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Resenha: Thy Darkened Shade – “Liber Lvcifer II: Mahapralaya” (2023)

A banda grega de Black Metal, Thy Darkened Shade, lançou seu terceiro álbum, “Liber Lvcifer II: Mahapralaya”.

Sobre o Thy Darkened Shade, já é notório dizer com toda a certeza que a Grécia (ou Hellas, para os adeptos da história e dos dialetos locais) é o atual berço do Black Metal. Juntamente com os antigos expoentes, como é o caso da Noruega, o país dos deuses do Olimpo está em estado de graças com tantas bandas surgindo e conquistando o seu espaço. Além disso, podemos incluir as bandas mais tradicionais do estilo e da mesma localidade, as quais estão seguindo em frente e obtendo grandes resultados com relação aos seus mais recentes trabalhos. Portanto, estaremos encarando mais uma obra confeccionada na terra dos grandes sábios. Assim sendo, a bola da vez é o Thy Darkned Shade, duo diretamente de Athens, Attica.

Resumo da discografia do Thy Darkened Shade

O tratado helênico da musicalidade sombria e nefasta surgiu em meados de 1999. Porém, somente no ano de 2012 é que aconteceu o lançamento do debut intitulado “Eternvs Mos, Nex Ritvs”. Dois anos após, já em 2014, foi a vez do segundo álbum aparecer como em um encantamento das trevas. “Liber Lvcifer I: Khem Sedjet” passou a dar as cartas então. Entretanto, ficou faltando aquele que fecharia o tridente satânico da comitiva ateniense.

Eis que em 10 de janeiro via World Terror Committee Productions foi lançado o tão aguardado “Liber Lvcifer II: Mahapralaya”. Certamente, a espera se deu por conta da expectativa posta à prova após dois discos qualificados. Sendo assim, reza a lenda que através da primeira trinca de discos, ou de ases como muitos e até mesmo eu costumo dizer, é possível medir a temperatura da sonoridade de determinada banda. Portanto, agora é hora de prever isso e entender o rumo dessa nova prosa constituída pelo Thy Darkened Shade.

Só para ilustrar um pouco mais as informações da discografia oficial, o Thy Darkened Shade lançou mais quatro split albums entre os anos de 2016 e 2021.

Mergulhando no caldeirão gnóstico do Thy Darkened Shade (“Liber Lvcifer II: Mahapralaya”) / Facebook

Mergulhando no caldeirão gnóstico do Thy Darkened Shade

A banda mostra tua sombra escura a partir de “Luciftias”, faixa de abertura do novo full length. A sonoridade característica do Black Metal grego paira no ar logo em seu princípio. Vale detalhar o que é encontrado durante a viagem auditiva pelos vales pantanosos do disco. Afinal, a sua raiz é partilhada entre os grandes nomes de seu país. Podemos encontrar elementos baseados nas linhas mais intimistas e cadenciadas do Rotting Christ, enquanto o Varathron surge nas projeções mais ásperas e viscerais de cada versículo obscuro dessa história. Todavia, a sua transcendência sonora acontece em favor das bandas que projetaram a sua bússola maligna para o ponto dos lupinos e cainitas. Ou seja, passando do Black Metal para o Gothic Metal.

Nesse capítulo não temos muito destaque para a “morcegada” do velho continente, mas os detalhes e as pequenas nuances estão presentes, principalmente se observar os passos vagarosos que a bateria oferece em meio aos pedais duplos desenfreados.

Bem, é melhor você selar o seu cavalo forjado nas sombras. Percorreremos caminhos tortuosos a partir de então.

Thy Darkened Shade e seus três primeiros relatos macabros

Assim como em vários cânticos elaborados pelas bandas tradicionais do gênero, o Thy Darkened Shade cita várias figuras mitológicas em seu texto musical, rendendo um glossário muito interessante para quem deseja saber quem são de onde vieram tais seres, exceto os principais que são citados até no café da manhã.

Thy Darkened Shade e sua maquinaria em prol do brilho escurecido

“Lucifitas” te coloca no núcleo das profundezas abissais e escurece o teu caminho através dos tilintares das cordas purificadas com o odor do sacrifício divino. A cadência choca o espírito contra a parede de pedra e os vãos dos pedregulhos retangulares mostram o caminho para o caos e a desordem musical. O teor profano invade a sinfonia abrupta e traz consigo vocais graves, contrastando com apoio lírico em coro.

Para todo entendedor de dialeto helênico, alguns versos bastam:

“Εωσφόρος Σαμαήλ
Όφις Άρχοντας
Δαίμων του Ερέβους
Σατανάς Αιώνιος

Εωσφόρος Προ μηθεύς
Άρχοντας Αρχάγγελος
Δαίμων του Ερέβους
Σατανάς Αθάνατος”

Lodo em seguida, o apedrejamento em praça pública acontece diante dos teus belos e sangrentos olhos. “Sacrosanct Pyre” é destemida e impetuosa, contrapondo o início de sua antecessora. Todavia, é necessário observar os percalços que contornam esse vasto caminho. A obscuridade atravessa na forma de notas rápidas e tremolos carrascos. Os vocais posam como adornos para o deus do submundo, contrapondo os vocais rasgados e incessantes, característicos do estilo. Assim sendo, a gnose é revelada em verso sobre o valor da obscuridade, representado pelo por do sol luminoso e a purificação através do luar negro. O ambiente propicia momentos sublimes e tempestuosos com os arranques em marcha alta, então realizados pela cavalaria sombria, alternando com variâncias dentro do próprio estilo, sendo quase uma junção entre o Therion, o Seth da França e o Dark Funeral.

“Into Eerie Catacombs” convoca a ira do Marduk para trazer momentos infames e descompositores de almas pútridas. O lado menos denso alterna com a violência sonora, então marcando território em solo sagrado.

“Minha chama negra é um segmento de sua onipotência
Quando tu revelas os segredos finais do aeon Luciferiano”

Eis o anjo imperial da infinitude. Em misteriosas catacumbas… Eu te procuro com todos os teus nomes arcaicos… Para aniquilar teus antagonistas abominados e beber da fonte do sangue deles.

Thy Darkened Shade / Divulgação

Segunda tríade da sombra escura grega: The Darkened Shade

“Sathanastasis” entrega na cara larga sobre o que ela trata. Os mil anos para a chegada do antidivino estão próximos e, portanto, cabe aos seus servos mais fiéis, contemplarem a sua onipotência junto aos conglomerados de notas e linhas percussivas. Este arsenal se posta de maneira atenta, pois a prontidão se faz necessária ao explorar caminhos nunca vistos. O zumbido do contrabaixo soa como uma trombeta ao sequenciar cada passo da metástase satanista (ou seria satânica? Fiquei em dúvida).

A voluptuosidade musical acontece de repente e de forma bastante agressiva, desmoronando todas as pedras altas em direção às grandes planícies cobertas por frutos e flores. Por fim, a canção dá outra volta em torno de si mesma, acalmando e incitando a ira nos momentos específicos. Tudo isso unido ao som do Abbath e também do Behexen, porém sempre repleta de diferenciais e riquezas infernais.

“Sathanas Tenebris Diabolus Sacrum Qelippot”

Falando em qelippot (casca, concha ou casca), temos “Qelippot Epiphany”, então quinta colocada dentre os nove mandamentos maledicentes. As divindades do luto e da imortalidade encarnam nos alto-falantes pelos dedilhados graves, acobertados pelo coral e por sinos. Os arranjos e climatizações oferecem o tradicional ar de reflexão e imersão em um mundo profano a qual estamos ligados desde o início dos tempos. Notas repetidas em escalas sequenciais ditam o ritmo do conto macabro para queimar com as chamas do inferno e promover a benção sinistra. Os corvos negros consomem a concha sem vida, enquanto as guitarras enegrecidas e reforçadas pelos golpes de bateria, além do assombro do baixo, inserem a destruição do dia e a manifestação da penumbra ao anoitecer. Considero aqui um dos pontos cruciais para erguer esta hóstia de música profana ao sul do céu e celebrar o fim da vida.

“Fantasmas da lua negra
Encanto com supremacia astral
E transmita a gnose
das esferas que ameaçam os homens”

Uma das figuras lendárias no enredo das trevas

Thanatos é o renascimento e também é o grande daemon que escurece o sol. Você sabe que ele canta os segredos de Sorath e possui a coroa do Anticristo? São alguns dos vários personagens milenares que figuram por entre os versos dos atenienses.

O início está na escuridão total e é a partir daí que começa a tempestade chamada “Acausal Current of Thanatos”. A corrente une guitarra, baixo e bateria num furacão de notas sem precedentes. Entretanto, o mar de sangue não revela suas ondas da mesma forma, provocando pequenas surpresas ao mudarem trechos do percursos com suas blasfêmias sonoras. O lado extremo do metal negro toma conta da eucaristia e batiza o inimigo com tambores ao fundo. O comboio de notas marcantes atravessam a garganta dos enganadores como lâminas flamejantes e dilaceram a vida com requintes de pura crueldade, além de uma espécie de fusão entre Dimmu Borgir e Marduk.

“A vontade é a lei
E a lei é a morte”

World Terror Committee Productions / Thy Darkened Shade – “Liber Lvcifer II: Mahapralaya”

Os três últimos hinos para o cortejo

A veneração ao rei nascido do fogo acontece na última terça parte do artefato sonoro, culminando em um maior destaque para com suas qualidades em ser um ser digno de respeito e sacrilégio de seus leais súditos. O ritmo em fogo brando indica que ele é o maior tirano. Sendo assim, as chamas musicais ardem para ser recitado sobre ser o necromante mais velho e que seu prana, ou sopro de vida, desperta os eleitos. A agressividade musical cheia de viradas, bumbos duplos e riffs constantes, guiam os espíritos noturnos que são destinados à sua seita.

“Veneration for the Fireborn King” implode a aura de quem renega o seu real deus. Blast beats cavalares comportam o ímpeto necessário para impedir os planos iluminados de se sobressaírem diante de tamanha escuridão. O ataque acontece em escala colossal, como oceanos negros em forma de tsunamis de criaturas submundanas prontas para acabar com toda a falsidade nessa terra de sangue coagulado.

“Demolidor do misticismo da luz
Tormento que traz cataclismo
Sem nome, mas contendo nomes ilimitados
Nós adoramos o amanhecer dos falsos deuses”

“Noxious Witchery of the Titans” inicia a penúltima jornada no formato comum com muita velocidade e vontade de repetir as mesmas notas em fração de segundos. Porém, apesar dessa ser a principal premissa desse subgênero, a canção não fica apenas nisso e acompanha suas antecessoras através de nuances positivas, mas de forma mais contida. A bruxaria nociva dos titãs reascende o imperador supremo, juntamente da linhagem dos deuses antigos, a qual te convocam para ajudar em nosso retorno ao vazio escancarado de Ginnungagap, o abismo das crenças nórdicas.

Aqui pode ser praticado o famoso headbanging sem pensar em parar. As mudanças de andamento são tão sutis quanto uma troca de marcha em alta velocidade na estrada da morte.

“Surtre o veneno da mortalidade com sua semente malévola
Comece a erradicação da árvore do mundo
Acenda suas adagas serpentinas e envenene as águas”

Após o desaguar dos mares insanos… Vem a calmaria e soa o gongo antes da supremacia para demolir o cosmos.

Final triunfante

A apoteótica “Typhonian Temple” traz consigo as figuras que cercam o Olimpo. É o cenário ideal para reverenciar e aderir à santificação em contraste com as provações da manifestação carnal. Tifão é a lei e você suportará a angústia da existência por isso. Já a trilha sonora apresenta um grupo de notas que partilham do pão da boa conjuntura com a ala percussiva promovida pelas linhas de bateria. O andamento mais brando é a chave para um início enigmático da trama, que por sua vez, parece inofensiva. Só parece… Algumas doses de Enslaved e novamente Therion para incrementar o cenário devastado pelas forças ocultas. Os versos em grego saúdam as criaturas lendárias e contrárias ao dom da luz eterna.

Trata-se da faixa mais melódica de “Liber Lvcifer II: Mahapralaya”. Porém, não saia por aí bradando aos quatro cantos que a leveza chegou a este lugar. O tom maldito perdura e ajuda a conclamar a purificação do santuário tifoniano. O adversário tifoniano é mencionado enquanto as camadas sonoras reagem sob uma temperatura de pós-guerra celestial. O anseio para tornar Ele perenemente é destacado e a prece é feita para que sejam recebidas as aclamações para a glória do teu reino.

“Χαίρε Δράκων, Χαίρε Χάος, Χαίρε Δράκαινα, Χαίρε Αθάνατοι
Χαίρε Χάος, Χαίρετε Τιτάνες”

Thy Darkened Shade – “Liber Lvcifer II: Mahapralaya” / World Terror Committee Productions

Informações sigilosas e nada adicionais

“Liber Lvcifer II: Mahapralaya” foi Gravado no Mordor Sounds Studio e Sitra Ahra Studio. Mixado e masterizado no Woodshed Studio. A mixagem e masterização ficou a cargo da dupla V. Santura e Semjaza, enquanto o primeiro também cuidou da produção do álbum. A equipe também contou com Stamos Koliousis, assistente de som adicional. Além disso, a assinatura da arte de trabalho, fotografia e design pertence a Vamperess Imperium.

Ginnungagap ou Ginungagape, na mitologia nórdica, (“aparente vazio” ou “enorme buraco”) era o vasto abismo que existia entre Niflheim e Muspelheim antes da criação. Era tão profundo que nenhum olho mortal era capaz de ver o seu limite.

E em resumo, a dupla The A e Semjaza proporcionaram um ótimo fechamento para a primeira trinca de ases do duo, apoiados pelos convidados Johannes Großmann, vulgo HG, e Herc, o Choir of the Damned.

Personagens místicos utilizados na trama abissal

Muitos nomes das mais diversas mitologias são utilizados em favor da música extrema, ainda mais quando essa extremidade alcança a escuridão plena. Entretanto, nem sempre isso condiz com algo feito de forma conceitual ou até mesmo em ordem de mitologia/localização. No caso do Thy Darkened Shade, a escolha foi feita de acordo com a jornada em si. Ou seja, variando conforme o caminhar de cada história.

Entretanto, isso pode ocorrer dentro de uma mesma canção, tendo figuras diversas e que envolvem mais de uma mitologia e localidade. Nesse caso em específico, a base principal é o “ser meticuloso que chega para dominar o mundo e conter a luz”. Lúcifer é sempre a principal figura e em “Liber Lvcifer II: Mahapralaya” é mencionada a inúmera e arcaica quantidade de nomes que esse ser possui. O trecho do verso “Eu te procuro com todos os teus nomes arcaicos”, da música “Into Eerie Catacombs”, mostra bem isso. Por fim, vamos conferir cada figura milenar junto aos seus respectivos versos dentre todas as faixas do novo full length.

As criaturas reveladas e seus nomes arcaicos

Vamos aos nomes dos jurados!

“Luciftias”:

“Sacrosanct Pyre”:

“Into Eerie Catacombs”:

“Sathanastasis”:

“Qelippot Epiphany”:

“Acausal Current of Thanatos”

“Veneration for the Fireborn King”

“Noxious Witchery of the Titans””

“Typhonian Temple”

“Sigils by the Order of Promethean Fyre.”

Nota: 8,8

Integrantes:

Artistas convidados:

Faixas:

1. Luciftias
2. Sacrosanct Pyre
3. Into Eerie Catacombs
4. Sathanastasis
5. Qelippot Epiphany
6. Acausal Current of Thanatos
7. Veneration for the Fireborn King
8. Noxious Witchery of the Titans
9. Typhonian Temple

Redigido por Stephan Giuliano

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