O trator bauruense está de volta com o desejo de cavar fundo e jogar toda a terra recolhida na fuça de quem duvida da potência dessa máquina!
Estavam em dívida quanto ao fechamento de sua primeira trinca e muita coisa aconteceu até que pudessem anunciar um novo trabalho. Mudanças no line up, paralização dos eventos, dentre muitos outros problemas, fizeram com que o sucessor de “Floresta Armada” (2015) fosse construído e apresentado ao público. Mas… Esse dia chegou! E será que valeu por esperar? Veremos a seguir.
Antes disso, vamos à ficha “criminal” do novo álbum:
O novo registro carregado de muito mistério, incluindo até teaser de divulgação, foi lançado no dia 22 de julho em parceria com os selos: Heavy Metal Rock, Extreme Sound Records, Underground Brasil Distro e Metal Under Store.
A nova jornada promete traçar paralelos ainda mais intensos com a realidade vivida pelo país, passando pela exploração de recursos naturais até a estupidez humana, acobertada pela corrupção. O motor do Trator BR sempre roncou forte e desta vez, a rotação e o jogo de pistões tendem a ser mais intensos de acordo com o novo trabalho.
Chega de enrolação e vamos analisar a construção!
A abertura do capô é dada por “Metrancarcaça”, na qual apresenta um rito sinistro. É breve, mas serve para o preparo do que vem a seguir. A pancadaria desenfreada começa e quando se percebe, já estamos diante de uma sequência incessante de solos junto o menu repleto de ingredientes voltados para o chamado Brutal Death Metal, ou simplesmente, Death Metal. O início é bem curto e colado no para-choque onde temos logo de cara “Espiral de Extinções”, faixa-título do novo álbum. Aqui é dada a largada para o massacre da guitarra elétrica envolta pela bateria quase infinita e os zumbidos de baixo a contornar a canção. Blast beats, solos distorcidos, harmônicos e variações rítmicas fazem deste single um dos destaque da obra.
“Bomba Atômica Brasileira” era algo que o falecido “maluco” Enéas Carneiro queria construir. E o próprio país parece ter virado uma bomba. Após uma introdução semelhante ao início do disco, temos um duelo intenso de pedais duplos e guitarras que buscam imprimir diversos ritmos, todos voltados para o lado sangrento da força. Há uma boa dose de cadência e os solos se mantém na média do esperado, sempre convincentes. “Explosão – O Dia Seguinte” representa o desfecho após o ato de ser ter uma bomba. E o “basil” tem uma bomba: os políticos. Funciona como uma espécie de parte 2 de sua antecessora. O conjunto percussivo entra em êxtase ao explorar toda a velocidade além da permitida pela CET, enquanto a legião das cordas propaga seu lado variado entre o peso cadenciado e a velocidade cortante. Os solos seguem cumprindo bem seu papel.
Da metade para o fim temos uma breve trilha sonora que vem a entregar a sensação de um dia após o outro, após a explosão conforme manda o refrão.
“Cordão Umbilical Rasgado” representa a perda do valor da vida e o suicídio coletivo mental. Com um início em movimento reduzido, a quinta faixa te engana e te esgana ao mostrar a outra face voraz. Os solos são colocados de modo ainda mais insanos em meio aos vocais cavernosos. Pode-se notar algo de Malevolent Creation e Immolation, principalmente a segunda, com relação aos harmônicos e ao vocal que se assemelha ao de Ross Dolan. O “Desenvolvimento” do país está calcado na queda do mesmo e para acompanhar esse desfecho, nada como um bom e honesto Death Metal mórbido e pútrido. A canção é recheada de pausas em meio ao lado extremo da coisa. Solos que enriquecem o relato sonoro profano, tornam a música ainda mais imponente. Seu final é breve, explosivo e abre caminho para…
“Enroscados” entre cipós e motosserras se sobrevive diante do caos. Esta é a sequência para a sétima etapa da nova trama. Não há alívio nem descanso nesse combate. Os efeitos e dedilhados desconcertantes tornam essa uma das faixas mais “experimentais”, dentro do estilo, digamos assim. “Trânsito Infernal” engloba grandes tratativas que nunca são concluídas, causando um atraso enorme em todas as atestas. Os primeiros acordes lembram um pouco a lenda Black Sabbath. Após isso, descamba para o lado mais extremo e corrompido da sonoridade. Até o momento é aquela que melhor carrega a bandeira do Thrash sem deixar de ser Death. Os solos e as pulsações de baixo são os pontos altos da canção.
“Soldado de Gaia” é o defensor da fauna e da flora, que nunca se entrega e segue em busca da glória. E a glória é conquistada com o respiro do planeta, mas dia após dia, esse ar tende a acabar. E enquanto houver luta, haverá o verde natural para prestigiar e purificar o ar podre sujo pelos engravatados gananciosos e assassinos. “Suga Sanguessuga” é a décima cartada do álbum e traz consigo uma marretada sequenciada em que o nome da faixa repete por diversas vezes até que se esvai após mais alguns versos. Ao ser sugado pelos impostores que se encontram acima da lei temos o “Gene da Maldade” para lembrar sobre o mal desde o nascimento de determinado ser repugnante que normalmente usa uma gravata paga com o sangue da população. O massacre sonoro lembra bem bandas do porte do próprio Massacre, com pitadas de Vader e nuances de Sadism do Chile.
“O Retorno do Comando” vem para tomar a cena de assalto e declarar que estamos próximos do fim. Do novo trabalho, digo. Todas as escolhas do cardápio jogadas à mesa são propícios para dizer que a Terra está viva, respirando, evoluindo e extraindo todas as impurezas contidas nela. Em meio ao arsenal sonoro, os dizeres crescem e se tornam lâminas aos ouvidos dos destruidores do verde desse lugar. E é com “Dimensão Oposta” que se fecham as cortinas dos relatos e protestos envoltos por uma camada rústica de puro suco do Death Metal nacional. Os dedilhados contínuos de guitarras e baixo, unidos ao espancamento do kit são vibrantes e ampliam o destaque da morbidez que chega logo após, até que o retorno para o lance mais extremo vem à tona novamente, regado a solos agoniantes e viscerais. O ritmo frenético retoma a dianteira e em seu fim, temos uma introdução de encerramento que preenche a lacuna deixada pela introdução de início.
O underground brasileiro é tão rico quanto é esquecido pelos adeptos do sagrado Metal, incluindo todos os seus subgêneros e nomenclaturas. E quando a lupa é aproximada em determinada região específica, pode ser facilmente notado um movimento de bandas emergentes que fazem o seu som e buscam o seu espaço. Não entrando no mérito de divulgação que é um grande ponto falho neste certame, o Trator BR é uma dessas bandas que ajudam a manter o Metal ativo em um país tão desqualificado de “múzga” como é a nossa Ilha de Vera Cruz.
Por mais tratores destruindo a música ruim e delatando os incendiários do verde vivo da nação.
Nota: 8,5
Integrantes:
- Leonardo Chagas (baixo e vocal)
- Ricardo Razuk (guitarra)
- Amil Mauad (guitarra)
- *Rafael “Verme” Graziani (bateria)
- *Gargamel (bateria) (entrou para a vaga de Rafael “Verme” Graziani, que foi quem gravou o disco)
Faixas:
1. Metrancarcaça
2. Espiral de Extinções
3. Bomba Atômica Brasileira
4. Explosão – O Dia Seguinte
5. Cordão Umbilical Rasgado
6. Desenvolvimento
7. Enroscados
8. Trânsito Infernal
9. Soldado de Gaia
10. Suga Sanguessuga
11. Gene da Maldade
12. O Retorno do Comando
13. Dimensão Oposta
Redigido por Stephan Giuliano