Gravadora: Sony Music
Sempre que ícones da grandeza, importância e relevância de um Ozzy Osbourne resolvem apresentar novos trabalhos, o público headbanger acaba se dividindo em grupos seletos. Automaticamente, o disco em questão se torna o assunto do momento e em meio a muita polêmica, há os que amam incondicionalmente o material independente da qualidade sonora, há também os que odeiam sem nem sequer ter ouvido (ou ouvido bem pouco, somente o suficiente para poder criticar) e, em menor escala, há ainda aqueles que ficam totalmente indiferentes. Como um cara que escreve resenhas e análises há anos, aprendi a não integrar nenhum desses grupos e focar somente na qualidade do material. As vezes é difícil, principalmente quando se trata de uma banda de cabeceira, mas acredito que o correto é ouvir o disco sem ficar tentando traçar comparações com o passado glorioso e, tão pouco, torcer o nariz por motivos fúteis e extra-música.
Na opinião sincera deste que vos escreve, a carreira solo do Madman nunca foi um primor ou algo absolutamente inquestionável, porém, é inegável que discos como “Blizzard Of Oz”, “Diary Of A Madman”, “Bark At The Moon”, “No More Tears” e alguns outros, além de haverem sobrevivido ao teste do tempo e alcançado a alcunha de clássicos, trazem em suas tracklists legítimos hinos do Heavy Metal. Ozzy é o tipo de artista que o tamanho de sua obra fala por si, é aquele músico que não precisaria lançar mais nada e, mesmo assim, sempre seria lembrado, ovacionado e aclamado por tudo o que já fez. Dito isto, é preciso revelar que depois de “Ozzmosis”, lançado em 1995, nenhum outro trabalho concebido até aqui me conquistou, talvez “Scream”, de 2010, foi o que chegou mais perto disso, mas após 10 anos de seu lançamento, conto nos dedos as vezes em que senti vontade de ouvi-lo novamente.

Quando “Ordinary Man” foi anunciado, confesso que minha ansiedade e expectativa chegaram perto de zero. Eu simplesmente não acreditava que Ozzy poderia gravar algo realmente relevante de novo e, talvez por isso, pela hype quase inexistente, acabei me surpreendendo positivamente com os singles “Under The Graveyard”, “Straight To Hell” e “Ordinary Man”. Obviamente, assim que o álbum se tornou disponível eu mergulhei em diversas audições minuciosas e procurei não me contaminar, nem com os amantes incondicionais, muito menos com os haters.
Minhas impressões finais a respeito de “Ordinary Man” apontam para um álbum mediano e, ao contrário do que muitos possam supor, isto não se dá não por conta da performance de Ozzy ou pela qualidade das composições, mas pela produção extremamente equivocada e pelos timbres de guitarra bizonhos utilizados em algumas faixas. É de conhecimento geral que a pedidos da filha Kelly, Ozzy aceitou gravar a faixa “Take What You Want”, lançada ainda em 2019, com participação dos rappers Post Malone e Travis Scott. O produtor da famigerada canção foi Andrew Watt, o cara encarregado pela produção dos discos de Post Malone. O que me intriga de verdade não é Ozzy haver aceitado gravar a tal música, mas usar este mesmo produtor, um cara totalmente fora do Rock e Metal para trabalhar no seu álbum e, ainda por cima, dar-lhe o posto de guitarrista. Ao escutar o disco com atenção, fica evidente que Andrew não sabia o que estava fazendo e que suas percepções a respeito do Heavy Metal são limitadíssimas. O resultado dessa brincadeira é que Ozzy possuía um bom material em mãos, talvez o melhor desde a dobradinha “No More Tears” e “Ozzmosis”, mas muitas dessas composições foram desfiguradas impiedosamente pela inabilidade de Andrew. Não sei se ele é pior produzindo ou criando riffs e solos.

O disco inicia muito bem com a energética “Straight To Hell”, que consegue empolgar com sua pegada mais Heavy. A faixa ainda conta com a participação do guitarrista Slash (Guns N’ Roses), que se destaca, apresentando um ótimo solo e acrescentando uma boa dose de peso nas bases. A partir da segunda canção, a igualmente boa “All My Life”, é que começamos a sentir a falta de Zakk Wilde, já que Andrew Watt é dono de uma das mais fracas performances de um guitarrista em um trabalho do Madman. Certamente, Rhandy Roads está se contorcendo em seu túmulo. “Goodbye” inicia com uma levada agradável a la “Ozzmosis”, mas á partir da sua metade quando tenta acelerar e injetar uma dose de peso, os timbres horrorosos usados por Andrew somados a solos sem a menor inspiração, quase colocam tudo a perder e, por muito pouco, uma boa canção não é totalmente arruinada. “Ordinary Man”, a faixa que dá nome ao registro, tem a participação de Sir Elton John tocando piano e fazendo um dueto bastante interessante com Ozzy. Ao contrário do que andei lendo por aí, esta é uma balada inspirada e com excelente melodia. A próxima é a já mencionada “Under The Graveyard”, outra balada de muito bom gosto e dona de um refrão altamente cativante.
Os maiores problemas do disco estão, sem a menor dúvida, em sua segunda metade. “Eat Me” tem um ritmo festeiro associado ao Hard Rock e, apesar de não ser ótima, dentro do contexto geral, até que não compromete. “Today Is The End” é mais uma balada, e sim, aqui o excesso delas já começa a pesar. Mesmo soando legalzinha, nesta altura da audição faz a temperatura cair um bocado e poderia facilmente ter ficado de fora do tracklist, o mesmo se aplica a “Scary Little Green Men” (com participação do guitarrista Tom Morello). Esta faixa até começa bem, mas de repente ela ganha contornos estranhos e quando a bateria começa a fazer as marcações, você jura que algum rap maluco vai começar a tocar de repente. Para o nosso alívio, não é o que acontece, porém, a canção não engrena de jeito nenhum. “Holy For Tonight” é outra balada (sim, outra!) e, assim como nas três composições anteriores, também não convence. O disco poderia terminar por aqui e garantir uma nota 7 (com um pouco de boa vontade de minha parte, é claro), mas é neste momento que nos damos conta da existência de mais duas músicas (horrorosas, por sinal), ambas com participação do rapper Post Malone e, aí meus amigos, aí fica triste conseguir terminar a audição.

Não vou nem me atrever a analisar nenhuma das duas (“It’s A Raid” e “Take What You Want”), mas é certo que ter mantido ambas na lista oficial de canções do álbum foi um tremendo tiro no pé. A audição que havia começado bem, mas já vinha perdendo a intensidade a partir de sua metade, ganha contornos de pesadelo no final. Finalizar com essas duas músicas tenebrosas faz o ouvinte acabar de ouvir “Ordinary Man” e ficar com a impressão de que o trabalho é um tremendo esculacho. É claro, quando ouvimos por diversas vezes esta impressão acaba sendo desfeita, afinal, a qualidade das cinco primeiras composições e o fato de algumas outras não serem de todo ruins, nos faz reconsiderar a galhofice do Madman ao flertar com o hip hop.
Em suma, “Ordinary Man” nem de longe é a maravilha que os fãs xiitas pintaram, porém, também nem chega perto de ser a porcaria alardeada pelos haters de plantão. É óbvio que as afirmações de Ozzy, que antes do lançamento disse ter finalmente gravado um novo clássico, estão absolutamente incorretas. É mais óbvio ainda que essas misturebas nonsense não combinam com o Heavy Metal e, muito menos, acrescentam nada a musicalidade que já conhecemos. Recomendo apenas para fãs de mente aberta e que tenham paciência de não se deixar levar pelas primeiras audições.
Nota: 6
- Integrantes:
- Ozzy Osbourne (vocais)
- Andrew Watt (guitarra)
- Duff McKagan (baixo)
- Chad Smith (bateria)
- Participações especiais:
- Slash (guitarra faixas 1 e 4)
- Tom Morello (guitarra faixa 8)
- Charlie Puth (teclado faixa 1)
- Elton John (piano e vocal faixa 4)
- Post Malone (vocal faixa 10 e 11)
- Travis Scott (vocal faixa 11)
- Faixas:
- 1. Straight To Hell
- 2. All My Life
- 3. Goodbye
- 4. Ordinary Man
- 5. Under The Graveyard
- 6. Eat Me
- 7. Today Is The End
- 8. Scary Little Green Men
- 9. Holy For Tonight
- 10. It’s A Raid
- 11. Take What Your Want
Redigido por Fabio Reis