“Fair Warning” é o quarto full da banda de Hard Rock, Van Halen.
No ano de 1981, o Van Halen já era uma das bandas de maior sucesso comercial em atividade. Contando com uma trinca inicial louvável de clássicos composta por “Van Halen” (1978),“Van Halen II”(1979) e “Women and Children First” (1980), já eram colhidos os frutos de sua sonoridade já estabelecida e influente.

Pois bem, em abril de 1981, o grupo lançava “Fair Warning”, seu quarto registro de estúdio e marca talvez o álbum mais obscuro de sua discografia. O bom de utilizar o termo “obscuro” para se referir a algo feito pelo Van Halen é que causa um estranhamento instantâneo no leitor, mas logo iremos explicar a razão de tal adjetivo.
Heavy Hard Rock
Os Van Halen Bros e companhia vinham apresentando uma sonoridade calcada no mais puro Hard Rock setentista, espalhafatoso e genial ao mesmo tempo. Eddie já despontava como um dos mais influentes guitarristas desde Eric Clapton e Jimi Hendrix, já que nunca um estilo havia sido tão emulado e exaustivamente copiado por outros guitarristas quanto o seu. Desde de seu debut, podemos ouvir com clareza que o Van Halen estava longe da mediocridade de tantas bandas da surgidas na época. Muito disso se deve, primordialmente, a um certo pioneirismo musical por parte de seu guitarrista. Temos um ponto chave muito importante nessa história, que é o produtor Ted Templeman, famoso pelo seu trabalho de longa data com The Doobie Brothers e o Montrose ainda na década de 70. Já no Van Halen, Templeman foi o produtor responsável pelos cinco primeiros álbuns e também os seus maiores êxitos comerciais.

Sem necessariamente desapegar por completo de sua tão aclamada sonoridade, “Fair Warning“ deixava um pouco de lado aquela “farofada” “fanfarrona” cheia de “fuleragem”, a fim de investir num Hard/Heavy potente. Ou seja, muito diferente de seus antecessores. Daí vem o tal “obscuro” que pressupõe, excentricidades. Começando pela intrigante arte da capa, já temos um vaga noção do que iremos encontrar.
“The Maze”
Trazendo recortes específicos da pintura intimista do artista William Kurelek, intitulada “The Maze”, na qual foi a forma mais eficaz de demonstrar aos médicos do hospital psiquiátrico na qual era paciente, quais eram seus problemas internos. Alex Van Halen descobriu a pintura enquanto procurava por uma imagem que combinasse com a sonoridade do álbum, que por sua vez decidiu usar partes bem distintas da pintura, dando forma á colagem que se tornou oficialmente a arte da capa.

Faixas
Uma curiosa e, ao mesmo tempo, muito criativa introdução de guitarra da inicio ao álbum em “Mean Street”, faixa com aquela pegada que já conhecemos por parte da banda. Aliás, “criativo” e “genial” são termos redundantes para se referir a qualquer composição de Eddie Van Halen. Digamos que seja em “Dirty Movies”, segunda faixa do álbum, que a coisa realmente começa a mostrar sua verdadeira face.
Novamente com uma introdução brilhante entre bateria e guitarra, a faixa toma forma em um Hard Rock cheio de peso, porém com uma melodia e refrão absurdamente grudentos e obscenos. Assim sendo, uma das músicas mais injustiçadas da banda. Já “Sinners´s Swing” é, sem sombra de dúvidas, umas das músicas mais insanas e pesadas da discografia do Van Halen. Absolutamente, todos os aspectos dessa faixa contribuíram, seriamente, para o desenvolvimento do Heavy Metal, posteriormente, de um jeito ou outro.
O timbre de guitarra aqui soa como uma cachorro raivoso acorrentado, assim como o timbre assombroso e intimidador do baixo de Michael Anthony, que não só sustenta todo o peso desse álbum, como também se destaca de maneira cristalina o tempo todo.

Em seguida, “Hear About It Later” é mais uma daquelas faixas com refrão que não sai da cabeça tão fácil, além da clássica e inconfundível pegada do Van Halen. Por outro lado, ainda temos aqui mais um exemplar do baixo pulsante e incansável do Sr. Anthony. Devo novamente enfatizar aqui como a sonoridade do baixo é intensa nesse álbum. Pois é como se instrumento tivesse criado vida e estivesse conversando com o restante da banda.
Peso e potência
Um dos riffs mais potentes já tocados pelo homem da inicio a clássica “Unchained”, uma faixas que deixa muitas das tais bandas da NWOBHM da época no chinelo. Um timbre de guitarra absurdamente genuíno, um riff insanamente pesado e David Lee Roth, ou seja, a receita pronta para o sucesso.

Já “Push Comes To Shove” é uma das pérolas que fica escondida da maioria dos ouvintes e se trata de uma das faixas mais cativantes do álbum. Michael Anthony estava totalmente inspirado na Disco Music quando gravou as linhas de baixo para essa faixa, visto que é inegável a influência de atos seminais do gênero como Donna Summer, Sylvester,The O´Jays e The Tramps, especialmente na soberba condução do baixo. David Lee Roth, por sua vez, canaliza a Janis Joplin que existe (ou existia, a princípio) em sua cordas vocais, mostrando um pouco da versatilidade de sua voz. Ainda assim, de modo geral, a música em si tem um ritmo e melodias simplesmente viciantes.

“So This is Love” talvez seja a única faixa que remeta diretamente ao Van Halen dos álbuns anteriores. Aquele clima festeiro de farra está presente já nos acordes iniciais canção, o ouvinte já antecipa de instantâneo a atmosfera voltando ao eixos. Mas não se deixe enganar, assim como foi citado ainda no inicio, estamos falando aqui de um álbum com uma levada um tanto obscura e isso fica nítido na inusitada e macabra “Sunday Afternoon In The Park”.
Tema Instrumental
A única instrumental do disco traz Eddie Van Halen em uma de suas primeiras viagens lisérgicas nos sintetizadores, algo que seria melhor desenvolvido nos álbuns seguintes, com uma pegada mais “feliz”, muito diferente da sonoridade de mal eminente se aproximando aqui. Não recomendado escutar essa faixa, enquanto se aprecia a arte da capa. Pois, se estará sujeito a alucinações.

Parte final
“One Foot Out The Door” continua onde sua antecessora termina, numa pegada que remete ao Led Zeppelin do final dos 70s, mesclando sintetizadores, bateria e baixo. Apesar de ser uma faixa sem grandes atrativos a não ser o sintetizador rolando o tempo todo, ela encerra o álbum sem comprometer em nada de sua qualidade, mas talvez deixando a desejar que tivesse acabado na faixa anterior.

“Fair Warning” é, sem sombra de dúvida, o álbum favorito da discografia do Van Halen para este que vos escreve. Dentre tantos álbuns geniais dos 10 primeiros anos de existência, o quarto é o que contem tempero e atitude diferenciadas, principalmente por sua abordagem madura.

Ainda que seja o álbum menos vendido da era David Lee Roth, vendendo em torno de duas milhões de cópias e aparecendo na 5ª posição da US Billboard 200, “Fair Warning” foi amplamente elogiado pelos críticos, alguns dizendo que se tratava do álbum mais feroz e pesado que o Van Halen já havia lançado.
Em 2009, a revista americana Esquire listou registro como um dos “75 álbuns que todo homem deveria ter” e na descrição dizia :
“O álbum menos bem sucedido da era David Lee Roth. E o melhor deles.”

Integrantes:
- Eddie Van Halen (Guitarra, Sintetizadores, vocal)
- Alex Van Halen (Bateria, vocal)
- David Lee Roth (Vocal principal)
- Michael Anthony (Baixo, vocal)
Faixas:
- 1. Mean Street
- 2.“Dirty Movies”
- 3. Sinner´s Swing!
- 4. Hear About it Later
- 5. Unchained
- 6. Push Comes To Shove
- 7. So This Is Love ?
- 8. Sunday Afternoon In The Park
- 9 One Foot Out The Door