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Resenha (Indicação Prog): Poverty’s No Crime – A Secret To Hide (2021)

Gravadora: Metalville Records

Seis anos após o lançamento do excelente “Spiral Of Fears”, os alemães do Poverty’s No Crime surpreendem com um novo álbum de inéditas. Intitulado “A Secret To Hide”, o disco apresenta oito faixas divididas em aproximadamente 60 minutos de duração, apresentando a mesma fórmula dos trabalhos anteriores. Ou seja, Progressive Metal da melhor qualidade.

Trazendo em seu line up: Volker Walsemann (vocais, guitarras), Marco Ahrens (guitarras), Heiko Spaarmann (baixo), Jörg Springub (teclados) e Andreas Tegeler (bateria), o quinteto apresenta mais um trabalho primoroso, cheio de consistência, qualidade musical inquestionável e uma aula de melodias/harmonias excepcionais da primeira à última faixa.

Na estrada desde 1991 e celebrando seu 30º aniversário, o grupo presenteia os fãs e apreciadores do estilo com um trabalho maduro, coeso, harmonioso e muito bem composto. Apesar de ser uma banda voltada ao Progressive Metal, não espere ouvir introduções enfadonhas, fritações, acrobacias instrumentais, viagens interdimensionais, virtuosismo barato e solos infindáveis, daqueles onde a duração mínima é de 350 minutos e 59 segundos.

Sem delongas, é hora de mergulhar nas melodias de “A Secret To Hide” e descobrir que a Alemanha está muito bem representada quando o assunto é Progressive Metal.

O disco abre com “Supernatural”, faixa que traz o quinteto flertando com a sonoridade dos americanos do Dream Theater da fase “Images and Words”. Evidentemente, estas comparações não se aplicam aos vocais, já que Volker Walseman não canta em falsete e tais comparações ficam apenas para a parte instrumental.

Com seus longos oito minutos de duração, somos envolvidos em melodias que nos remetem a nomes como Seventh Wonder, Vanishing Point e o já citado Dream Theater. A propósito, as linhas instrumentais de “Supernatural” fazem uma grande conexão com “Pull Me Under” e “Metropolis” do quinteto americano, porém de uma forma mais dosada e sem virtuosidade exagerada.

Trazendo a sonoridade de nomes como Magnitude 9 e Oceans Of Night, “Hollow Phases” é daquelas músicas que fazem uma fusão perfeita entre o Heavy e o Progressive Metal. Em pouco mais de seis minutos de duração, somos envoltos numa canção muito bem construída (musicalmente falando), onde as linhas de guitarras e teclados fazem um excelente trabalho harmônico, amparados pelo timbre sutil e melódico de Volker Walsemann.

Seguindo em alto nível nos deparamos com “Flesh And Bone”, faixa que nos remete aos dinamarqueses do Royal Hunt. Ouça a faixa “Lies” do álbum “Fear” e note que os riffs, melodias e os vocais são exatamente iguais. Embora em alguns momentos a voz de Volker nos remeta aos de Daniel “Nephil” Estrin (Voyager).

Trazendo o equilíbrio perfeito e mesclando inteligentemente o Heavy, Power e Prog Metal, somos agraciados com uma excelente faixa e, que talvez, seja a mais “nervosa” do álbum.

Os riffs pesados e intrincados de “Grey To Green” dão uma pista do que ouviremos pelos próximos oito minutos (na verdade, quase nove minutos). Com suas linhas mais técnicas e literalmente Prog Metal, mergulhamos em melodias mais complexas, doses sutis de virtuoses, riffs ora pesados, ora brandos, linhas de baixo e teclados muito bem executados, vocais bem postados e sonoridade lembrando os australianos do Vanishing Point em seu mais recente trabalho, “Dead Elysium”.

Podemos encarar “Within The Veil” como o momento mais “calmo” do disco, já que temos aqui uma das melhores canções da banda. Trazendo em suas harmonias linhas belíssimas de violões e os vocais grandiosos de Volker Walsemann, somos envolvidos por suas melodias grudentas, refrão pegajoso e sonoridade que nos remete a grupos como Conception, Symphony X, Circle II Circle e Savatage.

Destaques para as guitarras excepcionais de Marco Ahrens e para os teclados excepcionais conduzidos por Jörg Springub.

É preciso ouvir atentamente as linhas de vozes sutis de Volker, já que diferente de outros vocalistas do estilo, o mesmo não busca agudos inatingíveis, tampouco aposta nos falsetes que por vezes comprometem todo um trabalho. Aqui, tudo é genialmente bem construído e bem distribuído.

Saudemos “The Great Escape”, uma das faixas mais belas do disco. Instrumental e trazendo pouco mais de seis minutos de duração, somos envolvidos pelos teclados geniais de Jörg, linhas primorosas de contra baixo de Heiko e pelas guitarras espetaculares de Marco, numa música onde a banda poderia ter abusado de virtuoses e fritações baratas. Ao invés disso, o quinteto primou por riffs e melodias cativantes que remetem a belíssima “When The Wall Go Down” da banda sueca Evergrey.

“The Great Escape” ainda mostra que o quinteto bebeu na fonte musical dos canadenses do Rush. Indiscutivelmente um dos melhores momentos do disco.

Em mais um mergulho no Progressive Metal, “Schizophrenic” aponta a reta final e traz em seus vocais similaridades aos de Tobias Jens Forge da banda sueca Ghost. A propósito, eis aqui uma música que não fossem as linhas trabalhadas de bateria e contra baixo, poderia facilmente integrar qualquer disco dos suecos.

Apesar das similaridades nos vocais, é evidente que o Poverty ‘s No Crime investe em outra sonoridade e mais uma vez o quinteto aposta na combinação Heavy & Prog, proporcionando ao ouvinte mais um momento brilhante e agradável. A propósito, o timbre de voz de Volker é um dos grandes atrativos na sonoridade do Poverty ‘s No Crime, já que o mesmo evita exageros cometidos por alguns vocalistas do estilo.

Fechando em grande estilo “In The Shade”, uma das músicas mais longas e mais “desenvolvidas” do disco. Ultrapassando a marca de dez minutos de duração, a música traz uma combinação perfeita de estilos que vai do Prog ao Rock e do Heavy ao Hard numa verdadeira fusão de gêneros. Ao final, notamos o quão ela se torna épica e excepcional, ao ponto de fazer com que não tenhamos a percepção real de sua duração, dando-nos a sensação de ter escutado uma música simples e direta.

Ainda sobre a canção: Um dos grandes momentos do disco onde o quinteto segue a linha musical de grupos como Arena, RPWL, IQ, Vanden Plas, Pagan’s Mind, Circus Maximus, Marillion e outros.

Alguns pontos na carreira e na discografia do Poverty ‘s No Crime fazem com que o grupo soe diferente de outros que pregam e tocam Progressive Metal. Observando a duração das faixas (sem ouvi-las), é provável que os não familiarizados com a banda tenham a impressão de que trata-se de músicas complexas, carregadas de virtuoses, melodias complicadas e masturbações sonoras infinitas.

Felizmente nada disso faz sentido e o que ouvimos de fato é uma espécie de compilação impressionante de melodias repletas de habilidades instrumentais bem trabalhadas e, sobretudo, bem interpretadas.

Outro ponto importante na banda está na qualidade técnica de seus músicos que sem exceção, são excelentes em suas funções e não seguem a linha auto-indulgente, tentando a todo custo o título de “melhores músicos do universo”.

Na estrada há exatamente três décadas, o quinteto ainda integra a seleta lista de “Bandas desconhecidas” e provavelmente isso dê-se ao fato de lançarem discos com intervalos prolongados.

Tal exemplo aplica-se justamente ao novo disco que é tão somente o oitavo registro oficial do grupo.

Em sua longa jornada musical, o Poverty ‘s No Crime também surpreende quando descobrimos que seus integrantes permanecem unidos anos após anos, sendo uma das pouquíssimas bandas a contar com um line up estabilizado. Algo raro.

Longe de ser considerada uma banda mainstream, os alemães seguem adiante lançando trabalhos precisos, coesos e musicalmente interessantes. Na lista de álbuns relevantes de 2021 na categoria Progressive Metal, “A Secret To Hide” já é presença garantida.

Altamente recomendado.

Nota: 9

Integrantes:

Faixas:

Redigido por: Geovani Vieira

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