Lançado oficialmente em 18 de setembro de 1970, “Paranoid” é, ao mesmo tempo, o segundo e o mais importante álbum do Black Sabbath.
Após 54 anos de sua vinda ao mundo, classificar um clássico como este causa uma enorme dor de cabeça, já que muitos elementos diferentes são dignos de consideração.
Do ponto de vista da influência, é fato que “Paranoid” lançou as bases para futuras bandas pesadas muito melhor do que o debut homônimo.
Black Sabbath e a evolução do Rock para o Metal
Dito isto, em sua própria época, o álbum foi um líder em vez de um seguido assim como empurrou o Rock para reinos novos e sombrios em termos de peso sonoro e temática.
Sua estranheza e peculiaridade inerente, certamente, ajudaram o Black Sabbath a se destacar no passado, e ele continua sendo um álbum fantástico, mesmo meio século depois.
O crescimento do Black Sabbath do debut ao “Paranoid”
O fato mais surpreendente sobre “Paranoid” é que ele saiu apenas um pouco mais de seis meses após o seu antecessor. Ou seja, o crescimento musical que o Black Sabbath mostrou entre os dois é surpreendente. Além disso, muito do desgaste e excessos que eles cometeram na estreia não são presentes em “Paranoid”. Normalmente, esse tipo de crescimento pode levar anos e anos no decorrer de vários álbuns, mas o Sabbath evoluiu em alto grau em tão pouco tempo.
“Paranoid”, “War Pigs” e “Iron Man”, a trinca absoluta
A parte mais significativa do registro é o monstro de três cabeças composto por “War Pigs”, “Paranoid” e “Iron Man”. Quando alguém menciona Black Sabbath, essas três músicas são as que mais provavelmente vêm à mente e pensar que elas vieram de metade de um álbum é impressionante.
Admito que a saturação excessiva de “Paranoid”, especialmente os hits citados, meio que entorpeceu seu impacto para mim. Todo mundo já ouviu “War Pigs”, “Iron Man” e a faixa-título ao ponto da exaustão.
Esse talvez seja o ponto mais interessante e ambíguo, pois não importa quantas vezes você escute, ainda consegue se impressionar, seja pela época em que foi lançado ou pelo desempenho de cada integrante.
“Paranoid”, a canção tapa buraco que deu muito certo
Sem contar o fato de que, a faixa “Paranoid” foi escrita como um preenchimento de última hora. A composição que os caras levaram cerca de 20 minutos para criar e terminar se tornou, inegavelmente, uma das músicas de Rock pesado mais famosas e icônicas de todos os tempos.
O álbum, a princípio, deveria ser intitulado “War Pigs” e a arte da capa carrega o conceito desse título em mente. Mas a gravadora se opôs, muito provavelmente devido à Guerra do Vietnã, considerando também o fato da canção ser um dos mais potentes hinos anti-guerra da história.
“Os políticos se escondem.
eles apenas começaram a guerra.
Por que eles deveriam sair para lutar,
deixam esse papel para os pobres.”
“-fazer guerra apenas por diversão.
Tratar as pessoas como peões no xadrez,
Espere até que chegue o dia do julgamento.”
“Iron Man”
O riff mais notável e distinguível da historia do Metal, “Iron Man” se tornou uma curiosa porta de entrada para muitos ouvintes da geração 2000, visto que faz parte da trilha sonora do filme de mesmo nome da Marvel Studios, lançado em 2008, com Robert Downey Jr interpretando um dos personagens mais famosos da cultura pop de todos os tempos.
Não é brincadeira meus amigos, os garotos de Birmingham devem muitos de seus milhares de fãs á Marvel, visto que não é qualquer veiculo que divulga os clássicos como o cinema blockbuster.
Quando você ouve o álbum em si, você está em uma experiência sombria. Não há canções de hippie ou que falam sobre o poder das flores, em vez disso, você é agraciado com canções sobre guerra, doença mental e corrupção política.
Antes de mais nada, Black Sabbath foi uma das primeiras bandas a falar sobre toda aquela merda que ninguém mais se atrevia. Não só isso, mas a música neste álbum realmente soa maligna, mesmo nos dias de hoje. Os riffs de Tony Iommi criam um sentimento de desespero, neurose e tristeza de uma só vez. Aliás, um ótimo exemplo dessas características está na música “Electric Funeral”. O riff vem diretamente do outro mundo ou pelo menos algo que você ouviria quando recebido nos portões do inferno. Juro por Deus, a primeira vez que ouvi essa música, fiquei apavorado. Não são muitos os álbuns que têm o efeito de fazer um ouvinte se sentir aterrorizado, mas “Paranoid” faz isso muito bem.
Black Sabbath, o Metal 70’s
Nada mal para um álbum que saiu nos anos 70 e essa, justamente, é a beleza do registro. Ele ainda pode causar a mesma reação em alguém hoje como fazia em 1970 e isso aí tem um grande papel no porquê deste álbum ser um clássico. O debut do Black Sabbath pode ter estabelecido o modelo para o Heavy Metal, mas Paranoid foi o primeiro com características de Heavy Metal propriamente ditas.
O debut foi fortemente inspirado no Blues como elemento dominante, mas em “Paranoid”, o Blues ficou em segundo plano para uma abordagem mais selvagem e pesada. Demonstrando, dessa forma, alguns sinais de que Black Sabbath estava se tornando um tanto Progressivo em seu som.
“Fairies Wear Boots”, um hino
“Fairies Wear Boots” é um exemplo ainda melhor disso, pois em meio a variações de ritmo bem peculiares, os solos de Iommi carregam uma veia Blues no seu âmago, um aspecto muito cativante no modo de tocar do Sr. Tony.
Outra melhoria do quarteto é a sua respectiva proficiência instrumental; cada membro melhorou a si mesmo neste álbum.
A evolucação do line-up
Da voz de Ozzy, que tem mais poder e capacidades do que antes, ao som característico da guitarra de Tony Iommi, que se estabelece firmemente neste álbum, como se o primeiro não fosse suficiente.
Neste ponto, Geezer Butler ainda parece ser o músico mais proficiente da banda, enquanto a bateria de Bill Ward é muito mais focada no Rock, em comparação aquela insanidade jazzística que às vezes assumiu no primeiro álbum.
Os temas líricos de “Paranoid” são totalmente implacáveis, deprimentemente e sombrios, com a experiência em primeira mão de um país devastado pela guerra, ajudando, desse modo, a construir toda essa atmosfera e a influência sempre presente das drogas, seja de maneira implícita ou durante a pausa para o café na sessão de gravações.
“Hand Of Doom”
“Hand of Doom” é uma das faixas mais poderosas da discografia. Em particular pelo seu olhar honesto e eloquente sobre o fim da era hippie e o efeito que essa desilusão teve em muitos na época, tudo isso alinhado no mais puro suco do pré-Doom metal que ainda dava seus primeiros passos.
“Rat Salad”
Apesaar todo esse arquétipo em torno da banda e seus primeiros álbuns, nem todas as músicas aqui lidem com o sombrio e o apocalíptico, “Rat Salad”, por exemplo, soa como uma resposta do Black Sabbath a “Moby Dick”, do Led Zeppelin.
Basicamente, um alucinado instrumental de bateria, onde podemos ver ouvir da onde vem toda a influência de Jazz, cortesia do Sr. Bill Ward.
“Planet Caravan”
O que falar de “Planet Caravan“?
Diferente todo o peso e robustez presente no resto do álbum, essa faixa é puramente baseado na natureza atmosférica. Com uma melodia de baixo e guitarra lenta e mais pacífica e uma adição perfeita de bongôs, dando uma sensação quase subaquática e numa composição que descreve uma “viajem” lisérgica pelo universo.
“Navegamos por céus infinitos / Estrelas brilham como olhos / A noite negra suspira / A lua em árvores de prata cai em lágrimas Luz da noite”
Uma das características mais emblemáticas sobre os primórdios do Black Sabbath é como consigo associar algumas faixas marcantes a algum membro específico.
Como exemplo, em “N.I.B”, me vem instantaneamente as estrondosas linhas de baixos de Geezer Butler na mente. “The Wizard,” além da gaita que abre a faixa, me vem, da mesma forma, o desempenho de bateria alucinante de Bill Ward. Mas nada me remete tanto ao Ozzy como “Fairies Wear Boots”, tanto, pela sua voz, pelas letras, pelo ritmo, e é claro pela história que deu origem a essa música.
Reza a lenda, que música é uma réplica cheia de ironia aos skinheads. Na Inglaterra da época, os skinheads não eram racistas, mas punks e anarquistas. Eles geralmente usavam botas, que é como o Black Sabbath obteve o título. Em relação ao resto da composição, Tony Iommi disse:
“Nós fumamos muita droga, então pode ser por isso que algumas das letras são um pouco incomuns”.
A inspiração
A letra foi inspirada por um incidente após um show do Black Sabbath em 1970. A banda foi atacada por um grupo de skinheads, ferindo Tony Iommi e forçando-os a cancelar sua próxima apresentação.
“Fairies Wear Boots” finaliza “Paranoid” com a cara do Ozzy ao meu ver. Pois, é impossível escutar essa música sem vir toda imagem e o arquétipo que foi criado em cima do Madman no decorrer das décadas.
“Então eu fui ao médico, ver o que ele poderia me receitar
Ele disse, ‘Filho, filho, você foi longe demais‘
Pois fumar e ficar doidão é tudo que você faz”
Nota: 9,5
INTEGRANTES :
- Tony Iommi (guitarra)
- Geezer Butler (baixo)
- Ozzy Osbourne (vocal)
- Bill Ward (bateria)
FAIXAS :
1.War Pigs
2.Paranoid
3.Planet Caravan
4.Iron Man
5.Electric Funeral
6.Hand of Doom
7.Rat Salad
8.Fairies Wear Boots
***Na edição norte-americana do álbum, as músicas “War Pigs” e “Fairies Wear Boots” foram intituladas “War Pigs/Luke’s Wall” e “Jack The Stripper/Fairies Wear Boots”.