Quem conhece mesmo do assunto sabe que os países eslavos são muito bons quando é pra se falar sobre Heavy Metal. Estamos neste momento olhando para o mapa na região de St. Petersburg na Rússia, país dos gigantes Aria, Aspid, Master, Shah, Arkona, e os novos destaques Malist e Yakor. O Iron Driver surgiu em 2014 e no ano seguinte lançou seu debut intitulado “Prisoner Of Time”, também tendo em seu currículo uma demo de 2014, um split com a banda Sunisgone (2015) e o EP “Crack Of The Whip” de 2017. Lançado de forma independente no dia 20 de janeiro, “Smell Of Perdition” é o segundo full-length dos russos que vieram com tudo para este ano de 2020. Quem já conhecia a banda sabe que todos os integrantes atendem pelo codinome “Iron” junto aos seus nomes/apelidos normais, digamos assim.
Apresentada a criança ao caríssimo leitor, devemos ir profundamente ao que interessa. Ajeite sua peita surrada pelo tempo e pelos altos eventos macabros, solte a cabeleira e vamos conferir cada momento deste novo trabalho dos russos. E ainda na mesma linha do texto sem perder tempo já foi ligada a vitrola na qual as primeiras notas da faixa-título já entregam ao ouvinte o que ele espera, caso o mesmo já conheça a banda. Caso não conheça passará a entender que o Heavy mais tradicional imperará do início ao fim desta pepita de prata. “Smell Of Perdition” chama a atenção não somente pelo desmembramento sonoro e por possuir em seus primeiros segundos uma intro bem oitentista, mas por sua letra que envolve toda a situação de um artista do underground, todo o merchandising, as vendas de material físico, a correria toda, os prós e os contras de todos os desafios que envolvem o cenário musical de uma banda independente, e se tudo isso no fim das contas vale à pena ou não. Não é fácil seguir em frente, mas se é este o caminho, não aprovo a desistência. Na sequência temos mais uma tradicionalíssima e veloz canção nomeada “No Speed Limits”. Faixa esta que apresenta em seus moldes altas doses de Speed Metal sem deixar a preferência Heavy de lado, acelerando como se fosse a última corrida infernal. “Sangue e tripas / Estão abrindo seu caminho / Você está deixando para trás / Apenas destroços torcidos para deteriorar”. Destaque especial para o baterista Iron Seva.
Logo após temos “Eagle Of Steel (Russian Version)” que como o próprio nome especifica é cantada em seu idioma natal. A velocidade abre caminho para o Heavy mais compacto, liberando espaço para mais presença de técnica e encontros entre o baixo de Iron Serj e as guitarras de Iron Alex e Iron Maschina. Iron Paul desenrola suas estrofes com maestria. E para comprovar que aqui estão cantando em russo deixo um trecho para caso o glorioso leitor queira ter o prazer em traduzir: “Клинком свободы разит орел / Покинув пики в облаках парящих гор / Нас настигая, стальной орел / Летит стрелой сквозь время”. A quarta canção atende por “Hitman”, e bem na hora em que li me veio à cabeça tanto o game quanto o filme do Hitman na qual a letra é totalmente a ver com o personagem. “Eu sou – sou uma maravilha do negócio de assassinatos / Eu sou – um Rafael que pinta sangue / Eu, que mantém todas as operações em silêncio / O embaixador do inferno” – o final com os integrantes fechando a “múzga” como em um show até o último suspiro de cada instrumento serve como parâmetro para evidenciar a matança que o Hitman provoca durante seus serviços concluídos.
“Don’t Cry Blues” traz um clima pra lá de AC/DC envolto por uma crosta espessa de Heavy/Rock 70’s e que com certeza agradará muito aos adeptos mais antigos dessa bagaça fumegante. “Eles vão te derrubar no inferno / Se você não revidar / Então lute de volta / Lute de volta!” Agora a vez é de outra faixa de respeito, e estou falando da “Slave To Haze” que já de antemão apresenta um solo curto inicial que se encaixa muito bem com o restante da camada sonora. Eu poderia citar bandas como Satan, Accept e até Judão da massa como exemplos onde seu fraseado se assemelha em determinados momentos, mantendo íntegra a sua identidade musical. Os solos subsequentes enriquecem ainda mais a canção. Em “Calm Before The Storm” a arte instrumental toma conta do certame com dedilhados de violão acompanhados por uma guitarra que faz o som crescer de forma melodiosa, mas sem deixar o disco chato, pois há exatos 1 minuto e 23 segundos a cozinha aparece nos avisando que o álbum ainda não acabou!
“Evil Wench” encerra a bolacha de forma digna com aquele Metal que ao menos eu gosto. Sem exageros, sem firulas e direto ao ponto! Riffs certeiros, bateria precisa, baixo consistente e vocal rouco e habilidoso, sem apelar pra ultra agudos que muitas vezes servem apenas como tampão para prolongar uma linha curta, sem deixar tantos buracos numa mesma música. Os solos a meu ver são os melhores do disco, trazendo à tona aquela frase de que o melhor ficou para o fim. Os segundos finais terminam como começou o disco com a mesma intro oitentista que é aquele tecladinho chamando para aquela saudosa década que quem vivenciou, ama retornar e quem não esteve presente, desejar visitar com frequência. E sem contar a sensação de realmente ter vivido tal década, mesmo assim não sendo. Paradoxal a coisa, não?! Ah, e o tema aqui envolve um mau relacionamento em que o indivíduo deseja ficar um tempo sem ver a sua “encrenqueira” para adquirir um pouco de paz e depois retornar ao jogo.
Ao testemunhar e reconhecer a qualidade contida nesse novo trabalho do Iron Driver reforça a minha tese de que não existe apenas um “Iron”. Existem vários e excelentes “Irons” mundo afora. Desde Iron Maiden, Iron Angel, Iron Savior, à Iron Curtain, Iron Griffin e Iron Driver, exemplificando um pouco. Claro que existem muito mais “Irons” e você que está lendo deve conhecer muito mais “Irons” excelentes também. Agora fica mais uma super dica de mais um grande lançamento de 2020 na qual a Rússia novamente se posiciona como um dos países emergentes nessa vertente musical. No lado tradicional da coisa sempre foram muito fortes, porém, com o advento da internet é que pudemos conhecer melhor toda essa artilharia pesada e agora com mais uma obra muito bem produzida. Que sigam em frente para mais adiante fecharem a trinca de ases e que possam realizar shows aqui pelo Brasil! E você, não deixe sentir o cheiro dessa perdição!
Dedicado a Sergei Baranov, o baixista do Iron Driver conhecido pelo pseudônimo Iron Serj, e que deixou este plano em 3 de maio de 2020, pouco tempo após o lançamento de “Smell Of Perdition”.
Nota: 8,7
Formação:
- Iron Paul (Pavel Sasin) (vocal)
- Iron Alex (Alexander Konstantinov) (guitarra)
- Iron Maschina (guitarra)
- Iron Serj (R.I.P. 2020) (baixo)
- Iron Seva (bateria)
Faixas:
1. Smell Of Perdition
2. No Speed Limits
3. Eagle Of Steel (Russian Version)
4. Hitman
5. Don’t Cry Blues
6. Slave To Haze
7. Calm Before The Storm
8. Evil Wench
Redigido por: Stephan Giuliano