Confesso que refleti bastante se deveria realmente escrever esta matéria e relatar tudo o que infelizmente ocorreu neste show específico realizado no último dia 29 de abril, na primeira edição do Summer Breeze Brasil. No final das contas, cheguei a conclusão que não dá para ver tudo o que eu vi e simplesmente fingir que nada aconteceu.
O Viper, o Shaman e o Angra possuem uma base de fãs muito grande, apaixonada e fiel, talvez por esses motivos, muitos veículos decidiram se calar. Nós não vamos fazer isso!
Como um grande fã do maestro André Matos desde minha adolescência, quando resolvi que iria comparecer ao Summer Breeze Brasil, no auge da minha ingenuidade, acreditei que o tributo a André seria um momento de grande emoção voltado a homenagens mais do que justas a um dos nossos grandes ícones da música pesada. Estariam ali o Viper, o Shaman e alguns integrantes do Angra, traduzindo, caras que em sua maioria trabalharam com André em vida e fizeram música junto dele. Obviamente, boa parte daquelas composições mais marcantes da carreira do cantor seriam tocadas e, não tinha erro, seria jogo ganho. Todos iríamos cantar junto e nos emocionar com as homenagens…
Bem, isso é o que deveria ter acontecido, mas na realidade, os presentes no Memorial da América Latina que se amontuaram na frente do Ice Stage esperaram por uma coisa e o que receberam foi outra totalmente diferente.
Vamos falar um pouco sobre o show em si e depois partiremos para mais algumas análises complementares.
Os muitos problemas do show
Partindo para o ponto de vista da apresentação em si, algumas palavras definem: desastrosa, frustrante, mal organizada, cheia de problemas técnicos, sem sal e quase nada de tributo. Sim, o show foi vendido a todos como uma homenagem a André Matos e o que vimos foi muito pouco ou quase nada disso. Posso afirmar sem qualquer medo que esta foi uma das performances mais bizarras e brochantes ao qual já assisti.
É claro que algumas pessoas partiram para o oba oba, resolveram colocar uma venda nos olhos e simplesmente acreditaram que estava tudo ótimo, mas isso não é uma realidade. Para alguns, somente a presença de músicos tão renomados e respeitados de nosso Metal já é sinônimo de festa, mas o que foi entregue foi muito abaixo do aceitável. Começo minhas críticas falando da qualidade do som: horrível desde o primeiro minuto. Poderíamos até dar um desconto caso este fosse o único ponto de demérito, mas não foi. Aliás, este foi o único show de todo o festival em que o som começou ruim e terminou ruim. O Benediction havia tocado no mesmo palco minutos antes e estava tudo excelente, o Sepultura tocou minutos depois e estava tudo excelente, os problemas foram exclusivos desse show e, portanto, isento de culpa a organização do evento.
Estava marcado que o Viper subiria no palco e iniciaria sua apresentação às 14:10, e é preciso mencionar que a pontualidade reinou durante os dois dias de Summer Breeze. Todas as bandas foram pontuais, menos o Viper, que foi o responsável pelo único atraso ocorrido nos mais de 30 shows do fest. Subiram ao palco cerca de 10 a 15 minutos atrasados e iniciaram a performance inexplicavelmente com “Under The Sun”. Nada contra esta música, muito pelo contrário, acho a canção excelente, mas pelo que me lembre este seria um tributo a André Matos…
Enfim, a apresentação começou do avesso com uma música que é um single de um vindouro disco do Viper que estava marcado para ser lançado no último dia 13 de julho de 2022 (dia mundial do Rock do ano passado). Como todos sabemos, o lançamento não aconteceu e nenhuma explicação foi dada de forma oficial nem pela banda, nem pela gravadora, nem por sua assessoria (se é que eles tem uma). Os fãs simplesmente aguardaram o álbum e ele não chegou, nada foi dito e ficou por isso mesmo. Em “Under The Sun”, o microfone de Leandro Caçoilo estava simplesmente mudo. Não ouvimos uma palavra sequer cantada pelo vocalista. Outros instrumentos que falharam foram as guitarras, em alguns momentos a de Felipe Machado, em outros a de Kiko Shred. Somente nos últimos momentos da música o microfone de Caçoilo funcionou, mas estava intermitente.
Enquanto os técnicos de palco tentavam ajustar a bagunça, Leandro Caçoilo explicou que somente naquele momento, depois de “Under The Sun”, iria ser iniciado o tributo a André Matos. E esta foi a única menção que o Viper fez ao “homenageado”. O clássico “A Cry from the Edge” veio na sequência e pensei, “agora vai”, mas não foi… o som continuava embolado, as guitarras falhando a todo momento e o microfone de Caçoilo bastante irregular. “Living For The Night” foi a próxima e já estava claro que não iam conseguir arrumar nada. Bingo! Não arrumaram mesmo e um dos maiores clássicos de todo o Metal nacional foi tocado de forma bem morna e sem energia. A “homenagem” do Viper se resumiu a isso, a banda deixou o palco e foram chamados o guitarrista Hugo Mariutti e o vocalista Alírio Neto (do Shaman), o guitarrista Rafael Bittencourt e o baixista Felipe Andreolli (do Angra) e o baterista Rodrigo Oliveira (do Korzus), que substituiu Ricardo Confessori por motivos óbvios.
“Lisbon” começou a ser tocada e confesso que demorei alguns momentos para reconhecê-la, já que o teclado marcante da introdução simplesmente estava inaudível. A guitarra de Rafael também não era ouvida e o show seguiu com o botão do “Deus nos acuda” ligado. Nesta parte percebi algo imperdoável. O Summer Breeze proporcionou a cada banda uma estrutura de festival gringo e havia um enorme telão no centro do palco que poderia ser utilizado pelas bandas. Todas elas usaram o telão, mas no tributo a André Matos o telão só foi utilizado em duas ocasiões, a primeira para exibir o logo do Viper na primeira parte do show e pouco depois para exibir o logo do Shaman. Neste momento em que estavam os dois integrantes do Angra no palco, o telão exibia o logo do Summer Breeze rodando e, acredite se quiser, não foi exposta uma única imagem de André Matos durante todo o show. Na platéia, o público ostentou uma bandeira belíssima em homenagem ao maestro, mas no palco se preocuparam mesmo em colocar os logos de suas respectivas bandas em evidência.
Falha ou descaso? Tire suas próprias conclusões.
Enfim, seguiram com “Make Believe” e, tirando a performance de Alírio Neto, que foi muito boa, todo o resto continuava medonho. Rafael e Felipe saíram e foram chamados ao palco o baixista Luis Mariutti e o tecladista Fabio Ribeiro para representar a formação do Shaman. E foi somente nesta hora do show que, finalmente, conseguimos ter alguns momentos interessantes. O som estava nitidamente melhor e a impressão era que os únicos instrumentos que estavam corretamente equalizados e ajustados eram os desses músicos. Portanto, as execuções de “Turn Away”, “For Tomorrow” e da balada “Fairy Tale” acabaram soando como um oásis no deserto. Alírio Neto parecia ser o único a se lembrar que aquele show era um tributo e foi dele as poucas menções feitas a André Matos. Quando ele foi ao microfone e começou a dizer algumas palavras sobre André, confesso que já estava angustiado achando que nem isso iria ser feito.
No final, foram chamados novamente Rafael Bittencourt, Felipe Andreolli e o guitarrista do Viper, Felipe Machado, para tocar “Carry On”. Esqueçam o momento aceitável do Shaman, pois em “Carry On”, com todos esses músicos no palco e todos os problemas anteriores com os instrumentos, de novo, tivemos um tremendo emboleiro no som e, por incrível que pareça, tinha instrumento afinado em tom diferente dos demais (creio que era a guitarra de Felipe Machado). Mas tocaram o barco assim mesmo e, nesta hora, só queria que aquele circo terminasse logo.
Parte dos músicos justificaram os problemas dizendo que praticamente não conseguiram ensaiar, mas a realidade é que o show foi marcado com meses de antecedência. Creio que tempo suficiente para, no mínimo, conversar sobre coisas óbvias como: “quais fotos ou vídeos de André Matos vamos colocar no telão?”, “Já que vou fazer uma jam com vocês, em qual afinação vocês tocam?”, “Pessoal, é um tributo a André Matos então vamos tocar somente músicas que ele gravou, ok?”.
O ego desses caras é tão grande ao ponto de sequer conversar antes de fazer um show juntos? E caso este seja o caso, por que diabos aceitaram o convite?
É muito triste saber que todos estes músicos são tarimbados e poderiam ter feito uma homenagem extremamente bonita e marcante a André Matos, na frente de milhares de pessoas e em um evento tão bem sucedido como foi a primeira edição brasileira do Summer Breeze, mas simplesmente não tiveram o entendimento adequado da situação e nos apresentaram qualquer coisa.
Sabemos que o Viper vem se arrastando por aí há muitos anos e, hoje, é mais uma ex-banda em atividade do que qualquer outra coisa. Pit Passarell há tempos não consegue se apresentar de forma minimamente aceitável, parece estar sempre bêbado ou sob o efeito de sabe-se lá o que. Vendo imagens de outras apresentações, é evidente que não respeita os músicos atuais da banda e se limita a ser um mero palhaço animador de platéia com suas dancinhas ridículas e discursos ininteligíveis. Traduzindo: está literalmente jogando o nome da banda na lata do lixo enquanto meia dúzia de fãs abobalhados o tratam como uma lenda. Já os músicos do Shaman são o oposto dessa galhofice, são extremamente profissionais e creio que ter participado de uma apresentação tão abaixo do esperado deve ter sido algo muito incomum e dolorido para eles. Principalmente, se este foi realmente o último show da banda. Neste caso, certamente, mereciam mais, mas acaba que a falta de empenho para organizar um show realmente profissional (por que este não foi) somada a inabilidade no planejamento dos atos cobraram seu preço.
Como resumo de tudo, uma banda aparentemente se afundando em seus próprios problemas internos e outra que já havia anunciado o fim das atividades meses antes do evento foram as grandes responsáveis por um tributo pessimamente executado a nada menos que um dos maiores nomes do nosso Metal nacional (senão o maior!).
André Matos merecia muito mais do que isso.
Setlist
- Under The Sun
- A Cry From The Edge
- Living For The Night
- Lisbon
- Make Believe
- Turn Away
- For Tomorrow
- Fairy Tale
- Unfinished Allegro/ Carry On