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Resenha: Lamentari – “Ex Umbra in Lucem” (2024)

Diretamente do reino da Dinamarca, surge o álbum de estreia da banda Lamentari. O obra inaugural é apresentada como “Ex Umbra in Lucem”, e marca principalmente o início da jornada com relação a álbuns de estúdio.



A banda de Symphonic/Black/Death Metal já possuía outros registros antes de lançar esse novo material, sendo três EPs: “Missa Pro Defunctis” (2020), “Nihilitatis” (2021), e “Clavis Aurea” (2022). Portanto, já estava bem próxima de lançar um full length. Além disso, Lamentari é uma banda bem recente, com o seu surgimento datado em 2019. Estamos em 2024 e, certamente, a banda parece que veio para infernizar a vida dos nobres acomodados e condessas desinteressadas por acharem que o mundo da música extrema está defasado. Muito pelo contrário, pois o próprio Black Metal vem oferecendo ao público uma cartela cheia de ótimos nomes e discos. Será que o Lamentari virá a fazer parte desse seleto time de grandes novidades do submundo da música sombria e nefasta? Portanto, eu “lamentaria” que não. Que trocadilho infame!

Mas, vamos aos fatos!

Soldados infernais que fazem parte da trama e as linhagens sonoras do Lamentari

Que os próprios anfitriões se apresentem:



“No refúgio sombrio das catacumbas, um ritual de fogo está sendo preparado.

Possuído pelos aspectos obscuros da música clássica litúrgica, Lamentari significa a congregação da morte enegrecida com o rugido monumental da orquestra sinfônica.”

Visto que a sonoridade dos dinamarqueses apresenta em seu conteúdo completo, temos uma noção mais visível e presente para sabermos lidar com cada trajeto percorrido em sua obra. Ao que tudo indica, adentraremos em um universo vasto e repleto de combinações mitológicas e terrenas se emaranhando entre si e causando grandes devastações sonoras e poéticas.



Lamentari/Divulgação

Lamentari e o espírito da noite caminhando pela vasta escuridão

O rito inicial é, por vezes surpreendente, quando bem inserido em uma trama convincente. Portanto, podemos nos aconchegar na mais densa galeria dentro do mapa do inferno. Escolha o seu aposento, pois a noite estará de arrepiar. “Spiritus Noctis” abre as cortinas do anoitecer sombrio através de seu tema instrumental, contendo trechos em canto gregoriano e uma formidável camada sonora de fundo. Isso, com toda a certeza, evidencia o lado cinematográfico da obra e coloca “Ex Umbra in Lucem” em posição comparativa ao apresentado pelo renomado Dimmu Borgir em seu sexto artefato profano intitulado “Death Cult Armageddon”, álbum lançado em 2003 e o último a despertar toda a maldade em quem vos escreve.

O comparativo fica ainda maior e mais insano quando mergulhamos nas ondas profundas e infernais de “Tenebrae”. A emenda entre a intro e o poder da escuridão explode em uma camada de notas tão marcantes a ponto de sangrar a carne exposta sem que precise da luz solar para tal. As variações sonoras são pontuais e dentro das emoções da própria canção. Ou seja, enquanto o lado visceral da instrumentação tradicional trabalha o lado aguerrido e macabro, a ala orquestral de Max Uldahl Pedersen coloca à frente a sua arquitetura sombria, misteriosa e nefasta, assim abrindo caminho para uma obra amplamente tenebrosa e viciante.

Lamentari queimando através da poeira e da fumaça

Os solos de Emil Holst Partsch são gélidos o suficiente para partir a sua espinha em pedaços, enquanto os dizeres promovidos e vociferados a plenos pulmões por Daniel Lønberg são despejados como declarações de guerra de forma dramática e impetuosa. Ao apreciar, você se sente caindo em completa escuridão… Dias passam e seus olhos se esvaziam conforme você vaga por aí sem rumo. Deixa este mundo para cruzar o outro lado e procurar pelos seres antigos, pelos grandes mestres do destino. Ou pelo próprio demônio, por assim dizer.

“Através da poeira e da fumaça, você queima
Minha pele com seu nome
O portão estava aberto para você
Eu deixei você entrar”



A tragédia na casa de Deus é o próprio Deus em sua casa dentro dos muros da mente

Se há uma tragédia na casa de Deus, quem seria o culpado? Eu ou você? Ou ambos? Todas as almas deixaram sua posse. Agora inveje eternamente os céus e contemple mais essa canção alucinadamente fúnebre e insolente. O caminho de sofrimento e dor entrega ao ouvinte um ritmo mais voltado ao Death Metal, com riffs promovidos pela dupla de guitarristas Michael Møller/Emil Holst Partsch e pelo excelente andamento de bateria assinado por Thomas Mascagni.

A ira de Deus vive profundamente dentro de você e a convocação para que caminhe livremente e nunca possa alcançar os céus começa aqui. Decerto, temos uma receita bastante comovente, assim como é observado junto aos trabalhos do Ex-Deo, só para ilustrar uma das hordas sinfônicas infernais.

Há um intervalo em meio à destruição sonora de “Tragoedia in Domo Dei”, com violões e orquestrações sinistras, antecedendo a continuação da tragédia na casa santificada.



O que se pode imaginar dentro dos muros da mente pode ser tão perturbador quanto o sufocamento por falta de luz em vida…

“Sussurros de pavor no meu ouvido
Então começa
Vozes que nunca desistem
Faltando por ar, me afogando
Nas profundezas do desespero
Eu desapareço
Perdido para a vontade da sua causa
Estou preso pelo seu ódio, incapaz de respirar”

A mente fechada e amaldiçoada serve como porta de entrada para a adição de dedilhados iniciais meticulosos, enquanto o armário de acordes e orquestrações profanas é arrastado com força para o outro cômodo de seu aposento. Vocais ao estilo do Metal negro promovem novamente o caminho pantanoso e lúgubre para que toda a camada sonora seja jogada em sua face molhada em sangue fresco. Caso não houvessem as linhas de contrabaixo, não haveria o peso necessário para essa malevolente trama chamada “Intra Muros Mentis”. Jamie de la Sencerie é o responsável por tamanha insanidade musical. As pausas nos riffs mais cavernosos vão de encontro ao que costumeiramente é feito por bandas que unem o Black ao Death Metal em sinfonia sem fé e com muito senso de vingança.



A abordagem sobre as dores em memória

Faltava uma linha mais puritana de Black Metal. Porém, não falta mais. “Appugno” veio para impor isso ao álbum com a devida justiça. Entretanto, se engana que a faixa ficaria somente na parte inicial. Não é uma banda de Black Metal tradicional, mas sim um amálgama de sons intercalados e que conduzem o ouvinte a um antro inimaginável de escuridão, brutalidade e sensação de queimaduras de oitavo grau ao entrar em contato com as chamas negras infernais. Os riffs sequenciais velozes trazem à tona o magnânimo Carcass. Portanto, é como se o Marduk tivesse combinado algo sinfônico com os ingleses.

Contudo, os corredores citados em verso e prosa ditam a abordagem mental e espiritual feita antes do “partir definitivo” em que tudo passar a ficar mais nítido. Se o caminho não possui sentido, é com o intuito de que não se pode percorrer esse lugar. Mas aliado a isso, podem ser abertos outros corredores para que ninguém mais encontre esse caminho.

“Deitado na calada da noite, olho para os corredores vazios
Minha mente está minguando, minha alma está dispersa. Anseio por ver aqueles que amo”



Finitude e perda da razão em viver

“Dolorum Memoria” retrata a dor através da perda e a mentira sobre uma promessa descabida de retorno à vida. Todavia, “Ela” se foi e junto com ela toda a luz de quem a amava.

“Na perda, um vazio permanece
Remorso pela dor que dei
anseio pelo seu abraço
Ouvindo as músicas que você canta
E eu darei as costas para o sol
Minha tristeza me consome, essa dor correndo por mim
Eu sei que você se foi, mas para sempre meu amor, eu irei
andar pela escuridão novamente”

A escuridão sonora passeia por caminhos tortuosos em tilintares de violão e dedilhados escalonares de guitarra. A segunda parte do início é quase um dedilhado feito pelo Therion, sussurrado por alguém dentro de uma casa isolada nas montanhas geladas ao norte. Talvez possamos chamar esse trecho de balada fúnebre, porém esta vai tomando folego e ganhando mais energia sombria até que…



Lamentari explode em musicalidade entristecida e amargurada. Se já é difícil a perda do amor da sua vida ainda em vida, imagina perder por conta de chamado “fim da linha”. Em resumo, o mundo é cruel. O universo é cruel. E o ser humano é o bandido na terra. Não existe esperança. Apenas o nada. A música é o meu último suspiro em vida e nada me fará sorrir de volta. Bases graves se encontram com as linhas agudas e formam uma camada chorosa e enraivecida ao toque macabro dado pelas linhas de bateria. Cortesia do poder oferecido pelo soberano da escuridão plena.

Temos, por fim, a balada inicial transformada simplesmente na melhor música do disco e talvez até do próprio Lamentari. Eu lamento pela morte dela… Eu lamento por ter perdido ela… E lamento também por ter cruzado o caminho dela… Não fui capaz de cuidar dela em vida como eu achava que deveria. A vida é uma só e eu acabei de perder a minha…

O dia espiritual do Lamentari e o fogo secreto da alma

“Spiritus Diurnus” é a segunda faixa instrumental do álbum. Um novo amanhecer está chamando e mostra praticamente um momento de luto, antecedendo mais uma etapa da trama musical. Essa faixa não empolga tanto por não ser tão surpreendente quanto o início da obra, mas cumpre o seu papel para abrir o caminho para…

“Arcanum Ignis Animae”, último canto do cisne

O começo da última jornada do Lamentari é uma mistura de tudo o que foi apresentado anteriormente, na qual podemos acrescentar detalhes de Varathron e Seth. Aqui encontramos o chamado para o espírito que descansa na chama. Estenda a mão durante a levada maquiavélica de bateria e aproveite o caminho. Um novo amanhecer está chamando e a luz interior se foi. Resta somente a escuridão a qual está lentamente te abraçando. Os riffs se desenrolam como um tapete negro junto às margens do riacho congelante e encoberto por fogo-fátuo. Emil Holst Partsch coordena os solos e diferenciais agudos de guitarra, enquanto Michael Møller e Jamie de la Sencerie mantém os pulsos firmes frente às bases sonoras.



Max Uldahl Pedersen é um cineasta dentro de uma banda de Metal extremo, só para exemplificar o tamanho de sua competência e ideias inseridas. Por fim, Thomas Mascagni é a locomotiva humana da horda dinamarquesa. Este conduz seus componentes a um final triunfante e capaz de te fazer repetir a audição novamente.

Lamentari/Divulgação

Em suma, “Ex Umbra in Lucem” é mais um grande álbum a desfilar nos campos deteriorados do Black Metal, juntamente com suas sub-vertentes secundárias. As ressalvas ficam por conta dos excessos juntos às climatizações e panos de fundo, ficando por vezes muito à frente do instrumental principal. Todavia, é passível de pleno entendimento quanto ao seu formato e isso até faz com que some à vontade de ouvir mais vezes seguidas.



“I’ve lost my faith in everything.
A shadow stands in front of me.



My imprisoned soul, I witness the fall
Of all that I hold dear”

nota: 8,8

Integrantes:

  • Michael Møller (guitarra rítmica)
  • Jamie de la Sencerie (baixo)
  • Daniel Lønberg (vocal)
  • Thomas Mascagni (bateria)
  • Emil Holst Partsch (guitarra)
  • Max Uldahl Pedersen (teclado, orquestrações)

Faixas:

1. Spiritus Noctis
2. Tenebrae
3. Tragoedia in Domo Dei
4. Intra Muros Mentis
5. Appugno
6. Dolorum Memoria
7. Spiritus Diurnus
8. Arcanum Ignis Animae

Redigido por Stephan Giuliano



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