Vamos recordar esta análise sobre “Perpetual Chaos”, quarto trabalho da Nervosa, originalmente publicada em 16 de fevereiro de 2021
Desde que o Metal é Metal, músicos se desentendem, tem divergências e bandas se separam por isso. No Brasil já tivemos muitos exemplos de acontecimentos deste tipo e nomes respeitadíssimos como Sepultura, Angra, Viper e outros passaram por mudanças drásticas no line-up.
Rompimento e reformulação
Com a Nervosa não foi diferente e o trio anteriormente composto por Prika Amaral (guitarra), Fernanda Lira (baixo e vocal) e Luana Dammeto (bateria), viu sua formação ruir quando Fernanda e Luana anunciaram desligamento da banda em 2020. As duas, imediatamente, anunciaram uma nova banda (a Crypta) e Prika Amaral tratou de correr contra o tempo para substituir as duas moças.
A realidade é que a Nervosa hoje tem uma estrutura que conta com uma boa gravadora (Napalm) e a escolha pôde ser mais abrangente. Inclusive, não precisando se limitar apenas com musicistas brasileiras. A guitarrista, líder e dona da Nervosa optou por escolher a baixista italiana Mia Wallace (Abbath), a baterista grega Eleni Nota (Lightfold), assim como a vocalista espanhola Diva Satanica (Bloodhunter). O trio brasileiro passou a ser um quarteto internacional e havia muita expectativa sobre como este novo álbum iria soar.

Críticas
Antes de tudo, é preciso mencionar que muitas críticas feitas sobre a banda são absolutamente infundadas e as meninas, desde sempre, correram atrás do que acreditavam com muita competência e atitude. Tudo o que conseguiram foi por total mérito, nunca foram do tipo que ficaram choramingando, se vitimizando ou implorando um apoio forçado no underground BR. Sempre pensaram grande, se profissionalizaram, conseguiram ser notadas a nível internacional e souberam usar suas melhores características e armas para se manter em evidência em um cenário extremamente competitivo. Ponto pra elas! Se você é um dos babacas que gostam de criticar por criticar, por favor, recolha-se na sua insignificância e não seja um escroto difamador de trabalho alheio.

Por outro lado, obviamente, existem as críticas que são pontuais e de cunho musical, e estas sim, além de servirem para o próprio crescimento da banda, precisam ser feitas com isenção e imparcialidade. Acompanho o trabalho da Nervosa desde o início, escrevi as resenhas de todos os discos anteriores e, em todos eles, sempre me incomodou a forma com que as guitarras são tratadas no Thrash executado pelas meninas.
Sempre pontuei que deveriam ter mais uma guitarrista para somar e se encarregar, principalmente, dos solos. Prika Amaral vai muito bem nas performances ao vivo, vai bem na criação de riffs e vai bem no processo critativo das composições. O problema é que ouvindo os álbuns, sua técnica limitada acaba interferindo no resultado final e o Thrash Metal é um gênero que sempre se caracterizou por solos abundantes e linhas um pouco mais técnicas. Quando uma banda se abdica quase na totalidade de uma característica tão importante, inevitavelmente, acaba deixando seu som um tanto genérico e com poucas alternativas.
Será que em “Perpetual Chaos” teremos uma mudança nesse aspecto? Vamos descobrir à seguir!

Individualidades afloradas
O disco foi gravado no Artesonao Studio, em Málaga, na Espanha, sob a tutela do produtor Martin Furia. De cara já podemos destacar que a produção ficou impecável e a banda voltou a trilhar o caminho do Thrash mais old school. No lançamento anterior, “Downfall Of Mankind”, de 2018, ficou perceptível uma guinada na sonoridade e em muitos momentos, a banda beirava o Death Metal. Essas influências ainda estão presentes em “Perpetual Chaos”, porém, em número mais reduzido e de forma mais discreta. Pode-se afirmar que o Thrash voltou a ser o principal foco da banda após a reestruturação.
E falando em reestruturação, precisamos dar os parabéns as novas integrantes, todas elas aparecem com bastante destaque no álbum e suas performances são muito convincentes. A abertura do registro acontece com a pedrada “Venomous”, uma música impactante, veloz e que apresenta muito bem a nova face do quarteto. A vocalista Diva Satanica acrescentou muito e, não que os vocais de Fernanda fossem ruins, longe disso, mas Diva é mais versátil e seus guturais são muito mais poderosos. Sobre isso não existe discussão.
“Guided by Evil” foi o primeiro single e, de todas as canções apresentadas previamente, esta foi a que menos me cativou. É um Thrashão direto, reto e não compromete (tem até solo de guitarra, olha o progresso!). “People Of The Abyss” eleva o nível da audição com uma performance avassaladora da baterista Eleni Nota. A moça usa e abusa de seu kit de bateria e exibe um brilhante cartão de visitas aos fãs. A próxima é a faixa título “Perpetual Chaos”, segundo single apresentado e aqui temos cadência e peso combinados de forma perfeita.
Participações de peso
Em “Until The Very End” temos a participação especial do guitarrista Guilherme Miranda (Entombed AD) e, talvez por este motivo, é aqui que acontecem os melhores solos de todo o disco. Esta música embasa muito bem o que sempre pensei sobre o uso de uma segunda guitarra. Só agregaria valor e elevaria o som das meninas a um outro patamar. “Genocidal Command” inicia e o grito agudo inconfundível de Marcel Schmier (baixista e vocalista do Destruction) anuncia mais uma participação de peso que engrandece muito a audição. A faixa é interessante e novamente temos alguns solos de Prika Amaral, e aqui deixo um adendo, a moça parece que entendeu a importância dos solos no Thrash Metal e está se esforçando para apresentá-los em maior quantidade. Veja bem, não é necessário virtuose, só não podemos simplesmente deixá-los de fora como se fosse algo normal e corriqueiro.

“Kings Of Domination” é bastante comum, mas traz alguns riffs e linhas que se destacam. “Time To Fight” descamba para o Crossover e aqui a banda manda muito bem, uma das melhores músicas do álbum. Simples, direta, pegajosa e, mais uma vez, com solo de guitarra! “Godless Prisioner” tem uma intro Doom, mas depois descamba para o Thrash, muito boa. “Blood Eagle” é mais uma daquelas cadenciadas e, assim como na faixa título, dá uma quebrada positiva na audição trazendo alternância e evitando que o álbum se torne repetitivo. Perto do fim, “Rebel Soul” é mais uma com veia Hardcore/Punk e apresenta a participação especial do vocalista Erik Ak (Fltosam & Jetsam). “Pursued By Judgement” é uma porradaria Thrash das melhores e “Under Ruins”, o terceiro single do disco, fecha em alta a audição com uma das melhores músicas já compostas pela banda em toda a carreira.
“Perpetual Chaos” Convenceu?
Respondendo a pergunta feita no início do texto: sim, a Nervosa finalmente conseguiu resolver boa parte dos problemas relacionados a falta de solos e este é, de longe, seu melhor álbum. Não apenas por este motivo, mas por que as músicas tem qualidade. Em “Perpetual Chaos”, Prika segue não sendo uma guitarrista extremamente hábil ou técnica, mas e daí, Kerry King e Jeff Hanneman também nunca foram e cansaram de “nos enganar” com alavancadas em sequência e outros artifícios. Óbvio que não estou fazendo uma comparação, apenas mostrando que os solos não precisam ser altamente elaborados ou difíceis, eles precisam apenas estar presentes e, em “Perpetual Chaos”, eles estão. Soma-se a isso o fato de que as músicas são realmente boas, as novas integrantes entraram na banda com sangue nos olhos e, pronto, temos um grande disco neste início de 2021.

Eu ainda continuo batendo na tecla que uma segunda guitarra seria interessante/necessária, porém, este trabalho me faz acreditar que se Prika Amaral seguir nessa linha, aprimorar um pouco mais sua técnica e perder a timidez na hora de solar, quem sabe nos próximos lançamentos este seja apenas mais um problema que a banda conseguiu resolver de forma natural. No mais, desejo de verdade que sigam evoluindo, se reinventando, assim como apresentando discos cada vez mais interessantes. Este é um que realmente vale a pena ser ouvido e, por isso, vai receber a maior nota que já dei a um disco da Nervosa.
Nota: 8,7
Integrantes:
- Prika Amaral (guitarra)
- Mia Wallace (baixo)
- Eleni Nota (bateria)
- Diva Satanica (vocal)
Faixas:
- Venomous
- Guided by Evil
- People of the Abyss
- Perpetual Chaos
- Until the Very End
- Genocidal Command
- Kings of Domination
- Time to Fight
- Godless Prisoner
- Blood Eagle
- Rebel Soul
- Pursued by Judgement
- Under Ruins
Redigido por Fabio Reis
Esse album marcou muito, gosto muito da arte da capa em si…valeu!!!!