Gravadora: earMUSIC
Musicalmente falando, 2021 não tem surpreendido tanto quanto 2020 em alguns estilos musicais. Basta lembrar que no ano passado, exatamente nesta época, tínhamos uma vasta lista de grandes discos de estilos variados sendo lançados e trazendo certa dor de cabeça aos aficionados por Heavy Metal ao tentar montar a lista de Melhores do ano.
Porém, no quesito Hard Rock, 2021 tem surpreendido e se mostrado prolífero com inúmeras bandas lançando grandes discos, mantendo o estilo em alta, garantindo assim a alegria dos apreciadores (sou um deles).
E se no campo dos novos representantes, a coisa vai de vento em popa, é importante dizer que a velha guarda não tem decepcionado.
Um belo exemplo é o mestre Alice Cooper que lançou este ano um novo álbum de inéditas e mais um brilhante trabalho de sua extensa carreira.
Intitulado “Detroit Stories”, o disco é o vigésimo primeiro de sua carreira solo e o vigésimo oitavo contando a época da banda, lançado em 26 de fevereiro deste ano.
Contendo 15 faixas, onze inéditas e quatro covers, o álbum estreou no topo das paradas de vendas na lista da Billboard e é o primeiro trabalho de Alice a permanecer no topo das paradas nos últimos 29 anos.
Em seu recente trabalho, o músico resolveu homenagear sua cidade natal com um disco inspirado nas histórias de Detroit, em grande parte das memórias das cenas de Hard Rock dos anos 1970 e 1980.
O disco segue a linha dos conceituais, embora aqui a história não seja focada em um personagem e sim numa cidade, Detroit.
Sem delongas, é hora de conhecer faixa a faixa todo o encanto e excelência musical de “Detroit Stories”.
As boas vindas começam com “Rock’N’Roll”, faixa de abertura originalmente gravada por Lou Reed e seu Velvet Underground. Se em sua versão original, a canção soa arrastada e meio mórbida, aqui ela ganhou uma roupagem mais “Rock” com algumas doses a mais de peso, embora sua pegada esteja fincada no Classic Rock. Este é um daqueles casos onde a criatura supera o criador, já que a versão feita por Cooper deu uma cara pessoal à música. Tal capricho deu a canção uma cara de composição própria e aos desavisados de plantão é possível que atribuam a mesma ao mestre Alice.
“Go and Go” chega chegando, chutando a porta e despejando uma dose de “Rock and Roll” com uma levada meio “Punk” a la Ramones. Com suas linhas fortes de contrabaixo e um refrão simples e fácil de decorar, mergulhamos em um clima alegre e festeiro. Daqueles onde é possível sair dançando a primeira ouvida.
Mais um cover, e a bola da vez é “Our Love Will Change The World”, da banda de Psychedelic Pop, Outrageous Cherry. Em uma belíssima atuação, Cooper mais uma vez traz uma canção onde sua interpretação faz com que tenhamos a impressão tratar-se de uma música de sua autoria.
Os riffs encorpados de “Social Debris” dão o tom em uma canção cuja harmonia está mais voltada ao Hard/Heavy. A propósito, as linhas de contra baixo, bem como seu solo dispensam comentários. É incrível como os vocais de Alice encaixam tão perfeitos e tão precisos.
Em um dos momentos mais incríveis de “Detroits Stories”, temos a excepcional “$1000 High Heel Shoes”, talvez a música mais diferente do disco. Com sua levada “funky” e backing vocals cem por cento Rhythm and Blues, tudo aqui soa total anos 70. Desde suas melodias, sonoridades, a presença de instrumentos de sopro que dão uma atmosfera “disco” para a canção e o grande mestre encaixando seus vocais que são a cereja do bolo, numa música onde a tecla “Repeat” se faz obrigatória.
As guitarras soltam o verbo em “Hail Mary”, mais um momento excepcional do disco trazendo em suas harmonias, melodias que se fundem entre o Classic Rock dos anos 70, feito por nomes como Aerosmith, Bad Company, Alex Harvey Band, Blackfoot, etc e Hard Rock no início dos anos 80. Aqui, as guitarras soam como um encontro entre Slash e BB King.
“Detroit City 2021” traz em sua letra algumas lembranças vividas por Alice Cooper que claramente declara seu fascínio por Detroit, chamada por ele de “minha cidade”. Sua letra retrata momentos vividos ao lado de Iggy (Iggy Pop), Seger (Bob Seger) e Ziggy (codinome usado por David Bowie), tendo como trilha sonora os americanos do MC5.
Também são citados Ted (Nugent) e Suzi (Quatro) em uma canção alegre, festeira e dona de riffs espetaculares de guitarras.
Preparado para ouvir Blues? Então aumenta o som e mergulha nas melodias de “Drunk And In Love”. Com seus vocais e timbre caindo feito luva, embarcamos nas melodias absurdamente lindas de uma música que ficaria perfeita se houvesse “sem querer querendo” uma participaçãozinha especial de um jovem senhor que não pertence ao planeta terra, chamado Steven Tyler, dividindo os vocais já que seu nome (e sua voz) vem à mente após as melodias insanas de uma harmônica belíssima.
Esta é daquelas músicas que impressionam logo de cara. E o que são essas guitarras ao fundo?
Mais um momento “feliz” do disco e dessa vez a dona da vez é “Indepence Dave”, uma daquelas faixas “Rock ‘n Roll” que pode rolar sem problema algum naquele churrasco de família onde os anfitriões são barrigudos, carecas e beberrões. Destaques para as linhas de contrabaixo e aquela harmônica que resolveu esticar e dar o ar da graça por aqui também.
Tente não tocar sua “air guitar” aos primeiros acordes de “I Hate You”. Com sua pegada mais “pesada”, riffs mais “Heavy Metal”, no entanto a música mais curta do disco. A mesma passa a impressão de ser uma brincadeira já que os vocais soam engraçados, como se algum bêbado estivesse proferindo tais frases. Em resumo: Divertida.
A atmosfera de “Wonderful World” é daquelas que tal qual um laço te prende e faz com que você não consiga se soltar. Diferente de tudo que ouvimos até então, ela tem uma vibe tão “estranha” que classificá-la ou grudar em um rótulo é missão quase impossível. Destaque para as linhas pesadas de contrabaixo. Que belezura.
Mais um cover e a bola da vez é “Sister Anne” do MC5 e mais uma vez cabe uma observação: Caso o indivíduo desconheça a existência do MC5 ou da música em si, então ele vai achar que se trata de uma música própria do repertório de Alice Cooper.
Em resumo: Excelente versão para uma música que nasceu perfeita e aqui não perdeu em absolutamente nada sua essência.
Alguém me explique esse casamento perfeito entre as guitarras e a harmônica!
Em mais um grande momento, temos a espetacular “Hanging On By A Thread (Don’t Give Up)”, canção que traz um ar das bandas do chamado Alternative Metal, porém estas impressões se esvaem quando as guitarras dão as caras com um dos solos mais belos de todo o disco, mostrando que aquela aura anos 70 está infiltrada em sua harmonia. Destaque para as linhas suaves e sutis de teclados (perfeitas).
Se os Rolling Stones se encontrassem com o ZZ Top e gravassem uma música, certamente ela se chamaria “Shut Up And Rock”. É necessário dizer o que esperar dessa faixa? Acredito que não, já que seu título e as referências falam por si.
Encerrando o disco de forma espetacular, temos a magistral “East Side Story” e aqui cabe uma observação. Originalmente gravada por Bob Seger & The Least Heard nos idos de 1966, a canção é uma pérola na voz de Seger, porém é importante dizer que não imagino outro artista senão Alice, fazendo uma releitura desta, que em minha humilde opinião, é uma das mais belas músicas gravadas na metade dos anos 60.
Tudo aqui soa perfeito. Desde a escolha da música, passando pelo instrumental preciso e o timbre de Alice que caiu feito luva, mantendo a essência da versão original intacta, bem como seus backing vocals.
Ao final será necessário usar por inúmeras vezes a tecla “Repeat”.
No alto de seus 73 anos de vida, Alice Cooper é um artista de renome e prestígio inabalável e vive um dos melhores momentos de sua carreira.
Não é de hoje que seus discos estão entre os melhores trabalhos de sua longa trajetória.
O que ouvimos em “Detroit Stories” em nada se assemelha ao Hard Rock de sua fase oitentista. Em seu novo trabalho, Alice volta aos primeiros anos de sua carreira e nos mostra uma sonoridade voltada aos discos lançados no período que vai de 1969 até 1973, quando integrava o Alice Cooper Group.
Para dar um “Up” na sonoridade e evitar que o novo trabalho soasse “moderno”, Alice escolheu para a produção o parceiro de longa data, Bob Ezrin, responsável por produzir clássicos como “School ‘s Out” e “Billion Dollar Babies”.
Em suas 15 faixas (incluindo os covers), o disco soa nostálgico, oferecendo ao ouvinte um clima alegre e de pura diversão espalhadas em canções que exploram a sonoridade espetacular Classic Rock.
A edição nacional de “Detroit Stories” saiu em versão Digipack (duplo) e traz um DVD apresentando o show “A Paranormal Evening At The Olympia Paris”, gravado em dezembro de 2017 na capital francesa.
A fim de transportar o ouvinte aos anos 60/70 , Alice ainda contou com os parceiros “das antigas”, como Dennis Dunaway (baixo), Neal Smith (baterista) e Michael Bruce (guitarras).
Coroando mais um capítulo de sua belíssima e brilhante carreira de sucesso, o disco traz participações especiais e nomes importantes. Dentre eles: Joe Bonamassa, Mark Farner (Grand Funk), Wayne Kramer (MC5) e a participação surpreendente de Larry Mullen Jr (bateria), conhecido por seus trabalhos ao lado da banda irlandesa U2.
N do R: Após longos anos, Alice Cooper ainda é um dos grandes e importantes artistas da música mundial e seu novo disco, é mais um excepcional registro de sua carreira.
“Detroit Stories” é de certa forma uma grande e bem vinda surpresa em uma época de pesadelos e incertezas. Um verdadeiro alívio sonoro para nossas mentes pesadas e conturbadas, atingidas pelos últimos acontecimentos.
Nota 10
Faixas:
- 1.Rock & Roll (The Velvet Underground Cover)
- 2.Go Man Go
- 3.Our Love Will Change The World (Outrageous Cherry Cover)
- 4.Social Debris
- 5.$1000 High Heel Shoes
- 6.Hail Mary
- 7.Detroit City 2021
- 8.Drunk And In Love
- 9.Independence Dave
- 10.I Hate You
- 11.Wonderful World
- 12.Sister Anne (MC5 Cover)
- 13.Hanging On By A Thread (Don?t Give Up)
- 14.Shut Up And Rock
- 15.East Side Story (Bob Seger & The Least Heard Cover)
Redigido por: Geovani Vieira