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Lançamento: Ozzy Osbourne – “Ordinary Man” (2020)

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Gravadora: Sony Music

Sempre que ícones da grandeza, importância e relevância de um Ozzy Osbourne resolvem apresentar novos trabalhos, o público headbanger acaba se dividindo em grupos seletos. Automaticamente, o disco em questão se torna o assunto do momento e em meio a muita polêmica, há os que amam incondicionalmente o material independente da qualidade sonora, há também os que odeiam sem nem sequer ter ouvido (ou ouvido bem pouco, somente o suficiente para poder criticar) e, em menor escala, há ainda aqueles que ficam totalmente indiferentes. Como um cara que escreve resenhas e análises há anos, aprendi a não integrar nenhum desses grupos e focar somente na qualidade do material. As vezes é difícil, principalmente quando se trata de uma banda de cabeceira, mas acredito que o correto é ouvir o disco sem ficar tentando traçar comparações com o passado glorioso e, tão pouco, torcer o nariz por motivos fúteis e extra-música.

Na opinião sincera deste que vos escreve, a carreira solo do Madman nunca foi um primor ou algo absolutamente inquestionável, porém, é inegável que discos como “Blizzard Of Oz”, “Diary Of A Madman”, “Bark At The Moon”, “No More Tears” e alguns outros, além de haverem sobrevivido ao teste do tempo e alcançado a alcunha de clássicos, trazem em suas tracklists legítimos hinos do Heavy Metal. Ozzy é o tipo de artista que o tamanho de sua obra fala por si, é aquele músico que não precisaria lançar mais nada e, mesmo assim, sempre seria lembrado, ovacionado e aclamado por tudo o que já fez. Dito isto, é preciso revelar que depois de “Ozzmosis”, lançado em 1995, nenhum outro trabalho concebido até aqui me conquistou, talvez “Scream”, de 2010, foi o que chegou mais perto disso, mas após 10 anos de seu lançamento, conto nos dedos as vezes em que senti vontade de ouvi-lo novamente.

Quando “Ordinary Man” foi anunciado, confesso que minha ansiedade e expectativa chegaram perto de zero. Eu simplesmente não acreditava que Ozzy poderia gravar algo realmente relevante de novo e, talvez por isso, pela hype quase inexistente, acabei me surpreendendo positivamente com os singles “Under The Graveyard”, “Straight To Hell” e “Ordinary Man”. Obviamente, assim que o álbum se tornou disponível eu mergulhei em diversas audições minuciosas e procurei não me contaminar, nem com os amantes incondicionais, muito menos com os haters.

Minhas impressões finais a respeito de “Ordinary Man” apontam para um álbum mediano e, ao contrário do que muitos possam supor, isto não se dá não por conta da performance de Ozzy ou pela qualidade das composições, mas pela produção extremamente equivocada e pelos timbres de guitarra bizonhos utilizados em algumas faixas. É de conhecimento geral que a pedidos da filha Kelly, Ozzy aceitou gravar a faixa “Take What You Want”, lançada ainda em 2019, com participação dos rappers Post Malone e Travis Scott. O produtor da famigerada canção foi Andrew Watt, o cara encarregado pela produção dos discos de Post Malone. O que me intriga de verdade não é Ozzy haver aceitado gravar a tal música, mas usar este mesmo produtor, um cara totalmente fora do Rock e Metal para trabalhar no seu álbum e, ainda por cima, dar-lhe o posto de guitarrista. Ao escutar o disco com atenção, fica evidente que Andrew não sabia o que estava fazendo e que suas percepções a respeito do Heavy Metal são limitadíssimas. O resultado dessa brincadeira é que Ozzy possuía um bom material em mãos, talvez o melhor desde a dobradinha “No More Tears” e “Ozzmosis”, mas muitas dessas composições foram desfiguradas impiedosamente pela inabilidade de Andrew. Não sei se ele é pior produzindo ou criando riffs e solos.

O disco inicia muito bem com a energética “Straight To Hell”, que consegue empolgar com sua pegada mais Heavy. A faixa ainda conta com a participação do guitarrista Slash (Guns N’ Roses), que se destaca, apresentando um ótimo solo e acrescentando uma boa dose de peso nas bases. A partir da segunda canção, a igualmente boa “All My Life”, é que começamos a sentir a falta de Zakk Wilde, já que Andrew Watt é dono de uma das mais fracas performances de um guitarrista em um trabalho do Madman. Certamente, Rhandy Roads está se contorcendo em seu túmulo. “Goodbye” inicia com uma levada agradável a la “Ozzmosis”, mas á partir da sua metade quando tenta acelerar e injetar uma dose de peso, os timbres horrorosos usados por Andrew somados a solos sem a menor inspiração, quase colocam tudo a perder e, por muito pouco, uma boa canção não é totalmente arruinada. “Ordinary Man”, a faixa que dá nome ao registro, tem a participação de Sir Elton John tocando piano e fazendo um dueto bastante interessante com Ozzy. Ao contrário do que andei lendo por aí, esta é uma balada inspirada e com excelente melodia. A próxima é a já mencionada “Under The Graveyard”, outra balada de muito bom gosto e dona de um refrão altamente cativante.

Os maiores problemas do disco estão, sem a menor dúvida, em sua segunda metade. “Eat Me” tem um ritmo festeiro associado ao Hard Rock e, apesar de não ser ótima, dentro do contexto geral, até que não compromete. “Today Is The End” é mais uma balada, e sim, aqui o excesso delas já começa a pesar. Mesmo soando legalzinha, nesta altura da audição faz a temperatura cair um bocado e poderia facilmente ter ficado de fora do tracklist, o mesmo se aplica a “Scary Little Green Men” (com participação do guitarrista Tom Morello). Esta faixa até começa bem, mas de repente ela ganha contornos estranhos e quando a bateria começa a fazer as marcações, você jura que algum rap maluco vai começar a tocar de repente. Para o nosso alívio, não é o que acontece, porém, a canção não engrena de jeito nenhum. “Holy For Tonight” é outra balada (sim, outra!) e, assim como nas três composições anteriores, também não convence. O disco poderia terminar por aqui e garantir uma nota 7 (com um pouco de boa vontade de minha parte, é claro), mas é neste momento que nos damos conta da existência de mais duas músicas (horrorosas, por sinal), ambas com participação do rapper Post Malone e, aí meus amigos, aí fica triste conseguir terminar a audição.

Não vou nem me atrever a analisar nenhuma das duas (“It’s A Raid” e “Take What You Want”), mas é certo que ter mantido ambas na lista oficial de canções do álbum foi um tremendo tiro no pé. A audição que havia começado bem, mas já vinha perdendo a intensidade a partir de sua metade, ganha contornos de pesadelo no final. Finalizar com essas duas músicas tenebrosas faz o ouvinte acabar de ouvir “Ordinary Man” e ficar com a impressão de que o trabalho é um tremendo esculacho. É claro, quando ouvimos por diversas vezes esta impressão acaba sendo desfeita, afinal, a qualidade das cinco primeiras composições e o fato de algumas outras não serem de todo ruins, nos faz reconsiderar a galhofice do Madman ao flertar com o hip hop.

Em suma, “Ordinary Man” nem de longe é a maravilha que os fãs xiitas pintaram, porém, também nem chega perto de ser a porcaria alardeada pelos haters de plantão. É óbvio que as afirmações de Ozzy, que antes do lançamento disse ter finalmente gravado um novo clássico, estão absolutamente incorretas. É mais óbvio ainda que essas misturebas nonsense não combinam com o Heavy Metal e, muito menos, acrescentam nada a musicalidade que já conhecemos. Recomendo apenas para fãs de mente aberta e que tenham paciência de não se deixar levar pelas primeiras audições.

Nota: 6

  • Integrantes:
  • Ozzy Osbourne (vocais)
  • Andrew Watt (guitarra)
  • Duff McKagan (baixo)
  • Chad Smith (bateria)
  • Participações especiais:
  • Slash (guitarra faixas 1 e 4)
  • Tom Morello (guitarra faixa 8)
  • Charlie Puth (teclado faixa 1)
  • Elton John (piano e vocal faixa 4)
  • Post Malone (vocal faixa 10 e 11)
  • Travis Scott (vocal faixa 11)
  • Faixas:
  • 1. Straight To Hell
  • 2. All My Life
  • 3. Goodbye
  • 4. Ordinary Man
  • 5. Under The Graveyard
  • 6. Eat Me
  • 7. Today Is The End
  • 8. Scary Little Green Men
  • 9. Holy For Tonight
  • 10. It’s A Raid
  • 11. Take What Your Want

Redigido por Fabio Reis

Resenha: Deep Purple – “Whoosh!”

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“Whoosh!” é o vigésimo e primeiro álbum da lendária banda de Hard Rock britânica Deep Purple, sucessor de “Infinite” de 2017, além disso, o terceiro a contar com o produtor Bob Ezrin.

Deep Purple foi a minha porta de entrada para o Rock/Metal quando eu tinha apenas 15 anos, porém eu jamais imaginava que eu estaria comentando seu novo lançamento trinta e dois anos depois. Sendo assim, para mim é uma honra estar escrevendo essa resenha, ainda que o Deep Purple não esteja passando por décadas brilhantes quanto foram suas primeiras.

Primeiras análises de “Whoosh!”

Antes que eu comece a falar sbre as faixas do novo disco, tenho que destacar alguns importantes pontos desse trabalho. Para começar, “Whoosh!” foi o disco no qual Don Airey fez a sua melhor participação desde que substituiu o saudoso maestro Jon Lord.

Em segundo, dos álbuns da era Steve Morse, ele é o terceiro que realmente me agrada, já que o debut do guitarrista na banda, “Purpendicular”, é sensacional; “Abandon” é fraco; “Bananas” é o mais fraco da banda em minha opinião; “Rapture Of The Deep” é bom; enquanto “Now What?” e “Infinite” são medianos.

“Whoosh!” buscou resgatar, mesmo que de forma sutil, sonoridades que a banda, comumente, utilizava nos anos 70.

Deep Purple / Divulgação / Facebook / “Whoosh!”

“Throw My Bones”, uma abertura magnífica

O álbum abre com a fantástica “Throw My Bones”, a qual foi single, assim como tema de videoclipe. Surpreendentemente, sem nenhum medo de estar exegerando, incluo essa canção entre minhas favoritas do Deep Purple.

O riff dela remete ao melhor da década de 70, ao passo que Ian Gillan, embora esteja longe de ter o vocal potente que tinha nos primórdios da banda, canta divinamente. Fora isso, “Throw My Bones” tem um refrão muito envolvente e um solo de guitarra que faz jus ao brilhantismo do Sr. Steve Morse.

Outras faixas que buscam o passado

Continuando a análise, “Drop The Weapon” me faz lembrar “Mary Long” do “Who Do We Think We Are”, pois tem algo da pegada característica daquele disco. Em seguida, “We’re All The Same In The Dark”, por sua vez, tem riff e ritmo contagiantes. Nela, Ian Paice se destaca pela sua competência, contudo é claro que isso não é surpresa alguma. Ela não é tão boa quanto à faixa de abertura, mas está no time das melhores do disco.

Logo depois, “Nothing At All” parece uma “brincadeira musical” entre Morse e Airey, intercalando, dessa forma, arranjos que mesclam progressivo e Fuzzion a sonoridade Rock’N’Roll da música. O solo de Morse é mais Blues/Rock, já o de Don Airey, segue a mesma linha dos arranjos desde que a canção inicia até seus segundos finais.

“No Need To Shout” tem a ver com a sonoridade que o Deep Purple vem mantendo em seus últimos lançamentos, porém com uma pegada bastante interessante.

Deep Purple também soa sombrio

Os teclados de Airey dominam as ações em “Step By Step”, que é sombria, mas também é envolvente. Esse elemento mais assustador passou a ser adotado pelo Deep Purple em alguns momentos entre seus lançamentos mais atuais, pois isso funciona muito bem. Melhor exemplo do que mencionei é a canção “Vincent Price” do álbum “Now What?”, aliás, a melhor música daquele disco.

A próxima canção, “What The What”, é um puro e legítimo Rock’N’Roll, destacando o arranjo de piano de Don Airey. Quanto a faixa “The Long Way Around”, ela tem, novamente, uma pegada setenteira, só que ainda mais Hard Rock. Don Airey é, da mesma forma, destaque nessa composição, reforçando o que eu disse sobre ele no segundo parágrafo da resenha.

Parte final

“The Power Of The Moon” mescla a veia Hard Rock/Progressiva com a atmosfera sombria, se destacando pelos lindos solos de Morse e de Airey, este último, se parecendo muito com o saudoso Jon Lord.

“Remission Possible” é um pequeno e bonito tema instrumental, o qual serve de passagem para o segundo single do álbum que vem logo após, “Man Alive”. Essa canção mistura elementos psicodélicos com o peso do Hard Rock. A temática de “Whoosh!” se revela principalmente através de um momento narrado e outro cantado por Gillan. Essa faixa é uma verdadeira viagem pra refletir sobre o que vivemos atualmente.

“Depois de alguns milhares de anos/ Menos do que a menor ingestão de ar imaginável/ Os mais sábios da evolução da humanidade/ Tornaram-se extintos/ Mãe natureza adora vácuo/ E assim, a terra foi limpa/ Como nunca havia sido/… Todas as criaturas grandes e pequenas/ Pastoreiam em solo vermelho-sangue/ E a grama que cresce nas ruas da cidade/ Tem sido uma cidade tranquila/ Até que souberam/ Que aquilo que apareceu na praia/ É um homem vivo”.

A próxima é mais um tema instrumental, “And The Adress”. A fim de abrilhantar o disco, uma regração da primeira faixa do debut da banda. Ou seja, uma homenagem aos primórdios A banda busca, inegavelmente, pelas raízes de sua sonoridade, abrindo mão das modernidades que foram produzidas nos tempos atuais. Ela pode, sim, ainda que poucos concordem, fazer parte do mesmo time que “Wring That Neck” e “’A’ 200”.

Encerramento

O álbum encerra com “Dancing In My Sleep”, que embora seja uma canção com bons ingredientes, acredito que foi desnecessária em um contexto que já estava muito bom. Ainda assim, nada que comprometa o disco como um todo, pois como eu disse, não é ruim.

Terá sido o derradeiro álbum do Deep Purple?

Talvez provavelmente, eu acabei de resenhar o derradeiro disco do Deep Purple. Pois, com os anos que eles têm de estrada e a idade avançada dos membros, qualquer registro de agora em diante pode ser o último da banda.

Estou comprando “Whoosh!” por gosto e não por coleção, como fiz com alguns álbuns passados do Deep Purple. Para se ter uma ideia, “Rapture Of The Deep” de 2005 foi o último álbum que eu havia comprado por gosto e não por simples item de colecionador.

Aprovado e indicado, portanto, para fãs do bom e velho Rock’N’Roll, principalmente, Deep Purple.

Nota 8,5

Integrantes:

  • Ian Gillan (vocal)
  • Don Airey (teclado)
  • Roger Glover (baixo)
  • Ian Paice (bateria)
  • Steve Morse (guitarra)

Faixas:

  • 1. Throw My Bones
  • 2. Drop The Weapon
  • 3. We’re All The Same In The Dark
  • 4. Nothing At All
  • 5. No Need To Shout
  • 6. Step By Step
  • 7. What The What
  • 8. The Long Way Around
  • 9. The Power Of The Moon
  • 10. Remission Possible
  • 11. Man Alive
  • 12. And The Adress
  • 13. Dancing In My Sleep

Redigido por Cristiano “Big Head” Ruiz

Resenha: Alcatrazz – “Born Innocent” (2020)

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No último dia 31 de julho, após um hiato de 34 anos, o quarto álbum do Alcatrazz, banda californiana de Hard Rock, foi lançado. “Born Innocent” é o sucessor do disco “Dangerous Games” de 1986.

Após tanto tempo sem gravar, a banda consegue resgatar muito da sonoridade de seu debut, “No Parole From Rock’N’Roll”, de 1983, registro o qual revelou ao mundo o guitarrista sueco Yngwie Malmsteen, que embora divida opiniões, revolucionou a concepção e o modo de tocar guitarra no Rock e Metal.

“Polar Bear”

A álbum abre com dois de seus singles, os quais foram clipe e lyric vídeo, a faixa título e “Polar Bear”. Ambas são a prova de uma afirmação feita por mim no primeiro parágrafo dessa resenha, pois nelas o Alcatrazz buscou se influenciar na sonoridade de seu épico debut.

“Nascemos inocentes / Então nos tornamos humanos / Nascemos inocentes / Mas nós crescemos para ser humanos”.

“Polar Bear”

Eis o forte refrão da canção que batiza o quarto álbum da banda. Afirmo com todo segurança que “Polar Bear” faria parte do “No Parole From Rock’N’Roll” e combinaria, perfeitamente, com a grandiosidade daquele álbum.

“Por favor, salve-o urso polar, libere seu espírito / Leve-o para onde ele renascerá novamente / Você o conhece urso polar, como muitos antes dele / Você os levou para onde eles nasceram de novo”.

O guitarrista Joe Stump pode não ser como Yngwie Malmsteen, isso é inegável, porém ele desperta iguais arrepios de êxtase durante a audição de seus maravilhosos solos e riffs. Apesar de ter 72 anos de idade, Graham Bonnet ainda canta e encanta como se fosse adolescente, com sua voz média/aguda, absurdamente afinada.

“Fin McCool”

“Fin McCool” dá sequência a obra de arte, esbanjando feeling e abusando de Rock’N’Roll, enquanto, Stump continua debulhando como nas faixas antecessoras e a dupla formada pelo baixista Gary Shea e o tecladista Jimmy Waldo seguem a demonstrar a mesma competência que já haviam registrado nos três primeiros full lengts da banda. Em seguida, a bonita balada “We Still Remember” destaca o trabalho conjunto de Shea, Stump e Waldo, intercalando lindas frases em escala menor harmônica.

“London 1666”

“London 1666” é mais uma das canções épicas do disco, pois, ela se refere a um grande incêndio em Londres, o qual ocorrera no dia 2 de setembro de 1666, incendiando mais de 13 mil residências.

“Meia-noite em Londres 1666/ Uma única chama foi o início disso/ A cidade medieval, dentro das muralhas da cidade/ Muitas vítimas anônimas de uma tempestade de fogo/ Nenhum lugar para ir e nenhum lugar para se esconder/ Os céus estão queimando de todos os lados/Pegue o que puder e fuja das chamas/ Corra por sua vida e comece mais uma vez”.

“Dirty Like The City”

Terceiro single do álbum, “Dirty Like The City”, igualmente foi tema de vídeo clipe. Motocicleta, velocidade, assim como a vida noturna fazem parte do enredo do vídeo dessa canção, a qual é puro Hard Rock 80’s. Dessa forma, essa mesma atmosfera Hard Rock é desencadeada na faixa seguinte:

“I Am The King”. “Me leve para baixo, me puxe/ Faça brilhar a coroa, diga-me, eu sou o rei/ Me leve para baixo, me puxe/ Minta para mim e diga que sou o rei”

Jimmy Waldo

a canção se refere às mulheres que fazem homens se sentirem reis nem que seja por uma única noite. O tecladista Jimmy Waldo se destaca com seus especiais arranjos na pesada “Something That I Am Missing”, a qual tem um mínima pitada progressiva, pois a torna pra lá de interessante.

“Paper Flags”

Alcatrazz transborda, ao mesmo tempo, versatilidade e criatividade nesse trabalho. “Paper Flags” é a quarta das canções do disco dentre as quais acho formidáveis.

“Olhe para as bandeiras de papel balançando/ Para comemorar o quê?/ A onda real dá o dedo/ Para os pobres e perdidos”

BONNET / Acervo

“The Would Is Open”

“The Would Is Open” é mais um Hard Rock cristalino. Contudo, seus riffs incorpados dão a poderosa sensação de se estar ouvindo a sonoridade de planos superiores ao físico.

Alcatrazz proporciona o Hard Rock dos deuses.

“Body Beautiful” é outra do rol das formidáveis, pois, ela possui um riff que é um sonho de composição de qualquer guitarrista que ame Rock e Metal. Eis aqui, um verdadeiro tutorial de como compor Rock pesado e épico, concomitantemente. O baterista Mark Benquechea é tão preciso que parece um metrônomo humano.

“Warth Lane”

“Warth Lane” tem uma pegada diferente de sua antecessora, ainda que seja uma canção na qual Bonnet respira e transpira puro sentimento em ondas de voz. A última das faixas formidáveis finaliza o álbum.

“For Tony” me fez lembrar do meu falecido pai

“For Tony” é uma canção que remete as primeiras décadas do século passado, podendo ser definida como uma autêntica seresta norte-americana, cantada por um exímio cantor britânico.

Pois, meu saudoso pai iria às lágrimas com essa linda melodia, impecavelmente, interpretada pelo mestre Bonnet. Confesso que me senti perto dele (meu pai) mais uma vez e isso é indescritível.

O que falar desse maravilhoso quarto álbum do Alcatrazz?

Bom, ele não chega a ser como o debut, porém vem logo em seguida em minha lista de preferência daquilo que a banda já registrou. Esse é um disco que deve ser assimilado vagarosamente e sem pressa, sentindo o prazer de cada um dos seus detalhes.

Aprovado e indicado aos fãs de Hard Rock, Heavy Metal e música de qualidade.

Nota 9,2

Ouça “Born Innocent” na íntegra:

Integrantes:

  • Graham Bonnet (vocal)
  • Mark Benquechea (bateria)
  • Gary Shea (baixo)
  • Joe Stump (guitarra)
  • Jimmy Waldo (teclados)

Faixas:

  • 1. Born Innocent
  • 2. Polar Bear
  • 3. Finn McCool
  • 4. We Still Remember
  • 5. London 1666
  • 6. Dirty Like The City
  • 7. I am The King
  • 8. Something That I Am Missing
  • 9. Paper Flags
  • 10. The Wound Is Open
  • 11. Body Beautiful
  • 12. Warth Lane
  • 13. For Tony

Redigido por Cristiano “Big Head” Ruiz

Lançamento: Unleash The Archers – “Abyss” (2020)

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Gravadora: Napalm Records

O quinto full lenght de uma das mais proeminentes bandas de Power Metal da atualidade, intitulado “Abyss” se trata de uma obra conceitual, continuação direta de seu fantástico antecessor “Apex”, lançado em 2017. Dito isso, por se tratar de um álbum com um conteúdo lírico tão rico, é altamente recomendado que o leitor escute também o álbum anterior, para melhor absorção de todo o enredo por trás das composições. Quanto aos ouvintes mais tradicionais não temam, pois focaremos na “trilha sonora” do desenho aqui. A musicalidade dos canadenses vem, gradativamente, evoluindo de um registro para o outro, mesclando os mais notórios elementos do Power Metal puro com Heavy Tradicional e requintes de Death Metal Melódico. Liderados por Brittney Slayes, uma das mais lindas e potentes vozes dos últimos tempos, Unleash The Archers tem um verdadeiro arsenal de exímios músicos, buscando mostrar seu valor entre os medalhões do Metal.

“Waking Dream” inicia o despertar de “Immortal” (protagonista da história), após os eventos desastrosos e caóticos que antecederam seu sono profundo. Os primeiros dedilhados nas cordas vão dando espaço á uma voz angelical, cantando repetidamente um único verso, gradativamente, crescendo em intensidade, até explodir de uma vez. Estamos despertos. “Abyss”, faixa título e primeiríssimo single do álbum, é basicamente um hino, daqueles em que se escutava nos primeiros álbuns do Stratovarius, porém com os holofotes todos voltados para o desempenho vocal de Brittney, o qual eleva todas as faixas do registro com seu alcance impressionante, ao modo em que transita entre estilos e sons diferentes, os vocais da frontwoman se adaptam aos mesmos. Em “Through Stars”, se iniciam as primeiras mudanças de direção, com a banda se aventurando naquele inconfundível Hard Rock oitenta 80’s, eu diria até no Pop da mesma época, porém sem perder a essência da banda em momento algum, é experimentação muito bem vinda, seria um hit radiofônico com certeza.

“Legacy” é assustadoramente diversificada, logo de inicio após uma introdução agradável, somos atingidos por uma sequencia de Blast Beats e uma orquestração épica, logo em seguida somos novamente acalentados pela voz angelical de Brittney,enquanto o ritmo acelera novamente. É a faixa que mais flerta com uma sonoridade mais “Progressive”, adicionando diferentes camadas no processo. Em “Return To Me”, entramos um pouco no território do Death Metal, que sempre fez parte da sonoridade da banda, apesar de ser uma faixa muito melódica, com solos absurdamente lindos e cheios de feeling, temos rápidas linhas vocais mais guturais e agressivas, essas linhas vocais não são frívolas, caro leitor, aqui os vocais se intensificam com iminência, com o propósito de associação com a entidade antagonista da história, chamada de “Matriarch”. Sua presença na faixa é distinguida com eficiência. Grant Truesdell (guitarra e vocais) e Andrew Kingsley (guitarra e vocais) fazem um trabalho fantástico em todo o registro, porém preciso enfatizar o solo dessa faixa em especial, por ser tratar de um desempenho de solo/base de tirar o fôlego, os riffs revezados durante os solos são melhores que os riffs principais. “Soulbound” é o mais puro Heavy/Power, é direto e reto, porém cheio de sintetizadores, e aquela tradicional mixagem das vozes em tons diferentes, adicionam aquele dinamismo nas linhas vocais. “Faster Than Light” ou “The Chase” (A perseguição) como originalmente se chamaria, faz total justiça a ambos os títulos. É a mais rápida, e mais palpitante do registro, a fenomenal Front Woman B.Slayes tem um dos melhores momentos aqui, passando uma sensação de urgência e esperança durante a “perseguição” que acontece, criando cenários inevitáveis na mente. É Power Metal puro, sem tirar nem por, e o refrão mais cativante do álbum.

Chegando aos momentos conclusivos da jornada pelo Abismo, “The Wind That Shapes The Land”, além de sua duração beirando os 8m40s, é a mais épica e grandiosa da banda até o momento, apesar de ter uma grande concorrente no mesmo álbum. É um tanto complicado definir essa faixa, novamente nos deparamos com aquela amalgama interessante que tem sido feita com tanta maestria desde o inicio, temos uma intro mais emocional e introspectiva, que logo explode em peso e agressividade, temos os requintes de Death Metal presentes nos vocais, os quais seguem uma função interpretativa, temos a abordagem mais progressiva do instrumental, solos inspiradíssimos, e é claro, uma majestosa voz capitaneando toda essa Space Opera desde o inicio. Após toda a catarse descomunal, “Carry The Flame” desacelera o ritmo, numa Power Ballad marcada por um dueto entre Andrew Kingsley (guitarra e vocal) e Brittney Slayes, perfeitamente concebido. O terreno está criado para o derradeiro momento da jornada.


“Afterlife” é o encerramento perfeito para um álbum dessa magnitude, deixando o lado Symphonic Metal com Orquestras, arquitetando uma atmosfera perfeita de clímax e também conclusão. Mas não se engane caro leitor, aqueles elementos sortidos já supracitados acima continuam tão presentes quanto em qualquer outro momento do registro. É um verdadeiro festival de mudanças rítmicas, riffs magistrais um atrás do outro, e pela milésima vez irei louvar o desempenho notório e destacado de Brittney Slayes, o qual enriquece esse álbum de uma maneira única com sua versatilidade arrebatadora, a voz dessa moça é uma dádiva. Os segundos finais são conduzidos por uma orquestra aprazível, criando um desfecho perfeito. Chegando ao fim do Abismo, me questiono o que vem a seguir futuramente, se tratando de uma banda tão rica e criativa musicalmente, e que vem crescendo exponencialmente num cenário tão saturado como o do Power/Heavy Metal. Apesar de sua raiz profunda no Power Metal, Unleash The Archers tem muito mais a oferecer, o inegável ecletismo da banda criou uma identidade musical única, mesmo bebendo das mais diversas fontes. “Abyss” é a culminação do que se iniciou no conceitual “Apex” (2017), porém são álbuns distintos em sonoridade e isso talvez cause um leve estranhamento ao ouvinte que talvez não esteja familiarizado com a banda, então deixo uma reflexão ao caro leitor. Você talvez goste de Iron Maiden, então, digamos que se o álbum “Somewhere In Time” de 1986 te cativa mais que o “Piece Of Mind de 1983”, você tem uma noção ao que me refiro.

Nota: 8,6

  • Integrantes:
  • Brittney Slayes (vocal)
  • Andrew Kingsley (guitarra, Vocais)
  • Grant Truesdell (guitarra, vocais)
  • Scott Buchanan (bateria)
  • Faixas:
  • 1. Waking Dream
  • 2. Abyss
  • 3. Through Stars
  • 4. Legacy
  • 5. Return To Me
  • 6. Soulbound
  • 7. Faster Than Light
  • 8. The Wind That Shapes The Land
  • 9. Carry The Flame
  • 10. Afterlife
  • Redigido por Giovanne Vaz

Lançamento: Nils Patrik Johansson – “The Great Conspiracy” (2020)

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Nils Patrik Johansson - The Great Conspiracy (Gravadora: Metalville)
Nils Patrik Johansson - The Great Conspiracy (Gravadora: Metalville)

O Power Metal viveu o seu auge popular entre meados dos anos 90 até o início dos anos 2000. Nesta época, foi impossível manter-se alheio aos diversos nomes que invadiram a cena metálica e, com tamanha exposição, o gênero acabou gerando uma série de clones não avantajados e defeituosos dos maiores ícones do estilo. Por volta de 1999, era algo totalmente natural encontrar todos os meses, dezenas de lançamentos de bandas iniciantes que copiavam na cara larga nomes como Helloween, Gamma Ray, Blind Guardian e outras. Algumas até demonstravam certo talento, mas muitas eram uns fiascos totais. Isto se tornou tão rotineiro que o Power Metal começou a cair em descrédito, os fãs deixaram de levar a sério tantos lançamentos iguais aos outros e a saturação foi inevitável. Em poucos anos, muitos headbangers perderam totalmente o interesse no gênero, que demorou um longo tempo para se renovar e voltar a trazer álbuns relevantes. Depois do surgimento da NWOTHM, do renascimento do Thrash e da nova safra do Death, faltava o Power Metal nos apresentar a sua nova geração. E, aos poucos, isso realmente começou a ocorrer…

Nomes como Powerwolf, Sabaton, Orden Ogan e Bloodbound, vinham segurando as pontas como podiam. Fazendo parte da última geração que causou certo impacto no gênero, estas bandas vinham tirando leite de pedra, mas agora, fomos novamente invadidos por uma onda de lançamentos que, de alguns anos para cá, começaram a pipocar em todos os cantos do planeta. Diversos trabalhos verdadeiramente coesos, interessantes e capazes de reascender a chama de um estilo que estava praticamente fadado a se repetir em um looping infinito. Bandas como Silent Winter, Metal De Facto, Espionage, Frozen Crown e Silver Bullet, projetos como Archon Angel, Mike Lepond’s Silent Assassins, Magnus Karlsson’s Free Fall, Marius Danielsen’s Legend Of Valley Doom e a carreira solo de Nils Patrik Johansson, foram chegando de mansinho e, aos poucos, nos conquistando.

Nils Patrik Johansson ficou conhecido no mundo do Metal por ser o vocalista do Astral Doors e, confesso a vocês, esta banda nunca me chamou a atenção. O mesmo não posso dizer de seus dois álbuns solo, “Evil Deluxe”, de 2018, e este “The Great Conspiracy”, de 2020.

Ok, Nils Patrik não é nenhum menino, o cara tem 52 anos de idade e é um músico pra lá de tarimbado, porém, é inegável que sua carreira solo aparece em um momento de renovação e fica impossível não colocá-lo ao lado de jovens talentos. Para suceder o poderoso “Evil Deluxe”, o cantor apostou em um trabalho conceitual. E como ele soube fazer isso bem! “The Great Conspiracy” conta a história do assassinato do primeiro ministro sueco, Olof Palme, e a narrativa dos fatos no decorrer das faixas é um verdadeiro deleite.

Só pra vocês terem uma ideia de como esse tema é polêmico na Suécia, Olof Palme foi primeiro ministro no país em duas ocasiões, de 1969 a 1976 e de 1982 a 1986, ano em que foi assassinado. O político era membro do Partido Operário Social-Democrata da Suécia e ficou famoso por ser protagonista de diversas polêmicas e controvérsias, foi morto a tiros em pleno centro de Stocolmo e, até hoje, a motivação do crime é desconhecida. Houve várias teorias da conspiração a respeito de sua morte, mais de 130 pessoas confessaram o homicídio, existem mais de 3600 dossiês sobre o caso e absolutamente nada é realmente conclusivo. Christer Pettersson, um alcoólico e dependente químico, foi reconhecido como autor dos disparos e condenado em primeira instância, porém, em 1989, foi solto por falta de provas e erros policiais na condução da investigação. Ele morreu em 2004 e chegou a assumir o crime, porém, acabou negando mais tarde. Somente em junho de 2020, promotores públicos identificaram o autor, trata-se de Stig Engstrom, que se suicidou em 2000. Não foi encontrada a arma do crime e nenhum indício forense novo foi descoberto, também não foi possível formar um quadro completo sobre os motivos que levaram Engstrom a matar o premiê. Enfim, é um caso pra lá de estranho e sua conclusão não foi, digamos, totalmente satisfatória, se é que me entendem.

Como podem perceber, o tema é pesado, mas ao mesmo tempo oferece diversas alternativas narrativas e ganchos estratégicos para condução da história. É verdade que nada disso seria suficiente para termos um bom disco de Heavy/Power Metal se as músicas aqui apresentadas não nos envolvessem na trama de forma satisfatória. Neste ponto é preciso dar todos os créditos para Nils Patrik Johansson, já que o cara demonstrou ser extremamente habilidoso e sagaz em explorar musicalidades, ritmos, excentricidades e climatizações absolutamente distintas em cada uma das 10 composições do álbum.

Conforme vão rolando as músicas, vão sendo apresentados todos os aspectos da história e, de acordo com o que é contado, temos um espetáculo de variações musicais único. Entenda, o trabalho abre com “The Agitator”, que conta um pouco da personalidade agitadora de Olof e sua história repleta de polêmicas, inimizades e atos absolutamente contestáveis, para isso, temos um Powerzão veloz e pulsante. Em “Freakshow Superstar”, temos a mídia fazendo seu estardalhaço habitual em cima da prisão de Christer Pettersson, sendo assim, temos uma música quase pop (no bom sentido), para representar a exploração midiática em excesso em cima de um assassinato, transformando o suposto assassino num astro pop. “March Of The Tin Foil Hats” é pura ironia e total sarcasmo, a letra retrata o circo feito em cima da morte do premiê, onde mais de uma centena de pessoas confessaram o mesmo crime, investigações particulares foram realizadas em paralelo as investigações oficiais da polícia, e quase todas trouxeram resultados, laudos e autores diferentes para o crime. A imprensa trazia informações desencontradas, as pessoas não sabiam em que acreditar e nada era esclarecido de fato. Sendo assim, a música é uma tremenda insanidade, uma bagunça generalizada e, em sua sonoridade, temos de tudo, desde ritmos quase circenses, até quase uma “comédia musical” travestida de Heavy Metal, se é que isso existe. Já em “Prime Evil”, onde ocorre uma reflexão um tanto pessimista sobre o curso da humanidade e nos é revelado os movimentos que acontecem nas sombras por personagens ocultos longe dos olhos de pessoas comuns como nós, temos uma música densa, pesada e com climatizações sombrias. Em “This Must Be The Solution”, que aborda a forma pouco ortodoxa de como este caso foi encerrado, a banda nos apresenta uma faixa mais épica, com coros e passagens grandiosas.

Para concluir, é meu dever deixar três advertências ao amigo leitor. Primeiro: todas as outras canções não mencionadas no texto apresentam a mesma qualidade (tanto narrativa quanto musical) e não foram mencionadas apenas para não termos um livro ao invés de uma análise de álbum. Segundo: é preciso entender a essência deste registro antes de partir para uma audição mais desavisada, em “The Great Conspiracy”, não temos faixas de fácil absorção e assimilar todo o conteúdo do disco pode demandar algumas audições mais cuidadosas. Terceiro: se você se permitir adentrar no conceito explorado e abrir sua mente para toda miscelânea musical arranjada por Nils Patrik Johansson e seus comparsas, vai descobrir que está diante de um álbum totalmente diferenciado da maioria das obras lançadas atualmente.

Facilmente estará entre os melhores do estilo em 2020. Audição obrigatória a todos os fãs de Power Metal, principalmente, aqueles que, assim como eu, cansaram de ouvir clones de Helloween e demais medalhões. Aqui temos um verdadeiro trabalho autoral, onde há um real esforço em apresentar músicas fora da caixa. Altamente recomendado.

Nota: 9

Integrantes:

  • Nils Patrik Johansson (vocal)
  • Lars Chriss (guitarra)
  • Kay Backlund (teclado)
  • Andy Loos (baixo)
  • Fredrik Johansson (bateria)

Faixas:

  1. The Agitator
  2. One Night At The Cinema
  3. The Baseball League
  4. Freakshow Superstar
  5. March Of The Tin Foil Hats
  6. Prime Evil
  7. Killer Without A Gun
  8. The Great Conspiracy
  9. This Must Be The Solution
  10. Requiem Postlude

Redigido por Fabio Reis

Lançamento: Comaniac – “Holodox” (2020)

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Gravadora: Metalworld Switzerland

Se você pensou que as únicas bandas boas de Metal oriundas da Suiça eram o Celtic Frost e o Coroner, é melhor rever os seus conceitos. O Comaniac vem lançando uma preciosidade atrás da outra nos últimos anos e, é a representante do país na nova onda de Thrash Metal que invadiu o universo da música pesada depois dos anos 2000. Assim como seu compatriota Coroner, é daqueles grupos extremamente técnicos e criativos onde cada álbum lançado é uma aventura musical diferente e você nunca saberá o nível de surpresa que a audição irá lhe causar.

Às vezes, é bem difícil explicar um disco novo de Thrash para um ouvinte experiente, tudo o que poderia ser feito dentro do estilo já foi feito e para soar palatável em pleno ano de 2020, a banda precisa ser muito competente em alguns quesitos como: conseguir compor músicas realmente boas; fazer com que sua música não soe como uma mera repetição de fórmulas; não ser um clone descarado de alguma banda influente; ter sangue no olho e transpirar energia para que o ouvinte sinta-se empolgado com a audição e, claro, dentro desse mais do mesmo, ter um mínimo de originalidade. Para nossa satisfação, o Comaniac leva nota 10 em basicamente todos estes itens.

“Holodox” é o terceiro trabalho do quarteto original da cidade de Aargau, ele sucede os ótimos “Return To The Wasteland”, de 2015, e “Instruction For Destruction”, de 2017. Confesso que desde o disco de estréia lançado em 2015, o Comaniac me chamou a atenção e, imediatamente, percebi que se tratava de uma banda diferenciada, porém, o que Jonas Schmid (vocal/guitarra), Stefan Häberli (bateria), Valentin Mössinger (guitarra) e Joel Strahler (baixo) nos apresentam em seu mais novo disco significa, sem sombra de dúvidas, a solidificação e a consolidação da banda como uma das mais talentosas desta geração.

Esqueça aquele Thrash mecânico e de plástico executado por uma infinidade de nomes novos e consagrados, esses caras tem uma pegada absolutamente diferente e soam como um sopro de ar fresco em um estilo onde basicamente tudo já foi feito e refeito. Basicamente, as músicas de “Holodox” não seguem uma linearidade comum, tanto em termos de ritmos, como em variações de velocidade ou padrões mais simples de ‘verso-refrão-verso-refrão-solo-refrão’. Tudo no álbum soa despojado, feito sem muita intenção de soar intransigente ou pomposo em demasia, as músicas fluem com uma naturalidade absurda e, o mais legal, é que mesmo sem essa intenção, os caras conseguem ser virtuosos ao extremo em determinados momentos, porém, simplórios logo em seguida, conseguem ser extremamente viscerais, mas em seguida apresentar trechos cheios de melodias realmente bonitas. O Thrash do Comaniac é mais do que uma aula, ele transcende os próprios limites do gênero sem ser presunçoso ao ponto de querer fazer isso.

Se eu fosse mencionar destaques, teria que fazer um longo faixa a faixa e descrever minuciosamente todas as nove canções que compõe “Holodox”, mas eu não farei isso, até por que eu quero que o amigo leitor tenha o mesmo prazer que tive e a mesma sensação de surpresa que eu experimentei ao término de cada composição. O que vou fazer aqui é te dar uma dica de audição, ou seja, uma breve lista de coisas que você deve refletir enquanto escuta o disco. Primeiro: note o quão diversificado musicalmente é o trabalho, veja bem, eu adoro álbuns porradas onde todas as músicas são tocadas na velocidade da luz, mas quando temos nove faixas e cada uma delas são bastante diferentes umas das outras, a audição não fica enjoativa nunca. Se você gosta apenas de Thrash veloz, cru e direto, provavelmente, não vai curtir “Holodox”, não que o trabalho não apresente músicas com estas características, ele apresenta, mas o Comaniac vai muito além disso. Segundo: perceba como se livrar de amarras auto-impostas engrandece uma audição, eu duvido muito que os músicos da banda pensaram algo como “vamos fazer um álbum old-school de Thrash Metal”, os caras simplesmente deixaram sua criatividade fluir e pouco se importaram se determinado trecho ficaria progressivo demais, melódico demais, old-school demais, porrada demais… as músicas simplesmente “aconteceram” desta maneira. Por último: note como quatro caras extremamente técnicos e virtuosos, conseguem tocar faixas simplórias e, mesmo quando usam toda sua virtuose, nunca soa uma masturbação sonora sem sentido.

Se esta análise te despertou interesse, eu recomendo de verdade que você escute, não apenas este, mas todos os três registros dos suiços do Comaniac. Certamente, este álbum entra de cabeça na briga pela medalha de ouro do estilo este ano, e isto já é um grande feito, não apenas por ser uma banda relativamente nova, mas por que em 2020 tivemos trabalhos absolutamente fantásticos de Thrash, inclusive, na humilde opinião deste que voz escreve, foi o melhor ano para o estilo em tempos. Tivemos os registros do Testament, Havok, Sepultura, Onslaught, Mekong Delta, Heathen, Annihilator, Warbringer, Total Annihilation, Holycide, Slaughter Messiah, Mindtaker, Lucifist e tantos outros, todos estes com real chance de brigar pelo pódio. Enfim, não perca mais tempo e caia de cabeça nesta audição. Obrigatório!

Nota: 9,5

  • Integrantes:
  • Jonas Schmid (vocal/guitarra)
  • Stefan Häberli (bateria)
  • Valentin Mössinger (guitarra)
  • Joel Strahler (baixo)
  • Faixas:
  • 1. Holodox
  • 2. The New Face Of Hell
  • 3. Art Is Dead
  • 4. Head Of The Snake
  • 5. Narcotic Clan
  • 6. Legend Heaven
  • 7. Love And Pride
  • 8. Under The Gun
  • 9. Bittersweet
  • Redigido por Fabio Reis

Lançamento: My Dying Bride – “The Ghost Of Orion” (2020)

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Gravadora: Peaceville Records / Nuclear Blast

Desnecessário lembrar o caro leitor que o My Dying Bride é a única banda da trindade do Doom inglês (My Dying Bride,Anathema e Paradise Lost) que em seus 30 anos de atividade, foi a que menos se afastou de sua sonoridade ” raiz”. Eles lançaram seu décimo terceiro álbum completo, “The Ghost Of Orion”, no dia 6 de março desse ano e é sobre ele que falaremos.

Quando o disco inicia com “Your Broken Shore”, Imediatamente, já estou em outro universo…. Reflexivo, denso e mórbido, totalmente alinhado (involuntariamente) aos dias que estamos vivendo na atualidade. Essa faixa é My Dying Bride puro, em sua fase clássica, com direito a belas linhas de violino e vocais guturais dignos de um álbum de Death Metal! O vocalista Aaron Stainthorpe brilha nessa música, assim como o restante da banda. Andrew Craighan segurou muito bem o trabalho de guitarra no álbum, após a saída do guitarrista e membro fundador da banda. Calvin Robert Shaw.

Em “Outlive The Gods”,as melodias de guitarra e violino dominam o clima mágico e depressivo, porém um dos pontos altos do disco fica por conta da cativante “Tired Of Tears”, na qual Aaron canta em determinado momento, “ Tão cansado de lágrimas/ não ponha a mão sobre/ não coloque a mão na minha filha/ meu filha canta suave e doce para si mesma/ eu sei que nenhuma vida pode viver para sempre/ navegando para longe, eu vou por mim mesmo/ sombras más, dedo está apontando/ envolto em uma mortalha triste da minha doença/ sem você, eu me tornei um mortal/ com essa criança nos meus braços sangrando/ estou tão cansado de lágrimas”. Tal letra assume um caráter pessoal quando o ouvinte toma conhecimento que a filha de Aaron teve um câncer e a letra retrata o depoimento de um pai que apenas queria ver sua filha a salvo daquela situação.

“The Solace”, infelizmente, fica em uma posição desconfortável perante a faixa anterior,flertando com certo experimentalismo,trazendo a participação especial de LindyFayHella, ( do Fabuloso Wardruna),porém a música não “emplaca”. “The Long Black Land” traz a pegada do baterista Jeff Singer ( Ex Paradise Lost), dando o tom pesado, aliado aos vocais guturais e ao baixo de Lena Abé (ex-Severed Heaven), juntamente com a parede de guitarras de Andrew Craighan, a qual fez dessa faixa mais um grande momento da bolacha.

Assim como “após a tempestade vem a bonança”, depois da música mais pesada, temos a mais “ leve”.“ The Ghost Of Orion” é um interlúdio acústico, criando um clima mais ameno após o peso apresentado anteriormente.“The Old Earth” é a música mais longa do álbum, e devo dizer ,minha preferida! Ela tem riffs marcantes, bateria e baixo “estralando” no peito,sendo uma viagem ao “ lado arrastado da força”, comprovando a maestria dos ingleses quando o assunto é essa vertente mais “emocional” do Doom Metal, que se popularizou no início dos anos 90. Vale menção especial a gravadora Peaceville Records, responsável pelos lançamentos dos principais discos da trindade inglesa, a qual foi citada anteriormente.

Fechando com “Your Woven Shore”,canção que parece uma trilha de filme de horror, My Dying Bride retorna do limbo com um disco que “ da de relho” em seus últimos álbuns.

Feche os olhos e mergulhe no puro Doom Metal dos mestres Ingleses.

Nota 7,5

  • Integrantes:
  • Andrew Craighan (guitarra)
  • Aaron Stainthorpe (vocal)
  • Lena Abé (baixo)
  • Shaun Macgowan (teclado, violino)
  • Jeff Singer (bateria)
  • Faixas:
  • 1. Your Broken Shore
  • 2. To Outlive The Gods
  • 3. Tired Of Tears
  • 4. The Solace
  • 5. The Long Black Land
  • 6. The Ghost Of Orion
  • 7. The Old Earth
  • 8. Your Woven Shore
  • Redigido por Jonatan K Gorehead

Resenha: Havok – “V” (2020)

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Century Media Records

Primeiramente, peço desculpas pelo texto grande, mas também peço que leiam até o final, garanto que vai valer a pena.

O que dizer desta banda que tanto me surpreende a cada lançamento? Começarei pelo óbvio, para os que ainda não conhecem a fundo, o Havok foi formado em 2004, em Denver, no estado do Colorado, os estadunidenses possuem cinco álbuns lançados, sendo este “V”, o mais novo registro do quarteto. Devo mencionar que os thrashers aqui mencionados, segundo este que vos escreve, ocupam o pódio supremo entre as bandas desta nova geração. Se você nunca ouviu discos como “Burn”, “Time Is Up”, “Unnatural Selection” ou “Conformicide”, corre logo atrás do tempo perdido e faça a sua lição de casa. Esses caras são diferenciados em quase todos os sentidos e, apesar de em sua proposta inicial, terem entregue apenas um Thrash Metal old school bem executado, eles vem evoluindo muito a cada novo lançamento e, fatalmente, você será arrebatado.

O Havok não é uma banda comum, com ideias comuns e discos que repetem uma fórmula, os caras são muito bons tecnicamente, são criativos, ousados e, ao contrário de muitas bandas que se dizem “politizadas”, eles tem realmente algo a dizer. Quando estiver diante de um novo registro do Havok, além de se encantar com a pancadaria sonora proporcionada, tente dar uma atenção para as letras, é apenas uma dica que dou. Até o final desta resenha, você vai entender um pouco o que estou querendo dizer.

HAVOK / Reprodução / Facebook

Ao ouvir “V” pelas primeiras vezes, imediatamente, notei que tratava-se de algo diferenciado e, por isto, a sua análise também precisava ser diferenciada. Desde o lançamento de “The Rise Of Chaos”, do Accept, e “Conformicide”, do próprio Havok, eu não senti a necessidade de escrever um texto tão detalhado, mas as mensagens contidas nestes trabalhos pediam isto e, no caso de “V”, tenho o mesmo feeling.

Ao iniciar a audição, temos “Post-Thruth Era”, bem ao estilo faixa de abertura bombástica. Logo de cara, percebe-se a produção impecável e o baixo ao melhor estilo “zangão” quebrando tudo, cortesia do novato Brandon Bruce. Em tempos onde as fake news são uma realidade em nossas vidas e o jornalismo atual parece estar mais preocupado em desinformar do que informar, estes malacos iniciam seu disco dando este tabefe nas nossas fuças:

“Era da pós-verdade/ Controle complexo da mente/ Não confie em seus olhos/ Desaprenda o que você acha que sabe/ Era da pós-verdade/ Você está sendo enganado/ Seus olhos são inúteis/ Quando sua mente está cega”.

Pode-se afirmar que “V” é, de certa forma, conceitual, já que ele explora assuntos que se interligam. Aqui, os temas vão variar entre política, controle em massa, elevação da consciência e planos secretos que beneficiam poucos, fazendo da vida de muitos um inferno. Se identificou? Pois é, eu também.

Reprodução / Facebook

A segunda canção é “Fear Campaign”, é quase uma continuação da primeira, já que trata-se de outra pedrada visceral e traz uma letra que complementa o que foi dito anteriormente. Realmente, vivemos em uma época de pós-verdades, o que importa não é realmente a notícia, mas se essa notícia embasa a sua visão de mundo. Quase todos caímos nessa armadilha mental. Olhando o que a mídia tem feito com a população em tempos de pandemia, não tem como discordar destas frases:

“Eles estão usando o medo para controlar você/ Eles usam o medo/ Em uma campanha de medo/ Sem restrições, infecta seu cérebro/ Mas o medo perde o controle quando você se vira e desvia o olhar/ Rejeite o medo”.

As três músicas seguintes trazem um outro lado da banda e trocam a velocidade pela cadencia. Todas as três (“Betrayed By Technology”, “Ritual Of The Mind” e “Interface With The Infinite”) são excepcionais e demonstram uma habilidade ímpar em transitar entre o Thrash mais veloz e aquele Thrash mais melodioso e pesado. Em “Betrayed By Technology”, os caras fazem menções a quarta revolução industrial que se aproxima,

“Traídos pela tecnologia/ Transcendendo a biologia/ Está chegando!/ Em todo o mundo/ Automação em larga escala será realizada/ A dominação da automação começou”

“Ritual Of The Mind” é quase uma conclamação para que voltemos a usar nossa mente.

“A natureza tem as respostas/ O sistema tem as mentiras/ Reconecte-se com o arcaico ritual da mente”.

Em “Interface With The Infinite”, os caras usam mensagens subliminares e alegorias para retratar uma espécie de poder superior ou inteligência artificial por traz de tudo o que ocorre no mundo:

“Você recupera a conexão/ Com a mente inconsciente/ Obliteração temporária/ Daquele que você chama de ‘I’/ Alucinação, Neurogênese/ Interface com o Infinito”.

Deu pra sacar o nível dessas mensagens?

Reprodução / Facebook

Até este momento, “V” se assemelhava bastante com o terceiro disco de estúdio da banda, o ótimo “Unnatural Selection”. Até mesmo a ordem das músicas deixava isso subentendido e, caso isso se confirmasse, não seria uma surpresa. O álbum anterior (“Conformicide”) havia recebido algumas críticas por seu conteúdo bastante experimental e, caso os caras tivessem resolvido dar um passo para trás e ter feito um registro mais “tradicional”, isto não seria nenhum demérito. Como vamos ver adiante, isso não ocorreu. “V” vai além de “Unnatural Selection” demonstrando ser um disco muito mais rápido e visceral, porém, não se afasta tanto de “Conformicide”, trazendo a sua cota generosa de experimentações.

Passando um pouco da metade da audição, temos a intro “Dab Tsog”, com pouco mais de um minuto e servindo como uma espécie de divisão entre a primeira e a segunda parte do disco. Ela serve de abertura para a composição mais brutal de toda a carreira da banda, a pistoluda “Phantom Force”. Em uma palavra, essa música é um arregaço. Todas as linhas, tanto de baixo quanto de guitarras são um espetáculo, isso sem contar a performance do baterista Pete Webber, que apresenta todo seu cartão de visitas e não deixa pedra sobre pedra. Na letra, temos algo como um pesadelo dentro de um pesadelo, já que nas canções anteriores os caras expõe todo o caos em que vivemos, aqui temos uma espécie de sequela causada por essa vida cheia de contratempos. A tal “força fantasma” é uma entidade paranormal que te caça e não te deixa vencer ou ter bons momentos até mesmo dentro de seus próprios sonhos. Na sequência, outra porradaria das bravas, “Cosmetic Surgery” possui riffs primorosos e exemplifica a química presente entre os músicos. Contratempos, viradas, mudanças rítmicas e pronto, temos uma das melhores faixas de “V”. A letra traça um paralelo bastante interessante ente dois tipos de pessoas. Aquelas que mudam o seu físico ou sua aparência (apesar disso não mudar o seu interior) com aquelas pessoas que estão acima dos nossos olhos, os grandes líderes mundiais e figurões donos do poder, que escolhem quais as “verdades” que nos serão enfiadas goela abaixo.

“Os assassinos da verdade estão caçando de novo/ Eles promovem outra matança, com o toque de uma caneta/ Eles escolhem o que você vai aprender hoje/ Por que amanhã, amanhã a verdade será o que eles dizem que é”

HAVOK / Divulgação / Facebook

Nos aproximando do final do disco, temos mais três belíssimas composições, duas bastante experimentais (“Panpsychism” e “Don’t Do It”) e mais um Thrash rápido, ríspido e direto ao ponto (“Merchants Of Death”). “Panpsychism” é a minha favorita, pouco mais de seis minutos de muitas reviravoltas sonoras, riffs e solos destruidores e, até mesmo, alguns vocais limpos de David Sanchez. Nesta letra temos algo extremamente filosófico, é como uma transcrição sobre um estado mais elevado da mente humana, onde percebemos que nosso cérebro é muito mais hábil do que jamais imaginamos…

“consciência é a base da existência/ Um cisma filosófico/ Estar ciente de sua própria consciência/ Panpsiquismo”.

Em “Merchants Of Death”, Havok nos lembra que a vida humana é descartável e estamos rumando por uma estrada sem volta:

“Aproveitando os lucros da guerra/ Não importando o custo humano/ Todos sabemos o que estamos buscando/ Um maldito Holocausto em escala global/ A guerra contra o terror é uma fraude/ O dólar financia o ‘inimigo’/ Nossa política externa falhou/ Estamos atrasados para a terceira guerra mundial”.

Fechando com chave de ouro essa verdadeira epopeia musical, temos a diferentona, porém, épica, “Don’t Do It”. Cheia de grooves e alguns vocais limpos, o quarteto arrisca sem medo tendo a certeza de que o dever foi cumprido já nas canções anteriores. Foram muito inteligentes ao deixar esta faixa por último, se tivessem colocado entre as primeiras canções do tracklist, talvez teriam assustado alguns ouvintes mais tradicionalistas, mas aqui no apagar das luzes e com a entrega de diversas canções memoráveis, o ouvinte escuta “Don’t Do It” com outros ouvidos. Se lembra de “Ingsoc”, presente no álbum “Conformicide”? Pois é, a experimentação é mais ou menos nesse nível. Não vou entregar muitos detalhes para não estragar a surpresa.

Obs: a letra é uma espécie de manifesto sobre o suicídio.

HAVOK / Reprodução / Facebook

Tanto este, quanto os lançamentos anteriores da banda, deveriam ser obrigatórios para todos os que insistem em pregar baboseiras político-ideológicas como regras a serem seguidas. Em tempos perturbadores como este em que vivemos, onde a confusão política e acontecimentos trágicos como esta pandemia nos forçam a viver uma vida totalmente diferente do que a que estamos acostumados, o Havok traz à tona um registro brilhante que elucida questionamentos que muitos de nós não fazemos. “V” é um registro de verdades indigestas e críticas inteligentes, é um trabalho que nos obriga a pensar e a rever posicionamentos.

Em tempos onde o “dividir para conquistar” é uma realidade que nos é imposta e o meio Metal se encontra tão fragmentado e fragilizado, eis uma banda que nos traz de volta o Thrash Metal raiz. Aqui, temos uma voz dissonante em meio a bandas que se pronunciam politicamente vomitando meias verdades e/ou verdades convenientes. “V” nos lembra o verdadeiro espírito do Thrash: anti-sistema, politizado, porém, anti-políticos. Um disco que merece ser ouvido, reouvido e dissecado.

Vida longa ao Havok!

Nota: 9.7

  • Integrantes:
  • David Sanchez (vocal e guitarra)
  • Pete Webber (bateria)
  • Reece Scruggs (guitarra solo)
  • Brandon Bruce (baixo)
  • Faixas:
  • 1. Post-Truth Era
  • 2. Fear Campaign
  • 3. Betrayed by Technology
  • 4. Ritual of the Mind
  • 5. Interface with the Infinite
  • 6. Dab Tsog
  • 7. Phantom Force
  • 8. Cosmetic Surgery
  • 9. Panpsychism
  • 10. Merchants of Death
  • 11. Don’t Do It
  • Redigido por Fabio Reis

Resenha: Cirith Ungol – “Forever Black” (2020)

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“Forever Black” é o quinto full lenght da discografia do Cirith Ungol.

Após um hiato de 29 anos, a banda americana de Heavy/Doom Metal , Cirith Ungol, lançou o seu quinto álbum, “Forever Black”, sucessor de “Paradise Lost”, de 1991.

Atualmente, o line-up conta com três remanescentes da formação original, o vocalista Tim Baker, o baterista Robert Garven e o tecladista/guitarrista/baixista Greg Lindstrom. Além disso, completam a formação: Jim Barraza, que já havia tocado no álbum anterior, é o guitarrista e Jarvis Leatherby (Night Demon) é o baixista.

Cirith Ungol vive

Quem apostou que Cirith Ungol modernizaria sua sonoridade nesse novo disco, após tanto anos, se equivocou completamente, pois a banda continua a seguir a linha sonora que é sua marca registrada desde os anos oitenta. Sendo assim, se você aprecia os álbuns “Frost And Fire” e “King Of The Dead”, certamente deve conhecer “Forever Black”.

CIRITH UNGOL / Reprodução / Facebook

O início

Logo após a pequena introdução “The Call”, a canção “Legions Arise”, um legítimo Heavy Metal 80’s made in USA, já me aprisiona na audição. Uma canção acelerada, com um riff poderoso e o vocal de Tim Baker sendo o mesmo que sempre foi. Só por essa faixa, o álbum já não teria sido um total desperdício. Em seguida, “The Frost Monstreme” dá continuidade ao trabalho em altíssima vibração, mesmo sendo mais cadenciada que a sua antecessora. Os riffs misturam, ao mesmo tempo, tendências sonoras 70’s e 80’s. O guitarrista Jim Barraza esbanja feeling e pegada em seus solos.

Já “The Fire Divine”, por sua vez, prova que o atual álbum do Cirith Ungol agradaria da mesma forma que seus clássicos dos anos 80, caso tivesse sido lançado naquela época. Embora a banda não tenha se fastado durante um único segundo de sua já conhecida personalidade sonora, ela não soou como cover de si mesma.

A canção “Stormbringer” se distingue das demais do disco, já que ela não introduz com um riff, mas sim com dedilhado de guitarra, sendo bem mais lenta e direcionada ao Doom Metal. Além disso, ela tem os solos mais bonitos do disco e uma épica interpretação vocal de Baker. O Heavy/Doom igualmente marca a presença na música “Fractus Promissum”. Os solos com efeito de pedal wah wah são os pontos fortes dessa bela faixa.

CIRITH UNGOL / Reprodução / Facebook

A trinca final

Quase chegando ao fim, “Nightmare” dá inicio a derradeira trinca do full-lenght. Como resultado, um Doom Metal que exala peso, deixando a atmosfera sombria. O modo como Cirith Ungol faz Doom é completamente singular, não possuindo, portanto, semelhanças nítidas com outras bandas. Quase com ares de despedida, “Before Tomorrow” persiste com a pegada das três faixas anteriores, mantendo o ambiente macabro e a audição deleitosa. O álbum encerra com a faixa título, “Forever Black”, brindando a espera daqueles que por quase 30 anos ansiaram por uma nova bolacha da banda, pois ela saiu e não decepcionou.

Em suma, se você é a apreciador de Heavy/Doom Metal, o álbum “Forever Black” do Cirith Ungol é uma audição obrigatória. Certamente, ele permanecerá em sua play list por um bom período.

Nota: 8,7

Integrantes:

  • Tim Baker (vocal)
  • Jim Barraza (guitarra)
  • Robert Garven (bateria)
  • Jarvis Leatherby (baixo)
  • Greg Lindstrom (teclado, guitarra, baixo)

Faixas

  • 1. The Call
  • 2. Legions Arise
  • 3. The Frost Monstreme
  • 4. The Fire Divine
  • 5. Sotrmbringer
  • 6. Fractus Promissum
  • 7. Nightmare
  • 8. Before Tomorrow
  • 9. Forever Black

Redigido por Cristiano“Big Head” Ruiz

Lançamento: Ambush – “Infidel” (2020)

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Gravadora: High Roller Records

Reza a lenda que o terceiro disco de estúdio de uma banda é aquele que a consolida ou a faz cair no esquecimento.

O Ambush, se você ainda não ouviu falar, é mais uma daquelas bandas que apresentam sonoridade retrô. O quinteto sueco, original de Kronoberg, reproduz com bastante competência aquele Heavy Metal clássico e sem misturas que teve raízes entre o início e meados dos anos 80. Nem seria necessário mencionar que nada aqui é inovador e, muito menos, contemporâneo, porém, a grande verdade é que nenhum headbanger em sã consciência se submeteria a audição de um álbum da NWOTHM para ouvir experimentações ou misturas que, por ventura, possam descaracterizar a musicalidade tradicional do gênero.

Após dois trabalhos absolutamente inspirados (“Firestorm”, de 2014 e “Desecrator”, de 2015), o Ambush retorna com “Infidel”, e mesmo que cinco anos tenham se passado, esses caras acertaram mais uma vez, o trabalho parece ter começado exatamente onde “Desecrator” encerrou. O terceiro registro dos suecos segue a mesma linha de seus antecessores e, que bom, pois não esperávamos nada além disso. Minha dúvida era apenas se a banda conseguiria compor músicas tão fortes e impactantes como as essenciais “Natural Born Killers”, “Firestorm”, “Southstreet Brotherhood” e “Possessed By Evil”. A resposta? Sim, conseguiram. E digo mais, “Infidel” não fica devendo absolutamente nada aos seus irmãos mais velhos.

Bem, aqui volto a considerar a questão sobre o terceiro disco de estúdio de uma banda. No caso de “Infidel”, certamente, veio para consolidar o Ambush entre os principais nomes da NWOTHM e alavancá-los entre as melhores do Heavy tradicional atual.

O disco é impecável e, até mesmo a ordem das faixas, parece ter sido escolhida com bastante cuidado. A faixa “Infidel” abre a audição e dela vem um riff poderoso, a canção apresenta um refrão pra lá de pegajoso e uma interpretação digna de aplausos do vocalista Oskar Jacobsson. “Yperite” traz aquela pegada mais despojada, festeira e pode-se dizer que se trata de um quase Hard. É preciso ponderar que essa combinação é muito boa e, perto dos 2 minutos, quando sofre uma espécie de reviravolta inusitada, você imediatamente percebe que não estamos diante de qualquer banda. A próxima é a veloz “Leave Them To Die”, com uma pegada que lembra o Riot da fase “Thundersteel”, onde as linhas são bastante agressivas e os vocais melodiosos. Os solos da dupla Adam Hagelin e Olof Engkvist são belíssimos e contribuem muito para o resultado final arrebatador. Na sequência temos “Hellbiter”, o carro chefe do álbum, sem dúvidas. Esta é uma combinação explosiva e certeira que mistura o poderio de fogo sem limites do Accept e as melodias estonteantes do Judas Priest do início dos anos 80, algo que o próprio Ambush já havia explorado com êxito na apaixonante “Natural Born Killers” (presente no debut “Firestorm”). Falando em Judas Priest, a introdução “The Summoning” serve quase como uma “The Hellion” para que a instigante “The Demon Within” exploda nos falantes. Aqui temos o Ambush predador e certeiro que nos encantou em composições como “Rose Of The Dawn” e “Faster” (ambas presentes em “Desecrator”). Sem deixar a ritmo diminuir, temos “A Silent Killer”, uma das melhores do álbum, senão a melhor, com riffs afiados e uma melodia grudenta, falamos aqui de uma séria candidata a clássico. Perto do fim, aparece mais uma bordoada, a rápida e furiosa “Iron Helm Of War”, uma espécie de crossover entre o Riot (de novo) e o Hammerfall da fase “Legacy Of Kings”, uma combinação pra lá de explosiva. As duas últimas são “Heart Of Stone” e “Lust For Blood”, a primeira é uma composição tipicamente Ambush, daquelas feitas para bangear com os punhos cerrados para o alto, já a segunda, é a mais cadenciada do disco e possui mais um refrão grudento.

“Infidel” não possui pontos fracos e brinda os ouvintes com uma audição extremamente prazerosa do início ao fim. Se você é daqueles caras que se deleitam com os clássicos dos anos dourados do Metal, tenha certeza que este álbum, se fosse lançado em meados de 84 ou 85, certamente, hoje seria um dos seus discos de cabeceira. O Ambush é uma banda que encarna como poucas essa atmosfera nostálgica oitentista e compõe músicas realmente vibrantes. Se a sua praia é o Heavy tradicional calcado nas principais escolas do gênero (inglesa, alemã e norte-americana), este trabalho é claramente obrigatório para você. Certamente, um dos grandes lançamentos do ano!

Nota: 9,4


  • Integrantes:
  • Ludwig Sjöholm (baixo)
  • Adam Hagelin (guitarra)
  • Olof Engkvist (guitarra)
  • Oskar Jacobsson (vocal)
  • Linus Fritzson (bateria)
  • Faixas:
  • 1. Infidel
  • 2. Yperite
  • 3. Leave Them To Die
  • 4. Hellbiter
  • 5. The Summoning
  • 6. The Demon Within
  • 7. A Silent Killer
  • 8. Iron Helm Of War
  • 9. Heart Of Stone
  • 10. Lust For Blood
  • Redigido por Fabio Reis
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