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Roleta Russa (Resenha): Megadeth – “Endgame” (2009)

Nota da redação: Criamos o quadro “roleta russa” com um propósito muito simples: dar a um redator do site Mundo Metal escolhido de forma aleatória a missão de resenhar um álbum de uma banda que ele não goste. A única determinação é que deve se fazer a resenha de maneira honesta e séria.

O escolhido para este episódio de estréia foi nosso querido Geovani “Gigio” Vieira e demos para ele a missão de resenhar nada menos que “Endgame”, do quarteto norte americano Megadeth.

Será que o Gigio vai mudar o seu conceito à respeito da banda de Dave Mustaine ou, ao menos, sobre a obra musical em questão? Vamos descobrir isto lendo o artigo abaixo.

Bem vindo ao roleta russa. Divirta-se!

Dois anos após o lançamento de “United Abominations”, os americanos do Megadeth editam “Endgame”, décimo segundo álbum da carreira.

Contendo 11 faixas inéditas, o álbum foi lançado pela Roadrunner Records em 15 de setembro de 2009 , trazendo em sua produção o trabalho brilhante de Andy Sneap, responsável por excelentes produções ao lado de grupos como Exodus, Kreator, Arch Enemy, Nevermore, Masterplan, Blaze, Benediction, Judas Priest, etc e que também produziu o trabalho anterior da banda, “United Abominations”.

“Endgame” foi o primeiro registro a apresentar o guitarrista Chris Broderick, substituindo Glen Drover que deixava a banda em 2008, e o último álbum de estúdio com o baixista James LoMenzo, substituído por David Ellefson, baixista original e co-fundador da banda, retornando ao posto após dez longos anos.

Com letras fortes e inspiradas em temas que vão desde J.R.R Tolkien, passando pela crise financeira americana e mergulhando no mundo da insanidade, crimes e torturas, o disco seguiu a trilha de sucesso e repetiu o mesmo feito de seu antecessor, que obteve excelente aceitação por parte de público e crítica, atingindo a 8a posição na Billboard americana. “Endgame” seguiu elevando o Megadeth ao sucesso e foi catapultado pelos singles “Head Crusher” e “The Right to Go Insane”, figurou na parada da Billboard 200 alcançando a 9a posição, e 1a posição na parada de Hard Rock dos Estados Unidos.

Lição de casa concluída, é hora de adentrar ao “Jogo Sonoro” de “Endgame”.

Que comecem os jogos!

Reprodução/Facebook

O início dos jogos

Trazendo em seu line up Dave Mustaine (vocais, guitarras), Chris Broderick (guitarras), James Lomenzo (baixo) e Shawn Drover (bateria), o disco abre com “Dialectic Chaos”, faixa instrumental cujos riffs já dão mostras de que se há uma porta à frente, então ela será destruída sem dó. Longe de soar Thrash Metal, temos aqui uma faixa totalmente voltada ao Heavy Metal, numa dobradinha perfeita de riffs, peso e agressividade.

Como é costumeiro dizer: Excelente faixa de abertura.

E já que falei de “agressividade”, não consigo encontrar outra palavra que não seja esta para classificar “This Day We Fight”, faixa que proíbe qualquer ser humano de permanecer respirando, já que seus riffs são um verdadeiro chute no estômago. Rápida, agressiva, pesada e, ao mesmo tempo, dona de uma rifferama daquelas que parecem navalha cortando a carne, somos envolvidos por uma sonoridade que nos remete aos primórdios da banda.
Além disso, destaque para a dupla Broderick e Drover, duas máquinas de destruição agindo juntos em prol da pancadaria sonora.

Lembrando do “Youthnasia”

Recuamos no tempo e voltemos para o ótimo “Youthanasia”, referência musical para “44 Minutes”, faixa que apresenta harmonias mais brandas, embora os riffs da dupla Broderick e Drover, adicione doses de peso numa música onde o refrão gruda de imediato. Há momentos em que nos perguntamos se Marty Friedman está à frente das guitarras, já que a música traz as características rítmicas de Marty, principalmente em seus solos.

Reprodução/Twitter

Agora é a vez de lembrar de “Peace Sells….But Who ‘s Buying”

Os riffs rápidos de “1,320” nos remetem mais uma vez ao passado do quarteto, quando estes gravaram pérolas como “Peace Sells….But Who ‘s Buying” e “Countdown To Extinction”, já que em dado momento suas melodias nos transportam aos referidos trabalhos, bem como sua atmosfera e melodias.

O breve início de “Bite The Hand” nos traz à mente os riffs iniciais de “Train of Consequences”, já que seu instrumental nos faz querer cantar o refrão da referida canção. Assim sendo, não fossem os solos e riffs mais rápidos, poderíamos dizer tratar-se de uma continuação.

No melhor estilo “Symphony of Destruction” ou “Angry Again”, mergulhamos nas melodias de “Bodies”, faixa que traz uma linha Heavy/Thrash muito bem fundida e uma proposta mais “comercial”, principalmente nos riffs e solos de guitarras, transformando-na em uma das músicas mais acessíveis do disco. Embora a banda reserve para seu final melodias mais rápidas e agressivas, lembrando o que fizeram os americanos do Sanctuary na excelente “Future Tense”. Destaques para as linhas pesadas de contrabaixo de James Lomenzo, chutando traseiros sem dó.

“Endgame”

“Atenção! Atenção! Todos os cidadãos são obrigados a se apresentarem nos centros de detenção distritais/Não voltem para suas casas/Não entrem em contato com ninguém/Não usem nenhum aparelho celular ou GPS/Entreguem todas as armas de uma vez/Atenção! Este é o caminho para os acampamentos”.

Esta é a narrativa de abertura de “Endgame”, faixa que batiza o disco, numa combinação perfeita entre o Heavy e o Thrash Metal. Cadenciada a princípio, com riffs “arrastados”, a música é uma crítica ao projeto de lei assinado pelo ex-presidente George W Bush, dando-lhe o poder de colocar cidadãos americanos em centros de detenção.

“RFID”

Apresentando uma das melhores composições de Dave Mustaine (e também do disco), sua letra retrata uma espécie de realidade por trás das grades vivida por prisioneiros em centros de detenção, tendo chips “RFID”, implantados em seus corpos. Citando menções que vão desde Teoria da Conspiração, passando, dessa forma, pela Nova Ordem Mundial, a música despeja trechos como:

“Acordei em uma caixa preta da FEMA/Escuridão estava em todo o meu redor, no meu caixão/Meus sonhos são apenas pesadelos agora/E é com isso que sonho toda noite….O líder da Nova Ordem Mundial, o Presidente dos Estados Unidos/Declarou que qualquer um que estiver morando nos Estados Unidos sem um chip RFID, é apenas um alienígena ilegal/Um inimigo combatente da América/Bem-vindos a Nova Ordem Mundial..Este é o fim da estrada/Este é o fim da linha/Este é o fim de sua vida”

Logo depois, em outro trecho, ouvimos ainda:

“O ex-Presidente assinou uma lei que pode mandar um cidadão americano legal pra cadeia/ e a Lei Patriótica mitigou nossos direitos constitucionais/Eles dizem que um campo de concentração acabou de aparecer, ah, tá bom!…Recusar o chip? Ha! Ser perseguido e espancado pela tirania do controle mental, pois é a marca da besta/Todos os direitos revogados, você é castigado, capturado e escravizado/Acreditem quando eu digo…Este é o fim do jogo!”

Reprodução

Destaques para as linhas de contrabaixo de LoMenzo e pro solo a la Marty Friedman de Chris Broderick.

Aqui algumas observações sobre trechos citados nesta faixa em específico.

Bem, logo depois do “apocalipse” anunciado na faixa título, vamos seguir adiante.

Photo: Mike Lewis Photography/Redferns

Uma sonoridade que amadureceu com o tempo

Alguém consegue imaginar uma música do Megadeth, conduzida por violões, teclados e violinos? Em um passado distante isso certamente seria improvável, porém, a maturidade musical de Mustaine fez com ele ousasse em suas composições e o resultado é “The Hardest Part of Letting Go… Sealed With A Kiss”, faixa que traz uma pegada voltada exclusivamente ao Heavy Metal. Escrita por Mustaine, a letra retrata uma história de amor, porém com ar de vingança trazendo em sua narrativa algumas frases desconexas, como: “Mas eu aprendi há muito tempo, se você ama alguém, você tem que deixá-la ir/ a parte mais difícil é deixar partir, é dizer adeus…Acorrentado distante em uma cela improvisada/sob o luar venenoso/eu libero meu plano para observar você fracassar/aquela que eu segurei tão alto. Vá dormir meu amor”.

Adrien Begrand, crítico da PopMatters, apelidou a música de “Uma canção de amor distorcida”. De fato um belo apelido para uma letra que condiz com tal apelido.

“Head Crusher”

Mais um chute na porta! Dessa vez com “Head Crusher”, faixa que ganhou videoclipe e traz o quarteto saltando de cabeça no Thrash Metal de outrora. Rápiada, pesada, agressiva e dona de riffs intensos, a letra fala sobre um dispositivo de tortura medieval de mesmo nome. Em sua letra, a música retrata uma pessoa que é levada para o subsolo, onde lhe interrogam usando um triturador de cabeças (Head Crusher) para arrancar respostas dela. Isso explica os efeitos que isso teria no corpo de uma pessoa.

Em sua reta final, “How The Story Ends” é mais uma faixa com pegada mais Heavy Metal, em mais um momento “tranquilo” do disco. Com seus vocais limpos e Mustaine literalmente “cantando”, a música traz, segundo ele, inspirações sobre os ensinamentos de Sun Tzu, general, estrategista e filósofo chinês, conhecido por seu tratado militar intitulado “A Arte da Guerra”.

Destaques para os trabalhos geniais de Chris Broderick que em conjunto com Mustaine, são os responsáveis por destilar riffs nervosos e solos sucintos.

Photo: Michael Johansson/ Megadeth.ocm

O segundo single

O álbum fecha com “The Right To Go Insane”, segundo single lançado antes do disco e talvez a música mais simples e mais direta se comparada às demais. Em questão, temos uma composição com características sonoras diretas e poucas mudanças de andamentos.
Suas harmonias (e melodias) oferecem ao ouvinte riffs encorpados, linhas de contrabaixo mais evidentes (principalmente em seu início), refrão daqueles fáceis de assimilar e características evidentes de uma composição concisa e muito bem estruturada.

A música recebeu um excelente videoclipe lançado oficialmente em abril de 2010, trazendo um enredo baseado na história de Shawn Nelson, um encanador desempregado que invadiu San Diego em um tanque M60 Patton roubado. O vídeo estreou em um show em Austin, Texas, em 26 de março, durante a turnê de aniversário de “Rust in Peace”, atingindo a 34a posição da Hot Mainstream Rock Tracks.

As críticas a “Endgame”

A qualidade musical de “Endgame” recebeu críticas positivas de críticos de renome. Só para exemplificar: Stephanie Burkett (BBC Music), Chad Bowar (About.com), Eduardo Rivadavia (AllMusic), Adrien Begrand (Popmatters) e Mark Eglinton (The Quietus). Todos eles rasgaram elogios sobre o disco já que “Head Crusher” e “The Right to Go Insane”, foram singles que foram nomeados para a edição 2010 do Grammy Awards na categoria “Melhor Performance de Metal”.

Não obstante, em 2009 ganhou dois prêmios Metal Storm: Melhor Álbum de Thrash Metal e Maior Surpresa do ano. Ainda em 2009 o disco recebeu prêmio como “Melhor Álbum”, segundo os leitores da revista Burn.

Photo: Shirlaine Forrest/WireImage

Algumas observações acerca do disco:

Nota do Redator:

Duas importantes características precisam ser atribuídas a Dave Mustaine e sua liderança perante o Megadeth. A primeira delas refere-se às composições. Poucas bandas conseguem manter um alto nível quando o assunto é composição. Se tem algo que não há como negar é o fato dele (Mustaine) ser um ótimo compositor. Outro fator não menos importante está em suas letras, por vezes perfeitos enredos de filmes sobre conspirações ou sobre o quanto a política é suja e sórdida nas vidas das pessoas. Um exemplo de suas composições geniais, está em “United Abominations” (2007), cujas letras abordam de forma implacável e direta a política mundial e o estado atual em que o mundo se encontra. Por conta dessa letras, o disco arrancou elogios de Ed Thompson do IGN (Imagine Games Network). O mesmo afirma que “este é o álbum mais politicamente carregado da banda”.

Integrantes:

Faixas:

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