O Blessed Black é uma banda estreante no certame e que acaba de lançar seu debut nomeado “Beyond The Crimson Throne”, de forma independente, mais precisamente no dia 17 de janeiro. Para os mais íntimos, podemos dizer que essa banda é oriunda de “Cincy” ou “Queen City”, apelidos da nobre e carismática cidade de Cincinnati, no estado de Ohio. Cincinnati é a sede do Condado de Hamilton no extremo sudoeste do estado, banhada pelo rio Ohio, e que a separa do estado de Kentucky.
Antes de mergulharmos na sonoridade dos norte-americanos, vamos à escalação desse time para conhecermos um pouco mais sobre as peças que compõem essa nova máquina de fazer “múzga”. O time é composto por Brad Bellamy no baixo; Ray Bates é o dono das baquetas; Chris Emerson cuida da guitarra; e Joshua Murphy (War Curse) que além de soltar a voz também toca guitarra. Os representantes de “Cincy” praticam uma sonoridade que percorrem as linhas carregadas e obscuras do Doom com um leve tempero ríspido e ardiloso do Stoner, sendo assim uma genuína banda de Doom Metal, ao invés de Doom/Stoner como vi em alguns artigos durante minha humilde pesquisa.
Agora que as mesas foram arrumadas para servir o cardápio principal, convido os nobres e as condessas a me acompanharem perante esta leitura para entendermos todos juntos sobre o que se trata esse tal de “Beyond The Crimson Throne”, e se de fato ele se sobressai e mantém a tocha do estilo acesa perante toda a escuridão que esta vertente proporciona.
Os primeiros giros da bolacha possuída começam e os primeiros ruídos apresentados são de guitarras bem roucas e cavernosas para a abertura de “The White Wolf”, até que todos os instrumentos se apresentam em completa harmonia sombria e malevolente com aquela câmera lenta que pertencente ao estilo. Um solo sequencial para enfeitar essa dança submundana e macabra é executado para complementar a abertura do décimo oitavo portal do inferno. Sob a batuta de “The Black Gate”, os soldados do mundo dos mortos se erguem e caminham em direção ao portão que fora aberto. ”Todos esses anos se passaram / Você nunca deixa de vagar / Tarde demais para voltar agora / Nada mais a chamar de seu / Seu destino é incerto / Guiado apenas pelo destino / Vá agora ao encontro dos senhores do caos / Além do portão preto.”
“Heavy Is The Crown” apresenta um aporte carregado de muito Heavy/Rock setentista com um clima bastante denso e peculiar à proposta inserida. “Cada movimento que você faz desde o dia em que nasceu / Será vigiado e julgado que isso nunca poderá ser desfeito” – cada movimento é vigiado após a fuga pelo portão que fora aberto e não há escapatória para ninguém que não possua uma boa patente no outro mundo. Destaque para o baixo nostálgico e emulsificante de Bellamy. “The Shadows” reforça o que Murphy e Emerson são capazes de fazer com suas guitarras que flamejam trevas incandescentes por toda a extensão sonora existente. “Você sentou / E você assistiu / E você passou / Seu julgamento sobre mim / Verdades giratórias jogando pedras / De dentro da sua casa feita de vidro / Você pensou que poderia se esconder nas sombras e eu / Não notaria / Seus esforços falharam / E meus olhos finalmente se abrem” – com solos e harmonias grudentas e soturnas as mensagens proferidas são entregues de maneira prazerosa.
Enfim, estamos diante da quinta canção intitulada “Arioch’s Bargain”. Tal faixa começa com tudo, já mostrando o arrasa-quarteirão que cada quadra se tornou com o acesso das criaturas do submundo, invadindo mente, corpo e estrutura física geral de cada ser. Black Sabbath puro e um dos pontos mais altos deste pergaminho das trevas. “Eu sou conhecido por muitos nomes / Você os conhece bem / Senhor dos Sete Escuros / Do inferno superior”. Logo adiante damos de cara com uma “múzga” bastante carregada de emoções e de almas penadas presas aos riffs e linhas de bateria, que parecem fazer com que as criaturas maiores vaguem vagarosamente para o citado portão em busca de infernizar, apresentando ao mundo o que de fato ele representa para os outros planos. “Sua vontade de servir / Pode dobrar, mas não quebrar / Vamos descobrir / Quanto você pode aguentar” – tudo isso possui um nome e se chama “Finding The Limits”.
E chegamos ao rodapé deste pergaminho maquiavélico com a faixa “Stormbringer” – som este que possui cara de término de disco em forma de súplica, prendendo o ouvinte e fazendo-o dizer que precisa de um novo disco para prosseguir com sua jornada auditiva, sobrevivendo aos percalços sonoros indesejáveis que este percorrerá mesmo que não queira. “Histórias serão contadas / Dos dias que virão / Espalhados pelos reinos / Quando somos colocados para descansar / Acolheremos a morte / Como um eterno campeão”.
E como um eterno campeão, todos nós encerramos mais esta jornada “muzgal”, entendendo que após a abertura do décimo oitavo portão do inferno, cada vez mais desafios são e serão criados para que enfrentemos de pé e não haverá clemência se alguém desistir no meio do caminho. Seja real ou fantasioso, podemos viajar na nossa própria escrita envolvidos por essa massa sonora que nos faz percorrer diversos mundos sem sair do lugar. E finalizando de fato mais este sagrado momento digo que o Blessed Black inicia o seu percurso de forma bastante honrada, tanto que o próprio disco entrega uma sensação de continuação dessa viagem. Espero que a banda siga em frente e nos brinde com uma dose cada vez maior de todo esse trajeto de um estilo tão incrível como o Doom Metal.
“Your legacy is blood
Sorrow your fate
Nowhere to point the blame
Only you remain”
Nota: 8,8
Integrantes:
- Joshua Murphy (vocal e guitarra)
- Chris Emerson (guitarra)
- Brad Bellamy (baixo)
- Ray Bates (bateria)
Faixas:
1. The White Wolf
2. The Black Gate
3. Heavy Is The Crown
4. The Shadows
5. Arioch’s Bargain
6. Finding The Limits
7. Stormbringer
Redigido por Stephan Giuliano