Fundada em meados de 2014, a horda de Santiago acabara de lançar seu segundo full-length intitulado “Entropic Increase From The Omega Aeon” via Aeternitas Tenebrarum Musicae Fundamentum e que busca se firmar de vez no cenário sombrio da música maldita. O debut foi lançado no ano de 2016 e se chama “Nitimur In Vetitum” e os assuntos tratados vão de encontro à filosofia e conhecimento antigo relacionados com o lado negro da força. Os asseclas que formam o line up da banda são: Victor “Amon” Garcia (Anuuruk) na guitarra; Martin “Xul” Borquez (Anuuruk) no vocal e baixo; Carlos “C.I.R.R.” Ramírez (Blasart, Christ Ablaze, Istengoat, ex-Gates Of Tyrant, ex-Unblessed, ex-Under The Flesh) na bateria desde 2017.
Novamente citando o Chile, é mais do que certo que quem acompanha e conhece as bandas de lá sabe muito bem que é um dos países em destaque quando o assunto é música extrema. E o que temos aqui é uma das bandas que podem contribuir para a elevação desse patamar musical chileno ao redor do mundo. Mas, será que esse disco contribui para tudo isso ou ficará em esquecimento numa fração de segundos? Veremos a seguir, caríssimo leitor e adepto da sonoridade obscura, gélida e macabra!
O aspecto inicial do disco permeia caminhos mais sujos e pantanosos trazendo a ideia de algo forjado em favor da primeira leva norueguesa de Black Metal. Porém, já nos primeiros acordes de “Ascend Pathos Signis Dómini” – faixa de abertura da horda chilena – a banda mostra que não é apenas por aí que a sonoridade percorrerá. A princípio percebo algo de Behemoth mais precisamente dos dois primeiros discos flertando com uma sonoridade mais atual, digamos assim. “Na infinidade de pensamentos / Sob as sombras da minha mente / Eu tento ver além dos muros da mortalidade / Entre o vale da morte e as montanhas da sabedoria / Encontrei os segredos do cosmos e as chaves negras do tempo” – um ponto a ser destacado são suas passagens filosóficas sobre o inverso universal e todo seu arsenal de mistérios chocantes. Os teclados ao fundo ampliam esse ar pútrido e lúgubre das passagens desse pergaminho sombrio. Em “Destroying The Lamb Instinct”, não demora muito a acelerarem o passo outra vez com uma briga intensa de blast beats e toda extremidade musical possível mostrando uma veia forte voltada para a sonoridade que o Marduk pratica. Não tão barulhenta, mas contínua e cheia de energia do outro mundo até que os teclados contemporizam o clima de acordo com o que fora proposto aqui, lembrando que como uma boa banda de Black Metal que se preze também possui suas passagens em latim. “Eu os invoco meus irmãos – para o sacrifício eterno – das fezes cristãs que estão morrendo! / Traga o corpo dele para a forca – e coloque-o na pira / Até que arde de dor com a chama da nossa escuridão profana / Sem piedade dos beatificados” – obviamente essa parte não é em latim como podemos averiguar, mas escolhi para colocar um sentido maior para o termo chocante que citei acima.
“Entropic Increase From The Omega Aeon” é o terceiro hino da fervura espiritual satânica que dá sequência ao que fora apresentado nas duas faixas iniciais e sendo um pouco mais longa que as anteriores. Os vocais cavernosos de Xul que se moldam e se desconstroem tornando a canção surpreendentemente agonizante são o ponto chave desse trecho do papiro acompanhado por sua linha de baixo consistente. “Todo despovoamento vem com uma terrível tempestade dos ossos humanos, / Sinta o vazio escuro que causa o retorno ao grande colapso / Toda matéria é transformada em nada mais que restos de carne / Morte de toda a sociedade, criada em tempos de devastação em massa.” E em meio a essa encantação toda nos vemos diante o quarto hino do submundo intitulado “Quintessence” – faixa esta que possui uma chama negra forte voltada para o que o Besatt costuma fazer com maestria. “Quando as sombras vierem para mim / A única coisa que sinto / É a fome nos meus olhos / O crepúsculo da minha vida / Está chegando às alturas / Esperando a chama eterna!” – em alguns momentos a voz de Xul possui alguns trejeitos dos vocais de Juan Brujo (Brujeria).
Passando da metade do manuscrito antidivino encontra-se “Tanatophilic Manifestation”. Uma brevíssima introdução para descambar logo de vez para a violência soturna sobrenatural de quem se encontra em posição de possuir o mundo terrestre para si. “Sinto catarse por dentro, autodestruição é tudo que vejo / Forças negras me esperam, desejos baixos possuem meu cérebro!” A sexta praga malevolente nomeada “Nosce Te Ipsvm” traz consigo muito ódio e uma letra em seu dialeto natal. “Subyugando las órdenes de lo establecido / Destruyendo las barreras biológicas de la condición humana / Emergiendo de la existencia inconsciente / A la vida pre mortal, desde la nada increada, hacia un tiempo inmemorial. Agora sim pode-se dizer que o Brujeria virou Black Metal de vez! E C.I.R.R. domina seu kit como ninguém mantendo o lado mais extremo sempre firme.
Em forma de agonia e sofrimento em busca de poder e sabedoria maligna, “The Primordial Chaos Synthesis“ municia seus asseclas para aprimorarem seus conhecimentos infernais. “Os poderes das trevas me dão toda a sua sabedoria / Forças de frieza me concedem toda sua visão.” “Mostre-me os portões estelares de destruição…” As influências citadas continuam a percorrer as entranhas do disco em diversos momentos ao redor desse novo evangelho às avessas. “Hypnoskotomachia Oppositorum” dá as cartas com gritos e urros vindos do submundo da voz de Xul regado a uma guitarra forjada no aço negro conduzida por Amon que eleva o patamar das escrituras contidas neste pergaminho. “A mente está aberta como um portal / Convertendo estimulação externa / No transcendental, visões de inconsciente / ¡Que conectam o real com o irreal, dissociando a sanidade que jaz na loucura!” – esta talvez a faixa mais filosófica e contestadora do certame. E eis que “Iconoclastic Nihilismus” chega para encerrar as mensagens das trevas apoiada na fórmula inicial da faixa anterior. “Reflexão da razão, destruição de doutrinas, descobrindo a vontade da força profana / Profanação do sagrado, negação de todos os valores, libertação da identidade, depuração do ego / Impetuosidade satânica, exuberância da força, construção do pensamento, niilismo no sangue / Vida iconoclasta, revogação de crenças, Aniquilação da fé, elevação do “eu”” – com partes quase faladas, cada trecho acaba ganhando mais destaque e entendimento do que se almeja antes que termine o disco. Seis minutos cravados de pura insanidade filosofal e retroativa mostrando o outro lado da moeda que não recebe luz.
Por fim, devo mencionar que esse é mais um super Power trio que até por possuir uma boa bagagem consegue entregar um material bastante digno e de honra, colocando mais um disco no cenário de grandes lançamentos do ano vigente. Resta saber o que os lendários trevosos de plantão que dizem gostar de Black Metal pensam sobre este novo full length dos nossos hermanos chilenos.
“Vulgus vult decipi, ergo decipiatur / Nolens volens – Consummatum est / Sacriticulus morte – Corpore insepulto, / ¡Vobiscum diaboli for eternity!”
Nota: 9,0
Integrantes:
- Martin “Xul” Borquez (vocal e baixo)
- Victor “Amon” Garcia (guitarra)
- Carlos “C.I.R.R.” Ramírez
Faixas:
1. Ascend Pathos Signis Dómini
2. Destroying The Lamb Instinct
3. Entropic Increase From The Omega Aeon
4. Quintessence
5. Tanatophilic Manifestation
6. Nosce Te Ipsvm
7. The Primordial Chaos Synthesis
8. Hypnoskotomachia Oppositorum
9. Iconoclastic Nihilismus
Redigido por Stephan Giuliano
