E lá fomos nós de novo, quem diria, em mais um show do Savatage! Depois de ver o retorno aos palcos na edição comemorativa de 30 anos do festival Monsters Of Rock, ocorrido no último dia 19 de abril no Allianz Parque, produzido pela Mercury Concerts, estivemos também no Espaço Unimed para acompanhar o show solo do quinteto norte americano. E preciso dizer, presenciamos mais um show de altíssimo nível, desta vez, com setlist completo e várias surpresas.
Vem com a gente porque chegou a hora de você ficar sabendo tudo o que aconteceu na primeira apresentação solo do Savatage desde 2003.
Nota do redator: para saber como foi a performance no Monsters Of Rock, clique AQUI e veja nossa cobertura completa do evento.
Em meio a muita expectativa, com um público altamente fiel presente e, inclusive, com pessoas vindas de outros países exclusivamente para ver a banda ao vivo, o Savatage tinha uma tremenda responsabilidade sobre si. Eles precisavam justificar tal engajamento ao seu entorno e brindar os presentes no Espaço Unimed com um show de gala. Parece que os músicos entenderam isso e quem esteve no local não se decepcionou.

O retorno triunfal
Por volta das 21:30, as luzes se apagaram e o telão começou a exibir a famosa imagem da guitarra branca de Criss Oliva encostada em um muro de tijolos. Logo, as primeiras notas de piano anunciaram a introdução “The Ocean” e a banda entrou no palco debaixo de gritos e aplausos de felicidade. Assim como no Monsters Of Rock, eles brincaram com o público e ao invés de iniciar logo “Welcome”, tocaram o começo de “City Beneath The Surface”, do lendário EP “The Dungeons Are Calling” (1984). Depois dessa pegadinha, veio finalmente “Welcome” e todos os presentes cantaram a letra inteira junto com o vocalista Zak Stevens.
Sem tempo a perder, o icônico riff de “Jesus Saves”, do álbum “Streets: A Rock Opera” (1991), deu início ao primeiro grande momento de euforia da noite. Esta música realmente funciona muito bem ao vivo e, mais uma vez, todos os presentes cantaram junto – é necessário dizer que este foi um acontecimento corriqueiro durante toda a apresentação, quase todos no Espaço Unimed conheciam cada uma das letras e, sendo assim, Zak não cantou sozinho durante uma música sequer. Ao final de “Jesus Saves”, o vocalista fez sua primeira interação com os fãs e cometeu uma tremenda gafe ao anunciar que tocariam “The Wake Of Magellan”, quando na verdade, a próxima era nada menos que o hino “Sirens”. A fim de sanar o erro, ele retornou ao microfone depois de ter se confundido e disse:
“Na verdade, achamos melhor tocar ‘Sirens’ agora”
Uma noite de surpresas
Obviamente, ninguém reclamou e a faixa título do disco de estreia foi ovacionada, como já era previsto. Deste ponto em diante, começaram as surpresas e a primeira delas foi “Another Way”, presente em “The Wake Of Magellan” (1997) e originalmente cantada por Jon Oliva. Zak Stevens está cantando muito bem e, mesmo esta sendo uma faixa não tão divulgada, ficou comprovado que para os fãs do Savatage não existe lados B. Ou seja, qualquer canção escolhida para esta noite seria imediatamente reconhecida e comemorada.
Agora sim, havia chegado a hora de realmente ouvirmos “The Wake Of Magellan” e é impressionante como esta canção funciona bem ao vivo. O refrão foi entoado por todos como um mantra e a parte no final com as sobreposições de vozes foi certamente um verdadeiro espetáculo. Com a temperatura lá no alto, Chris Caffery achou propício aumentar um pouquinho mais a pressão e, pegando todos de calças curtas, iniciou o riff de “Strange Wings”, clássico da era Jon Oliva nos vocais e presente no masterpiece “Hall Of The Mountain King” (1987). A troca de energia entre banda e público foi notória e a empolgação dos presentes transformou o Espaço Unimed num caldeirão borbulhante.
Energia indescritível
E ele estava prestes a transbordar, porque “Tauting Cobras” chegou na sequência e fez a pista pegar fogo de vez. É indescritível a energia que esta música transmite. Talvez por seu ritmo acelerado, mas também por conta da maneira que a banda a tocou, os fãs simplesmente não pararam de bangear durante sua execução. Em uma noite de muitas surpresas e como se já não fosse o bastante, mais uma veio depois, e atendeu pelo nome de “Turns To Me”. Com diversos andamentos e alternando partes lentas e outras mais viscerais, esta é uma das grandes músicas da fase Zak Stevens. Não à toa, foi muito bem recebida, assim como “Dead Winter Dead”, canção título do disco lançado em 1995.
A próxima foi a instrumental “The Storm”, onde o guitarrista Al Pitrelli compartilhou com a plateia brasileira um pouco de sua técnica refinada. A canção serviu como uma espécie de momento de descanso para os músicos e também para os fãs, até porque ainda havia muitos clássicos pela frente e, um deles, veio à seguir, “Handful Of Rain”. Impressionante como esta música, mesmo sendo intimista, com trechos acústicos e até uma veia Souther/Blues no meio, conseguiu cair nas graças dos admiradores da banda.

This is the time!
Todos concordamos que não poderia haver um show do Savatage sem “Chance”, e eles tocaram esta que é uma de suas canções mais emblemáticas de maneira esplendorosa. Inclusive, com todo trecho final, com os coros e tudo que se tem direito. Um momento realmente ímpar e impagável. E o que mais poderia ser propício para celebrar o grande retorno de uma das bandas mais queridas do Metal mundial? Se você pensou em “This Is The Time (1990)”, acertou em cheio! O refrão já diz tudo e explica o porque de tantos prantos terem ocorrido neste momento:
“But this is the time and this is the place
And these are the signs that we must embrace
The moment is now, in all history
The time has arrived and this is the one place to be”
Parafraseando a música, foi a hora, o lugar e, é claro, era onde os fãs do Savatage certamente queriam estar. Simplesmente sensacional! Assim como também foi sensacional ver a execução de “Gutter Ballet”, com todos cantando o início tocado no piano com o tradicional “ô ô ô” tão famoso dos brasileiros. Esta canção é de fato um hino, não somente do Savatage, mas de todo o estilo. Dessa forma, foi de arrepiar ver todos no Espaço Unimed bradando aos céus cada trecho da letra em tamanha unidade com os músicos. Um daqueles momentos que vão ficar guardados na memória para sempre. E ainda tinha espaço para mais clássicos, pois “Edge Of Thorns” veio logo em seguida e, neste momento, confesso, se tivessem encerrado por aqui, todos já teriam ido para casa extremamente satisfeitos.
O solo desta faixa – originalmente gravado por Criss Oliva no registro homônimo de 1993 – é uma obra de arte à parte inserida na música, e ele foi executado com maestria por Chris Caffery. Diga-se de passagem, todos os solos de Oliva ganharam execuções dignas. O baixo de Johnny Lee Middleton também é altamente marcante e merece destaque, aliás, todos os integrantes merecem, estão todos muito bem.
Jon Oliva é o Savatage!
Mesmo com tantas composições emblemáticas sendo tocadas, era impossível saber o que ainda estava por vir. E desse modo o quinteto resolveu tocar a belíssima “The Hourglass”, um épico com mais de 8 minutos de duração e outra com mais um daqueles momentos com sobreposições de vozes – uma marca registrada da banda.

Para encerrar o show, o ápice da emoção e o momento de chorar copiosamente. Zak disse que iria apresentar a banda, mas ao invés de mencionar o nome de todos os músicos presentes no palco, ele pronuncia apenas um nome: Jon Oliva. Nesta hora, já sobre aplausos, o telão exibiu as imagens de Jon sentado ao piano e ele em seguida começou a tocar “Believe”. Pessoas com problemas cardíacos provavelmente devem ter pensado que o infarto estava à caminho.
Depois do primeiro refrão, e com todos cantando cada frase da letra, a banda entrou em cena e prosseguiu com a música. Na hora do solo, ou seja, antes de sequer termos nos recuperado deste turbilhão, o telão começou a exibir imagens e vídeos do falecido guitarrista Criss Oliva e, neste momento, era possível nadar nas lágrimas dos amigos presentes no local (e minhas também, confesso!). Se houve um momento de clímax, certamente, foi esse.
Fomos privilegiados
A banda saiu do palco depois de “Believe”, mas todos sabiam que este ainda não era o fim. A pergunta que não queria calar era: se já tocaram “Sirens” no começo do show, qual seria a outra composição da era Oliva que seria resgatada? A resposta foi: “Power Of The Night”. Dessa forma, nem preciso dizer que a casa veio abaixo nesta hora e o Espaço Unimed pulsou e fervilhou novamente. A injeção de adrenalina levantou até mesmo os defuntos que tinham “falecido” momentos atrás pelo alto grau de emoção e sentimentalismo. Não houve quem não pulou e o headbanging foi institucionalizado à partir de então.
Depois de “Power Of The Night” ainda aconteceu o golpe de misericórdia que atende pelo nome de “Hall Of The Mountain King”. Para não deixar passar, Zak apareceu no bis com a camisa da seleção brasileira de futebol e foi aplaudido. Todos utilizaram seus últimos resquícios de energia e pularam pela última vez ao som deste, que é o maior hino do Savatage, sem dúvida.
Na saída do evento, expressões de felicidade foram exibidas por cada pessoa que cruzamos. Ficou nítido que o propósito da noite foi atingido com sucesso. Podemos dizer para a mundo todo que fomos agraciados com este privilégio de poder assistir de perto o retorno triunfal desta banda tão injustiçada. Que venham mais shows do Savatage, que venha o disco novo, que eles consigam finalmente gozar do prestígio que merecem. Noite mágica e, absolutamente, histórica.
“Welcome to the show!”

Setlist:
- The Ocean
- Welcome
- Jesus Saves
- Sirens
- Another Way
- The Wake of Magellan
- Strange Wings
- Taunting Cobras
- Turns to Me
- Dead Winter Dead
- The Storm
- Handful of Rain
- Chance
- This Is the Time (1990)
- Gutter Ballet
- Edge of Thorns
- The Hourglass
- Believe
Encore:
- Power of the Night
- Hall of the Mountain King
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