A história sobre o lançamento do primeiro disco de estúdio do Judas Priest é bastante conhecida. Enquanto algumas bandas deram a sorte de lançar o seu trabalho de estreia e já conseguir a atenção do público e da mídia, o Priest teve alguns problemas com seu debut.
O produtor era Rodger Bain, um cara que tinha se provado na indústria e trabalhado nos primeiros álbuns de sucesso do Black Sabbath, mas ele tinha uma ideia um pouco diferente sobre o Judas Priest. Por algum motivo, Bain não via o grupo como um “próximo Black Sabbath“, mas como um “próximo Led Zeppelin“. E a parte final da produção, incluindo masterização e mixagem, acabou levando “Rocka Rolla” para este caminho. Definitivamente, não era o que a banda pretendia e não era o que o Priest apresentava ao vivo.
Tal equívoco gerou descontentamento na banda, que não gostou do resultado final. E ele realmente não fazia jus à música do quinteto britânico. Apesar de conseguirem um resultado melhor no segundo álbum, “Sad Wings Of Destiny”, havia um tremendo impasse com a Gull Records.

Em uma nova entrevista concedida ao podcast Streaming For Vengeance do Bravewords, o ex-guitarrista do Judas Priest, KK Downing, explicou toda a confusão envolvendo estes dois primeiros álbuns e a gravadora. Questionado sobre se o Priest brigou com a Gull Records por muito tempo pelos direitos dos dois primeiros discos, KK contou o seguinte:
“Acho que sim. Mas minha lembrança é que fizemos os dois discos com a Gull e chegou ao ponto em que não conseguíamos compor, gravar e fazer shows, não conseguíamos fazer o que precisávamos fazer porque estávamos lutando para sobreviver. A ponto de todos nós termos empregos de meio período, o que era difícil porque se você tivesse que entrar na van para ir para Middlesbrough, ou Newcastle, ou Glasgow, ou algum lugar que ficasse a três ou quatro horas de carro para fazer um show você não conseguiria.
Então dissemos à Gull Records: ‘Poderíamos receber uma mesada?’. Você sabe, apenas uma quantia mínima de dinheiro para nos ajudar a pagar o aluguel, pelo menos. E eles disseram: ‘Não’. Então dissemos: ‘O que devemos fazer?’, porque estávamos meio que presos entre a cruz e a espada. E então, aconteceu que conseguimos entrar em contato com a Sony, e eles vieram, e tocamos algumas músicas na frente de Robin Blanchflower, um cara legal, e ele disse: ‘Vamos assinar com a banda agora’.”
KK continuou explicando como foi a saída do Judas Priest da Gull Records:
“Tínhamos um acordo de gravação com a Gull Records, que era um acordo bem duro, para ser justo. Foi brutal. Então a Sony disse que pegaria a banda e gravaria a banda e nós dissemos, ‘Tudo bem’. E eu tenho que ser honesto, quero dizer, nós passamos de 2.000 libras de adiantamento por disco para 60.000 libras de adiantamento por disco. E nós dissemos, ‘Nós temos que fazer isso. A banda precisa que isso aconteça. É disso que precisamos, uma boa empresa que acredita em nós, que está disposta a se comprometer’. Eles tinham o maquinário e tudo. Então nós simplesmente fomos. O advogado disse à Gull Records, ‘Vamos fazer isso – você fica com os dois discos que vocês tem, mas nós seguimos para um novo contrato com uma outra gravadora. É disso que a banda precisa. Eles não têm opção, e nós precisamos seguir em frente’. Foi mais ou menos isso que aconteceu.”

Questionado se a Coca-Cola nunca contestou a arte de capa de “Rocka Rolla” e se isso surpreende KK Downing, ele ponderou:
“Absolutamente. O que eu acho é que eles são uma grande empresa e eles estavam pensando, ‘Judas Priest Rocka Rolla?’ Sabe, eu poderia entrar em alguma oficina e fazer uma Fender Strat ou Gibson SG, mas Fender e Gibson não vão se importar a menos que você comece a vender alguns milhares. Talvez então isso possa fazer seus ouvidos se animarem, sabe? Então eu acho que por essa razão eles meio que deixaram isso de lado. E eles têm feito isso desde então. Então veremos onde isso vai dar daqui em diante com o relançamento do álbum. Eu acho que sempre seria discutível que Coca-Cola e Rocka Rolla não é a mesma coisa, sabe? Temos licença para fazer certas coisas, pois estamos fazendo música, áudio e visuais, sempre será discutível.”
O veterano guitarrista também comentou sobre a evolução estética da banda que passou de trajes comuns (meio Hippies) para o famoso couro e spikes. Ele disse:
“Sim, isso é verdade, mas veja bem, porque nós estávamos apenas deixando as coisas acontecerem, indo de álbum em álbum, de turnê em turnê, mas eu pensava sempre, ‘Algo tem que mudar aqui’. Eu estava pensando naquela época que a música não combinava realmente com nossa aparência e nossa aparência não combinava realmente com a música. Algo tinha que mudar. E mudou, e nós nunca olhamos para trás depois disso.”