AFM Records
Desde que o Accept retornou suas atividades e lançou o ótimo “Blood Of The Nations” (2010) com Mark Tornillo nos vocais, o baixinho com cara de invocado UDO havia se tornado sinônimo de escolhas erradas. Os fãs que no começo ficaram apreensivos por ver um Accept sem a sua figura mais emblemática, acabaram caindo de joelhos diante da qualidade inconteste dos discos lançados sem Dirkshneider e o vocalista de voz rouca e estilo marcante parecia fadado ao ostracismo.

Nos últimos dois anos, UDO realizou a turnê “Back To The Roots – Farewell To Accept”, onde em teoria, executaria os clássicos de sua ex-banda pela última vez. O que era pra ser apenas alguns shows isolados de despedida, virou uma longa excursão com direito a gravação de DVD e muito prestígio. Findando este capítulo de sua carreira – se é que alguém acredita que ele nunca mais vai tocar os clássicos, né – UDO decidiu compor um novo registro de estúdio com sua banda solo e, talvez pelo envolvimento com o material antigo nesses últimos anos, o cantor nos apresenta um trabalho digno de sua fase áurea.
É verdade que a banda UDO há tempos não lançava um registro realmente convincente e, muito menos, que pudesse se comparar ao que o próprio Accept vem fazendo de forma brilhante. “Rev-Raptor” (2011), “Steelhammer” (2013), “Decadent” (2015) e outros discos vinham passando meio que despercebidos aos olhos dos fãs e nem de longe se assemelhavam aos grandes momentos da carreira do baixinho. Eis que surge então este “Steelfactory”, um trabalho que certamente mudará esse prognóstico “negativo” e deverá colocar UDO novamente em uma posição de destaque no cenário mundial.
Depois de ouvir por inúmeras vezes as 13 faixas contidas no disco, fica nítida a inspiração no passado e a capacidade de tecer canções que, apesar de soarem datadas e mais do mesmo, conseguem empolgar e encantar o ouvinte de maneira sublime e sem restrições. Dos primeiros minutos da faixa de abertura “Tongue Reaper”, até o final com a linda balada “The Way”, “Steelfactory” esbanja bom gosto e apresenta uma coleção de músicas altamente inspiradas e cheias de energia.
Se você gosta de álbuns homogêneos, onde absolutamente todo o conteúdo parece ter sido colocado ali de maneira cirúrgica, esse é o disco que você precisa ouvir. Em “Steelfactory”, temos de tudo um pouco do que o senhor Dirkshneider já fez de bom em sua carreira. Se você quer ouvir músicas rápidas e agressivas, ouça as ótimas “Tongue Reaper”, “Rising High” e “Eraser”, se quer composições épicas, temos “Keeper Of My Soul” e “Make The Move”, caso queira aquelas músicas pegajosas com refrãos belíssimos prontos pra serem entoados feito mantras, coloque pra rolar as magistrais “Hungry And Angry”, “Raise The Game” e “One Heart One Soul”. Nada por aqui é descartável e mesmo nas composições não citadas, você irá se surpreender e ficar de queixos caídos com a qualidade do material.
Por último e, não menos importante, é necessário fazer alguns destaques técnicos que ajudaram a engrandecer ainda mais o trabalho. Os músicos que compõe a banda de UDO deram um show à parte, Fitty Wienhold (baixo) e Sven Dirkschneider (bateria) compõe uma cozinha altamente funcional, enquanto o guitarrista Andrey Smirnov é, sem brincadeiras, riffmaker à altura do mestre Wolf Hoffmann. O cara mandou muito bem durante todo o disco e gravou solos e linhas absurdamente cativantes.
A produção orgânica de Jacob Hansen é outro ponto a ser exaltado, já que ela é diretamente responsável pela fluidez da audição. A sonoridade é pesada, a timbragem dos instrumentos está perfeita e temos aquele fantástico equilíbrio entre a sujeira e a limpidez.
Grande trabalho!
Em um ano onde o Heavy Metal tradicional foi um dos grandes destaques mundiais com discos altamente cativantes, o nome de UDO seria uma aposta improvável. Na prática, o cantor conseguiu se superar, sair da fase “burocrática” em que passava e se reinventa de forma grandiosa, nos apresentando um álbum sem composições fracas, sem momentos medíocres e com potencial de sobra para brigar pelo pódio com nomes unânimes como Judas Priest e Saxon, por exemplo.

Confesso que fiquei em uma posição incômoda ao ter que dar a nota final para este disco. Em 2018, minha maior média havia sido dada para “Thunderbolt”, do Saxon, (9,1). Me atendo apenas a parte técnica da avaliação, não consigo dar mais do que isso para a obra de UDO e, portanto, ficarei nos mesmos 9,1. O detalhe adicional que deixo registrado é que se alguém me perguntar qual dos discos é o melhor, particularmente eu responderia sem receio que é “Steelfactory”, mas é apenas uma questão de opinião.
Mais do que altamente recomendada, está é uma audição obrigatória!
Nota: 9,1
Integrantes:
- Udo Dirkschneider (vocal)
- Fitty Wienhold (baixo)
- Andrey Smirnov (guitarra)
- Sven Dirkschneider (bateria)
Faixas:
- 1.Tongue Reaper
- 2.Make The Move
- 3.Keeper Of My Soul
- 4.In The Heat Of The Night
- 5.Raise the Game
- 6.Blood On Fire
- 7.Rising High
- 8.Hungry And Angry
- 9.One Heart One Soul
- 10.A Bite Of Evil
- 11.Eraser
- 12.Rose in the Desert
- 13.The Way
Redigido por: Fabio Reis
Não é bem exatamente 13 faixas que possui o Steelfactory, o correto é 14 faixas contando com a bônus “The Devil is an Angel”, que entraria sem problemas no tracklist oficial deste que, para mim, foi o último grande disco do Udo. Steelfactory fecharia sem problemas a discografia do baixinho alemão em nível altíssimo!