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Quando o Rotting Christ se transformou em uma banda de Gothic Metal.

Poucas bandas conseguem migrar de estilos, flertar com sonoridades distintas de sua proposta musical inicial e ainda assim permanecem perfeitas.



Citando alguns nomes, Pantera, Therion, Sentenced, Samael, Darkseed, Anathema, Katatonia, Crematory, etc, ousaram e arriscaram ao mudar sua sonoridade e, por incrível que possa parecer, estes grupos se deram muito bem quando optaram pelas fatídicas e perigosas mudanças de estilo.

Paralelo a isso, há casos de bandas que seguiram a mesma linha de raciocínio, no entanto estas mudanças foram temporárias e, após as tempestades de críticas vindas principalmente dos fãs mais antigos, elas (bandas) decidiram que aquele era um momento passageiro ou apenas uma fase e que foi bom enquanto durou.

No segundo exemplo podemos citar nomes como Kreator, Paradise Lost, Amorphis, Borknagar, Moonspell, Celtic Frost, Cradle Of Filth, Carcass, Scorpions, Queensryche,The Cult, etc, que após mergulharem em uma piscina de críticas negativas, resolveram abandonar a ideia, fazer as pazes (ou tentar) com sua sonoridade de origem e se esta sonoridade não está lá, então estas bandas ficaram no chamado “meio termo”, o que já é um bom negócio, e garantem assim uma pequena porcentagem de fãs decepcionados.



Ainda no segundo caso, podemos citar os gregos do Rotting Christ, banda veterana que deu os primeiros passos executando Black Metal de primeiríssima linha, porém, na segunda metade dos anos 90, mudou radicalmente sua sonoridade, já que o Heavy Metal resolveu patinar feio naquela ocasião, já que as gravadoras resolveram acreditar que o movimento Grunge, seria a grande aposta da música. Pois é, parece que erraram feio.

ROTTING CHRIST / Reprodução / Facebook

Tentando (e conseguindo) fugir da sonoridade estranha que algumas bandas estavam fazendo, o grupo apostou suas fichas no Gothic Metal, estilo que estava em alta naquele momento e lançou, “A Dead Poem” (1997) e “Sleep Of The Angels” (1999), dois trabalhos excelentes, nos quais a banda transformou gradualmente seu estilo, e cá pra nós, não fizeram feio.

Para entender tais mudanças, é preciso voltar no tempo, mais especificamente no ano 1987 e falar sobre o Black Church, banda formada no referido ano em Atenas, Grécia.

REPRODUÇÃO / Acervo

Ainda em 1987, o grupo passaria a se chamar Rotting Christ lançado no ano seguinte, “Leprosy Of Death”, sua primeira demo tape.



Antes de seu álbum de estreia, o grupo lançou quatro demos, dois singles, dois splits e o EP, “Passage to Arcturo”, editado em maio de 1991.

Em novembro de 1993, finalmente é lançado “Thy Mighty Contract“, álbum de estreia contendo oito faixas inéditas, divididas em pouco mais de 37 minutos de duração.

Com sua sonoridade calcada no Black Metal, o álbum é um excelente cartão de visitas do quarteto formado (na época) por: Necromayhem (vocais, guitarras), Mutilator (baixo), Magus Vampyr Daoloth (teclados, backing vocals) e Necrosauron (bateria), pseudônimos usados por Sakis Tolis e sua trupe.

O segundo álbum, “No Servian”, chegava às lojas em outubro de 1994 e mais uma vez a banda investiu pesado no Black Metal rápido, de vocais agressivos e linhas sombrias de teclados.



Após assinarem contrato com a Century Media Records, o grupo lança, em abril de 1996, “Triarchy Of The Lost Lovers”, terceiro e excelente álbum da carreira.

Contendo nove faixas inéditas, distribuídas em pouco mais de 45 minutos de duração, o disco mostra que o grupo apostou pesado no Gothic Metal e no Dark Metal, seguindo os passos de outras bandas, já que a música pesada passava por um momento delicado onde algumas gravadoras renegaram o Heavy Metal, preferido apostar na sonoridade medíocre de um movimento horroroso que felizmente aqui dava sinais de que sua morte era certa.


Cá pra nós, uma das piores atrocidades na história da música (Opinião pessoal).

Diferente dos dois trabalhos anteriores, o novo disco apresenta melodias mais lentas e sonoridade mais cadenciada, além de solos simples. Apesar dos vocais agressivos, é certo que as guitarras já mostravam que a banda poderia mudar de estilo no próximo trabalho e isso de fato aconteceu.

Em 07 de outubro de 1997, chega às lojas “A Dead Poem”, quarto álbum oficial da carreira, gravado em maio do referido ano e o primeiro disco apresentando as referidas mudanças de estilo.



E antes que as más impressões povoem seu cérebro, é bom deixar claro que os gregos não decepcionaram. Evidentemente, a ala dos fãs mais xiitas não engoliram as mudanças (esses já nasceram reclamando) com disco e banda recebendo críticas, porém, a verdade é que naquele momento o Rotting Christ se reinventou e conseguiu se manter em evidência.

ROTTING CHRIST / Divulgação / Facebook

Contendo 10 faixas, divididas em pouco mais de 47 minutos de duração, “A Dead Poem” foi produzido em Hagen, Alemanha, no Woodhouse Studios sob a produção primorosa de Alexandre Locher, tecladista e programador de bateria do Samael, que também deu uma forcinha nas partes de teclados de algumas faixas.

O contrato com a Century Media abriu portas para a banda que passou a ter mais visibilidade. Basta ver que “A Dead Poem” teve uma excelente divulgação por parte de sua gravadora e, provavelmente, os números de vendas tenham sido superiores aos trabalhos anteriores.

Voltando ao disco e a nova sonoridade: a grande mudança está evidente logo na primeira faixa, “Sorrowful Farewell”, canção que traz vocais soando graves/guturais, deixando de lado aquelas vozes rasgadas, rispídas e vomitadas, principais características na sonoridade de grupos de Black Metal.



Evidentemente, a banda soube dosar perfeitamente a agressividade, e os vocais que, apesar de soarem mais graves, ainda trazem o mesmo timbre dos álbuns anteriores. Ou seja, o que se ouve em termos de vozes é a mesma dos trabalhos calcados no Black Metal.

A verdade é que a grande mudança aconteceu mesmo na parte instrumental (guitarras, baixo, bateria e teclados), principalmente nas guitarras que trazem solos mais simples e sequenciados durante a canção.

Mas isso quer dizer que a banda ficou lenta ou trouxe aquela sonoridade arrastada do Gothic Metal?



Sim e Não!

Em algumas de suas faixas, o andamento das canções são mais lentas, melancólicas e sombrias, porém nestas mesmas canções, é possível perceber que a banda também adiciona linhas mais rápidas. Citando exemplo temos “Among Two Storms”, canção que traz a participação especial de Fernando Ribeiro, vocalista da banda portuguesa Moonspell.

Então esta é a única faixa de destaque do álbum?

Claro que não!  

As que ouvimos em “A Dead Poem” são músicas que se conectam entre si, dando-nos a impressão que temos uma única faixa, mas que fora desmembrada em dez partes, apresentando em suas individualidades sonoras qualidades relevantes que as tornam grandiosas por si só.



Destacar uma ou duas faixas é de fato um ato de perfeita covardia, já que mencionei a particularidade de cada canção. Porém, não dá pra ficar indiferente às excelentes e já citadas “Sorrowful Farewell”, “Among Two Storms”, além das grandiosas “A Dead Poem”, faixa que batiza o álbum, “Full Colours Of The Night”, “Semigod“, a instrumental “Ten Miles High” e “Ira Incensus“, fechando em alto nível um disco primoroso e “ousado” de uma banda que não teve medo de arriscar.

* Abrindo um parêntese: No período que vai de 1997 a 1999, inúmeros grupos editaram discos que se não eram essencialmente Gothic Metal, indiretamente incorporaram elementos do estilo.

Citando exemplos: Tristania (Widow’s Weeds), Evereve (Stormbirds), Tiamat (A Deeper Kind Of Slumber), The Gathering (Nightime Birds), Theater Of Tragedy (Aegis), Paradise Lost (One Second), Crematory (Act Seven), Darkseed (Give Me  A Light), Sentenced (Frozen), Moonspell (Sin/Pecado), Heavenwood (Swallow), To Die For (All Eternity), The Sins Of Thy Beloved (Lake Of Sorrow), Anathema (Judgement), Lacrimas Profundere (Memorandum), Charon (Sorrowburn), Atrocity (Werk 80), etc.



A boa receptividade de “A Dead Poem”, seguida da crescente onda das bandas de Gothic Metal na segunda metade dos anos 90, fez com que os gregos dobrassem a aposta para seu novo trabalho de inéditas.

Seguindo a mesma linha de raciocínio e levando em consideração aquele dito popular, “em time que está ganhando não se mexe”, a banda resolveu apostar (e ousar) mais uma vez em seu novo registro.

De novo, o fizera muito bem.

Lançado oficialmente no dia 04 de janeiro de 1999, “Sleep Of The Angels” não apenas repete a fórmula de seu antecessor, bem como o mesmo estúdio e Alexandre Locher (Xy), que mais uma vez foi o grande responsável pela produção.

Desta vez, a banda também contribuiu com os trabalhos de produção, juntando forças com Siggi Bemm, responsável pela mixagem e masterização.



O disco apresenta 10 faixas inéditas calcadas no Gothic/Dark, repetindo a sonoridade mais branda e sombria de outrora.

Mantendo os parâmetros musicais apresentados no disco anterior, “Sleep Of The Angels” aparece como a segunda parte de “A Dead Poem”, criando uma conexão sonora que liga as faixas de ambos os discos criando uma dúvida na mente do ouvinte que ouse escolher entre ambos. Eu poderia dizer com certeza que temos aqui um empate técnico já que cada disco apresenta faixas distintas que de alguma forma faz morada em seu cérebro.

Talvez algumas canções de “Sleep Of The Angels” soem mais densas, mórbidas e em algum momento as doses de melancolia sejam mais evidentes.

Em um registro onde as melodias soam grudentas e cativantes,. canções como “Cold Colours” e “After Dark I Feel”, já seriam necessárias para que o ouvinte enxergasse o disco como um dos melhores trabalhos lançados naquele ano e longos anos após seu lançamento (falando dos dias atuais) enxergá-lo como um dos melhores disco do Rotting Christ.



A propósito, as versões “ao vivo” das referidas faixas são simplesmente perfeitas. Impossível ficar alheio aos trabalhos magistrais da bateria monstruosa de Themis Solis e das guitarras, que despejam pequenos solos melódicos.

Na humilde opinião desse que vos escreve, temos aqui duas canções que nasceram perfeitas.

Quando se fala de metal extremo, poucas canções soam tão perfeitas ou melhores quando executadas ao vivo. No caso de “Cold Colours” e “After Dark I Feel”, podemos dizer que suas versões em estúdio são bacanas, porém quando executadas ao vivo elas se tornam grandiosas pois soam mais pesadas.



Assim como no registro anterior, o novo trabalho traz um convidado especial. Trata-se do guitarrista e produtor Waldemar Sorychta, contribuindo com suas guitarras nas estupendas “Victoriatus” e “You My Flesh”.

Uma leve diferença entre algumas faixas de “Sleep Of The Angels”, estão evidentes nas guitarras e nos vocais de Sakis, já que sua voz soa mais voltada ao Gothic Rock, tal qual as guitarras que também se enveredam pela mesma estrada.

A verdade é que rola uma complexidade na cabeça do ouvinte ao tentar traçar um paralelo entre os discos. Se por um lado “A Dead Poem” é mais voltado ao Gothic/Dark Metal, “Sleep Of The Angels” aposta mais no Gothic Rock, adicionando umas doses cavalares de teclados e guitarra que soam mais limpas em alguns momentos.

Um retorno aos primórdios da banda estão presentes em “The World Made End” e “Delusion”, faixas que fazem questão de lembrar que apesar da mudança de sonoridade, os gregos tiveram origem na escola do Black Metal. Com isso, alguns riffs  e bases fazem a devida conexão ao referido estilo.



Embora tenhamos aqui a união perfeita do Gothic com o Black Metal, é importante enfatizar que a atmosfera predominante e que rege o disco é o Gothic e o Dark Metal.

Mais uma vez a difícil missão de apontar uma ou duas faixas em especial, já que estamos falando de um trabalho fascinante da primeira à última faixa.

É claro que algumas harmonias saltam aos ouvidos de imediato, porém ouvindo atentamente as dez faixas presentes no álbum, percebemos o quanto elas são geniais e o quanto estão ligadas uma à outra.

Traduzindo: Um trabalho onde cada canção soa envolvente.

Com a chegada do ano 2000, a música se transformava (mais uma vez), alguns estilos já estavam saturados e algumas bandas já não conseguiam ter a mesma visibilidade de outrora.



Inteligentemente, o Rotting Christ lançou, em agosto de 2000, “Kronos“, álbum onde faziam as pazes com seu passado, investindo nas canções rápidas, agressivas e com os vocais característicos do estilo que os revelou. Embora algumas canções ainda flertassem com o Gothic/Dark, o álbum apresenta faixas sombrias e linhas de vocais extremas.

Aos poucos, o trem enfim voltava aos trilhos, embora a volta definitiva ao Black Metal deu-se em “Genesis”, sétimo registro editado em agosto de 2002.

A volta ao Black Metal não impediu que o grupo incorporasse de forma gradual harmonias góticas em seus discos e em sua música.

A chegada do novo século e consequentemente do ano 2000 trouxe mudanças de comportamento (musicalmente falando), já que determinados estilos foram enfim resgatados, e como dito no início do texto, alguns grupos decidiram recuar, dando continuidade a sonoridade que os consagrou.

Em uma época onde o Gothic/Dark Metal foi devidamente “ouvido”, o Rotting Christ soube mergulhar de cabeça no estilo e diferente de alguns grupos que perderam suas identidades, os gregos surfaram na onda e se deram muito bem.



Particularmente falando, “A Dead Poem” e “Sleep Of the Angels” são dois trabalhos excepcionais, compostos e lançados por um grupo que arriscou ao mergulhar de cabeça em um estilo que em dado momento trazia similaridades harmônicas, não fugindo muito do clima denso e sombrio do estilo praticado em seu início de carreira.

Vinte e três anos após o lançamento dos trabalhos citados, o Rotting Christ se mantém como um dos grandes nomes do Black Metal mundial e também como uma das maiores bandas da Grécia.

ROTTING CHRIST / Divulgação / Facebook

Seu mais recente trabalho de estúdio, “The Heretics”,  lançado em fevereiro de 2019,  figura na lista de melhores do referido ano, bem como  na lista da Loudwire, que o classificou como “Um dos Melhores Álbuns de Heavy Metal de 2019″.

O excelente trabalho apresentado, seguido da ótima recepção perante público e crítica elevou os números de vendas em diversos países.



Não obstante, o disco figurou na 13a posição da US Heatseekers Albuns e 27a posição na US Independent Albums da Billboard. “The Heretics” também figurou nas paradas  de vendas/sucesso da Bélgica (61a), França (15a), Alemanha (51a) e Suíça (33a).

Numa seleta lista de artistas que jamais lançaram um disco ruim, o Rotting Christ pode se orgulhar de fazer parte. Sua discografia prova tal afirmação.

Mais que um excelente grupo de Black Metal, pode-se dizer que a banda é um “presente grego”, daqueles onde não nos arrependemos de receber.

Sobre a fase gótica em “A Dead Poem” e “Sleep Of The Angels”, discos  fabulosos, obrigatórios aos fãs dos estilo supracitados, e de modo geral, dois momentos importantes na história de um grupo que segue oferecendo aos seus ouvintes, discos inquestionáveis quando o assunto é perfeição.

Reprodução / Acervo

Enquanto o décimo quarto álbum da carreira não chega, o vocalista Sakis Tolis deu início a sua carreira solo ao lançar o excelente “Among The Fires Of Hell”, editado oficialmente em março de 2022.



Além do referido disco,o músico lançou, entre outubro de 2022 e janeiro de 2023, três novos singles, Ancestral Whispering, Paranoia e Here Comes The Sun, prováveis canções de um vindouro novo álbum.

SAKIS TOLIS / Divulgação / Facebook

REDIGIDO POR: GEOVANI “QUAL È A MÙSICA?” VIEIRA



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Comentários

  1. Que matéria perfeita! Simplesmente maravilhosa essa banda, esses dois discos são os discos que mais amo.Ouço-os desde 2012 e simplesmente ouvirei minha vida toda, são perfeitos, distintos, inigualáveis.resenha perfeita dos dois álbuns, deixando claro que a percepção foi a mesma que tive da grandeza e maravilha de cada faixa.Voçê percebeu que as faixas Dead Poem e You My Flesh são parecidas?E não sei vc também reparou o novo single do Sakis Tolis, Ad Astra possui acordes do After Dark I feel, que maravilha não?Resenha maravilhosa cara eu li ouvindo a faixa Thine is the Kingdom..Aliás serei mais um seguidor fiel deste site ok?

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