations/Official T-Shirt

Texto conclusivo:

Em conclusão, por ser um álbum de transição, “Pandemonic Incantations” é o único a ter esse formato e o último a contar com a sujeira e simplicidade dos álbuns anteriores.

A partir daqui, o Behemoth seguiu seu caminho em uma nova fase, que ampliaria o marcador em seu favor e tornaria a banda uma realidade preponderante e poderosa dentro do Metal extremo mundial.

E se esse álbum fosse melhor divulgado no ano de seu lançamento, teria alçado voos bem maiores dos que obteve.

Curiosidade e breve resumo sobre Wojciecha:

A faixa cantada em polonês, “Chwała mordercom Wojciecha (997-1997 dziesięć wieków hańby)”, é uma lembrança de uma figura chamada St. Adalbert, pertencente ao Vaticano, e que morreu no ano de 997.

Em 1997, completou mil anos da morte de Adalbert, e este recebeu homenagem com o lançamento de uma moeda na República Tcheca no valor de 200 Korun, cerca de 8 dólares, comparado com a moeda americana hoje.

Adalberto, traduzindo para o nosso idioma, foi bispo da capital Praga em 982, chegou a viver como um eremita em Roma no ano de 989, até que lhe chamaram de volta para o antigo cargo na região da Boêmia em 993.

Filho de Slavnik

Diz-se que o mesmo abdicou das riquezas para atender os oprimidos.

Portanto, combateu a poligamia e a idolatria. Vale uma boa pesquisa sobre esse personagem tcheco que se tornou sacerdote antes de figurar como bispo.

Seu pai foi o príncipe Slavník e seu mentor, Adalberto de Magdenburgo, ao qual herdou seu nome após a morte dele e de seu pai, ambos em 981.

O último ato

O último ato de Adalberto foi o de realizar uma vontade que havia idealizado ainda em 977:

o de se tornar um missionário na Prússia.

A confiança aumentou após ter convertido a Hungria.

O Papa lhe enviou à época e tendo o reforço dos soldados do duque da Polônia, Adalberto insistiu em converter os pagãos prussianos, porém sem sucesso.

997

Uma dica: nunca tente derrubar árvores de carvalho em território sagrado ou poderá ser alvo de sacrilégio.

O ato ocorrido em 997 na costa do mar Báltico se tornou um martírio para os cristãos e seu corpo foi comprado por seu peso em ouro por Boreslau, o Bravo. O nome da canção que comemora o fim trágico do bispo e missionário significa: Glória aos assassinos de Adalberto (997-1997 dez séculos de desgraça).

“Burning dirty claws in the wooden eyes of Jehovah
I killed mercy, spitting on the laws of god
I celebrated the birth of power
I fell in love with freedom and the beast
And I spat out the Antichrist from my morbid womb
In order to give life to divine grain
And concentrate the birth of human tragedy and destruction
I envisaged myself as a great magician
Although they called Armageddon the whore
Today I celebrate my birth, though I am elder than the world
I am elder than the world”

Nota: 9,6

Integrantes:

Faixas:

1. Diableria (The Great Introduction)
2. The Thousand Plagues I Witness
3. Satan’s Sword (I Have Become)
4. In Thy Pandemaeternum
5. Driven By The Five-Winged Star
6. The Past Is like A Funeral
7. The Entrance To The Spheres Of Mars
8. With Spell Of Inferno
9. Chwała mordercom Wojciecha (997-1997 dziesięć wieków hańby)

Redigido por Stephan Giuliano

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