A grande realidade é que o Pantera estava em frangalhos no início dos anos 2000.
Phil era um viciado em heroína e os irmãos Abott eram alcoólatras inveterados. A banda viajava separada nas últimas turnês, os irmãos em um ônibus e Phil em outro. No final, o baixista Rex Brown passou a viajar junto com Phil e segundo ele, existiam pessoas na própria equipe do Pantera adulando os Abott e contribuindo para que as animosidades entre as partes prosseguissem.
Em algum ponto, o grupo implodiu por simplesmente não se dar mais bem. Desse modo, as coisas deixaram de funcionar e não fazia mais sentido insistir. A partir de então, a mídia teve seu showzinho e cada entrevista com algum dos ex-integrantes se transformava em uma oportunidade de conseguir uma declaração bombástica.
E sim, aconteceram declarações bastante infelizes de ambas as partes. Formaram-se times entre os fãs, havia os favoráveis a Phil assim como os favoráveis aos irmãos Abott.
Depois da morte trágica de Dime, é muito fácil opinar, mas a realidade é que a banda como um todo lidou muito mal com a separação. Os músicos escolheram o caminho das manchetes sensacionalistas e muita bobagem foi dita de ambos os lados.

Mas por que apenas uma declaração é lembrada até hoje?
A infame entrevista de Phil Anselmo à Metal Hammer acabou ficando marcada na história por conta do crime bárbaro que ceifou a vida de Dimebag alguns dias depois. O entrevistador jogou o jogo que estava em voga naquele momento e, desse modo, citou falas recente de Dimebag falando mal de Phil. A esperança era que uma resposta à altura viesse. E certamente a resposta veio.
Phil começou respondendo a fala de Dimebag sobre ele ser o responsável pelo Pantera ter acabado e sobre ele não atender as ligações dos demais integrantes:
“Bem, eles também têm telefones. E eles não estavam se comunicando comigo. A forma de comunicação deles era mandar a garota de recados deles me ligar pra ver onde eu estava com a cabeça. Agora, isso era bem ofensivo pra mim, então eu não joguei esse jogo e o tempo passou. E eu não deixo o tempo passar, eu tenho que fazer alguma coisa, eu não posso ficar sentado em cima da minha bunda e não fazer nada, eu tenho que fazer alguma coisa, e essa coisa deve ser musical. Quando eu não uso meu dom eu me torno morto por dentro e me torno desajeitado, me torno inútil. É uma sensação terrível ser tão vulnerável.
Quando você usa seu dom, você está no topo do mundo. Você se sente valioso, sabe? Você sente que fez algo, e você fez, você criou. Eu fiz isso com muitas, muitas, muitas bandas no meu tempo livre, e eu sempre estava lá quando o Pantera chamava para fazer o próximo disco, a próxima turnê, o que fosse preciso, e eu sempre estava 100% lá.”
Sobre o que deu errado com o Pantera e sobre o início do distanciamento, ele explicou:
“Acho que por meio da devoção e da programação com o Pantera, muitas coisas foram deixadas de lado — e aconteceu a encarnação de outras grandes bandas como Down, da qual eu fazia parte, levou muito tempo e tudo mais. Tudo tem sua vez, e quando chegou a vez do Superjoint Ritual, senti na época que o Pantera tinha feito sua melhor turnê que já fizemos, que foi com o Slayer e o Morbid Angel nos Estados Unidos. Estávamos na Irlanda quando os ataques terroristas de 11 de setembro aconteceram em Nova York. Ficamos presos lá por sete ou oito dias e a turnê foi cancelada por causa da turbulência. Depois disso, pareceu que houve um grande… distanciamento.
Eu acho que, mais ou menos, esse problema fica entre Dimebag e eu. Nunca houve um momento em que ele não estava bêbado, ele não conseguia. Isso acontecia praticamente todo dia. E agora estou ouvindo que está pior do que nunca.”

Neste ponto, enfim, acontece a fala que gerou o recorte conhecido por todos:
“Ele me atacaria apenas verbalmente. E só de saber que ele era muito menor do que eu, eu poderia matá-lo como um pedaço de vapor, sabe, ele se transformaria em vapor se eu acertasse seu queixo, pelo menos, se eu o batesse. E ele sabe disso. O mundo deveria saber disso. Então, fisicamente, claro, ele merece ser espancado severamente.
Mas, claro, isso é crime e eu não faria tal coisa… Na verdade, eu apenas o deixei tagarelar. Eu me cansei muito rápido, e sempre que isso acontecia, como aconteceu hoje, eu simplesmente escolhi desejar a eles boa sorte. E, na verdade, eu realmente desejo que eles sejam homens, o que é muito difícil para eles, considerando que eles viviam na casa da mãe até os 30 anos. Em comparação, eu estava na rua por escolha aos 15 anos, vivendo onde pudesse – mas vivendo, e vivendo com sucesso, através da minha vontade.”
Phil ainda é questionado sobre o que fez sua relação ‘azedar’ com Dimebag. Ele disse:
“Eu acho que há muita coisa dentro de Darrell… pelo que eu vi de Dimebag no passado, ele teve uma grande tragédia em sua família e é claro que essa é a família de Vinnie também. Eu acho que eles nunca tiveram tempo para realmente se curar disso. A raiva e o ódio e as noites de bebedeira de apenas gritar na minha cara, comigo sentado lá aguentando e segurando minhas duas mãos só para não bater no cara… Eu fiquei cansado disso. Eu estava cansado de ser seu poste de chicotadas, sabe, e eu apenas educadamente, ou indelicadamente, me desculpei.
Acho que provei claramente a todos o que eu era no Pantera! E eu era um frontman único e incrivelmente magnético que não existia mais desde os dias de Robert Plant e Ozzy Osbourne. Sou um em um milhão… Tenho poder de permanência! Tenho seguidores devotados que fariam qualquer coisa por mim! Qualquer coisa que eu disser. E não há muitas pessoas que podem dizer isso, que estão na minha posição.
Quanto ao produto que eles lançaram, o Damageplan, aliás, o nosso produto que eles lançaram, porque era óbvio que eu estava muito envolvido com o arranjo das músicas, eu estava muito envolvido com a integridade das músicas… Sabe, era meu trabalho fazer o sequenciamento para o disco, era meu trabalho impressionar o público liricamente. E eu acho que eles falharam em todos os aspectos nesse sentido. E o mundo vai falar sobre isso.”
O entrevistador ainda questionou Anselmo sobre declarações recentes de Dimebag dizendo que Phil tinha voltado a usar heroína. Anselmo se irritou mais uma vez:
“Que homem idiota. Que homem superficial e idiota. Como ele saberia o que eu faço? E, a propósito, estou completamente sóbrio há três anos e meio. Qualquer um que me viu no palco, qualquer um que viu o formato do meu corpo e o tamanho dos meus braços, e o desejo ardente nos meus olhos, sabe que eu estou fudidamente bem… Eu bebo quatro cervejas e fico chapado agora. Dá um tempo. Eu não conseguiria dizer isso de mim mesmo nem quando eu estava na casa dos vinte anos.”
Bem, como sempre, o que ficou para posteridade foi apenas o trecho impactante que diz:
“ele merece ser espancado severamente”
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