Quando o assunto é um novo álbum do Accept, há tempos que podemos ouvir vozes dissonantes cochichando em meio a multidão headbanger. É possível escutar algumas palavras quase ininteligíveis balbuciando críticas sobre uma possível diminuição da qualidade, alguns mencionam estagnação criativa assim como uma constante falta de inspiração por parte do líder e guitarrista, Wolf Hoffmann.
Apenas implicância ou críticas bem pontuadas?
Isso não é novidade e acontece desde o lançamento de “Blind Rage”, disco que considero absolutamente matador, mas desde sua chegada em meados de 2014, críticos abobalhados já apostavam suas fichas que “no próximo disco eles irão derrapar”. Bem, lá se vão dez anos e até o presente momento os alemães estão contrariando a “sabedoria” dos futurólogos.

É claro que com a chegada do novo trabalho, “Humanoid”, no último dia 26 de abril, mais uma vez pudemos perceber que lá estão eles, os chatos de sempre, fazendo as mesmas reclamações de sempre enquanto tentam desmerecer uma banda que, desde 2010, ano de seu retorno, apresenta uma sequência bastante sólida que conta com nada menos que seis registros de estúdio.
Mas, e desta vez, será que as críticas são justas e o Accept realmente desceu de patamar? Ou trata-se apenas daquela velha discussão UDO + Peter Baltes x Wolf e a pergunta de 1 milhão de dólares: quem é mais Accept? Vamos analisar todos estes pormenores à partir da agora e desmistificar todas as nuances por trás de mais este lançamento dos alemães.
Cuidado com as expectativas
O primeiro ponto ao qual devemos refletir é a respeito das expectativas. O que define se uma pessoa irá gostar ou não de um disco é, sem dúvida, a quantidade de expectativa depositada no seu reservatório particular. Em outras palavras, um álbum que você espera muito e acredita que são altas as chances dele ser realmente ótimo, pode te decepcionar muito mais fácil do que um ao qual você não espera absolutamente nada. O trabalho que você ouve sem emoções preliminares tem um potencial maior para te surpreender. Todavia, o novo disco da sua banda do coração pode te fazer cometer equívocos em análises prematuras. Vou explicar.
É muito comum ver fãs ficarem extremamente empolgados com algum lançamento em específico. Os motivos são aleatórios, desde ser “a banda do coração” ou, por vezes, coisas mais corriqueiras como ser “o disco do momento”. Essa é a hora de manter a calma e tentar não se deixar levar pelos elogios ou críticas desproporcionais e/ou descabidas.

Quem não está acostumado, pode se contaminar facilmente e até mesmo aqueles que conseguem analisar melhor o cenário, muitas vezes são consumidos pelo comportamento de manada. Na maioria das vezes, só para exemplificar, em poucos meses a tal “obra prima suprema acima de qualquer crítica” acaba aposentada na estante e sua audição acaba se limitando ao momento de euforia que marca seu lançamento. O mesmo ocorre em relação ao “disco fraco, decepcionante e pouco inspirado”, que depois de determinado tempo pode ir ganhando a simpatia de muitos que o desprezaram de início. Seja honesto consigo mesmo e responda: quantas vezes isso já aconteceu com você?
Caindo em si
Preciso confessar, foi exatamente isso que quase estragou minha experiência relacionada a “Humanoid”. De repente, vi uma quantidade enorme de críticas e fui ouvir o disco cheio de ressalvas, com uma propensão enorme a encontrar defeitos e desferir intempéries. Confesso que minhas primeiras audições não foram favoráveis, mas depois de algum tempo percebi que estava cantarolando a canção que eu mesmo tinha classificado como “a pior do disco”. Óbvio que algo estava errado e foi então que decidi refazer minhas audições e prestar mais atenção. Bingo!

Podemos afirmar que a sonoridade do Accept está presente, pelo menos, a dos últimos 14 anos está. As melodias características que carregam a identidade musical da banda estão em todo o tracklist. Há composições pegajosas em abundância, há momentos Hard Rock, faixas mais intensas, algumas mais velozes, outras mais melodiosas, enfim, não há como dizer que este não é um genuíno disco do Accept. A fim de deixar registrado, os singles previamente disponibilizados são todos de fácil absorção e carregam refrãos imponentes. Sendo coerente, o fã que decidir odiar músicas como “Humanoid”, “The Reckoning” e “Frankenstein”, também não deveria se sentir representado por faixas como “Hellfire”, “Dying Breed”, “Dark Side Of My Heart”, “Koolaid”, assim como “Overnight Sensation” e tantas outras desta nova fase.
Pontos dissonantes
O que temos em “Humanoid” é um disco mais formulaico e direto ao ponto. Não há uma faixa mais “diferentona” ou com uma construção mais progressiva. Não espere ouvir algo na linha de “The Abyss”, “The Undertaker”, “The Galley” ou até mesmo um tema instrumental como “Samson And Delilah”. O Accept não focou em trazer algo nesses moldes, entretanto, foi uma escolha apresentar composições mais fáceis e que trouxessem aquele jeitão de Metal chiclete. Não é a toa que na capa de “Humanoid” temos uma enorme referência ao clássico “Metal Heart”. É preciso recordar que lá nos anos 80, ele recebeu diversas críticas justamente por ser mais comercial, menos pesado, de fácil absorção e menos complexo. Querendo ou não, esta é uma característica que o Accept sempre explorou, em alguns discos mais e em outros menos, mas sempre esteve presente.
Os pontos fortes são:
Além dos singles já mencionados, destaco a canção que abre o disco, “Diving Into Sin”, que apesar de não ter o mesmo impacto de outras faixas de abertura como “Beat The Bastards”, “Hung, Draw and Quartered”, “Stampede”, “Die By The Sword” ou “Zombie Apocalipse”, parece ter uma função diferente dessas outras no tracklist de “Humanoid”. “Man Up” é outra que chama atenção pelo estilão mais cadenciado e o refrão marcante, além disso, podemos mencionar as totalmente Hard Rock, “Nobody Gets Out Alive” e “Straight Up Jack”, esta último, uma espécie de homenagem ao AC/DC.
A baladinha “Ravages Of Time” é uma boa tentativa de se assemelhar as belas canções do início da trajetória e se espelha em canções como “Breaking Up Again”, assim como “Winter Dreams”. Fora estas, jamais poderíamos esquecer da excepcional “Southside Of Hell”, de longe a melhor do disco. A mais porrada, a mais trabalhada e a mais energética de todas. E é isso, três singles muito bons somados a mais alguns destaques e pronto, este é o resumo da décima sétima investida do Accept no universo metálico.
O que você espera do Accept em pleno 2024?
Poderíamos ainda mencionar a temática do disco, que aborda em várias letras discussões muito pertinentes à respeito do assunto do momento, a Inteligência Artificial. E você pode me questionar se esta mistura um pouco mais simplória, por um acaso, é satisfatória. Bem, neste momento voltaremos ao início da análise. Tudo vai depender das suas expectativas. Se esperava um “Blood Of The Nations”, obviamente, vai se decepcionar. Se esperava um “Restless And Wild”, acho melhor se internar em um hospício. Mas se esperava uma continuação decente e digna do que o Accept vem apresentando nos últimos anos, certamente, irá aprovar “Humanoid”. Não é nem de longe um dos melhores trabalhos da discografia, mas está muito longe dos piores momentos, aliás, não há absolutamente nada que de fato o desabone.

Concluindo, o álbum irá gerar algumas críticas, mas isso já vem acontecendo há 10 anos e a vida segue. Quando um disco é feito para os fãs e estes fãs aprovam o resultado final, podemos concluir que o objetivo foi atingido com sucesso. Como diria certo idoso que escreve resenhas por aqui vez ou outra:
“próximooooooooooooo!”
Nota: 7.7
Integrantes:
Wolf Hoffmann (guitarra)
Mark Tornillo (vocal)
Christopher Williams (bateria)
Uwe Lulis (guitarra)
Martin Motnik (baixo)
Phil Shouse (guitarra)
Faixas:
- Diving into Sin
- Humanoid
- Frankenstein
- Man Up
- The Reckoning
- Nobody Gets Out Alive
- Ravages of Time
- Unbreakable
- Mind Games
- Straight Up Jack
- Southside of Hell
Redigido por Fabio Reis
Eu afirmo aqui que gostei do Humanoid, sinceramente achei melhor do que o antecessor Too Mean to Die, mas confesso que dessa vez eu (novamente) esperava mais do Accept nesse novo trabalho de 2024, e não é o caso da suposta “volta” do Peter Baltes. Mais uma vez com 11 faixas tal qual o disco anterior (que na minha versão conta com 10 faixas, porque eu não baixei a instrumental “Samson and Delilah” pra mim a que mais destoa do Too Mean to Die), a questão é que o número 11 é para mim algo incompleto nos tracklists de um disco de metal clássico como este novo do Accept.
Por que a banda não pensou antes em compor mais uma faixa para completar o repertório de Humanoid, para enfim termos 12 novas canções autorais em 52 ou 53 minutos de duração? Lembrando que antes, Blood of the Nations e Blind Rage foram lançados com 12 canções completas em seus respectivos tracklists, enquanto que Stalingrad e The Rise of Chaos (que foi onde a fórmula musical da banda começou a dar sinais de cansaço mesmo com a chegada de novos membros no line-up da banda) trouxeram apenas 10 canções. Na minha concepção, o limite máximo de canções em um disco deste porte na atualidade é de somente 12. Enfim, afirmo que com Humanoid, os caras do Accept conseguiram superar o mediano CD anterior, mesmo estando sem a presença do Peter Baltes, mas como eu disse, eu esperava mais deles novamente…