Há bastante tempo, a Nervosa tem sido uma das grandes expoentes do Thrash Metal brasileiro em todo o mundo. Após as saídas da vocalista e baixista Fernanda Lira e da baterista Luana Dametto, a banda precisou de um tempo até encontrar o caminho certo a ser trilhado.
A primeira tentativa rendeu um bom álbum, “Perpetual Chaos”, de 2021, mas foi a segunda reformulação que resultou no aclamado “Jailbreak”, de 2023. Neste ponto foi onda a banda realmente se posicionou da forma correta no cenário internacional.
Prika Amaral assumiu os vocais e, finalmente, adicionou uma segunda guitarrista na banda. As decisões foram acertadíssimas e parece que agora a Nervosa está realmente pronta para voar mais alto e assumir responsabilidades maiores. E pensando nisso, sabemos que adentrar o mercado norte americano requer um trabalho árduo. E mesmo assim, muitas bandas fracassam neste intento.

Em uma recente entrevista concedida a David E. Gehlke, do Blabbermouth, a vocalista e guitarrista Prika Amaral comentou sobre o caminho que levou a Nervosa até chegar em sua primeira turnê como headliner em território estadunidense, entre outros temas:
“Esta é uma das razões pelas quais estou animada para esta turnê. Fizemos apenas uma turnê por aqui, que foi há dois anos com o Destruction. Esta será nossa primeira turnê como headliner. Levamos muito tempo para voltar aos EUA. Desta vez, nos esforçamos muito para trazer algo especial para as pessoas. Estamos trabalhando muito duro. Antes de uma turnê, sempre há muito estresse, especialmente, com todos os documentos, então, quando começamos a turnê, é hora de relaxar e aproveitar as coisas. Queríamos realmente fazer desta turnê a mais especial. É por isso que estamos fazendo VIP. Nunca fizemos isso antes. Estamos trazendo produtos extras e planejando tocar diferentes setlists com músicas que nunca tocamos antes. Estamos tentando misturar músicas antigas com as novas para que todos os fãs que nos seguiram desde o início reconheçam essas músicas.”

O entrevistador lembrou que Prika assumiu o papel de vocalista da banda há apenas um ano. Ela disse:
“É algo que me surpreendeu de muitas maneiras. Eu nunca planejei ser uma cantora. Eu tive muitas oportunidades de fazer isso antes, mas eu não estava interessada. Eu não me via como uma cantora. Quando chegou a hora, percebi que era algo necessário para a Nervosa. Eu faço tudo pela Nervosa. Então eu disse: ‘ok, eu não posso aceitar isso’. Liguei para uma amiga minha e perguntei o que ela achava. Ela disse: ‘claro. Acho que será uma jogada inteligente. Você é totalmente capaz de fazer isso. Você já faz vários backing vocals’. Isso era verdade, mas eu estava apenas fazendo vocais graves.
Eu disse: ‘ok, mas eu tenho que aprender a fazer os agudos e médios’. Somos uma banda de Thrash Metal, e tudo o que foi feito em nossa música foi feito com notas altas. Ela disse: ‘sim, vai ser fácil. Você tem a técnica’. Fiz quatro aulas com ela e comecei a fazer. Foi fácil. Claro, eu tinha muitas inseguranças sobre se eu conseguiria tocar e cantar assim. Quando fiz o primeiro ensaio, foi tão natural. Tudo começou a correr tão bem. Fiquei surpresa, tipo, ‘que porra é essa? Parece que eu faço isso há anos’.
Fiquei confusa. As meninas estavam olhando para mim, tipo, ‘o que está acontecendo?’, e eu disse, ‘tudo é tão fácil’. Elas começaram a rir de mim e disseram, ‘vamos ver na turnê’. Eu estava em dúvida, mas quando as turnês começaram, segui todas as dicas e tudo o que era necessário para estar em forma para cantar. No final da turnê, vi que era possível. Estou super feliz com essa posição. Sinto-me mais próxima dos fãs. Eles podem me reconhecer, pois estou aqui desde o começo.
Foi algo muito legal que me surpreendeu muito. Estou tocando. Já estamos planejando coisas diferentes para o próximo álbum. Estou aprendendo técnicas diferentes. Foi uma porta que se abriu para um mundo novo para mim. É um mundo maravilhoso e estou descobrindo tudo. Isso me trouxe muita inspiração.”

O entrevistador reconheceu que apesar dos desafios, a Nervosa conseguiu finalmente se firmar no competitivo mercado do Metal. Neste momento, Prika foi convidada a falar sobre os obstáculos que a banda enfrentou:
“Tenho que dizer algumas coisas: por um lado, é difícil vir do Brasil. Estamos longe do mundo, mas, ao mesmo tempo, temos uma cena de Metal poderosa aqui. Além disso, agora, por causa da internet, a população do Brasil é muito grande também nas redes. Estamos fazendo um bom trabalho no Brasil. É meio fácil chamar atenção nas redes sociais porque temos muitas pessoas no Brasil. Isso ajuda a atrair pessoas de outros países. Se você é de um país pequeno na Europa, acho que é mais difícil. Por exemplo, na Europa, há mais festivais. Estamos em contato com as grandes bandas e com mais músicos que admiramos.
No Brasil, tudo é longe e caro. As bandas não vêm aqui com tanta frequência. Sim, somos meio brasileiras e meio gregas, mas estamos todas morando na Grécia. Eu, Gabriela, Helena Kotina e Elina Papadogianni, moramos no mesmo quarteirão, a cinco minutos uma da outra.
Voltamos à vibe do “começando de novo”. Eu estava acostumada a tocar com os vizinhos, como as pessoas com quem fomos à escola. Estamos de volta a essa vibe e adoramos. Acho que isso estava faltando nas outras formações. Estávamos morando em cidades e países totalmente diferentes. Foi muito difícil ter ensaios. Foi administrável. Não foi um problema, mas estar todas juntas e próximas umas das outras, podemos fazer mais.”