Um breve contexto histórico:
Após anos de hiato desde o último registro, o Massacre é novamente reformulado e revivido pelo seu vocalista e mais emblemático membro fundador, Kam Lee. A banda entrou em um longo período de inatividade, depois do lançamento de “Promise”, segundo full-lenght lançado em 1996, e apenas em 2014, Terry Butler (Six Feet Under, Obituary) e Rick Rozz(ex-Death, ex-Massacre) decidem retomar e tentar recriar a sonoridade do devastador “From Beyond”, primeiro álbum completo do grupo e um dos clássicos seminais do Death Metal, lançado em 1991.

Após o lançamento de “Back From Beyond” em março de 2014, contando com os vocais de Edwin Webb, Kam Lee decide mais tarde brigar pelos direitos do nome “Massacre” e retomar ao seu posto de vocalista. Pois bem, após uma leva de singles e covers entre o final de 2020 e inicio de 2021, é anunciado oficialmente, que um novo registro do Massacre estava a caminho, com Kam Lee tomando a frente da banda como o único membro original, e uma formação cheia de músicos altamente experientes.
Como todos sabemos, toda banda que é parcialmente responsável pelo desenvolvimento e progressão de um subgênero dentro do Metal, acaba se tornando fonte de inspiração permanente para grupos posteriores, como é o caso do recente projeto “Inhuman Condition”, formado por ex-membros da formação anterior do Massacre e ninguém menos do que Terry Butler, com uma proposta sonora totalmente inspirada nos primeiros registros da cena Death Metal da Florida, e é claro, na sonoridade do Massacre.

Lançado em 22 de outubro, “Resurgence” traz de volta a sonoridade dos anos formativos do Metal da morte, cheios das mais variadas inspirações no Horror cósmico de H.P Lovecraft.

“Eldritch Prophecy” já abre o registro dando o tom do que vamos escutar a frente. Os primeiros segundos são marcados por uma introdução macabra, como se estivéssemos entrando em uma espécie de universo paralelo, antes de entrar o primeiríssimo riff do registro, e acredito que aqui, já podemos dar ao leitor uma breve noção de quem está por trás desta verdadeira bordoada sonora. Kam Lee se prontificou de contratar um verdadeiro esquadrão da morte completo aqui, com uma reunião do incansável Rogga Johansson (guitarra) e Brynjar Helgetun (bateria) membros do devastador projeto de Death Metal, Johansson & Speckmann, Scott Fairfax (guitarra), membro fundador do poderoso Memoriam, e o multi-instrumentista Jonny Pettersson (Um quantidade absurda de projetos de Metal). Apesar de se tratar de um registro muito mais visceral e Old School, temos um time diferenciado e muito experiente em jogo. Somos então transportados para a prisão submersa no Oceano Pacífico, onde se encontra a entidade cósmica Cthulhu, em “Ruins of R´Lyeh”. Kam Lee abraça com maestria, sua vocalização inumana e demoníaca, oscilando entre gritos de desespero de gelar a alma e guturais insanos.
“Inssmouth Strain” traz a tona aquela roupagem Death/Thrash oitentista bem característica, com riffs rápidos e ríspidos, além de um peso violento nas guitarras, que aliás soam como verdadeiras trovejadas. “Whisperer in Darkness” não deixa o ritmo de sua antecessora cair, mantendo a agressividade e insanidade dos riffs intacta, criando um espaço propicio para o Sr. Lee esbanjar toda a brutalidade contida em suas cordas vocais.

A partir daqui, o disco vai seguindo uma linha muito sólida nos moldes daquela sonoridade primitiva e enraizada, o que pode tornar altamente batido ou altamente satisfatório. “Book of the Dead”, além de ser a faixa perfeita para travar o pescoço por umas duas semanas, traz uma ótima homenagem a série de filmes “Evil Dead”, criada pelo diretor Sam Raimi. A musica abre com uma ambientação macabra e samples que fazem referência a alguns do elementos mais conhecidos da saga, como o inconfundível som de serra elétrica dilacerando corpos e disparos de uma poderosa escopeta de dois canos, para bom entendedor, meia referencia basta. Kam Lee e o monstruoso Marc Grewe(Ex-Morgoth) fazem um verdadeiro duelo de vociferações e berros de tormento agonizante nesta faixa, criando um atmosfera caótica sem igual.

Créditos: New Line Cinema
A pancadaria inclemente continua em “Into the Far-Off Void” . Não tem muito espaço para mudanças de tempo aqui, apenas uma sequência assassina de riffs, que se encerra com uma atmosfera maligna muito intrigante. “Servants of Discord” apenas mantém o ritmo da anterior, com alguns solos que lembram muito o bizarro estilo de Jeff Hanneman solar, nos primeiros anos do Slayer, cortesia do Sr. Fairfax. Em “Fate of the Elder Gods” é perceptível que o instrumental um pouco mais trabalhado, foi deixado para as últimas faixas, novamente com solos que dão um tom totalmente diferente na audição, e considerando time de guitarristas PHD em Metal extremo, o disco deixa a desejar um pouco, apesar da proposta de se manter a sonoridade Old School até o talo. “Spawn of the Succubus” é talvez a faixa mais violenta e bruta do registro, e um dos riffs mais cativantes do álbum, sem dúvidas.
Como citado anteriormente, os solos mais mirabolantes foram deixados para o final. “Return the The Corpse Grinder” encerra o registro, fazendo um auto tributo ao supracitado “From Beyond”, debut e fonte de inspiração primária da banda, que tem “Corpse Grinder” como última faixa. Como somos incapazes de fazer comparações aqui, é interessante que, apesar do fato do novo registro ter uma produção e mixagem excelentes, dando uma certa exclusividade para o intimidador timbre das guitarras, três exímios guitarristas não conseguem alcançar a veemência, o ódio e o timbre potente alcançado por Rick Rozz (Ex-Massacre, Ex-Death) em 1991, um dos fatores definitivos do debut da banda. A faixa ainda ganhou um vídeo clipe extremamente nojento e desprezível, uma versão censurada, lançada no Youtube e não censurada, disponível no Vimeo. Durante o lançamento do clipe, juntamente com álbum, Kam Lee disse o seguinte:
“-Fizemos um vídeo para “Return of The Corpse Grinder”, mas é tão nojento e podre que pode ser proibido! Quão incrível é isso?! Adoração total a Jorg Buttgereit (Cineasta conhecido por filmes “polêmicos”), necrofilia nojenta e adoração Ed Gein. – a ÚNICA maneira de fazer justiça à música.”
“Resurgence” entra com honras para o hall de discos sólidos e saudosos, lançados por nomes importantes de seu gênero, e após anos de tentativas frustradas de ressurgir com a banda e reuniões pífias, Kam Lee decidi fazer um esforço e trazer uma continuação que busca emular aquela sonoridade única de seu debut, 30 anos depois, reunindo uma equipe de peso para a tarefa , formado por músicos, que com certeza, foram influenciados pela banda e tiveram o privilégio de ajudarem a manter o legado do Massacre vivo.
Nota: 8,3
Faixas:
- Eldritch Prophecy
- Ruins of R’Lyeh
- Innsmouth Strain
- The Whisperer in Darkness
- Book of the Dead (Neconomicon Ex Mortis)
- Into the Far-Off Void
- Servants of Discord
- Fate of the Elder Gods
- Spawn of the Succubus
- Return of the Corpse Grinder
Redigido por: Giovanne Vaz