Contando com Zak Stevens nos vocais, o novo projeto Archon Angel é o mais perto do Savatage que você poderá ter em 2020.
O legado do Savatage
Desde o fim do saudoso Savatage em 2001, os fãs orfãos daquela sonoridade única, regozijaran-se de poucos momentos relevantes presentes em discos solos de ex-integrantes.
Embora o Circle II Circle tenha começado muito bem sua trajetória com o excepcional “Watching In Silence”, de 2003, os demais trabalhos possuíam vida própria. Eles não se apoiavam tanto quanto gostaríamos na musicalidade da ex-banda de Zak.
E de certo, tendo o músico no comando vocal, as comparações surgiam aqui e ali. Apesar de serem apenas vislumbres da epopeia musical fantástica que os norte-americanos apresentavam com extrema naturalidade em cada um de seus álbuns, não foi apenas Zak que carregou este fardo. Os outros ex-membros também tocaram projetos que se assemelhavam em alguns poucos pontos a sua ex-banda.
É verdade que nem o Jon Oliva’s Pain, nem os registros solo de Chris Caffery foram capazes de saciar a sede dos fãs. Quase sempre as lembranças embaladas em nostalgia aparecem e discos icônicos como “Hall Of The Mountain King” (1987), “Gutter Ballet” (1989), “Edge Of Thorns” (1993) e “The Wake Of Magellan” (1997), são mencionados.

As idas e vindas da vida
Em 2015, com a participação do Savatage como headliner no renomado festival Wacken Open Air, todas as nossas esperanças a respeito de um retorno triunfal foram renovadas, porém isso acabou não ocorrendo.
Em 2017, veio a triste notícia do falecimento de Paul O’Neil, o produtor, compositor e parceiro mór de Jon Oliva em, basicamente, todos os conceitos da banda.
Tal acontecimento deixou ainda mais distante da realidade uma sobrevida do nosso querido Savatage, além disso, todos nós sabemos que a Trans-Siberian Orchestra (projeto de Jon Oliva e que ainda conta com a presença de Al Pitrelli, Chris Caffery, Johnny Lee Middleton e Jeff Plate) é extremamente rentável, portanto, dificilmente, veremos Jon abdicar deste fator para reviver o Savatage.
Com isso em mente, encaramos a realidade de que uma enorme lacuna se mantém aberta no mundo do Heavy Metal e, talvez, seja este novo projeto batizado de Archon Angel, o nome mais capacitado para preenchê-la de maneira satisfatória.
O nascimento do Archon Angel
As sementes para que o Archon Angel se transformasse em uma realidade foram plantadas em 2019, quando Timo Tolkki (ex-guitarrista do Stratovarius) estava gravando o último registro de seu projeto Avalon. Zak Stevens foi convidado para gravar algumas sequências vocais e foi ali que ele teve contato com o produtor/guitarrista Aldo Lonobile (Secret Sphere). Ao que parece, a interação entre os dois foi instantânea e, imediatamente, ambos resolveram conversar com a Frontiers Records à respeito da possibilidade de compor e gravar um disco juntos.
Com o aval dado pelo selo, enfim, alguns outros músicos importantes se juntaram ao processo de composição das faixas. Os nomes de Simone Mularoni (Sweet Oblivion) e Alessandro Del Vecchio (Jorn, Hardline e companheiro de Aldo no Edge Of Forever) foram escolhas óbvias. Com um conceito bem estabelecido e diversas canções já preparadas, Zak e Aldo se juntaram aos competentes Yves Campion (baixo), Marco Lazzarini (bateria), assim como Antonio Agate (teclado), para gravar o excelente disco de estréia: “Fallen”.

Começo empolgante
A audição é altamente prazerosa, começando pelos vocais de Zak. O cantor apresenta um esforço genuíno em alcançar aqueles tons um pouco mais altos de tal forma que chegam a lembrar performances obtidas em clássicos como “Handful Of Rain” e “The Wake Of Magellan”. Exemplo disso ocorre logo nas duas primeiras faixas, “Fallen” e “The Serpent”. A primeira, um autêntico hit com refrão pegajoso, ao passo que a segunda é cheia de linhas de guitarra poderosas e mudanças de andamento interessantíssimas.
É fato que os músicos são outros e apenas Zak Stevens fez parte do Savatage, mas é impressionante como as composições se aproximam e se assemelham. Apesar disso, vale ressaltar que mesmo com todas estas referências e associações, o Archon Angel demonstra ser bem mais que uma mera emulação, sendo que isso ocorre devido ao fato de Aldo Lonobile ser muito bom compositor. Outro exemplo é “Rise”, canção veloz e energética, assim como dona de um riff matador e linhas estonteantes, ela soa como uma espécie de evolução do próprio Savatage. O cara soube ir além e adicionar particularidades e novos direcionamentos para este tipo de som, assim sendo, fica evidenciado na ótima “Under The Spell”. Outra de vocalizações potentes e refrão marcante.
Tracklist imponente
“Twilight” é uma composição bastante direta onde automática e inegavelmente se transforma em um dos pontos mais altos da audição. “Faces Of Innocence”, a próxima, é uma música de camadas, com belas alternâncias e outra linda interpretação de Zak. Já “Hit The Wall” destaca-se por sua parte rítmica e, apesar de simplória o tempo todo, mantém a temperatura alta, um ótimo trabalho do baterista Marco Lazzarini e do baixista Yves Campion. “Who’s In The Mirror” seria a minha favorita se não fosse o encerramento perfeito do disco, aqui todos os músicos soam magníficos e, assim como em “Fallen”, esta é daquelas faixas feitas pra se tornarem hits.
E antes que eu me esqueça, que refrão maravilhoso! Já perto do final, temos a emocionante balada “Brought To The Edge”, com passagens comoventes de violão assim como uma melodia agradabilíssima. É a ponte perfeita para chegarmos ao momento derradeiro com a fantástica “Return Of The Storm”.
A referência óbvia
Sabe aquelas sobreposições de vozes apaixonantes que aprendemos a amar em músicas como “Chance”, “The Wake Of Magellan” e “The Hourglass”? Essa belezinha começa assim e, dessa forma, busca caminhos próprios até se transformar em uma canção pulsante, cheia de energia e capaz de arrancar suspiros. Até aqui, não fiz menção ao trabalho do tecladista Antonio Agate, mas o que este cidadão faz nesta música é digno de aplausos, é fato que o músico se destaca em outros momentos (como em “The Serpent” e “Fallen”), mas é em “Return Of The Storm” que aparece toda a sua habilidade. Um encerramento arrebatador e com gosto de quero mais.

Apesar de estarmos ainda no começo do ano, pode-se cravar sem medo algum, que “Fallen” deverá fazer parte da maioria das listas de melhores do ano. Trata-se de um trabalho forte, bem produzido e repleto de músicas marcantes.
Certamente, precisamos nos lembrar de outro fato. De todas as bandas e projetos, sejam eles de ex-membros do Savatage ou apenas de músicos (fãs) prestando algum tipo de tributo, este é o único que, de certa forma, preenche boa parte da lacuna aberta desde o final da banda. Aliás, o Archon Angel é um projeto que merece ter continuidade e empolga logo nas suas primeiras audições.
Altamente recomendado!
Nota: 9,3
Integrantes:
- Yves Campion (baixo)
- Marco Lazzarini (bateria)
- Aldo Lonobile (guitarra)
- Zak Stevens (vocal)
- Antonio Agate (teclado)
Faixas:
- 1. Fallen
- 2. The Serpent
- 3. Rise
- 4. Under The Spell
- 5. Twilight
- 6. Faces Of Innocence
- 7. Hit The Wall
- 8. Who’s In The Mirror
- 9. Brought To The Edge
- 10. Return Of The Storm
Redigido por Fabio Reis
Teve um tempo que ouvia muito Secret Sphere, bons tempos!!!! Zack Stevens é um dos melhores vocalistas do estilo…tenho boas lembranças daquele show do Savatage live Japan de 94, época boa aquela!!!! Sobre os vídeos acima, só música de primeira…valeu!!!!