A chuva ácida começa e traz consigo o novo álbum do Grave Altar, “Shrines of Hatred”, lançado em 13 de janeiro via Vicious Witch Records. Contudo, podemos dizer que o subgênero híbrido mais sólido do Metal já está buscando o seu espaço dentro do ano de 2025. A banda inglesa de Black/Thrash Metal possui uma sonoridade repleta de aço e enxofre, dando a nítida impressão de ser uma banda mais antiga. Entretanto, o manuscrito diz que os representantes de Bristol, hoje residindo em West Midlands, têm a sua fundação datada em 2015.
Os novos combatentes infernais e seguidores som híbrido, fúlgido de forma nefasta, podre e com cara de bar do copo sujo, possuem em três demos e o debut “Morbid Spell”, de 2019.
Tanto a banda quanto o novo álbum deverão trazer alegria ao exército de camiseta curta de mangas cortadas, cinturão de balas, falta de banho há uns 18 meses ou mais, e muito “amor” no coração envenenado. Você duvida? Então, tome um banho e venha conferir de perto “sabagaça” fumegante!
Grave Altar e seu ato voraz
Constantemente é dito que um álbum ideal para ouvir é aquele que possui em média 40 minutos de duração, tendo oito ou nove faixas. Mas e o que dizer de 27 minutos de duração? “Shrines of Hatred” possui a duração exata de 27seg16s. Portanto, trata-se de um corte rápido e voraz conforme indica o subtítulo acima.
Primeiro ato
O primeiro ato ocorre através de uma “Intro” propriamente dita e bastante macabra. Você se sente inerte a uma claustrofóbica, gélida e profunda câmara com galeria ainda mais abaixo no nível do mar. Vozes de almas penadas ecoam e te impõem ao medo intenso. Abertura ideal para apresentar “Abysmal Tomb” a quem deseja se arriscar nessa receita profana do caos. O primeiro repique de bateria dita o início da destruição. A ira se torna divina através dos primeiros riffs rasgados e dilacerantes. A nuvem de poeira invade o cenário e deixa tudo em névoa para o ímpeto maligno tomar conta do certame. Enquanto a tumba abissal reivindica a sua alma, Krow vocifera e torna a sua voz como parte da sua própria guitarra rouca. O Black/Thrash Metal exige tal timbragem e aqui temos uma excelente armadilha àqueles que amam guitarras límpidas e cristalinas. Isso aqui não tem vez!
Os cortes são rápidos e as machadadas são impiedosas, portanto “Black Wings of Wrath” aparece sem que se possa respirar direito.
“No templo de Satanás nos reunimos
Onde mortais e demônios se unem
Para beber do cálice do mal
Nós voamos para o Sabbath esta noite
Ascendemos ao reino dos perversos
Guiados pela luz de Lúcifer
Junte-se ao exército dos Demônios
As legiões do poder satânico”
E como pode observar, ninguém aqui está para brincadeira. Exceto se a brincadeira envolver a tortura de almas e seres que não merecem viver em paz. Lúcifer traz mais poder de fogo às linhas de guitarra e ao baixo de Maniac. Suas marcações e condução funcionam como uma corrente de tensão para equilibrar todo o alicerce voltado para o mal. Além disso, temos o baterista Fiend conduzindo o seu kit com variações e viradas que causam estrondos tenebrosos. As guitarras flamejantes de Krow, aliadas à sua própria voz, elevam a canção que parece até estar mais alta que a anterior. Será isso mesmo ou é o poder do anjo caído? Acredito na segunda opção e você?
Batismo na morte
O nome atende simplesmente por “Death” e mais uma vez, inicia com a bateria. Krow solta o tradicional “Ugh!” (discípulo de Tom Warrior), trazendo mais charme ao som. Todavia, vemos um movimento nefasto para que a canção não fique apenas em um tópico musical, mas que possa abraçar outros caminhos dentro de si mesma. Entretanto, a quem não é acostumado ou tão familiarizado com esse tipo de sonoridade, acaba por temer a sua chegada.
Porém, o estilo e o próprio representante do tema central da música a qual dá nome a ela, regozijam com seu último suspiro. Os risos impiedosos e macabros são representados pelo avanço dos pedais duplos, tornando a música mais extrema e devastadora. A canção ainda traz aquele retorno em que os riffs clamam por uma valsa e o riso final determina a queda do ser repugnante que não aguenta uma guitarra com alma de serra elétrica esfumaçada.
“Vocês temiam minha chegada
Eu me regozijo com seu último suspiro
E rio em desrespeito
Eterno, eu sou a morte”
Batizado no fogo do inferno, e consagrado pelo mal. Convocado para devastar a terra e portador do domínio do Inferno. “Baptized in Hellfire” segue espalhando uma maldição violenta e descomunal para pobres espíritos vazios. A carnificina musical começa ao som dos primeiros riffs rasgados com palhetadas serrilhadas de Krow e o impacto causado pelo contrabaixo de Maniac, somado às pancadas velozes e sequenciais da bateria de Fiend. A maldição miserável sonora devora a humanidade a ponto de utilizar as cordas por dedilhados sob tortura imediata.
A parte mais cadenciada evidencia o afogamento em mares agitados de sangue. Sangue de quem ficou preso no caminho da cavalaria. Cascos sem freio esmagam ossos e poças de sangue são formadas com a queda dos impuros. Além disso, os deuses mataram o sol atingido pelo desprezo divino e pelo ímpeto musical final.
Cripta do Anjo necromante do inferno
Certamente, é aqui que acontecem as chacinas de todas as formas de vida que vão além do reino do homem. A cripta do anjo revela o caos em que o céu está tomado. E tome mais: Ugh!
Os riffs atravessam gargantas, cortam asas e penas impuras queimam sob o solo ardente e borbulhante do inferno. Caçar, atormentar e matar! Essas são as três ordens em forma de refrão. As variações sonoras acontecem em meio à drenagem do sol pelas chamas negras infernais. O tormento à criação de Deus é eminente e passa por entre as notas e viradas de bateria. Sendo assim, não há tempo para tomar fôlego e fugir. Resta esperar a sua hora até que a lâmina do Metal verdadeiro mude a sua existência de plano. O seu fim é destacado pelo último tilintar de prato de “Angel Crypt”.
O alcance sonoro dos pratos da bateria de “Hell’s Necromancer” indicam que o planeta já está tomado pelas forças do submundo. Ele vagou pelos reinos mórbidos em busca de um chamado. O chamado do túmulo acobertado por uma camada animalesca de riffs incandescentes e altamente inflamáveis. O seu cadáver foi carregado para o altar. Portanto, sendo figura de linguagem, o corpo está lá para que o necromante do inferno possa prosperar através no abraço de sua queda. Além disso, para profanar sua carne fria e pútrida. Sem nenhum segredo, sua alma torturada é capturada para iniciar o rito de sofrimento e riffs com cheiro de enxofre e sabor de tamarindo com baba de Cérbero.
Ritos caóticos, comuns e direto ao ponto
O ódio pela missa sagrada é, decerto, uma boa mensagem para destacar o sentimento profano do power trio inglês para execrar suas vítimas. Contudo, suas chamas ímpias provocam queimaduras intensas, assim aumentando a carnificina sonora. O rito apoteótico não apresenta nada de novo no material arcano maléfico, mas cumpre bem o seu papel. Fique com o poderoso e simples refrão de “Rites of Mayhem”:
“Rites
of
Mayhem!”
Por fim, a apoteose da canção se une ao início do álbum como um verdadeiro fechamento do trabalho do Grave Altar.
Se você está aqui é porque sobreviveu ao caos provocado pelo Grave Altar. Portanto, entende que a banda soube proporcionar uma ótima diversão em se tratando de músicas boas. Não apenas boas, como pesadas, serrilhadas, sem soar iguais e com um ímpeto voraz. O Black/Thrash de forma híbrida permeia todo o disco e coloca “Shrines of Hatred” como mais um excelente trabalho voltado a esse nobre e impetuoso estilo.
“Onde a escuridão mata todas as formas de vida
Além do reino do homem
Onde os abutres se alimentam do silêncio
O fogo negro drena o sol
A cripta esquecida por Deus permanece
Um túmulo de sonhos infernais
Entre no meu templo
E ouça os anjos gritarem”
nota: 9,0
Integrantes:
- Fiend (bateria)
- Krow (guitarra, vocal)
- Maniac (baixo)
Faixas:
- Intro
- Abysmal Tomb
- Black Wings of Wrath
- Death
- Baptized in Hellfire
- Angel Crypt
- Hell’s Necromancer
- Rites of Mayhem