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Resenha: Konvent – “Call Down The Sun” (2022)

Quando a junção entre o Metal sanguinário e mortífero, mais o Metal carregado e arrastado como uma caminhada pela Via Crucis, acontece de forma equilibrada e inteligente, temos um subgênero completo e marcante: o Death/Doom Metal!



Ao exemplicar com maior exatidão sobre o que vem a representar este nobre estilo, me vem à cabeça um dos principais nomes dessa linhagem. Falo diretamente sobre o neerlandês Asphyx. Porém, um fator preponderante é que se trata de um line up feminino e ultra poderoso naquilo que se propõe. Seria dar spoiler ao dizer no segundo parágrafo que a banda é sensacional? Bom, é de se pensar. Mas, e o novo disco segue esta conduta? Calce sua galocha e vamos desbravar esse solo pantanoso em direção à capela de “Call Down The Sun”.

Official Facebook/Sebastian Apel

As guerreiras representam simplesmente a magnífica Copenhague (para os geográficos e poliglotas, Copenhagen), Hovedstaden, a Dinamarca de Mr. Bendix e seus filhos, King Diamond e Mercyful Fate. O segundo álbum foi lançado no dia 11 de março , sendo gravado e mixado no Ballade Studios, Copenhagen, Dinamarca. O novo trabalho foi masterizado no Audiosiege Studio em Portland/Oregon – EUA. O sucessor de “Puritan Masochism” (2020) apresenta em seu catálogo nove faixas das quais Rikke Emilie List (vocal), Sara Helena Nørregaard (guitarra), Heidi Withington Brink (baixo) e Julie Simonsen (bateria), se colocam diante da escuridão densa em busca da sintonia sonora plena. Agora sim, estamos prontos para a valsa lamuriante.

Sinos e passos vagarosos de bateria enobrecem e acendem a primeira tocha para adentrar às profundezas de “Into The Distance”. Com seus riffs grudentos e ao mesmo tempo densos, o exército de quatro mulheres avança e propõe uma inundação em solo infértil a ponto de fazer desaparecer toda a flora envolvida. “No ar rarefeito, fica mais difícil respirar / No ar rarefeito, a escada continua” – É bom aproveitar quando o propósito é mais do que uma simples obrigação, e quando se perde o controle, a razão fica cega e se perde, tornando o ar que representa a liberdade e a oportunidade de melhoria, rarefeito. É quando o baixo carregado de Heidi Withington Brink acelera seus compassos, acompanhando suas compatriotas até o final. Eis que um pequeno discurso ao melhor estilo “padre satânico” faz com que “Sand Is King” ilumine a segunda parte do caminho, com variações e sendo mais veloz que sua antecessora. “Corra do que está por vir até que você esteja ofegante / Não pense, vá, apenas corra / Você ouve a areia raspando” – o tempo passa e levará consigo todos, muitas vezes sem a chance de dizer adeus. As guitarras de Sara Helena Nørregaard grudam como a areia sob a pele envolta por suor, enquanto bateria e baixo trazem a sujeira e o alicerce necessário para que o massacre sonoro se solidifique e destaque suas nuances obscuras e ofegantes aos seres lamuriantes que não aguentam tal estrondo esplendoroso.



Official Facebook/Peter Troest

“In The Soot” é a terceira vela do castiçal que ilumina o local sombrio e queima parte do madeiramento, provocando um acúmulo de fuligem no pouco ar que resta ao caminhante inoperante que espreita pelos arbustos o fim dos tempos. Os primeiros compassos são vagarosos e permitem a exploração do plano imaginário relacionado à queima de tudo que envolve o passado arruinado de alguém. Rikke Emilie List vocifera seus dizeres, enquanto os pedais duplos são ativados por Julie Simonsen, e que logo rivaliza com suas partes mais cadenciadas. “Grains” surge das sombras como a quarta manifestação da trama em sua forma espectral voltada para o Black Metal e em grande estilo! O riff principal é de deixar o queixo de qualquer gárgula caído! Cortesia de Sara.

Há breves pausas que enfeitam magnificamente o ambiente e deixam o clima mais abrangente. Não é a toa que foi escolhida como um dos singles do álbum, além de apresentar trechos em sua língua natal. “A vontade é apenas um grão de poeira / Mas eu acho que quando redemoinhos substituem o aperto de tempestades no deserto / Então cada grão, quando mergulhado no mar ao longo dos anos, ganha um brilho, me deixa ver todas as coisas que não posso suportar” – cada detalhe que acontece em fração de segundos ou em horas é apenas um grão de poeira que se esvai através dos ventos que levam para o passado todo o presente. Ao observar por esse ângulo você passar a notar coisas das quais jamais poderia imaginar que pudessem acontecer. As chamas incendeiam o local no momento que a canção ganha velocidade e apresenta seu Death Metal característico antes de retomar a ideia do Doom, até retomar as rédeas do  primitivo e gélido. Sem dúvida uma dos melhores do disco e com direito a um momento esplêndido somente com guitarra e baixo, quase sendo uma alusão à dupla Flea e John Frusciante (Red Hot Chili Peppers), incorporados no Death/Doom.

“Fatamorgana” chega para intervir na escuridão através de seu próprio destino que pode ser enganador e transformar o ar em pura miséria. Esse sonho lúgubre cheio de malditas e vis intenções inicia-se com o baixo entristecido, carregado de rancor e ódio, tocado por Heidi. Logo os outros instrumentos se unem e um tempero das trevas que se assemelha ao som do Desaster é adicionado à peça, elevando o seu poderio e a velocidade da caminhada antes de retornar à ideia principal.

“Como o destino pode ser enganador
Transformando o ar em miséria
Agora um sonho vivo e assombroso
Do fluxo atual
Em uma memória distante
De um lugar que não deveria ser
Mentir intenções malditas e vis
Coloque-os na pilha”



Antes das três picadas mortais do espírito da serpente temos “Interlude”, que das profundezas do underground se ergue e apresentam todo aquele vasto mundo corrosivo, sujo e enfumaçado, como se a banda tivesse extraído a faixa de alguma demo. A breve e rastejante melodia abre caminho para…

“Never Rest” representa a luta pela sobrevivência e resistência para que aguente os percalços da vida e que, apesar das mãos sangrarem, não é para descansar em nenhum momento. Com um som percussivo executado por Julie e recheado de cordas sob influência clara do eterno Black Sabbath, o Konvent segue sua jornada e esbanja qualidade ao saber lidar com o lado macabro e impetuoso proposto para este enredo.

Após molhar a galocha nas águas da caverna subterrânea, nos deparamos com… “Pipe Dreams”, que traz consigo o destaque por ser mais um single de “Call Down The Sun”. “O medo / O fardo / O néctar eu gosto tanto / A dor / Os ecos / A maneira mais fácil de destruir” – tudo que acontece ou o que é construído e com o passar do tempo pode seguir seu ritmo e seu caminho, se não houver a atenção devida pode vir a desmoronar. Sua sonoridade é um pouco menos cadenciada que sua antecessora e remete ao que Zakk Wylde costuma fazer ao se reunir com Ozzy. Ou seja, construir riffs distorcidos e bem encorpados, tornando o som mais robusto e proeminente.



“Harena” fecha o mais recente livro de antiguidades em forma de música. É o terceiro single da banda e para melhor entender o desfecho final, podem ser citadas quatro bandas: TribulationGravewormTristania e Desultory. Muitas camadas sonoras enriquecem a canção somadas à variação vocálica de Rikke. Linhas de violinos e violoncelos são tocados por Felix Havstad, que por sua vez, coloca a canção em um patamar superior ao convencional. O ritmo e as frases de bateria construídas por Julie, aceleram e colocam mais uma vez em evidência o lado Death Metal da coisa, retomando seu posto mais vagaroso momentos à frente. “Todo esse tempo em suas mãos / Leva a sonhos, não é bom para você / Suas habilidades vão longe e essa é a verdade / Mas você escolheu ignorar / Os fatos do que você poderia fazer” – as possibilidades surgem e se são descartadas logo de cara, dificilmente ressurgem para uma possível segunda chance. Voltar atrás é ir de encontro ao passado sem a chance de modificá-lo. O lamento pode ser ampliado, fechando sua garganta e tirando o ar que lhe era propício para seguir adiante.

Considerações soturnas finais:

O ar gélido e a terra úmida cavada por uma enxada enferrujada ao abrir uma cova, faz do novo disco das amazonas dinamarquesas do anoitecer algo como o brilho lunar e a clareza de um fogo-fátuo sob as águas do riacho pantanoso, diante da capela de “Call Down The Sun”. Muito viajante tudo isso? É proposital, pois “Call Down The Sun” te leva para o outro plano através de sua incrível sonoridade ao caminhar pelo vale do Doom mais profano e do Death mais sanguinário e rastejante. Além de causar surpresas com seu momentos de homenagem ao Black Metal realizados com maestria. HeidiJulieRikke e Sara estão afiadíssimas e destronam muitas bandas de muita pompa por aí! Que venha o terceiro disco em breve para fechar a primeira trinca de ases do Konvent e que estas guerreiras possam apresentar suas armas musicais em território brasileiro! Aproveite também para aprender um pouco de dinamarquês!

“Du siger til dig selv: Fri mig vel for livet
For det tæsker mig ihjel, så hvad ta’r jeg for givet?’
Al glæde har du dræbt
I det liv, som du har skabt
Al glæde har du dræbt
I det liv, som du har skabt
Al glæde har du dræbt
I det liv, som du har skabt”



Nota: 9,1

Integrantes:

  • Heidi Withington Brink (baixo)
  • Julie Simonsen (bateria)
  • Rikke Emilie List (vocal)
  • Sara Helena Nørregaard (guitarra)

Faixas:

  1. Into The Distance
  2. Sand Is King
  3. In The Soot
  4. Grains
  5. Fatamorgana
  6. Interlude
  7. Never Rest
  8. Pipe Dreams
  9. Harena

Redigido por Stephan Giuliano

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