Na estrada desde 1989, os alemães do Brainstorm editaram em 2021 mais um trabalho espetacular de sua longa e sólida carreira. Intitulado “Wall Of Skulls”, o disco foi lançado oficialmente no dia 17 de setembro, sendo, portanto, o décimo terceiro registro do quinteto, que chega três anos após o excelente “Midnight Ghost”, editado em setembro de 2018.
Sem causar grandes mistérios, adianto de antemão que temos aqui mais um discaço dos alemães, e se o amigo curte a sonoridade da banda, bem como os últimos discos lançados por eles, então é certo que irá mergulhar de cabeça nas melodias e harmonias de “Wall of Skulls”, indiscutivelmente um dos melhores trabalhos de Power Metal de 2021, bem como um dos grandes lançamentos do grupo que conta com Andy B Franck (vocais), Milan Loncaric (guitarras, backing vocals), Torsten Ihlenfeld (guitarras, backing vocals), Antonio Ieva (baixo) e Dieter Bernett (bateria).
A história do Brainstorm
Entretanto, antes de falar da nova saga musical do quinteto, é necessário voltar algumas páginas na história e se inteirar sobre sua origem. Formada na metade dos anos 80 em Heidenheim, Baden-Württemberg (Alemanha), a princípio como Memorial Brain, a banda mudaria de nome em 1989, passando a se chamar Brainstorm, lançando em abril de 1997 “Hungry”, primeiro álbum oficial da carreira. Na época, o responsável pelos vocais era Marcus Jurgens, atualmente no 20 Dark Seven.
Com ele, o grupo ainda lançaria “Unholy” em agosto de 1998, antes de sua partida, precedida da entrada de Andy B Franck (Symphorce, Ivanhoe) que estreou no disco “Ambiguity”, terceiro registro disponibilizado em julho de 2000.
“Wall Of Skulls”
Sobre o novo disco: Gravado no Greenman Studios em Amsberg, Alemanha no período de outubro de 2020 a abril de 2021, o disco apresenta 11 faixas divididas em aproximadamente 55 minutos e traz a banda fiel à sonoridade dos últimos trabalhos, surpreendendo positivamente e mostrando que será apenas uma questão de tempo para que figurem no hall das grandes bandas de Power Metal.
Apresentações feitas, é hora de conferir mais uma excelente obra musical de Andy B Franck e sua trupe, além dos convidados especiais Peavy Wagner (Rage) e Sebastian Levermann (Orden Ogan). Este último, responsável tambem pela mixagem e masterização do álbum. Vem comigo!
O disco abre com “Chamber Thirteen”, belíssima e curta introdução carregada de coros e melodias que abre caminhos para a grandiosa “Where Ravens Fly”, que vem em seguida, esta sim a primeira faixa do álbum.
Como era de se esperar assim “Intro” termina, o que se ouve são riffs poderosos e uma canção tipicamente Power Metal, como manda o figurino. Rápida, pesada, vocais poderosos, backing vocals bem colocados e refrão grudento.
Estes são os atributos perfeitos para uma música muito bem escolhida para fazer as honras do disco e sonoridade que fazem uma conexão musical com a excelente “The Pyre”, do genial “Midnight Ghost” (2018).
Em seus segundos iniciais, é possível notar similaridades sonoras com “Carry Your Heart” do Heavenly e “Beyond The Black Hole” do Gamma Ray.
Como resultado, é necessário usar a tecla “Repeat” de seu aparelho de som.
Power Metal/Heavy Metal
Do Power Metal rápido para o Heavy Metal direto e pesado, flertando também com o Hard Rock. É exatamente dessa forma que ouvimos “Solitude”, excelente faixa que traz riffs e solos excepcionais de guitarras, além de linhas excepcionais de vocais de Andy B Franck.
Esta conexão com o Hard Rock predomina justamente no refrão onde as linhas de vozes nos remete ao que faz Zak Stevens no Circle II Circle. Sim! Há uma semelhança no timbre de ambos.
Mais uma faixa com direito a lyric video, aparentemente fazendo uma conexão com a já citada “Where Ravens Fly” (compare os vídeos).
Como um verdadeiro chute na porta, “Escape The Silence” chega atropelando e mostrando que Peavy Wagner consegue ser um bom vocalista fora do Rage, banda que particularmente não me atrai, e essa ausência de atração se faz justamente pelos vocais nada interessantes de Peavy.
Voltando a “Escape The Silence”: Diferente de sua antecessoras, temos aqui aquela sonoridade Power/Thrash típica e latente do quinteto, presente em disco como “Liquid Monster” e “Downburst” por exemplo, embora esta fórmula seja uma característica do Brainstorm desde os primórdios.
Brainstorm sendo Brainstorm
Quem acompanha sua discografia, sabe muito bem que esta é uma característica deles. Ainda que se apresente um Power/Thrash no decorrer dos seus quatros minutos e meio de duração, temos em seu refrão os riffs e as melodias do Heavy Metal propriamente dito, destilados em uma música absurdamente envolvente.
O encontro de fato entre o Heavy, o Power e o Thrash acontece na estupenda “Turn Off The Light”. Certamente uma das músicas mais espetaculares do disco. Além disso, a faixa com o melhor trabalho de bateria à cargo de Dieter Bernett (o cara atropela tudo).
Traçando um paralelo perfeito entre os estilos supracitados, somos envoltos por belas melodias e harmonias que te convidam a cantar junto o refrão grudento, que insiste em fazer morada dentro de seu cérebro.
Não bastasse a magnitude e grandiosidade de uma canção absurdamente perfeita, ainda temos a participação super especial de Sebastian Levermann do Orden Ogan. Sua voz dá aquela forcinha e, dessa forma, acaba sendo a cereja do bolo.
Dueto de vozes, Sebastian e Andy
A propósito, que dueto perfeito e como as vozes de Sebastian e Andy se conectam de forma perfeita. Me arrisco a dizer que um projeto no futuro envolvendo esses dois, seria uma grata surpresa. Destaques para o refrão e os coros de vozes, lembrando justamente os trabalhos pomposos do Orden Ogan. Há de se apontar também os trabalhos de guitarras da dupla Milan Loncaric & Torsten Ihlenfeld.
Power Metal
Apresentando linhas instrumentais que nos remete aos trabalhos de Zak Stevens (ex Savatage), mergulhamos de cabeça em “Glory Disapppears”, mais uma canção repleta de excelentes linhas de vozes e instrumental absurdamente perfeitos. Numa viagem musical que transita entre os trabalhos de grupo como Circle II Circle, Archon Angel e Savatage (fase Stevens), de repente nos damos conta de que estamos ouvindo um dos melhores momentos do disco e se arrepiando com seu refrão composto por um coro de vozes estupendo, daqueles onde camadas de vozes são compostas em vários tons, cheios de vibratos, cujo resultado não poderia ser descrito de outra forma senão esplendoroso.
Quem conhece a carreira de Zak no Circle II Circle e atualmente no Archon Angel, certamente notará semelhanças monstruosas nas melodias de “Glory Disappears”. E claro, nas vozes espetaculares de Andy, causando sérias dúvidas se de fato seus vocais foram colocados na música ou se Zak assumiu o microfone (rs).
Mantendo a qualidade sonora de “Wall Of Skulls” intacta, “My Dystopia” é a bola da vez: Rápida, precisa, cheia de riffs Heavy/Thrash e com um refrão onde o ouvinte canta junto na primeira audição, temos aqui a mesmas melodias apresentadas na faixa “Ravenous Mind” do já citado (e excelente) álbum “Midnight Ghost”.
Mais uma vez é preciso enaltecer os trabalhos brilhantes de guitarras e também de Antonio Ieva (baixista), numa atuação perfeita e precisa.
Heavy Metal, mais uma vez
Em mais um momento Heavy Metal, “End My Innocence” chega com seus riffs pesados, vocais agressivos e uma bela construção rítmica que flerta em alguns momentos com o Hard Rock.
Preciso citar sobre os trabalhos de guitarras, baixo e bateria? Acredito que não.
Voltando a linha do tempo, aportamos em 2001 no álbum “Sons Of Thunder” dos italianos do Labyrinth. O que isso tem a ver com o Brainstorm? Bem, traçando paralelos eu diria que o refrão de “Stigmatized (Shadows Fall)” nos remete a “Chapter One”, faixa do referido trabalho dos italianos, embora o exemplo aqui seja apenas para o refrão já que no quesito sonoridade o que se ouve dos alemães são melodias que transitam entre o Heavy e o Melodic Power Metal.
E sim! Este é mais um grande momento do disco.
Em mais uma dose Heavy/Power, “Holding On” aponta o final da estrada já que chegamos a penúltima faixa de um trabalho que poderia ir além e certamente não cansaria o ouvinte.
A bateria de Dieter Bernett
Dona de excelentes solos, riffs, assim como refrãos que grudam de imediato e Dieter Bernett (baterista) mostrando que numa lista dos 10 melhores bateristas de Power Metal, o mesmo teria lugar garantido, desfrutamos de mais um grandiosa faixa com destaques para as linhas de teclados.
Chegamos ao destino final sob as melodias de “I, The Deceiver”, canção que fecha o disco em grande estilo e assim como suas antecessoras, traz consigo uma carga musical de excelente qualidade seja nos riffs, solos, refrão e nos vocais poderosos de Andy B Franck, que figura com uma poderosa voz do Heavy/Power dos últimos tempos. Embora esta percepção seja notada por poucos.
Após longos anos de estrada e com uma formação sólida desde 2007, o Brainstorm figura na lista de melhores bandas alemãs dos últimos tempo, merecendo figurar no hall de nomes como Orden Ogan, Powerwolf, Gamma Ray, Helloween, Blind Guardian, Grave Digger,UDO, Accept, etc.
Mais que um trabalho de qualidade musical excepcional, “Wall Of Skulls” figura na lista de melhores discos de 2021 e não por acaso um registro que trouxe enfim o reconhecimento (merecido) ao quinteto em países como Áustria, Canadá, Estados Unidos, Grécia, Suécia, Suíça e Alemanha.
Em 2022, a banda realizará a “BrainRage Over Europe 2022”, ao lado dos compatriotas do Rage. A turnê passará por países como Alemanha, Bélgica, Eslováquia, Holanda, Hungria, Polônia, República Tcheca, etc.
Nota: 9,7
*Agradecimento especial a sister Deny Hexenschuss, pelo auxílio de algumas informações relevantes e importantes para a finalização e conclusão desta resenha.
Integrantes:
- Andy B. Franck (vocal)
- Torsten Ihlenfeld (guitarra)
- Milan Loncaric (guitarra)
- Antonio Ieva (baixo)
- Dieter Bernert (bateria)
Faixas:
- 01 Chamber Thirteen
- 02 Where Ravens Fly
- 03 Solitude
- 04 Escape The Silence (Feat. Peavy Wagner, Rage)
- 05 Turn Off The Light (Feat. Sebastian Levermann, Orden Ogan)
- 06 Glory Disappears
- 07 My Dystopia
- 08 End Of My Innocence
- 09 Stigmatized (Shadows Fall)
- 10 Holding On
- 11 I, The Deceiver