No inicio de 90, muitos diziam que o ‘metal estava morrendo’. Mas a subdivisão dos estilos já conhecidos era bem enérgica e muita coisa apareceu no início dessa década. Porém, queremos falar sobre um estilo em especial, o surgimento (e consolidação) do Brutal Death Metal, e um dos seus nomes mais influentes, Dying Fetus.
Como o nome diz, nessa ramificação do Death Metal clássico temos uma agressividade muito maior, unida a um instrumental insano e muito, mais muito sangue. Mas como tudo tende a ter um início difícil, o “BDM“ sofreu muito com a falta de qualidade em suas produções, afastando até mesmo os velhos fãs do Death Metal mais old school. Comparado muitas vezes a barulhos incompreensíveis, as bandas que se aventuravam por essas marés tinham dificuldades de ser bem aceitas. Mas isso não fez com que John Gallagher desistisse. Se você acha que bandas como Master, Morbid Angel, Obituary e Bolt Thrower são extremas demais, se prepare para o que estamos a lhes apresentar.
Dying Fetus e seu início:
Primeiramente, uma explicação rápida ao leitor. Dying Fetus é um trio americano que faz o seu melhor para entregar o mais puro suco da ignorância audível. Para os que estão familiarizados com Repulsion, Napalm Death, Cattle Decapitation e Suffocation, já digo de antecedência que o DF consegue ser mais extremo ainda. Enquanto essas bandas buscam apresentar o lado da velocidade insana, o Dying Fetus fica ao lado da técnica e da brutalidade exacerbada. Nascida em 1991, a banda é uma referência quando falamos do estilo, o grupo começa distribuindo a violência com o full length “Purification Through Violence”. Apesar de ser um excelente disco de estreia, mostra ao ouvinte que o nível técnico da banda necessitaria de uma produção melhor.
Dois anos depois, em 1998, lançam “Killing on Adrenaline”, repetindo a mesma fórmula do anterior, o disco chama atenção pela roupagem mais encaixada das faixas, mostrando que a banda estava encontrando o meio termo entre aquele peso animalesco e a técnica absurda. Mas ainda faltava algo, haja visto que a produção não contribuía para a assimilação completa da experiência auditiva dos discos.
Inicio das mudanças:
Em 2000, sai o disco “Destroy the Opposition” e o EP “Grotesque Impalement”. Aqui, caros leitores, o Dying Fetus fura a bolha do Brutal Death Metal e consegue ser atirado em outras frentes do Metal. “Grotesque Impalement” se tornou o carro chefe da banda, levando eles a se apresentarem em festivais grandes da música extrema, como o “Extreme Obscebe Fest”. Apesar da qualidade de produção ainda deixar a desejar, o grupo ganhou mais notoriedade e assinou com a Relapse Records.
É interessante ver como a banda utilizou seu som agressivo e suas letras pesadas para começar a criticar e atacar duas instituições, a religião (como era de se esperar em uma banda de Death) e as instituições musicais mainstream. Como uma oposição direta e bem clara, a banda lança em 2003 o excelente “Stop at Nothing”, mantendo a temática pesada e falando contra a cultura considerada “normal” pela sociedade atual, a banda mantem a fórmula do disco anterior.

Pequeno hiato e retorno:
Em 2007, “War of Attrition” vem para público. Aqui o disco bate na mesma tecla já apresentada em todos os outros lançamentos, ou seja, se torna repetitivo. Talvez por essa falta de novidades, o grupo se prepara um pouco mais para o lançamento de 2009, “Descend into Depravity”. Um disco mais bem produzido, com vocais mais audíveis e uma formula voltada para riffs mais cadenciados, bateria extrema e uma narrativa violenta. Uma das minha faixas favoritas aqui é “Your Treachery Will Die With You”, composição que mostra muito bem o que se esperar do disco. Mas John ainda pode surpreender mais.
Em 2012, o Dying Fetus, agora como trio, lança “Reign Supreme”, que mesmo repetindo os méritos de seu predecessor, agora apresenta um meio termo entre técnica, brutalidade e insanidade. Esse lançamento foi tão bem recebido que a faixa “Second Skin” foi usada na 23° temporada da série South Park. Mas eles ainda podiam fazer mais. Em 2017, o disco “Wrong One To Fuck With” vem a público. Aqui a produção melhorou bruscamente, dando ao ouvinte uma sensação mais completa do que está ouvindo ali. Mas John Gallagher, Sean Beasley e Trey Williams decidiram provar que podiam fazer melhor.
Dying Fetus em 2023:
Em 2023, é lançado, via Relapse Records, o astronômico “Make Them Beg for Death”. Assim como uma bala de qualquer arma, o novo disco é certeiro e faz um estrago aos tímpanos dos desavisados. Assim como uma bela e clássica Smith & Wesson .38/44, a faixa de abertura “Enlighten Through Agony” apresenta a fórmula mais clássica e conhecida da banda. Rápida como um tiro, o (a) estrago/apresentação final da obra é assustador.

Na sequência, a banda emenda “Compulsion for Cruelty” com a mesma energia, porém acerta em cheio a quantidade de técnica ali. Tal qual o disparo de um fuzil de precisão Winchester Model 70, a música acerta em cheio a audição de qualquer um. Os vocais ensurdecedores de John se misturam a linhas extremas sem se tornar algo cansativo e mal feito. A produção mais limpa ajuda ainda mais a identificar cada detalhe único dessa composição assustadoramente bem construída.
Precisão cirúrgica!
Agora vindo como o desespero de um corte de uma faca M3 de trincheira, “Feast of Ashes” possui passagens mais cheias de ódio, com blast beats insanos e uma guitarra cavalgada de qualidade única. Em sequência, mantem a tradição e qualidade dos discos anteriores com “Throw Them In A Van”. Uma composição bem simples, rápida, precisa e confiável, tal qual uma Colt M1911. Para fechar a primeira parte do disco, “Umbridled Fury” chega cuspindo riffs e velocidade igual uma submetralhadora M1a1 Thompson. Essa faixa é a apresentação crua da agressividade da banda. Focando na agressividade, essa quinta música é essencial na audição do disco.
Para abrirmos a segunda parte, “When The Trend Ends” pode ser comparada a um fuzil M1941, letal em apenas um tiro. Aqui encontramos um som mais cadenciado e pesado, com pontes absurdamente bem construídas, contudo, mesclando de forma exímia a técnica a velocidade dos riffs. Já em “Undulating Carnage”, o trio consegue assustar o ouvinte com o timbre apresentado. Como uma escopeta Winchester Model 21, o respeito é imposto, mas o peso e poder é apresentado. O coice que o ouvinte leva ao se deparar com essa composição é tão grande, que mesmo já esperando o que está por vir, Dying Fetus conseguiu se superar e surpreender.
Assustando os desavisados…
Logo depois, a metralhadora “Raised in Victory / Razed in Defeat” é assustadora. Similar ao que acontecia com os oponentes americanos ao ver uma Johnson Machine Gun em campo de batalha, o senso de destruição toma conta do ouvinte e o faz ter certeza do porque a banda é tão importante para o cenário do Death Metal mundial. Riffs poderosos, vocais absurdos e uma bateria enérgica, esse combo de qualidades faz com que o grupo esteja a anos se destacando dentro desse cenário cheio de bandas excelentes. E graças a isso, nas duas faixas de encerramento do disco ouvimos o que seria uma banda confiante do que ela faz.

“Hero’s Grave” carrega o peso de ser destrutiva, com passagens absurdamente carregadas de feeling que combinam com o andamento desesperador da faixa. Tal qual um lança-chamas que consome tudo a sua frente, o fogo se esvaindo após um ataque bem sucedido é representado pela quebra de ritmo na composição, por volta dos 2:23 minutos, onde a agressividade dá lugar ao espírito mais cadenciado, e aos vocais em duetos infectados pela podridão da morte. Por fim, “Subterfuge” finaliza o disco de forma espetacular. Passando como um tanque de guerra por cima de todos, o peso esmagador da composição e dado devido a ênfase maior nas passagens insanas de Trey Williams na bateria. O conjunto absurdo de viradas carrega a faixa para um nível superior, finalizando o disco de forma magistral.
O campo de batalha está completamente destruído!
Como um exército em marcha, destruindo tudo que toca, os americanos do Dying Fetus mostram que a brutalidade e a técnica podem ser unidas a uma produção excelente sem deixar de lado a podridão. Em conclusão, John, Trey e Sean fizeram o seu Brutal Death Metal sem deixar sua essência de lado. Mantendo aquela velha fagulha do som sujo de seu início, a banda colocou no lugar certo a sua produção, dessa forma encorpando e apresentando a muitos que o seu estilo não é apenas um monte de ‘barulhos’ e sim uma sinfonia caótica que prega a destruição.
Nota: 9
Integrantes:
- John Gallagher (vocal, guitarra)
- Sean Beasley (baixo, vocal)
- Trey Williams (bateria)
Faixas:
- Enlighten Through Agony
- Compulsion for Cruelty
- Feast of Ashes
- Throw Them in the Van
- Unbridled Fury
- When the Trend Ends
- Undulating Carnage
- Raised in Victory / Razed in Defeat
- Hero’s Grave
- Subterfuge
Redigido por Yurian ‘Dollynho’ Paiva