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Live Review: Asphyx – “Templars of Death” (2024)

A banda holandesa de Death/Doom Metal, Asphyx, desembarcou na cidade de São Paulo para dar continuidade à turnê Templars of Death 2024.



Os holandeses, liderados pelo vocalista Martin van Drunen, estiveram acompanhados pelas bandas The Troops of Doom e Evilcult. Ou seja, uma companhia de respeito. Portanto, sendo um belo aperitivo para o público. Afinal, a tríade estava disposta a dilacerar os tímpanos e as almas de quem estivesse presente.

Anterior a esse show, o Asphyx havia se apresentado no Mister Rock em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 8 de novembro. E nesse dia 9 seria a vez do já tradicional Carioca Club receber a pancadaria, o peso e a morbidez de um dos grandes nomes do Metal extremo europeu.

Agora, só para ilustrar, a resenha deste evento estará sendo dividida entre duas figuras apreciadoras de boas valsas e cevadas de “responsa”. Ou seja, Giovanne Vaz e eu, Stephan Giuliano, estivemos presentes para conferir esse honorável espetáculo para poder passar um pouco da energia para você, assíduo(a) leitor(a).



A importância de estar presente em um show do Asphyx

Em 2015 foi anunciado que o Asphyx viria a São Paulo, capital, para uma apresentação ao lado de bandas como Krow, Miasthenia e Desdominus. Seria a primeira vez em que os holandeses tocariam em solo brasileiro e a minha expectativa se tornou altíssima para a ocasião. Entretanto, eu acabei não podendo ir ao show por conta do meu trabalho à época.

Todavia, isso acabou deixando uma sensação amarga na minha mente por conta dessa ausência. Em contrapartida, pude conferir outro show em uma data próxima. Este show foi da banda russa de Pagan/Black Metal, Arkona. Compensou, mas eu queria ver ambos os shows.

Os anos passaram e surgiu uma nova oportunidade. Hoje em dia está muito competitivo em questão de bons e ótimos shows, com boas casas e estruturas de palco adequadas. Claro que nem tudo são flores, mas há mais o que se destacar do que criticar nesse aspecto. E eis que eu pude finalmente estar diante de uma das bandas que mais gosto dentro do cenário musical extremo.

Vale destacar que esse primeiro show do Asphyx foi realizado no dia 24 de outubro de 2015, em um sábado, na hoje extinta casa Clash Club. Hoje temos a Fabrique Club no lugar. Também fica na Rua Barra Funda, porém no número 1071 ao invés do antigo nº 969. Particularmente, não sei bem dizer se a casa realmente fechou. O que acontece é que os shows de Metal estão ocorrendo nessa outra casa citada. Bem, vamos tomar um energético para espantar o cansaço semanal e o clima chuvoso para irmos juntos ao show!



Aquecimento para a valsa sangrenta e mortífera

Antes de passar o nanquim virtual para o meu nobre compatriota Giovanne, devo destacar a presença ilustre do pessoal do Faces of Death, grandes figuras e ícones do underground nacional. Banda excelente e que, caso não conheça, indicamos firmemente para que confira o catálogo dos caras.

Bem, eu tive que comprar aquele mantimento maroto para levar até o Carioca Club e aproveitamos para nos energizar, se é que me entende. E agora que adentraremos ao local do “crime”, confira as impressões deixadas por Vaz.

Início da jornada com Evilcult em meio a um tempo chuvoso

Evilcult, banda sulista fundada pelo guitarrista e vocalista Lucas “From Hell” Bittencourt em 2016, e segue sendo a força por trás desde o inicio. Outra figura que vem se destacando no front do Evilcult, é o baixista e vocalista Renato Igor, na qual faz parte da banda desde 2021. Renato já era conhecido na cena underground, por ser membro fundador do Jackdevil, na ativa desde 2010, e tem feito um trabalho fantástico no Evilcult desde sua entrada.

A banda caminha a passos largos para se tornar um dos representantes principais da nova safra de Black/Speed Metal, um subgênero que vem ganhando muita atenção entre os headbangers mais aficionados do underground, e vem revelando uma série de excelentes bandas ao redor do mundo nos últimos anos, como o Cruel Force (Alemanha), o Midnight (EUA), Bunker 66 (Itália) e os brasileiros do Power from Hell, bandas das quais o próprio Evilcult bebe muito da fonte.



Giovanne Vaz/Mundo Metal

O ponto baixo do evento e o golpe de ataque ligeiro do Evilcult

Chegando próximo as imediações do tradicional Carioca Club, após uma necessária dose de energético, para dar um susto no cansaço físico do pião que trabalha aos sábados, o Evilcult já estava a todo vapor, na metade do que parecia ser “Sons of Hellfire”, faixa presente em seu álbum de estreia “At the Darkest Knight”. Enquanto a banda seguia com “Drunk By Goat’s Blood”, ao tentarmos sair do Carioca para tomar a “primeira do dia” no bar ao lado, descobrimos que não podíamos sair de lá até o final das apresentações, pois não haviam pulseiras de identificação ou um crachá exclusivo do Mundo Metal, na qual eu deveria ter exigido aliás.

Neste momento, Stephan e eu consideramos seriamente a possibilidade de dar uma “pausa” no álcool até a liberdade cantar novamente, visto que os preços nada convidativos dentro do Carioca estimulam a sobriedade. Porém, desconsideramos rapidamente essa ideia e sucumbimos às forças ocultas que permeiam o bar da casa.

Enquanto nos aproximávamos do palco, a banda estava tocando “The Witch”, presente no mais recente álbum “The Devil Is Always Looking for Souls”, lançado em 2023. E naquele momento fiquei um tanto frustrado, pois esperava ouvir mais sons desde disco em questão, e acabei fazendo esse comentário ao final da apresentação da banda, na qual durou cerca de 13 minutos no total aliás. Por fim, a banda fechou o primeiro setlist da noite com “Nocturnal Attack”, um som extremamente satisfatório de presenciar ao vivo. Destaque para os Sr. Renato Speedwölf tanto na presença de palco, quanto por seu desempenho no baixo. Em resumo, o cara é incansável.

Giovanne Vaz/Mundo Metal

Setlist do Evilcult

1. Ancient Power
2. Sons of Hellfire
3. Drunk by Goat’s Blood
4. Speed Metal Fire
5. The Witch
6. Nocturnal Attack



Integrantes:

  • Blasphemer (bateria)
  • Lucas “From Hell” (vocal / guitarra)
  • Renato “Speedwölf” (baixo)

Concluí alguns dias após o evento que a banda tocou três músicas de seus dois álbuns, totalizando seis faixas. Ou seja, me equivoquei um pouco no dia do show… Da próxima vez entraremos mais cedo. E só para ilustrar, o nanquim estará de volta com o Stephan logo a seguir, após a mensagem do nosso patrocinador.

Stephan Giuliano/Mundo Metal
Stephan Giuliano/Giovanne Vaz/Mundo Metal

The Troops of Doom finalizando sua turnê e as tradicionais honrarias ao Sepultura

O Giovanne já conhecia a energia trazida pela banda do guitarrista Jairo “Tormentor” Guedz, ex-membro do Sepultura. Porém, eu ainda não sabia como funcionavam as engrenagens ao vivo. A banda lançou em 2024 o excelente álbum “A Mass to the Grotesque”, intensificando ainda mais a sua discografia inicial junto ao Troops. É considerado por muitos o melhor trabalho até então e eu tenho que concordar com isso, pois há um equilíbrio muito maior e um lado visceral muito mais evidente nesse novo álbum. Trata-se de uma evolução natural da banda que além do Jairo, é formada pelo vocalista e baixista Alex Kafer, o guitarrista Marcelo Vasco (muito conhecido também por fazer artes de capas atuais do Slayer desde o álbum “Repentless”, de 2015), além do baterista Alexandre Oliveira.

Na minha concepção, eu imaginava que quem ditaria o ritmo da apresentação e do público seria o próprio Jairo. Entretanto, quem realmente buscava interagir com o público era o Kafer. Inclusive, ele não estava muito contente com a frieza do público diante das pedradas musicais oferecidas aos mesmos. De fato, é entendível por conta da banda que iria fechar a noite. Quem abre show sabe muito bem como funciona. E não apenas isso, pois a semana foi muito desgastante e o tempo não estava colaborando também. Houve um princípio de mosh até se consolidar em algo mais coeso da qual participei. Afinal, eu não nego uma bela valsa.

Sobre as canções em si, eu tinha a nítida noção de que a banda tocaria coisas relacionadas ao Sepultura da fase inicial, quando Jairo fazia parte do time. E nada como mergulhar nesse universo do Death/Thrash Metal brasileiro e que reúne ilustres figuras a ponto de garantir uma ótima apresentação. Será que foi mesmo? Vamos para o baile de gala conferir!



Giovanne Vaz/Mundo Metal

The Troops of Doom e a ordem dos fatos

Antes de mais nada, é bom ressaltar a indignação de Kafer perante o público, pedindo por vezes para o pessoal abrir a roda de mosh, pois estavam em um show de Death Metal. Decerto estávamos, mas eu penso que a própria música pode induzir a tal. Ficar pedindo como se fosse uma ordem não me agrada muito não. Eu fui por motivos sonoros e não por reclamações de vocalistas impacientes, porém peritos na arte de vociferar e tocar contrabaixo (risos)!

O início da tormenta aconteceu após a introdutiva “The Absence of Light”, abrindo os portões para a chegada de “Act I – The Devil’s Tail”, ambas presentes no EP “The Absence of Light”, de 2021. Logo na sequência, “Chapels of the Unholy” (presente no mais recente álbum “A Mass to the Grotesque”) e Far from Your God (“Antichrist Reborn”, de 2022) fizeram as primeiras fissuras acontecerem no teto da casa. Porém, foi com “Bestial Devastation” que a valsa começou a tomar forma dentro do Carioca Club. Afinal de contas, era o Sepultura do “velho testamento” sendo homenageado pelo guitarrista que construiu a joia bruta.

Logo após o despejo da primeira fileira de blocos, tivemos a trilha de “Act I – The Devil’s Tail”, que serviu de abertura para “Act II – The Monarch” (“The Absence of Light”). “The Rise of Heresy”, do EP homônimo lançado em 2020, também foi apresentada ao público que já participava mais ativamente do show. Todavia, não bastavam as músicas novas de Jairo e seus asseclas. Cabia, com toda a certeza, mais uma boa pitada de Sepultura na festa! E esse pouco mais de tempero forte veio com nada mais nada menos que “Morbid Visions” – faixa do álbum de mesmo nome lançado no ano de 1986. E lá estava eu participando da ciranda sangrenta.

Stephan Giuliano/Mundo Metal

Final digno de uma banda promissora

O final ainda contou com mais uma excelente música do novo disco chamada “Dawn of Mephisto”. E, para finalizar o último show da turnê do The Troops of Doom, tivemos a presença marcante daquela que originou o nome da nova banda de Jairo Guedz. Decerto, estamos falando de “Troops of Doom”! Que apoteose, amigos! Longe de ser uma valsa gigantesca, pois faltou público para isso. Entretanto, quem participou sentiu a energia maligna (no melhor dos sentidos!) permeando o ambiente durante a execução sumária de ouvidos sensíveis ao terem contato com essa clássica faixa do Sepultura. Por fim, o encerramento foi dado com a trilha sonora chamada “Mr. Sandman” (The Chordettes).



Foi muito gratificante conferir de perto a apresentação do The Troops of Doom e ainda ver Jairo “Tormentor” Guedz “in action”. O estilo dele é um pouco mais contido, mas a sua guitarra faz bastante barulho.

Setlist do The Troops of Doom

Abertura: The Absence of Light
1. Act I – The Devil’s Tail
2. Chapels of the Unholy
3. Far from Your God
4. Bestial Devastation (Sepultura cover)
Intro: Act I – The Devil’s Tail (Outro)
5. Act II – The Monarch
6. The Rise of Heresy
7. Morbid Visions (Sepultura cover)
8. Dawn of Mephisto
9. Troops of Doom (Sepultura cover)
Encerramento: Mr. Sandman (The Chordettes)

Integrantes:

  • Alexandre Oliveira (bateria)
  • Jairo “Tormentor” Guedz (guitarra)
  • Marcelo Vasco (guitarra)
  • Alex Kafer (baixo, vocal)
Stephan Giuliano/Mundo Metal

Asphyx – Templars of Death 2024

Enfim, era chegado o tão aguardado momento. Após boas e caras geladas, precisávamos cultivar desse grandioso momento. Era notória a atenção do público voltada para o palco com as cortinas fechadas, enquanto os roadies e a banda testavam e afinavam seus instrumentos.

Sem nenhum tipo de cerimônia, as cortinas se abriram e lá estavam quatro cavaleiros neerlandeses do apocalipse. Martin van Drunen (vocal), Paul Baayens (guitarra), Alwin Zuur (baixo) e meu xará Stefan Hüskens (bateria) apareceram diante do público para proclamar a independência visceral da escuridão suprema!



O dono do microfone e da voz do Asphyx, Martin van Drunen, logo começou a falar com público presente, o que valeu até uma menção ao Pelé por conta do Brasil ter muito reconhecimento devido ao futebol e também pela Holanda ter a sua tradição no esporte também. Assim sendo, o show tinha que começar e iniciou sem atrasos. Além disso, a sensação de que tudo estava acontecendo muito cedo era notória. Afinal, os shows foram iniciados muito antes da previsão mais tradicional dos eventos. Entretanto, tudo parecia estar funcionando muito bem. Contudo, isso será melhor explorado e explicado a seguir. Confira comigo no replay!

Stephan Giuliano/Mundo Metal

A implosão sonora do Asphyx

Por ser uma banda que navega em dois mares distintos, mas que costumeiramente se cruzam e provocam fortes ondas sonoras, o Asphyx provoca um clima diferente. Clima esse que difere de bandas de Death Metal propriamente dito. Afinal, há outros elementos dos quais tornam a apresentação com mais tempero do que o tradicional. Mas isso é ruim? Jamais! A junção do estilo sangrento com a morbidez musical soa fantástica quando uma banda sabe executar e bem essa união de subgêneros.

Logo na abertura da caixa preta musical tivemos a clássica intro misteriosa e ousada “The Quest of Absurdity”. Faixa instrumental presente no álbum “The Rack”, debut da banda lançado em 1991. Além disso, a emenda aconteceu igual ao tracklist do disco. Ou seja, “Vermin” deu as caras logo em seguida, tornando o passeio musical bastante nostálgico, inicialmente.

Esse início de apresentação te coloca nas primeiras ondas turvas dos holandeses, com todo o mar salgado de sonoridade crua, impetuosa e mórbida. De repente, os alto-falantes começaram a esfumaçar diante de tanta energia inserida por conta da violência imprimida pela canção. Seu trecho cavalgado colocou um tempero ardiloso e saboroso ao caldeirão formado por enlouquecidos metalheads.



Logo após, tivemos a marcante presença da excelente “Botox Implosion”, single do álbum mais recente da banda, “Necroceros”, de 2021. Com uma breve intro de bateria, Stefan convoca a todos para bailar felizes e contentes com a desgraça sonora. A pancadaria entra em cena e a roda funciona como um verdadeiro organismo vivo. E você está lá no meio do povo vibrando, batendo cabeça, moshando e suando igual um porco no rolete. Destaque para as palhetadas insanas de Paul.

Stephan Giuliano/Mundo Metal

Valsa impetuosa, macabra e carregada de amor

A festa estava apenas começando, quando “M.S. Bismarck” (“Last One on Earth”, segundo full length lançado em 1992) e “Molten Black Earth” (também presente em “Necroceros”) foram servidas à mesa sonora para os adeptos festejarem e praticarem da boa valsa. A mais antiga acordou os fãs de longa data da banda, enquanto a mais recente abriu um sorriso na lata de quem conhece há pouco tempo o som dos caras.

Quanto a mim, devo admitir que cada acorde de ambas as músicas me fizeram crer que eu estava no lugar certo e na hora certa para cultivar do bom tango insano e denso neerlandês. Só para ilustrar, “M.S. Bismarck” é realmente uma das músicas mais nefastas e densas do Asphyx. O segundo trecho remete a um som distorcido e conflitante com a estrutura da primeira parte. Esse conflito ocasiona em uma explosão de riffs e uma carga extra de velocidade. Em contrapartida, culmina em uma languidez sensacional e digna de aplausos.

“Death the Brutal Way”, faixa homônima do sétimo álbum, foi a próxima machadada na carcaça pútrida ambulante. Suas palhetadas iniciais junto com a bateria trouxeram a atenção do público. Em meio a isso temos aquele riff de preparo para o combate. Dito e feito! A “porradaria” e o “espanque ao poser” começam e no momento em que redijo com o nanquim virtual, também estou batendo cabeça ao relembrar de cada momento. Você se prepara para a largada, liga os motores, avança a todo vapor e, de repente, está em um mar denso de sonoridade ultra pesada. A partir daí vem mais palhetadas e puxadas com hammer on e pull off. É, decerto, um dos grandes clássicos do Asphyx! Destaque também para Martin, com seu vocal característico e impressionante!



Stephan Giuliano/Mundo Metal

Deathhammer!!!

Eis que entra em cena a guitarra pesada, distorcida e viajante de Paul para a abertura de “Asphyx (Forgotten War)”, outro clássico “dasantiga” e pertencente ao impiedoso álbum “Last One on Earth”. É uma faixa mais concentrada e cadenciada em grande parte, embora as palhetadas despejem plasma e urânio enriquecido. Entretanto, as variações ocorrem e é possível observar a habilidade de cada músico diante de um som cavernoso e visceral.

A sétima trombeta a ser tocada atende por “Deathhammer”. Você gosta de um belo “tupá”? Então, essa faixa é para você! Death Metal típico dos Países Baixos direto e reto, sem firulas. Música do álbum homônimo lançado em 2012, e desde então, sendo tocada a plenos pulmões mundo afora.

Diretamente do álbum recente, “Necroceros”, surge “Knights Templar Stand” com seu ar apimentado e levada mais acessível, ao menos em sua primeira parte. Destaque para o sempre presente contrabaixo de Alwin. A banda despejou na sequência a faixa “Scorbutics”, presente no álbum “Death…The Brutal Way”. O pulsante contrabaixo auxilia a guitarra distorcida a imprimir suas notas cadavéricas e com gosto de de ferrugem, enquanto as marretadas de bateria são dadas no crânio do inimigo sem piedade alguma. É aquele tipo de faixa que começa de forma média e ganha fôlego com o passar do tempo e do conjunto de notas.

Stephan Giuliano/Mundo Metal

Brandenburgo em chamas!

Em “Division Brandenburg”, temos um princípio quase partindo para o Black Metal, mas que retoma o seu posto assim que a intro termina e a canção começa. Depois, com a banda toda em ação, temos um comboio de notas bastante gorduroso e charmoso como o sorriso simpático de um gárgula. As chamas se acendem diante do público, que por sua vez, agitou bastante durante as variações desta que pertence ao também excepcional álbum “Incoming Death”, de 2016. Em suma, o peso dessa faixa no disco já é descomunal, mas ao vivo o peso é completamente magistral. Uma aula de Death/Doom!



“Wasteland of Terror” chega para colocar em campo o álbum “The Rack” novamente e, com toda a certeza, abriu um sorriso na alma pútrida de cada ser presente no espetáculo. Faixa rápida e bruta, evidenciando toda a formosura presente nos timbres, acordes e linhas musicais indolentes da banda holandesa. Em um segundo momento, mergulhamos naquela clássica ignávia profana em que as chamas negras infernais balançam de maneira condizente à essa levada cativante e devastadora. Aqui é um exemplo perfeito de moshar e bangear em um som com duas áreas muito bem exploradas. Além disso, a energia maligna é mantida através da canção “It Came from the Skies”. Ela é mais uma faixa que está presente no álbum “Incoming Death”.

Um berro inicial conduz a rifferama muito bem acompanhada por uma bateria consistente e cheia de energia. A sua passagem rende uma velocidade média, contrastando as partes em pedais duplos. Entretanto, ela se mantém no mesmo prumo inicial. Mas, para quem não conhece, a surpresa fica a partir da segunda metade com uma explosão sonora. Destaque para as frenagens maravilhosas proferidas pelo guitarrista Paul, juntamente com o baixista Alwin. Cortesia de uma das características mais incríveis do Death Metal.

Lembranças de um período recente marcante

Só para ilustrar, “Incoming Death” teve a companhia de outros dois incríveis lançamentos: “The Oath of an Iron Ritual”, do Desaster, e “Decision Day”, lançado pelo Sodom. Em resumo pleno e consciente, 2016 foi um ano incrível para o Metal.

Stephan Giuliano/Mundo Metal

Apreço por futebol e dedicatória inusitada

Para quem já presenciou um show do Asphyx, decerto, sabe que Martin é uma figura carismática de muito bom humor. Além disso, foge daquela regra maldita imposta por certa emissora de TV ao citar todos os europeus como sendo figuras frias e impacientes. Balela! Existe gente de todo tipo em todo lugar do planeta! Ou acha que o Brasil é o país mais simpático do mundo? Tem gente perversa por aqui também (risos)!



Antes da próxima canção a ser executada, o vocalista Martin falou da ligação entre o seu país de origem e o país onde estava no momento, referindo-se à paixão pelo futebol. Porém, o líder do Asphyx queria dedicar a próxima “múzga” ao melhor jogador de futebol da história, Pelé, já que estava no país em que o lendário jogador nasceu. Entretanto, vale citar que Pelé nasceu em Minas Gerais, na cidade de Três Corações. Portanto, a música dedicada ao futebolista foi a marcante e incisiva “The Nameless Elite”!

Pertencente ao álbum “Necroceros”, a canção inicia sua jornada com o peso monumental do contrabaixo de Alwin. Martin vocifera a plenos pulmões, enquanto a bateria de Stefan mantem a levada contida e firme. Paul impõe toda a insanidade musical com suas palhetadas precisas, até que a trilha sonora entra no modo liquidificador, ou moedor de carne humana, se preferir. A valsa aconteceu de maneira tão intensa e acompanhando os trechos da música, que pude identificar três ótimos momentos nela. Procure ouvir a música para entender.

Stephan Giuliano/Mundo Metal

Visita anônima e apocalipse sonoro

Homenagem feita, era hora de continuar o incêndio musical. A missão ficou a cargo de “Forerunners of the Apocalypse”, mais uma do álbum “Incoming Death”. Todavia, a apresentação foi mostrando que o setlist foi mais voltado para um equilíbrio entre o novo e antigo. A largada é iniciada com um estrondo de bateria, emendando em uma locomotiva com sede de sangue. Riffs ousados e sufocantes como uma prisão de espinhos. O baile de gala seguiu o seu percurso e as chamas tremularam através dos riffs e balançar dos encordoamentos. Faixa ideal para dançar com a sua amada pelos campos densos, gélidos, úmidos e pantanosos do Death/Doom Metal neerlandês.

Em meio a isso, um “figura” subiu no palco, cumprimentou a banda e começou a ensaiar um stage diving. Porém, isso causaria um grande acidente. Afinal, não havia tanta gente na frente do palco a ponto de sustentar um cara forte pulando do nada. Esse fã estava trajado com uma blusa da seleção da Holanda e o mesmo fez questão de mostrar para os músicos. Como não era nada combinado, a banda não se manifestou muito. Porém, o cara insistiu em querer saltar e ficou apontando para o pessoal poder segurar ele. Só que, haviam muitas mulheres bem no local em que ele queria pular. Por sorte, ele foi convencido a descer e o mesmo saltou do palco e ficou numa boa. Um alívio para as moças que não foram esmagadas por ele.



Giovanne Vaz

Títulos históricos e apoteose digna do Asphyx

O final foi reservado para duas grandes músicas que carregam o nome de seus respectivos full lengths. Primeiramente, tivemos a ilustríssima presença de “The Rack”, uma das grandes joias brutas dos representantes de Oldenzaal, em Overijssel, nos Países Baixos.

Sobre a canção, ela forma o rodapé do disco homônimo e foi tocada de maneira exímia pelo quarteto. Aqui, a languidez e a ala distorcida marcam presença logo de início, fazendo sua cabeça se desvencilhar do seu corpo. Esse é o efeito ao vivo que “The Rack” causa ao ouvinte. As palhetadas vagarosas são ouvidas com o intuito de rasgar o tecido entre plano carnal e infernal. Os dedilhados velozes e característicos do Metal da morte formam um monstro completamente incontrolável e você acaba se vendo no meio do tumulto, tomando pancada de tudo que é lado. O mosh comeu solto nessa hora, com toda a certeza e felicidade. Foram nove minutos de insanidade e devoção ao Metal extremo. A parte final da música com o som mais indolente foi a cereja do bolo com sabor de fim dos tempos.

Antes do fim, Martin disse que o tempo era curto e acabou por indagar os fãs se os mesmos queriam ouvir uma última música antes de ir para casa. Obvio que a resposta foi sim! Caso contrário o chinelo iria cantar para o lado de quem não quisesse!

Giovanne Vaz/Mundo Metal

Um final sem a parte final

“Last One on Earth”, que a meu ver faz parte do melhor álbum do Asphyx, é uma faixa homônima que traz orgulho a quem a aprecia. O controle inicial exercido por ela é insinuante e instigante, tamanho o seu peso e seus passos vagarosos que deixam pegadas gigantescas e profundas. Aqui, Martin van Drunen se desdobra para entregar uma faixa de encerramento de show de forma brutal e impiedosa.



Alwin Zuur contribuiu muito para a elevação do peso e marcação do alicerce preciso da faixa. Além disso, temos nas mãos do guitarrista Paul Baayens a mágica obscura para tornar a sonoridade mais densa, distorcida e instigante. Por fim e não menos importante, temos Stefan Hüskens honrando o seu kit e executando com maestria as suas linhas percussivas.

Porém, só para ilustrar o ocorrido, “Last One on Earth” acabou sendo tocada sem a parte do solo por conta do tempo curto previsto. Ou seja, o final ficou sem a parte final.

Giovanne Vaz/Mundo Metal

Setlist do Asphyx

Abertura: The Quest of Absurdity
1. Vermin
2. Botox Implosion
3. M.S. Bismarck
4. Molten Black Earth
5. Death the Brutal Way
6. Asphyx (Forgotten War)
7. Deathhammer
8. Knights Templar Stand
9. Scorbutics
10. Division Brandenburg
11. Wasteland of Terror
12. It Came from the Skies
13. The Nameless Elite
14. Forerunners of the Apocalypse
15. The Rack
16. Last One on Earth (sem a parte final)

Integrantes:

  • Martin van Drunen (vocal)
  • Paul Baayens (guitarra)
  • Alwin Zuur (baixo)
  • Stefan Hüskens (bateria)

Conclusões asfixiantes e informações nefastas adicionais

Em resumo, tanto eu, Stephan Giuliano, quanto meu compatriota Giovanne Vaz, fomos agraciados por um show impecável e maravilhoso do início ao fim. Isso, só em se tratando do Asphyx, banda principal do evento. Porém, devemos ressaltar o empenho do Evilcult e a projeção do Troops. Ou seja, Jairo Guedz e seus comparsas estão escalonando os níveis e logo mais estarão no mesmo patamar de prestígio das principais bandas brasileiras de Metal.



Contudo, valeu por esperar para finalmente conferir um show do Asphyx. O quarteto fantástico holandês esteve afiadíssimo na noite do dia 9 de novembro de 2024. Vale mencionar que, apesar das mudanças no line-up ao longo dos anos (a formação atual perdura desde 2014), o Asphyx continua mantendo o reinado sob os domínios de seu estilo de sonoridade. Paul Baayens não precisa fazer solos mirabolantes para ser bom. As camadas sonoras e os dedilhados agonizantes protagonizados pelo guitarrista são a alma do negócio.

Alwin Zuur se mostrou ser um baixista de grande nível e bastante carisma. O peso, as marcações e os diferenciais nas músicas, incluindo trechos em que o baixo acompanha a bateria sem ter a presença da guitarra. Além disso, temos Stefan Hüskens no comando das baquetas, elevando o seu modo de tocar e apresentar suas viradas e todas as peças da cavalaria percussiva.

E por último, para finalizar, o cantor Martin van Drunen segue com o seu vocal característico de gutural esganiçado, sem se tornar drive, mas com toda a pompa de um vocal raivoso e melancólico.

Resumo da ópera abaixo do nível do mar

A tríade veio e despejou seus ótimos sons, transformando o Carioca Club em um mar revolto cheio de destemidas aventuras ao longo de cada canção apresentada. Decerto, a não utilização das pulseiras para controle do público de liberar o ir e vir do mesmo deixou a desejar. Mesmo assim, isso não tirou o brilho de uma noite com bandas que sabem o que fazer em um palco na hora em que as cortinas negras se abrem.



De fato, o tempo não ajudou muito e a casa não recebeu um público alto. Posso dizer que, a sensação foi de um local com quantidade razoável de pessoas. Mas essa impressão também se deu por conta da maior parcela estar somente aguardando a presença do Asphyx.

Contudo, vale também citar a respeito dos preços dos produtos vendidos nos stands de cada banda. Enquanto os CDs do Evilcult estavam na casa exata dos 60 mangos, os CDs do The Troops of Doom estavam ao preço de 40 contos de réis. Obviamente que, não estou aqui para avaliar o mercado. Mas achei bastante curioso tais valores.

Como o fest aconteceu mais cedo, a volta para casa ficou bastante confortável. Porém, se engana que nós fomos direto para a estação de metrô. Faltava abastecer novamente o tanque e isso foi refeito com exatidão. Primeiramente, no bar da outra esquina, na mesma linha de calçada do Carioca. Entretanto, tivemos que ir para o bar da esquina do Carioca para continuar com a bebida e com a prosa. Afinal, nesse primeiro bar iria rolar aquele som horripilante que usa pandeiro e cavaco.

Por fim, a saga fechou com um espetinho maroto e a sensação de dever cumprido. Ver o Asphyx de Martin van Drunen destruindo no palco foi um desejo muito bem realizado e a sensação de participar de uma valsa de Death/Doom trouxe uma experiência marcante. O Asphyx estabeleceu um patamar ainda maior dentro da galeria de ótimas bandas do estilo.



Outras curiosidades abissais

Ao término do show, todos os integrantes das bandas se reuniram para uma grande confraternização em foto. Foi nesse momento em que Jairo agradeceu por estar fechando a turnê atual do The Troops of Doom e que foi incrível realizar a turnê ao lado de grandes amigos, como é o caso dos membros do Asphyx e do Evilcult.

Sobre a banda principal do evento, o setlist foi voltado somente para as músicas com participação original do vocalista Martin. Os quatro álbuns lançados sem a presença dele, que vai de 1994 até 2000, não tiveram faixas no repertório apresentado. Assim sendo, mais confortável para o seu líder. Quanto a isso ninguém reclamou. Muito pelo contrário, todos saíram para lá de satisfeitos após o show.

Outro fato interessante é ver que as mulheres estão indo com mais frequência aos shows de musicalidade mais extrema. Se engana quem pensa que as mulheres só gostam de subgêneros mais leves e acessíveis, por assim dizer. Que mais mulheres possam comparecer e curtir cada momento de grandes shows e festivais, como foi com este aqui. E se você, mandrião barbado e sarnento que fica de braços cruzados por não usar desodorante no rolê, ainda tem dúvidas quanto a isso… Marque presença de corpo e alma nos shows. Não vá com a cabeça na lua e o corpo parado no local. Assim, não conseguirá observar nada e ainda dirá que estamos equivocados. E portanto, direi a você: Death… The brutal way.

Stephan Giuliano/Mundo Metal

Este glorioso show aconteceu no sábado, dia 9 de novembro de 2024.



  • Local: Carioca Club
  • Endereço: Rua Cardeal Arcoverde, nº 2899 – Pinheiros – São Paulo

Redigido por: Stephan Giuliano e Giovanne Vaz

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