Sejam bem-vindos ao império polaco do consagrado Vader! Uma das grandes referências do Metal extremo mundial. Aquela que vem lutando desde 1983 contra a falsa música e destrói nos palcos dos mais variados países desde então.
A alcunha de clássico dada ao álbum anunciado aponta para a importância e destaque do mesmo com relação aos fãs da banda como também aos fãs da pancadaria desenfreada de qualidade em geral. Obviamente, existem outros álbuns mais falados e consumidos pelos adeptos do que este, como por exemplo, o irretocável “De Profundis” (1995), considerado por muitos o ápice criativo de Peter e cia. Isso de fato não tira o título desse magnífico disco, mas também não rebaixa o “Welcome To The Morbid Reich” de forma alguma. Provavelmente, se você gosta realmente do som do Vader deverá ter ambos os trabalhos dentro de sua lista de principais e prediletas obras referentes ao encouraçado polonês.
Para mergulhar nesse mar gélido, carregado de distorções e timbres cortantes como mandíbulas de um tubarão faminto, te convido a partilhar deste grande momento do esporte!

Pode não parecer mas acontece que “Welcome To The Morbid Reich” é o décimo álbum de estúdio de Piotr “Peter” Paweł Wiwczarek e seus arqueiros alados. Hoje a banda possui 16 álbuns ao todo e seu mais recente trabalho é o ótimo “Solitude In Madness” de 2020. “Welcome To The Morbid Reich” protagonizou bons momentos, resultando em números expressivos no cenário musical. O álbum venceu a parada da Fryderyk Award na categoria de melhor álbum de Heavy Metal do ano à época, chegou à 17ª posição na Billboard e ao 25º lugar na Hard Rock Albums. Nas paradas musicais de seu próprio país alcançou o 6º lugar. O disco também entrou nas paradas da Alemanha (73º), Suíça (94º), França (154º) e Japão (233º). Com estes números de destaque atingidos, dessa forma fica ainda mais clara a importância desse disco para a banda e para o Metal em si. E quando o assunto é Metal extremo, as dificuldades triplicam para que as bandas possam alcançar melhores posições, e consequentemente maior público. Foi lançado via Nuclear Blast Records no dia 12 de agosto.
O álbum também é marcado por uma curiosidade envolvendo o contrabaixo, pois este foi creditado à figura de Tomasz “Hal” Halicki, porém o instrumento foi gravado por Piotr “Peter” Paweł Wiwczarek e por Marek “Spider” Pająk. Esse arsenal bélico sonoro foi gravado, mixado e masterizado no Hertz Recording Studio. Aproveitando o destaque quanto à ficha técnica do álbum, é muito bom relembrar uma das melhores capas já feitas em favor do Vader, sendo esta assinada por Zbigniew Bielak. A mixagem, masterização e gravação ficaram nas mãos dos irmãos Wojtek e Sławek Wiesławski. Já na parte da engenharia, além do trio citado, este setor contou também com a contribuição de Rafal Konopka. Duas músicas foram co-escritas por H. Maat: a faixa-título “Return To The Morbid Reich” e “Lord Of Thorns”. Durante a jornada serão colocadas à mesa mais notícias e participações a respeito deste artefato circular. Está mais do que na hora de embarcarmos nessa releitura desse grandioso monumento feito pelas forças e inspiração do magnânimo Vader.

Das profundezas do vasto universo a ser explorado, a amálgama tem seu início contornado pela faixa instrumental chamada “Ultima Thule”, trilha que contou com a participação de Siegmar com seus teclados e samples, servindo de abertura para o pesadelo trovejante que carrega de certa forma o nome do disco, mas com uma diferença específica, e que atinge o ouvinte na boca do estômago como um golpe de martelo sem chance de defesa para o pobre infeliz. O sinistro pano de fundo de “Return To The Morbid Reich” torna a sequência dedilhada mais agressiva do que aparentaria ser se fosse tocada sem este rico adereço. Pedais duplos incendiando o cenário e guitarras rasgando os céus são a receita assassina a ser espalhada por toda a extensão territorial de sua moradia. Marcante também é o urro irrepreensível de Peter antes de virar a chave e trazer junto com seus asseclas uma gama de riffs com intervalos milimétricos até virem os primeiros solos de guitarra apresentados primeiramente por Spider e depois por Peter. Uma breve cadência serve de emenda primordial para uma nova elevação sonora até que os guitarristas despejam mais solos, invertendo as posições dos músicos dessa vez. Início fantástico e que abala toda a área rochosa vulcânica do castelo do malevolente rei do submundo. “Décadas se passaram enquanto os cruzados marchavam / Enorme exército abençoado pelo santuário em negro / Guardiões do Império, nosso reino mórbido / Castelos que tocam o céu, palácios escuros onde o mal nunca morre” – Toda a luz é ameaçada pelas bandeiras escuras, enquanto a marcha continua a esmagar, trucidar, arruinar, estilhaçar, esmerilhar e dar o fim definitivo ao povoado da falsa crença obsoleta e ineficaz.
Através dos olhos assassinos um portal se abre para uma nova jornada sonora chamada “The Black Eye” com suas marteladas contínuas e certeiras, representando a terceira ponta de lança do álbum. Esta é uma típica canção que traz uma enxurrada de solos compostos pela dupla Peter e Spider, como momentos até com três partes de solo em que os músicos se revezam. Os riffs são poderosos a ponto de estremecer as paredes e colunas detalhadas da catedral mais alta e intimidadora existente. “Os portões estão abertos, agora os ventos assumem o comando / Crânios humanos sob os pés / “Viemos novamente para reivindicar e reinar” / Olhos cheios de ódio, suas mãos segurando fogo / Poderosos golpes de poder, chicotadas de trovão…” – Os verdadeiros líderes desse castelo envolto por carniçais tidos como humanos estão de volta para recuperar o que lhes são por direito. Agora o mundo carnal terá seu principal e verdadeiro dono. Aquele que rasgou os céus e as regras falsamente divinas para lutar contra toda a enganosa luz. O olho do demônio negro é um portal para os mortos que carregam a mensagem do genocídio contínuo. Você poderá ver o meu último suspiro, mas eu também verei o seu em “Come And See My Sacrifice”, faixa que conta com os esplêndidos backing vocals de H. Maat. As variações e os dedilhados pesadíssimos evidenciam toda a característica voltada para a junção entre o Death e o Thrash Metal. Em determinado ponto o lance mais extremo toma conta do cenário, causando aquela tempestade de areia magnífica que joga longe a sua casca vazia também chamada de corpo. Novamente os solos surgem de maneira sábia e transformam a já excelente faixa em praticamente mais um hino do glorioso Vader. “Você vê a colina no horizonte / Formas escuras, sombras em movimento nos céus ardentes / Apenas siga sussurros, ouça os gemidos distantes / Venha ver um show sádico esta noite” – o último evento antes do beijo da morte e o fim do sofrimento, da luz e de um mundo cansado de seguir coisas sem sentido e sem se dar o luxo de pensar, indagar e expor as tramoias desse manual de sacrifício agonizante.
Os deuses viraram as costas para o mundo e nós sabemos o quão cruéis eles podem ser. Em “Only Hell Knows” podemos notar a desgraça em vida e a solidão em morte sentida pela vibração das cordas das guitarras e baixo que tomam uma direção bastante direta e incisiva. O ímpeto infernal incendeia os vilarejos, e após algumas variações de andamento, temos outro show de solos à parte para tornar as chamas mais brilhantes que a própria luz dita como divina. “Por que uma necessidade de matar / Para lutar, escravizar / Por que uma necessidade de morrer… / Só o inferno sabe” – os deuses se perderam em seus próprios propósitos com disputas fúteis e sem o devido valor. Sem direção e sem perdão eles continuam a se enfrentar sem saber os motivos para tanto. É destronar ou destruir apenas para matar o silêncio. A festa representando os avanços das forças do submundo estão acontecendo a pleno vapor e “I Am Who Feasts Upon Your Soul” está presente para reivindicar o destaque devido para esta reunião de criaturas poderosas que prometem recuperar o trono de seu principal patrono. Os riffs cavalares e esmagadores de crânios de quem vai contra a vontade do “nosso” líder supremo entram em cena excepcionalmente afiados, prontos para fazer o ouvinte sangrar seus tímpanos. Além disso, o histórico de insanidade continua a marcar seu território e fazer o povo maculado pagar por seus atos insolentes, incluindo um tempero bastante especial voltado para o incrível Deicide. As linhas vocais de Peter e a construção dos riffs ligam ao que o espetacular Claustrofobia costuma exercer em seus trabalhos, podendo servir de inspiração aos brasileiros, o que seria algo magnífico. “Meus olhos penetrantes nunca adormecem / Eu sorrio para as lágrimas que escorrem pelo seu rosto / Meu toque frio é o que você teme na noite / Minha respiração é o caminho para o portão do seu inferno” – você é o banquete e a alegria de toda a festa para o da fiel torcida infernal.

A expansiva e soberana introdução nos remete a belos nomes do porte de Pestilence e Dimmu Borgir, que possuem nuances e introduções apoteóticas como esta. Arranque o coração da besta a sangue frio sem cerimônia e preveja as consequências em “Don’t Rip The Beast’s Heart Out”, na qual possamos entender o compasso dessa desolação mundana. As bases e solos podem ter servido de inspiração para muita gente como Arch Enemy, Sepultura, além do já citado Claustrofobia, entre outras grandes bandas de acordo com determinadas semelhanças. O baterista precisa ser citado e é aqui que o gigante Paweł “Paul” Jaroszewicz é colocado, pois seu ritmo e sequências de pedais, pratos e tons enriquecem todo o conjunto da obra, aliado às linhas de baixo muito importantes para manter a pegada do som que carrega a assinatura de toda a composição das forças do mal em meio aos solos mais uma vez sensacionais, e que sempre combinam com o momento da “múzga”, sendo capazes de levantar o próprio inferno. “Eu levantei o inferno / Por fogo e morte / Minha dor se transformou em ira / Sem empatia, sem simpatia” – Os anjos são enviados pela ganância do deus sem fé e que por sua causa, as asas de quem um dia lutou e clamou por liberdade, queimaram… Causando um choro envolto por lágrimas ácidas consumidas por um ódio secular. A sequência da jornada cinematográfica e perigosa aos marinheiros de primeira viagem presenteia o ouvinte com um sonho. E que sonho seria esse? “I Had A Dream…” mostra seu cartão de visitas recheado de notas que chamam os adversários para o combate e é isso o que ocorre. Compassos e viradas que destronam os demônios sem prestígio que assolam o ambiente e são esmagados instantaneamente pelos gárgulas ferozes. Solos com climatizações alternantes entre o espaço sideral e as chamas negras infernais ditam o ritmo da aventura, juntamente com o alicerce percussivo amplamente equilibrado e hábil como em um sonho de terror para a vítima. “Eu vesti minhas asas / Eu desci com fogo e morte / Trazendo-lhes medo e dor / Transformando suas terras em meu domínio – era apenas um sonho em que se tinha a visão e o poder de um deus do inferno / que habitava e dominava todo o território do plano material. Não passava de uma simples e forte febre com dor nos olhos.
“Lord Of Thorns” possui a mesma receita de sua antecessora e premia o acompanhante da jornada com uma bela vista para o mar de lava borbulhante que permeia toda a estrutura do castelo. Solos são despejados como um grande chafariz de fogo, além da força vibracional causada pelos elementos contidos nas partículas de cada acorde alinhado de forma magistral. “Sem esperança eu devo morrer e virar pó cinza / Minha alma voará para os reinos dos mortos / Resistência absurda, sinto que a escuridão toma minha alma / Eu sou apenas, afinal, o escravo do inferno” – a morte sendo sentida ao se aproximar e sendo extremamente detalhada. “A mente ainda existente está com medo mortal / Em breve será apenas um monte de podridão mofada / Língua, coração e todas as minhas entranhas serão / Digerido pelas larvas necrófagas” – trecho a mais para reforçar o acontecimento especial. Logo após temos uma releitura de “Decapitated Saints”, faixa presente no irrepreensível “The Ultimate Incantation”, debut de 1992, e toda a sua veia Death Metal crua, sombria e macabra, sob uma produção melhorada. Linhas vocais velozes e todos os instrumentos explodindo países pequenos de tão blasfema e afável que vem a ser o esplendor de um clássico como este. “Estou no lugar, onde o pecado está por toda parte / E o sangue flui de cada cabeça cortada / Um bilhão de almas sujas decaem no próprio sangue / Aguardando o toque benéfico da força, que os deixa morrer!” – A força que se diz benevolente ataca novamente, enganando a todos por conta de sua luz que cobre toda a veracidade.

Para varrer um pouco da poeira e dos restos mortais deixados pelo caminho após dez batalhas rítmicas históricas, temos a instrumental “They’re Coming…” , cortesia de Spider, combinando com todo o pano de fundo contido no álbum e, colocando em evidência algo voltado tanto para o espaço sem fim quanto para dentro do plano inferior. Serve perfeitamente para abrir os portões para o grande desfecho final chamado “Black Velvet And Skulls Of Steel”. Seus riffs pesados e com a devida cadência colocam presente em minha mente o maravilhoso single que me fez olhar para a discografia da banda em anos anteriores, não completamente pelas suas linhas sonoras, mas muito devido ao seu formato e sua imponência. Estou falando de “Kingdom”, single do EP de mesmo nome lançado em 1998, e que é até hoje um dos melhores sons do Vader para minha nada modesta persona. Excelente faixa que fecha um dos melhores álbuns já feitos por uma banda polonesa. Aproveite para entender um pouco da nobre mensagem em versos: “Nós orgulhosamente seguramos as bandeiras pretas no alto / Marchando pela terra do inimigo / Nós cantamos a canção do diabo”. Mergulhe mais fundo no oceano de lava: “Quem mais pode confiar tanto nos deuses comandantes / Para sacrificar a vida, a alma e o mundo / Agora a guerra está perdida, nossos túmulos são amaldiçoados / Por favor, ore por nós no inferno / Inferno…” – o verdadeiro inferno está em brasas, torrando seres falhos e inférteis, e limpando a área para a marcha prosseguir. A versão estudada do disco contem duas faixas adicionais. São elas: a direta ao ponto “Troops Of Tomorrow” e a excêntrica “Raping The Earth”.
Observações sobre o tema:
Nesse grandioso propósito encaminhado pelo Vader temos a banda indo em direção aos tempos remotos em que havia uma disputa para ver quem dominaria de uma vez por todas este plano. Sendo derrotado injustamente pelo patrono da luz “divina”, o exército da escuridão caiu como um cometa até as profundezas do abismo, e enquanto caía para nunca mais abrir as asas sem chances de retornar ao seu posto, uma vingança fora planejada e traçada com o claro intuito de revanche para recuperar aquilo que lhes pertenciam por direito, segundo os então, vingadores. As canções se interligam e traçam pontos paralelos tão próximos que se você não as nota de imediato, pode achar que são todas iguais, mas vimos juntos aqui que não, até mesmo sendo tratado um sonho e este mesmo entrando em uma questão sobre isso tudo não passar apenas de uma imaginação doentia recortada em pedaços. O reino mórbido busca se reestabelecer e estão mais do que claro os seus reais propósitos após a vitória completa. Seja bem-vindo (a) ao vosso reino… “The Morbid Reich”!
“Black rotting blood invades my ailing flesh
Destroys and burns me down alive
Ulcerated lips stinking of death
Excommunicated creators of mine
Blasphemous words and eyes that bleed
In horrible never ending torment
Waiting for hell my dead body looks ahead
That will be soon the end”
Nota: 9,5
Integrantes:
- Piotr “Peter” Paweł Wiwczarek (guitarra, vocal)
- Marek “Spider” Pająk (guitarra)
- Tomasz “Hal” Halicki (baixo)*
- Paweł “Paul” Jaroszewicz (bateria)
Faixas:
1. Ultima Thule
2. Return To The Morbid Reich
3. The Black Eye
4. Come And See My Sacrifice
5. Only Hell Knows
6. I Am Who Feasts Upon Your Soul
7. Don’t Rip The Beast’s Heart Out
8. I Had A Dream…
9. Lord Of Thorns
10. Decapitated Saints (Re-recorded Version)
11. They’re Coming…
12. Black Velvet And Skulls Of Steel
Redigido por Stephan Giuliano
E como foi citado o mais recente disco do Vader, aproveite para conferir a resenha feita para esse outro grande trabalho dos poloneses, clicando abaixo:
Clássico, bons tempos!!!! Valeu!!!!