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Resenha: Warbringer – “Wrath And Ruin” (2025)

Pertencentes a primeira onda do renascimento do Thrash Metal no início dos anos 2000, o Warbringer está na ativa desde 2004 e, finalmente, chega ao seu sétimo disco de estúdio com o surpreendente “Wrath And Ruin”. E é interessante notar que de todas as bandas extremamente promissoras que floresceram naquela época, foram poucos os nomes que realmente vingaram e acima de tudo conseguiram engatar carreiras de relativo sucesso.

Construindo um legado

Podemos mencionar como bons exemplos os espanhóis do Angelus Apatrida, os gregos do Suicidal Angels, os norte americanos do Havok e, certamente, os também norte americanos do Warbringer. Todos estes, nomes que verdadeiramente carregam a tradição do Thrash como esperado de toda esta geração. Apenas para não deixar de mencionar, é absolutamente lastimável e digno de todas as críticas possíveis e imagináveis o que bandas como Lost Society e Ultra-Violence fizeram consigo mesmas. Com toda a certeza, o Metal não é para qualquer um.

Mas voltando ao Warbringer, depois do início avassalador com os ótimos “War Without End” (2008) e “Waking Into Nightmares” (2009), podemos dizer que o quinteto passou por períodos de inconstância. É verdade que jamais lançaram um álbum realmente ruim, mas alternaram momentos de fúria genuína com trabalhos um tanto burocráticos. Podemos dizer que o disco anterior, “Weapons Of Tomorrow” (2020), deu início a uma nova fase na carreira do grupo e isto se concretiza de fato neste novo “Wrath And Ruin”.

Lançado no último dia 14 de março através do selo Napalm Records, o álbum possui 8 composições e pouco mais de 40 minutos de duração. Alternando canções mais longas e trabalhadas com faixas diretas, cortantes e principalmente rápidas, temos uma audição revigorante e cheia de reviravoltas.

Reprodução/Divulgação

Maturidade e criatividade à serviço do Thrash

“Wrath And Ruin” é de longe o disco mais maduro da discografia do Warbringer. Através de um tracklist montado com precisão cirúrgica, a todo momento temos a sensação que os músicos sabem exatamente para onde vão nos levar. Eles arriscam um bocado em faixas como “The Sword And The Cross”, “Neuromancer” e “Through A Glass, Darkly”, mas também mantém os dois pés fincados em seu DNA musical com músicas insanas como “A Better World” e “Strike From The Sky”.

A montanha russa inicia com a belíssima “The Sword And The Cross”, uma canção ousada para uma faixa de abertura, mas que inegavelmente funcionou. Esta é uma criação cheia de camadas, com partes aceleradas, assim como outras mais épicas e até mesmo alguns trechos progressivos. Na parte lírica, mensagens de desesperança sobre um mundo dominado por senhores feudais tecnocratas. O vocalista John Kevill explicou o conceito da letra:

“É onde um senhor insensível diz ao público como e por que ele os domina. Primeiro, estabelecendo-se com violência bruta (representando a Espada). Segundo, legitimando-se com a ideologia (representando a Cruz). O final da música foi escrita primeiro, onde este senhor diz que ele ainda está presente e reina em arranha-céus em vez de castelos, que os filhos dele dominarão os seus filhos, e ele dominará você muito depois de morrer. Eu amo esta seção, parece absolutamente maníaco e maligno de cantar.

Um dos principais temas do disco é o ‘tecno-feudalismo’. Embora nossos governantes possam ter desistido de suas coroas e títulos, eles nunca renunciaram ao seu poder. Os senhores modernos não são menos nossos mestres do que os medievais eram.”

“A Better World” é um Thrash explosivo que começa e termina em alta velocidade. Entre riffs, solos e linhas vocais frenéticas, Kevill canta de forma alucinada sobre como o mundo não ficará melhor sobretudo por que diminuiria os lucros das grandes corporações. Alguns dos versos chegam a ser engraçados, assim como a maneira perturbadora que o frontman usou para passar a mensagem. E por mais que possa beirar a loucura, sabemos que tudo faz sentido e isso traz um sentimento muito perturbador.

Sem medo de arriscar

“Neuromancer” chega com uma introdução de baixo realmente boa de Chase Bryant e muda o rumo da audição com um ritmo pesado e cadenciado. Os riffs possuem uma estrutura diferente com cavalgadas e, desse modo, começamos notar que esta é uma audição diferenciada. O Warbringer decidiu que não vai te manter preso dentro de uma caixa específica e, com isso, ouvir “Wrath And Ruin” começa antes de tudo a tomar contornos de uma aventura musical onde você não sabe para onde será levado. O Thrash pode ser amplo e o quinteto explora quase todas as suas facetas no decorrer do tracklist. E isso é ótimo.

Depois de uma composição focada na cadência, a montanha russa é acionada mais uma vez e “The Jackhammer” começa caótica e tão veloz quanto você conseguir imaginar. Do meio pro final, a velocidade é substituída pelo peso, trazendo à tona uma performance realmente boa da parte rítmica formada por Chase Bryant (baixo) e Carlos Cruz (bateria).

“Through A Glass, Darkly” é a faixa mais corajosa e diferente do álbum, ela possui trechos realmente épicos que soam quase como Heavy tradicional. Os solos melódicos de Adam Carroll são um verdadeiro deleite, principalmente, a seção final. Segundo Kevill, a música é sobre um guerreiro eternamente reencarnado, que relata suas lutas e dores nos campos de batalha do tempo. A letra foi inspirada em um poema de George Patton, um general que lutou na Segunda Guerra Mundial. Ao que tudo indica – e este é um ponto muito curioso – ele realmente acreditava ser a reencarnação deste guerreiro eterno. O vocalista definiu a canção da seguinte maneira:

“Para mim, essa ideia tinha muito poder e ressonância, e funciona como uma metáfora poderosa para a luta humana contínua que todos enfrentamos. Eu também achei que o poema tinha alguns versos realmente ótimos, alguns dos quais estão incorporados aqui. A faixa, foi escrita por nosso baterista Carlos Cruz, foi uma tentativa de obter a sensação épica que tínhamos em músicas como ‘Defiance of Fate’ e ‘When the Guns Fell Silent’ em um pacote de duração mais curto, um ‘épico de bolso’ se preferir.”

Warbringer traz final apoteótico para “Wrath And Ruin”

E chegamos na canção que, provavelmente, se tornará a queridinha de boa parte dos fãs. “Strike From The Sky” é aquele Thrash clássico old school, com riffs avassaladores, solos excelentes e um refrão pegajoso. Aqui temos a melhor performance vocal de John Kevill, com agudos muito bem encaixados sendo mesclados a seu canto rasgado mais tradicional. Esta certamente será presença garantida em todos os shows da banda a partir de agora.

O registro ainda explora outros universos com as duas faixas finais, “Cage Of Air” e “The Last Of My Kind”, ambas com mais de 6 minutos de duração e, nesse sentido, com muitas particularidades que somam ingredientes mil ao caldeirão criativo do Warbringer. Em “Cage Of Air”, temos uma mescla positiva de agressividade e momentos mais atmosféricos, já em “The Last Of My Kind” somos apresentados àquele tipo de Thrash técnico, repleto de mudanças rítmicas, mas que não abandona a essência musical do grupo.

Reprodução/Dream Views Live

A incrível arte de ouvir um disco

Talvez por conta das tantas nuances musicais, dos diferentes tipos de construção e da extensa transição de ritmos, este é um disco que se tivesse sido lançado entre o final dos anos 80 e início dos 90, possivelmente, hoje o chamaríamos de clássico. Já neste mundo atual onde as pessoas possuem muita dificuldade em consumir uma obra completa e procuram cada vez mais se apegar a singles, talvez “Wrath And Ruin” possa ter alguma dificuldade de assimilação, principalmente, se pensarmos nas gerações mais novas.

Tenha em mente que esta é uma obra que pode ser consumida ouvindo músicas separadas, mas só com a audição completa conseguimos entender sua complexidade. Hoje, ouvir um álbum se transformou cada vez mais em plano de fundo para outras atividades, dessa forma, a absorção do mesmo pode ser comprometida. Tire um tempo do seu dia onde sua atividade principal é ouvir o disco, escute os detalhes. Ouça de maneira mais cuidadosa e tenha em mente que este é um trabalho que inegavelmente merece seu empenho.

Até o momento, “Wrath And Ruin” briga em pé de igualdade com outros dois lançamentos pelo trono de melhor Thrash de 2025. Se você ainda não ouviu, temos resenha desses outros dois registros aqui no site, trata-se de Hazzerd – “The 3rd Dimension” e Sacrifice – “Volume Six”. Leia as análises e aproveite o melhor do Thrash Metal apresentado neste ano.

Nota: 9,3

Integrantes:

Faixas:

  1. The Sword And The Cross
  2. A Better World
  3. Neuromancer
  4. The Jackhammer
  5. Through A Glass, Darkly
  6. Strike From The Sky
  7. Cage Of Air
  8. The Last Of My Kind
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