“Tempo of the Damned”, do Exodus, é um dos maiores clássicos do Thrash Metal do novo milênio. O começo dos anos 2000 não foi nada fácil para o Exodus. Pois, a trágica e precoce morte do vocalista Paul Baloff, em fevereiro de 2002, somada ao hiato desde 1992, deixou incerto o futuro da banda. Diante disso, eles encerrariam as atividades ou chamariam outro vocalista? Para a nossa sorte, os membros remanescentes (Gary Holt, Rick Hunolt, Jack Gibson e Tom Hunting) optaram por continuar e chamar de volta o já conhecido Steve Zetro Souza, que gravara quatro álbuns com a banda, entre 1987 e 1992.
Fim de um hiato de doze anos
Com esse time de peso, a banda rompeu um imenso período de 12 anos sem lançamentos, soltando em 2004 o (já considerado) clássico “Tempo Of The Damned”. Como resultado dos acontecimentos, ele homenageia à memória do saudoso ex-vocalista. Aliás, “Tempo Of The Damned” foi o álbum que colocou o Exodus novamente em evidência dentro do cenário Thrash Metal, em escala mundial.
Firmando uma parceria que perdura até os dias de hoje com a gravadora Nuclear Blast, a banda trouxe um som mais polido, refinado e trabalhado nesse álbum. Além disso, a produção do famoso Andy Sneap foi a “cereja do bolo” para a sonoridade das músicas presentes no disco; é possível ouvir com clareza cada um dos instrumentos em todas as 11 faixas.
Avassalador desde o primeiro acorde
Abrindo o petardo com fúria total, temos “Scar Spangled Banner”. Sim, é um trocadilho com o hino dos Estados Unidos. Com quase 7 minutos de duração, “Scar Spangled Banner” já deixa evidente o que o ouvinte pode esperar do restante do disco (afinal de contas, mais de uma década se passou, né?).
Riffs velozes e, ao mesmo tempo, nada “óbvios”, um vocal furioso, uma bateria precisa e impiedosa e um baixo extremamente nítido que dá base à tudo. Sem dúvidas é um dos grandes destaques aqui.
“War Is My Shepherd”
“War Is My Shepherd”, por sua vez, é mais curta, porém não menos violenta. Em uma entrevista recente, Gary Holt afirmou que vários riffs presentes nessa música já estavam escritos por ele na década de 80. Contudo nunca aproveitados até aquele momento. Com total razão, ela virou um grande “hit” do Exodus e, desde o lançamento, poucas vezes foi deixada de fora do setlist. A história se repete com a próxima faixa.
“Black List” /“Shroud Of Urine”
Batizada de “Blacklist”, aqui temos uma queda de velocidade, porém não de agressividade. Com um refrão grudento e um belíssimo dueto de solos, essa canção coloca todos para “banguearem” quase que em sintonia durante os shows, e assim como previamente dito, é uma música que não pode ficar fora do setlist.
Em seguida, prosseguindo com a audição, somos surpreendidos por uma intro somente de baixo e bateria, que após alguns segundos, passa a ser acompanhada pelas guitarras. “Shroud Of Urine” traz um pouco mais de melodia, especialmente nos (belíssimos) solos de guitarra. Mas, se você é cristão, não leia a letra dessa música.
A quinta faixa do “Tempo Of The Damned” já retoma a velocidade, porém mescla um pouco com a questão melódica e com a quebra do ritmo, na medida do possível. Novamente, existe um destaque extremamente merecido para os trabalhos de guitarra (assim como no álbum inteiro, sem exageros), especialmente na hora dos solos. Rick e Gary fizeram uma parceria, inegavelmente, impecável.
“Culling The Herd”/“Sealed With A Fist”
Retomando à algo “menos rápido”, temos a excelente “Culling The Herd”. Provavelmente a faixa mais cadenciada do track list, porém tão boa quanto as demais. Os elementos previamente mencionados também estão aqui, principalmente a questão de um ótimo refrão. Steve Zetro Souza faz uma de suas melhores performances, mesclando vocais limpos, altos e rasgados em uma única música.
“Sealed With A Fist” já intimida apenas pelo nome, e ao ouvirmos, confirmamos a teoria: mais um belíssimo “soco na cara” por parte do quinteto americano. Assim como em “Blacklist”, aqui também há o resgate de um elemento muito utilizado pelo Exodus nos álbuns anteriores: backing vocals. Mas ficou bom? Com toda certeza.
Essa fórmula de colocar peso e agressividade em músicas não necessariamente (sempre) rápidas como era feito antes, que foi muito utilizada pelo Exodus no “Tempo Of The Damned”, rendeu excelentes canções até o presente momento, e sem dúvidas isso não para por aqui.
“Throwing Down“/“Impaler”
“Throwing Down” é bem construída em todos os sentidos possíveis e mostra, mais uma vez, que velocidade e agressividade não necessariamente precisam andar juntas o tempo todo.Encaminhando pro final, ouvimos a excelente “Impaler”. Quem é ligado na discografia do Exodus sabe que essa música foi escrita ainda na época em que Kirk Hammett fazia parte da banda.
Inclusive, após a sua ida pro Metallica, um riff dessa música foi utilizado por ele em “Trapped Under Ice” (Ride The Lightning, 1984). “Impaler” foi composta em 1982 numa parceria entre Kirk, Tom e Gary, enquanto a letra ficou à cargo do recém falecido Paul Baloff. Sem dúvidas é um grande destaque do álbum, e uma versão extremamente digna de uma música “pré-histórica” até então desconhecida por muitos.
Voz e instrumentos em perfeição
Com vocais gritados, o retorno de um ritmo bem acelerado, assim como solos enfurecidos, a faixa título evidencia algumas coisas:
Exodus estava bem longe de acabar e ainda era capaz de produzir discos maravilhosos (algo que vemos até hoje, 20 anos depois) e que o tempo parecia fazer bem para os membros da banda, uma vez que as performances, individualmente falando, são impecáveis aqui. Sem dúvidas o álbum já pode sim ser considerado um clássico, e vai além: para muitos se trata de um dos melhores trabalhos do Exodus até hoje, se não o melhor.
Jowita Kaminska
A belíssima arte da capa, que traz uma espécie de demônio tocando um órgão, foi desenvolvida pela artista Jowita Kaminska, e sem dúvidas é um espetáculo à parte, pois se conecta diretamente com as músicas, tanto pela questão sonora quanto pelos temas abordados.
“Dirty Deeds Done Dirt Cheap”, do AC/DC.
Em alguns países, “Tempo Of The Damned” trouxe uma faixa bônus, um cover de “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”, do AC/DC. Mas não foi a primeira vez que o Exodus faz um cover do quinteto australiano, e como todos ali são muito fãs deles (especialmente Steve Souza). Portanto, nada mais justo do que fechar o full lenght dessa forma.
Nota: 9.0
Faixas:
- 1.Scar Spangled Banner
- 2.War Is My Shepherd
- 3.Blacklist
- 4.Shroud Of Urine
- 5.Forward March
- 6.Culling The Herd
- 7.Sealed With A Fist
- 8.Throwing Down
- 9.Impaler
- 10.Tempo Of The Damned
- 11.Dirty Deeds Done Dirt Cheap (AC/DC cover, bonus track)
Integrantes:
- Steve “Zetro” Souza (vocal)
- Gary Holt (guitarra)
- RIck Hunolt (guitarra)
- Jack Gibson (baixo)
- Tom Hunting (bateria)
Redigido por: Lucca Ferreira