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Megadeth: “meu filho pequeno precisa mais de mim agora do que a banda precisa de mim”, disse Kiko para Dave

Reprodução

Em passagem pelo Brasil, o guitarrista Kiko Loureiro, ex-Megadeth, esteve no programa Amplifica, apresentado por seu ex-companheiro de Angra, o também guitarrista, Rafael Bittencourt.

É claro que o Megadeth não estaria de fora da conversa e, pela primeira vez, Kiko falou sobre sua saída do quarteto norte americano liderado por Dave Mustaine.

Primeiro de tudo, ele se justificou sobre a viagem ao Brasil e explicou que tudo já estava marcado com bastante antecedência devido ao feriado de ação de graças.

O músico ainda usou o próprio feriado como exemplo para contar um episódio e demonstrar uma espécie de descontentamento sobre sua condição de estar sempre pronto para um possível chamado do Megadeth para shows. Ele começou dizendo:

“A tua vida fica meio presa, você não pode marcar nada. Meu pai tem 85 anos e ele foi pra Helsinki (Finlandia), e é difícil de ir pra Helsinki, dá trabalho, e eu disse a ele, ‘vai lá por que vai ser bem nesse período (de ação de graças), não vai ter show’, ele comprou passagem, é maior rolê pra ir lá, aí marcaram show. Marcaram o show e aí você vê que não tem mais o controle da sua vida, mas faz parte né, É normal. mas quando você está lá em outro país, algumas coisas pesam mais.”

A rotina de turnês desgastante

Kiko ainda explicou um pouco sobre como é chegar em casa e ter pouco tempo para estar com a família. Segundo ele:

“Você fica nesse looping sem parar de turnês e aí voce chega em casa e precisa de uns dias pra entender o que tá se passando. E aí você tem que fazer as coisas que você deixou de fazer por que você estava fora e logo em seguida já tem uma próxima turnê. Então, você fica meio preso nisso.”

Foto: Leandro Anhelli/Divulgação/Rádio e TV Corsário

Sobre as notas publicadas tanto pelo guitarrista como pelas redes oficiais do Megadeth, Kiko explicou:

“Eu escrevi esse depoimento, na verdade, era um depoimento que iria sair pelo canal do Megadeth primeiro, mas o Dave falou, ‘posta você primeiro’. Então eu postei primeiro e o Megadeth postou na terça feira. Tem uma empresa que posta pra eles, mas as mensagens foram semelhantes, diferentes textos, mas alinhadas, tudo totalmente conversado antes, essa conversa já vinha de junho.”

Um pouco depois, Kiko disse:

“Eu tenho um pouco desse espírito de músico, de buscar a liberdade”

Decisões difíceis

E ainda acrescentou:

“Você toma uma decisão, escolhe uma opção e depois segue a vida depois daquela opção. E a mesma coisa aconteceu agora. Eu acho que a gente vive ciclos em nossa vida, no final dos anos 90 a gente viveu isso com o Angra e depois você também casou (se dirigindo para Rafael), sabe esses ciclos? Teve os anos 2000, quando eu fui morar sozinho, esse ciclo dos anos 2000 com a banda durou mais ou menos uns 7 anos, a gente puxou um pouco a corda, fez o ‘Rebirth’ e coincide um pouco quando eu fui pros Estados Unidos. Foi uma busca por liberdade, foi tipo, por que não os Estados Unidos, eu posso ir e vou. E fui, né.

Aí teve o lance com o Megadeth e, agora, devido a circunstâncias na minha vida, eu tomei a liberdade de optar em não estar no Megadeth. Por que é a minha opção. A liberdade é você ter o poder de escolha entre duas opções viáveis, isso é liberdade, você tem duas ou mais opções viáveis.”

Reprodução/Facebook

Neste momento, Rafael Bittencourt comenta:

“Se você só tem uma opção, você tá preso nela!”

E Kiko continua:

“Exatamente! Se você está em um trabalho e você gostaria de não estar, mas você precisa estar por quer você precisa pagar as suas contas, você não tem essa liberdade. Isso vale pra qualquer coisa, se eu quiser voltar pra casa aqui em São Paulo de helicóptero eu não tenho essa liberdade, eu não tenho essa escolha, não é uma escolha viável. No caso do Megadeth, eu tenho essa possibilidade de ter essa escolha, e com esse espírito de liberdade eu tomei essa escolha.”

Os bastidores!

Ainda sobre o mesmo tema, o guitarrista ainda se aprofunda um pouco mais:

“Toda decisão é sempre um dilema, não é um problema, tipo, não tenho um problema ou briguei com alguém, não tem nada disso, é um dilema do tipo, eu tenho umas questões de família e eu queria ficar mais em casa.

Sempre as pessoas acham que tem um problema muito sério acontecendo pra justificar o por que de eu estar abrindo mão (do Megadeth), e ninguém consegue imaginar que eu apenas tomei uma decisão, simplesmente isso.

Existe uma questão que eu preciso estar mais em casa, eu não posso ficar mais 3 meses em turnê, mais 6 meses fora de casa, isso é muito tempo. Isso é uma maturidade, vou chamar assim, ou um resultado de um desenvolvimento pessoal, por que minha filha, a Lívia, que tá com 12 anos, ela nasceu no dia que eu cheguei em casa, algumas horas depois de eu ter tocado no Rock In Rio 2011. Aquele fatídico Rock In Rio 2011. Quando eu penso hoje, o Kiko de hoje olha isso e fala, ‘você foi um puta idiota’, por que o risco de não ter visto a minha filha nascer era enorme. E eu optei por ser músico e tocar com o Angra no Rock In Rio por que o Rock In Rio era mais importante. O Kiko de hoje fala, ‘você foi um idiota’. O Rock In Rio nunca vai ser mais importante que o risco de você perder o nascimento da sua filha. É óbvio né, mas na época eu não tive essa maturidade de mandar um substituto pra tocar o show do Rock In Rio, nem passou pela minha cabeça.

Por que o Marcelo Barbosa foi meu substituto alguns meses antes em alguns shows, ele foi como substituto, mas o Rock In Rio foi um dos motivos que eu comecei a tocar e gostar de Heavy Metal, logo eu pensei, vou tocar no Rock In Rio. E várias coisas como essa aconteceram ao longo dos anos, e com o Megadeth foi a mesma coisa.

Tipo, quando os gêmeos nasceram, em 2016, tipo 10 dias depois eu tava fazendo show. Isso meio que faz parte do negócio, mas é isso, você tem que fazer escolhas e tomar decisões.”

Reprodução/Facebook

Loureiro assume que essa escolha de deixar o Megadeth não foi algo tão simples, já que há algunas anos atrás ele não faria isso.

“Eu, há cinco anos atrás não faria o que eu fiz agora, tanto que eu não fiz.”

Para finalizar, ele ainda explica como tem funcionado as coisas dentro do Megadeth e por que essas coisas passaram a incomodar o brasileiro. Ele disse:

“De 2015 até agora eu fiquei no Megadeth, são 9 anos se contar corrido, a gente fez 2 álbuns… mas está tudo conversado, tudo foi dialogado, eu que indiquei o Teemu, o cara foi na minha casa tocar, mostrei, fiz vídeos, fiz tudo. Eu falei pra banda, ‘não vou fazer essa turnê de setembro, não quero ficar 3 meses fora. Eu faço a da Europa, por que é muito importante.’. Mas ia imendar uma na outra.

Eu entendo. Cada um passa por fases na vida, entendeu? É mais ou menos isso. Os outros da banda, a equipe da banda, você como funciona né, pra você fazer um show bom, você tem que ter não só os músicos, a banda tocando bem, mas uma equipe boa. E a equipe boa não é só ‘vou chamar esse cara que ele é bom pra caramba’, é ‘chamar esse cara que é bom pra caramba que você tem chamar, por que ele conhece o show e tem que fazer vários shows também’. Então é um grupo que tem que ser sólido e tem que ter uma certa constância. Não dá pra ficar trocando toda hora senão esse show não vai ser tão bom

Se toda vez você tiver um iluminador novo, o cara vai estar pegando ainda, todo iluminador novo que chega o cara precisa de uns 5, 6 shows para começar a ficar do jeito certo, então, o iluminador que tava antes, tem um cara que tava há quase 20 anos ali, os técnicos estão há muitos anos, percebe que já são casos de profissionais que estão há muito tempo. A banda pra não perder esses caras tem que fazer shows constantemente, por que os caras se não for ter turnê, vão entrar em outra banda que vai ter turnê.

Então tem essa questão prática da coisa, a banda tem que ficar o tempo inteiro fazendo turnê, não só pra ela ganhar dinheiro, tem isso, tem o lado dos fãs, tem o lado de divulgar as músicas e tem o lado que é pra manter todo mundo naquele universo, no caso do Megadeth, pelo menos umas 20 pessoas, são famílias né. No Angra a mesma coisa, você não pode acordar hoje e dizer, ‘ah não vou fazer turnê’, você tem que avisar, ‘olha, esse ano não vai ter turnê’, com antecedência, pra que todo mundo que está trabalhando, que tem expectativa, possa encontrar outra turnê.

Então tem essa questão de ‘quanto mais show melhor’, e eu não estou nessa de ‘quanto mais show melhor’. É questão do momento na vida de cada um, estou com filho pequeno, então foi o que eu falei pro Dave, ‘meu filho pequeno precisa mais de mim agora do que o Megadeth precisa de mim’, esse é o resumo da história. Então, quando você tem um dilema muito difícil, você tem que se apoiar em alguma coisa firme, por que qualquer uma das escolhas vão ter perdas e ganhos. Eu não faço as coisas na loucura, então tudo foi pensado, foi conversado e eu tentei fazer da melhor forma possível.”

Reprodução/Facebook

Estes foram os principais trechos da entrevista e, finalmente, temos tudo mais ou menos desvendado. Kiko Loureiro não foi mandado embora, mas pediu para sair para poder estar mais tempo com sua família. Esta é a versão oficial do músico. Talvez não seja a versão mais popular entre as teorias que os fãs criaram em cima do tema, mas é, sem dúvida, muito convincente e entendível.

O que você achou de todo esse imbróglio? Deixe sua opinião no espaço reservado para comentários!

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