Esta é uma indicação dos Programas Rock On e Hard Attack
Em resenhas anteriores, falei o quanto 2021 tem sido prolífero quando o assunto em voga é o Hard Rock. Nos últimos anos vimos o estilo colocar o trem nos trilhos através dos novos representantes e não seria exagero dizer que o gênero é um dos mais populares que tem revelado inúmeras bandas responsáveis por discos relevantes e de grande impacto perante os apreciadores do estilo.
No entanto, é preciso abrir os olhos (e ouvidos) para uma ala de músicos não tão jovens, porém, grandes responsáveis, diretamente, pelo crescimento e ramificação do Hard que se transformou e se reinventou. Estes músicos criaram o que chamamos de Classic Rock, estilo importante e fundamental na história do Hard Rock e sua transformação.
Bandas veteranas e/ou da chamada velha guarda têm lançado discos espetaculares e primordiais. Em alguns casos, estamos falando de “tiozinhos” ou “vovôs”(como queira se referir) que ao invés da tal aposentadoria, preferem mostrar que essa ideia definitivamente passa longe e que a realidade é bem diferente.
Uma dessas veteranas é o quinteto americano Cactus, grupo que editou em abril seu oitavo álbum oficial de inéditas, o excelente “Tightrope”, um dos discos mais espetaculares de Classic Rock, lançados neste ano.
Contendo 12 faixas inéditas, o novo registro chega cinco anos após o ótimo “Black Dawn” (2016) e segundo o baterista e líder Carmine Appice, “é um dos melhores álbuns do Cactus que já fizemos. Da reprodução à produção e músicas, realmente demos um passo à frente”.
Apesar de não figurar na lista de nomes grandiosos do Classic Rock, o Cactus faz parte de uma seleta lista de bandas obrigatórias e essenciais quando o assunto é Rock/Classic Rock.
Formado em 1970, o grupo debutou no mesmo ano com seu disco homônimo seguido de mais três ótimos trabalhos que se estenderam até 1972 quando a banda entrou em um hiato e um novo disco de inéditas acontecia apenas em 2006.
Sem blá, blá, blá, é hora de conferir mais um trabalho grandioso de uma lenda viva do Classic Rock, não por acaso ficou conhecido como The American Led Zeppelin, um apelido que possuíam em virtude de seus estilos explosivos de blues rock, musicalidade subjugada, mas inegavelmente brilhante, sem mencionar sua presença de palco enérgica características em seus shows.
Trazendo em seu line up Jimmy Kunes (vocais), Paul Warren (guitar), Randy Pratt (harmônica), Jimmy Caputo (baixo) e Carmine Appice (bateria), a banda lançou “Tightrope” novo álbum de inéditas e um dos melhores discos de Classic Rock deste ano.
O disco abre com “Tightrope”, faixa título que traz uma veia a la Deep Puprle em sua fase atual, embora o instrumental apresente riffs de guitarras mas pesados e mais cadenciados, lembrando em alguns momentos o que fazem os escoceses do Nazareth.
Ultrapassando a barreira dos seis minutos de duração, “Papa Was A Rolling Stone” é uma daquelas músicas bem compostas, com vocais mais rasgados e uma veia mais Blues Rock, graças ao trabalho excelente de Randy Pratt e sua harmônica, lembrando algumas composições de Mr Steven Tyler e seu Aerosmith.
Em suas harmonias mais Rock ‘n Roll, “All Shook Up” é um excelente momento do disco, trazendo em sua sonoridade algo situado entre Foreigner, ZZ Top e Jimmy Kunes encarnando o mestre David Coverdale em suas linhas de vozes.
Numa linha voltada ao Rhythm ‘N Blues e apresentando uma sonoridade mais técnica e mais trabalhada, “Poison In Paradise” é simplesmente um dos momentos mais belos de “Tightrope”. Apresentando um trabalho absurdo de guitarras aliado a voz poderosa de Jimmy Kunes, temos em suas melodias e instrumental uma aula de feeling, voz e solos magistrais a cargo de Paul Warren, responsável por um dos momentos mais belos do disco. O cara é um monstro em sua guitarra.
Ainda sobre a canção: Tente imaginar um encontro entre Gary Moore, BB King, Carlos Santana, David Coverdale e Glenn Hughes. Imaginou? Então mergulhe de cabeça nos acordes e melodias desta maravilha e ao final sinta-se a vontade para usar a tecla “Repeat”.
Os acordes iniciais de “Third Time Gone” nos remetem às bandas The Black Crowes e Spin Doctors em mais um momento grandioso de “Tightrope”. E o que dizer da bateria insana de Carmine Appice? Não bastasse suas harmonias e melodias contagiantes, ainda somos hipnotizados pelo solo monstruoso de guitarras de Mr. Paul Warren. E sim! Os vocais mais uma vez são o grande destaque e roubam a cena.
O “Rock” simples da faixa “Shake That Thing” é mais um momento genial e impressionante do disco que aqui nos leva de volta a sonoridade do finalzinho dos anos 60. Destaques para as linhas monstruosas do contra baixo de Jimmy Caputo e Randy Pratt que encanta mais uma vez com sua harmônica. Que música maravilhosa.
Com sua levada funkeada e fazendo uma conexão com o Hard Rock e o Blues, “Primitive Touch” é mais um momento espetacular e vibrante do disco. Sob os vocais poderosos e impressionantes de Mr. Kunes, somos agraciados com uma canção envolvente, alegre, cheia de groove e de certa forma “festiva”, já que é quase impossível ficar parado ao ouvir suas harmonias. Por alguns segundos, o timbre de guitarras lembra o que fazem Tom Morello (Rage Against The Machine) e o todo poderoso Joe Perry (Aerosmith). Destaques mais uma vez para as linhas poderosas de contra baixo do Sr. Caputo (que trabalho belíssimo).
Abram alas para a genial “Preaching Woman Man Blues”, excelente faixa com uma vibe setentista a la Ten Years After, Nazareth, Aerosmith e Jimmy Kunes brilhando mais uma vez com seus vocais afinadíssimos, precisos e em algumas partes a impressão de que David Lee Roth (ex-Van Halen) assumiu os vocais. A propósito, o que Vinny Appice toca nesta música é algo pra lá de espetacular.
E já que falamos de vibe setentista, Groove e levadas Funk, “Elevation” oferece ao ouvinte estes ingredientes, amparados por uma guitarra envolvente e seus efeitos “wah-wahs” muito bem utilizados que aliados a harmônica de Pratt, oferece ao ouvinte uma faixa cujo resultado final não poderia ser outro, senão extraordinário. Destaques para os backing vocals (espetaculares) que traz uma vibe voltada ao R & B.
“Suite 1 & 2: Everlong, All the Madmen” consegue encantar o ouvinte numa sonoridade que flerta com o Prog Rock e com o Neo-Prog. Numa viagem por águas tranquilas, mergulhamos de cabeça nas melodias suaves e sutis de uma canção que em seus quase oito minutos de duração nos faz imaginar um encontro musical entre os poloneses do Riverside, Steven Wilson (Porcupine Tree) e Pink Floyd. Em resumo: Um dos momentos épicos do disco.
Numa escala elevada de qualidade sonora, chegamos a “Headed For A Fall”, penúltima faixa que traz uma linha mais “Rock” e talvez tenhamos aqui a música mais simples do disco. Com andamentos mais rápidos e riffs totalmente Rock ‘n Roll, somos envolvidos pela dobradinha vocais & harmônica, formando uma dupla perfeita que amparada por uma guitarra nervosa faz a tríade perfeita em mais um momento grandioso do disco. Destaque para as linhas de vocais nos remetendo a Bernie Shaw (Uriah Heep).
Um disco brilhante (musicalmente falando), repleto de canções geniais, comandado por uma banda, composta por músicos excepcionais, tem a obrigação de fechar com uma música tão genial quanto suas antecessoras. Certo? Certíssimo! A missão de encerrar o disco em alto estilo ficou a cargo de “Wear It Out”, faixa que figura na lista de “melhor do álbum”, trazendo riffs mais melódicos, hormonais flertando com o Neo Prog e vocais soando na linha de bandas como Marillion da fase Steve Hogarth e Steven Nicholls, da banda inglesa de Prog Rock, IQ. Destaques para o solo genial de Mr. Warren e Randy Pratt (mais uma vez) comandando majestosamente sua harmônica, fechando de forma brilhante essa pérola musical lançada este ano.
Em seu novo registro, o quinteto apresenta a mesma fórmula dos trabalhos anteriores, ao mesmo tempo em que flerta com a sonoridade de artistas como Kenny Wayne Shepherd, Carlos Santana, John Fogerty, Joe Bonamassa, Cheap Trick, ZZ Top e outros. O disco inclui participações especiais do guitarrista original do Cactus, Jim McCarty e Phil Naro, vocalista do Talas que infelizmente faleceu no início de maio desse ano.
Numa lista de relançamentos, live álbuns e novos trabalhos de nomes como Ringo Star, Mick Jagger, The Sweet, Cheap Trick, Styx, Blind Golem, etc, o Classic Rock segue muito bem representado, garantindo aos apreciadores do estilo (sou um deles) grandes momentos e discos grandiosos. “Tightrope”, sem dúvidas, é um desses grandes momentos.
N do R: Ouvir o novo trabalho do Cactus foi algo que ainda me trouxe grandes surpresas. A genialidade musical apresentada em “Tightrope” é algo inexplicpável em simples palavras. Não bastassem as canções e suas harmonias impressionantes que o faz soar PERFEITO, somos apresentados a um line up brilhante liderado por Carmine Appice, um dos grandes e importantes bateristas de todos os tempos com passagens por bandas de renome como Ozzy Osbourne, Blue Murder Ted Nugent, King Kobra, Vanilla Fudge, Pink Floyd e outros.
Aos amantes do bom e velho Classic Rock, temos em mãos um dos melhores discos lançados nos últimos tempos e claro, um dos grandes trabalhos dignos de figurar na lista de Melhores do Ano.
Vida longa ao Cactus e que um novo registro de inéditas não demore tanto tempo.
Disco e banda altamente recomendados.
Nota: 9,8
Integrantes:
- Jimmy Kunes (vocal)
- Paul Warren (guitar)
- Randy Pratt (harmônica)
- Jimmy Caputo (baixo)
- Carmine Appice (bateria)
Faixas:
- 1.Tightrope
- 2.Papa Was A Rolling Stone
- 3.All Shook Up
- 4.Poison In Paradise
- 5.Third Time Gone
- 6.Shake That Thing
- 7.Primitive Touch
- 8.Preaching Woman Man Blues
- 9.Elevation
- 10.Suite 1 And 2: Everlong, All The Madmen
- 11.Headed For A Fall
- 12.Wear It Out
Redigido por: Geovani Viera