Não sei se são as mesmas pessoas que fazem questão de reclamar sempre ou se existe algum tipo de renovação de público no Rock/Metal entre uma edição e outra do Rock In Rio, mas a verdade é que os mesmos comentários sem sentido são refeitos cada vez que o festival anuncia um novo cast.
Como vocês bem sabem, nós aqui gostamos de mostrar argumentos sólidos e verdades, mesmo que essas verdades sejam inconvenientes. Sendo assim, hoje vamos entender o motivo das reclamações feitas sobre o Rock In Rio serem completamente infundadas.
Um pouco de história: Rock In Rio I (1985)
Começamos nos primeiros anos da década de 80, quando o empresário Roberto Medina resolveu apostar em um festival de grande porte que aconteceria no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Ele resolveu que traria grandes nomes da música para se apresentar em nossas terras e, nessa época, nosso país não era uma rota tradicional das bandas renomadas.
O cast da primeira edição do Rock In Rio trouxe gigantes que jamais haviam pisado no Brasil e, desde o início, Medina pensou no festival como uma marca. O Rock era um estilo muito popular naquela época e a escolha do cast foi relativamente fácil por conta disso, a grande maioria dos nomes mais populares seriam atrações inéditas em solo brasileiro e bastava uma escolha acertada para que o sucesso acontecesse.
Roberto Medina analisou quais grupos estavam em alta no mercado, quais os que tinham grande apelo junto ao público e trouxe de uma só vez artistas do porte de Queen, AC/DC, Scorpions, Ozzy Osbourne, Whitesnake e Iron Maiden.

Escolhas nada aleatórias
Notemos que o Queen era uma escolha do tipo “jogo ganho”, já que a banda gozava de muito prestígio na ocasião, sendo inclusive, a única banda (ao lado do Kiss) realmente grande que já tinha tocado no Brasil. Os ingleses haviam se apresentado no estádio do Morumbi em 1981 levando mais de 100 mil pessoas ao concerto.
O AC/DC era outra aposta bastante inteligente, os australianos haviam lançado seus três discos mais populares até então, “Highway To Hell” (1979), “Back In Black” (1980) e “For Those About To Rock” (1981). Além disso, o fato de terem perdido o vocalista Bon Scott prematuramente gerou uma enorme comoção em torno do nome.
O Scorpions vivia seu auge com “Blackout” (1982) tendo estourado no mundo todo e a banda estava em plena divulgação de “Love At First Sting”, um disco repleto de hits. Ozzy Osbourne, assim como os nomes mencionados anteriormente, tinha toda uma repercussão por ter sido vocalista do Black Sabbath e havia lançado trabalhos badaladíssimos como “Blizzard Of Ozz” (1980), “Diary Of A Madman” (1981) e “Bark At The Moon” (1983).

Tudo junto e misturado
Medina não jogou para perder, ele se aproveitou do auge midiático do Rock e Metal e trouxe artistas que, certamente, seriam garantia de retorno financeiro. Como bom visionário, enxergou que a NWOBHM estava em ebulição no Reino Unido e adicionou a, na época, “promessa”, Iron Maiden, e tentou trazer também o Def Leppard, mas precisou substituí-los às pressas pelo Whitesnake já que os ingleses estavam ocupados gravando o álbum “Hysteria”.
É muito importante salientar que em meio a estes nomes de peso do Rock e do Heavy Metal, o Rock In Rio I também escalou James Taylor, George Benson, Al Jarreau, Nina Hagen, Yes e Rod Stewart, além disso, chamou nomes brasileiros como Pepeu Gomes, Ivan Lins, Os Paralamas do Sucesso, Erasmo Carlos, Ney Matogrosso, Rita Lee, Alceu Valença, Moraes Moreira, Eduardo Dusek, Blits, Lulu Santos e Barão Vermelho. Como podem perceber, mesmo na primeira edição que é a mais Rock ‘N’ Roll de todas, o evento já misturou outras sonoridades em seu cast.

Maior variedade no Rock In Rio II (1991)
Com o sucesso estrondoso da primeira edição, era esperado que houvesse uma segunda. E ela realmente aconteceu em janeiro de 1991, no estádio do Maracanã. Esta edição é muito importante para nossa análise, já que se olharmos o cast do evento com atenção, vamos perceber que apesar de alguns poucos nomes de peso para o Rock e Metal, Medina aposta, assim como no primeiro evento, em artistas que estavam em alta naquele momento. E percebam como após quase seis anos, as tendências eram totalmente diferentes em 1991.

As bandas de maior apelo para o público roqueiro foram Judas Priest, Guns ‘N’ Roses, Queensryche, Megadeth, Faith No More e Sepultura, porém, estes nomes foram escalados em meio a um esquadrão de artistas oriundos de outras sonoridades.
Tivemos Jimmy Cliff, Joe Cocker, Prince, Billy Idol, INXS, Information Society, A-ha, Run DMC, Debbie Gibson, George Michael e, até mesmo, a boy band New Kids On The Block.
Foi nessa época que o público do Rock começou com a chiadeira desconexa, chegando até mesmo a realizar uma manifestação de repúdio na chegada do New Kids On The Block no aeroporto. Algo totalmente fora de contexto, já que o evento trazia atrações das mais diversas possíveis.
Só pra se ter uma ideia, pelo lado dos artistas nacionais escalados, tivemos Supla, Engenheiros do Hawaii, Titãs, Ed Motta, Lobão, Roupa Nova, Elba Ramalho e Leo Jaime, entre outros.

Demais edições e internacionalização do evento
Após um longo hiato, em 2001, Roberto Medina resolveu retornar com o Rock In Rio e, novamente, as atrações foram das mais diversificadas possíveis. Ao mesmo tempo que tivemos nomes como Iron Maiden, Rob Halford e Guns ‘N’ Roses representando o lado do Rock/Metal, tivemos também Britney Spears, N’Sync e Sandy & Júnior. Logo, não havia mais nenhuma dúvida, o evento JAMAIS foi exclusivo ao público roqueiro e, portanto, toda e qualquer choradeira é descabida.
Em 2004, o Rock In Rio finalmente se internacionalizou e a primeira edição fora do Brasil aconteceu na cidade de Lisboa, em Portugal. Em 2006 e 2008, ocorreram novas edições também em Lisboa e, em 2008, aconteceu a primeira edição na Espanha, na cidade de Madrid.
Somente em 2011 o festival retornou ao Brasil, mas antes disso, tivemos em 2010, a segunda edição em Madrid. À partir de 2011, começou um rodízio. Neste ano os shows aconteceram no Brasil, em 2012 foram duas edições (uma em Portugal, outra na Espanha). Em 2013 no Brasil e em 2014 novamente em Portugal. Já em 2015, tivemos a primeira edição nos Estados Unidos (em Las Vegas). Neste mesmo ano também rolou uma edição no Rio de Janeiro.
Depois disso, em todos os anos subsequentes tivemos edições do Rock In Rio, ou no Brasil ou em Portugal.

Mas afinal de contas, por que os fãs brasileiros reclamam tanto do Rock In Rio?
Como já foi dito neste artigo, desde a primeira edição, o evento sempre promoveu a mistura de gêneros diferentes. Roberto Medina sempre buscou trazer nomes de peso da música em geral e, assim como todo empreendedor, o empresário visa o lucro.
Muitos criticam o Rock In Rio por diversos fatores, os quatro principais são:
- Usar o nome Rock e trazer diversos artistas de outros estilos.
- Disponibilizar apenas um dia para o Heavy Metal.
- Escolher repetidamente artistas que já tocaram no evento em edições anteriores ao invés de tentar trazer novos nomes.
- Apostar pouco em bandas emergentes e/ou promissoras.

Chegamos finalmente a hora da verdade. Vamos tentar responder a essas quatro questões de forma bem sintetizada e direta.
É fato notório que nos anos 80 e início da década de 90, o Rock e o Heavy Metal estavam em seu auge midiático e, além disso, as principais bandas do gênero viviam suas eras de ouro. É importante frisar que, hoje, mesmo tendo um público grande e fiel, o Rock não está mais na mídia mainstream. E por isso os trabalhos mais recentes das bandas, mesmo as maiores, não geram o mesmo engajamento que geravam há 20, 30 anos atrás.
Em outras palavras, Rock e Metal não são mais tão populares quanto já foram e estão mais voltados a um nicho específico de mercado. Esse nicho consome e é bastante ativo, mas ainda assim, o gênero não desponta na grande mídia e não tem uma alta visibilidade. Com tudo isso, é muito natural que o cast seja escolhido de acordo com as tendências de mercado. Com relação aos nomes, serão sempre as bandas capazes de garantir vendagem satisfatória de ingressos e gerar retorno.
Eu sei, você já está se coçando para dizer:
“Poxa, mas sempre Iron Maiden e Metallica? Poderiam variar, né!”

O lucro vem em primeiro lugar!
Sim, poderia! Mas veja bem, a tendência é que nem essas venham mais com tanta frequência. Se olharmos o cast deste ano, por exemplo, vimos que o Rock foi totalmente escanteado.
Mas nos referindo ao Maiden e Metallica, temos o fator “confiança” que essas bandas construíram com a organização. Medina tem um bom relacionamento com o staff do Iron Maiden e do Metallica e sabe que essas bandas vão trazer o retorno que ele espera, sendo assim, por que mudar? Lembre-se, não estamos aqui falando de um apaixonado por Rock ‘N’ Roll, mas de um empresário que quer, acima de tudo, lucrar.
Sobre o nome Rock In Rio, é correto afirmar que é uma marca, nada mais do que isso. O nome foi escolhido por que o Rock And Roll estava em alta na época em que o fest foi idealizado, mas poderia ter sido escolhido qualquer outro nome e, mesmo assim, a roqueirada iria reclamar da mesma forma. Um outro fato é que o termo “rock”, em inglês, não é usado apenas para se referir ao estilo musical, mas pode soar como algo na linha de “vamos festejar esta noite” (“let’s rock tonight”).

O famigerado dia do Metal
Sim, geralmente, o Metal acaba ganhando apenas um dia no Rock In Rio (na atual edição, nem isso) e, quer saber, esse dia foi muito bom em diversas ocasiões. Muita gente critica, mas devo recordar que na edição de 2019 tivemos um “dia do Metal” com atrações do mais alto nível. No mesmo dia, quem compareceu a cidade do Rock assistiu as performances de Iron Maiden, Scorpions, Helloween, Sepultura, Slayer, Anthrax, Torture Squad & Claustrofobia (com participação de Chuck Billy, do Testament) e as meninas do Nervosa. Não sei o que você pensa, mas no nosso entendimento, este é um cast exemplar para um festival que nem é especializado em Heavy Metal.
Encerrando os quatro pontos, temos a afirmação que diz respeito ao evento não apostar muito em bandas emergentes ou promissoras. Bom, pode até ser que essa afirmação seja verdadeira em termos de bandas de Rock e Metal, porém, nos demais estilos, a organização sempre escolhe os artistas emergentes e com maior possibilidade de vendagem de ingressos. Mas mesmo se pensarmos em Rock e Metal, já tivemos Torture Squad, Claustrofobia, Nervosa, Krisiun, Stone Sour, Ghost e Mastodon, ou seja, bandas emergentes.
Antes era melhor! Mas também, né…
Nós sabemos que ainda vão aparecer aqueles com os seguintes dizeres:
“vocês querem comparar as atrações secundárias dos primórdios com essas atrações de hoje? Nos primeiros eventos tocaram Pepeu Gomes, Titãs, Blits, Ney Matogrosso, Barão Vermelho (com Cazuza), Lobão e Roupa Nova, agora eles trazem artistas como Ivete Sangalo, Claudinha Leite, Pablo Vittar e Carlinhos Brown.”

Bom, temos algumas verdades para lhe dizer. Cada geração coloca no topo os artistas que merece. Em 85 e 91, os nomes brasileiros que faziam sucesso eram artistas muito melhores. O Rock Nacional estava em ebulição e, mesmo os artistas que não eram do Rock, tinham muito mais cacife.
O que Roberto Medina pode fazer se a geração atual resolveu colocar no mais alto pedestal artistas como Anitta, MC Gui, Jojô Toddynho, Wesley Safadão, Cabelinho, Matuê, Gloria Groove, Jão e Luisa Sonza?
Pessoal, o processo seletivo de Roberto Medina não mudou desde a primeira edição, o que mudou foram os estilos musicais que estão na mídia mainstream. Mudaram os artistas do momento. Se em 1985 nós tínhamos um Queen em franca ascensão, um AC/DC em sua melhor forma, um Iron Maiden se agigantando e trocentas outras bandas lançando obra-primas, em 2020 nós temos uma realidade totalmente diferente.
Temos opções
Com exceção de alguns dinossauros, aliás, todos eles muito perto do final de suas carreiras, temos pouquíssimos nomes capazes de segurar um festival desse porte nas costas.

Sabe o que deveríamos estar pensando? Que bom que estão aparecendo algumas opções de festivais voltados para o Rock e o Metal. O Monsters Of Rock irá acontecer em 2025, o Summer Breeze Brasil mudou de nome, mas ocorrerá como Bangers Open Air, o Knotfest foi confirmado novamente, o Setembro Negro está aí há anos.
Apoiem estes eventos pois daqui alguns anos, quando Maiden, Metallica e os demais dinossauros se despedirem dos palcos, aí sim vocês terão motivos de sobra para reclamar.
Finalizando, o Rock In Rio é o evento dos sonhos para o público do Rock e Metal? Óbvio que não. Nunca foi e nunca será. Mas é um evento gigante e que, vez ou outra, irá abrir suas portas para que as bandas de Rock e Metal toquem. Se você achar que um dia deve ir, eu recomendo, é uma experiência para a vida. Caso não queira, vá a um dos festivais acima mencionados e seja feliz.
Realmente o lucro vem em primeiro lugar!!!! Fato que show da Kate Perry, Madonna e Ivete Sangallo lotam estádios…essa é a verdadeira razão de ter coisas pop no Rock in Rio!!!! Colocam Metallica, Iron Maiden e outras bandas apenas para suprir o nome do evento mesmo!!!! Acredito que se não houvesse bandas de metal o lucro deles seria maior ainda, já que muitos ali dormem até na fila para ver uma Diva do Pop…essa é a razão do Rock in rio ter tanta coisa ruin, visa o lucro de pessoas que gostam de ver até Rebeldes cantando através do Playback e assim vai!!!! Valeu galera!!!!
Puta merda, que matéria mais meia boca em? concordo e discordo com muitas coisas que comentou, mas tu praticamente defender essa merda, ai é foda, não tem o que defender, e não venha dizer que o RiR sempre foi assim, não foi! melhor trocar o nome e cortar de vez bandas de rock, a verdade é que outros estilos se aproveitaram totalmente do Rock.
E o Bon jovi?