Omega Records
Em um passado não muito distante, o Prog Metal despontou na cena Metal fazendo um certo alarde, proporcionando aos fãs do estilo discos excepcionais de bandas que traziam consigo a fórmula perfeita (sem ser maçante) e inteligente de se fazer Progressive Metal e/ou Progressive Power Metal.
Quem colecionou a Rock Brigade (revista), certamente leu em suas páginas matérias de nomes como Ivory Tower, Shadow Gallery, Time Machine, Eldritch, Poverty’s No Crime, Vanden Plas, Magnitude 9, Athena, Balance Of Power, Divided Multitude, Ivanhoe, Art Rebellion, Royal Hunt, e outros.
Alguns desses grupos se tornaram “queridinhos” da revista e a cada disco lançado era normal ler resenhas que enalteciam os trabalhos dessas bandas (merecido), projetando estes grupos e discos. Alguns, contendo alguns “excessos” no quesito elogios.
Aqui, estamos falando da segunda metade dos anos 90 quando algumas bandas mudaram sua sonoridade e alguns estilos simplesmente deixaram a desejar. Por outro lado, os grupos acima citados garantiram ao Prog Metal discos excepcionais, e por que não dizer obrigatórios (alguns) aos fãs do estilo.
É claro que alguns grupos não vingaram, e apesar de gravarem discos fabulosos, encerraram suas atividades e/ou entraram em estado de hibernação, permanecendo assim até os dias atuais.
Na lista de bandas com discos excelentes estão os alemães do Avalon, quinteto formado por Many Stürner (vocais), Sebastian Eder (guitarras), Petra Hasselkuss Delorian (baixo, backing vocals), Jens Kuckelkorn (teclados, backing vocals) e Peter Kei (bateria), que lançaram em maio de 1997, o excelente “Mystic Places”, terceiro e excelente álbum da carreira.
Produzido por Charlie Bauerfeind (Gamma Ray, Helloween, Angra, Hammerfall, Blind Guardian, etc), o disco apresenta 12 temas, sendo 4 deles instrumentais, distribuídos em apenas 53 minutos de duração em uma sonoridade voltada ao Progressive Power Metal.

Apesar de não obter o devido reconhecimento, “Mystic Places” é daqueles discos onde o ouvinte mergulha em suas melodias e ao final da última faixa é quase certo que a tecla “repeat” seja acionada.
Outro fator predominante em “Mystic Places” é a forma como ele é conduzido já que por tratar-se de um trabalho (e banda) voltado ao Prog Metal, não temos aquelas encheções de saco repletas de virtuoses e viagens musicais desnecessárias, comum em algumas bandas e discos do estilo.
Apresentações feitas, é hora de viajar nas harmonias de um trabalho primoroso, obrigatório aos fãs de Prog Metal, executado por uma banda composta por músicos excepcionais.
Vem comigo!
Após a rápida “Mystic Places”, intro que batiza o disco, somos agraciados com “I’m Falling”, excelente faixa de abertura apresentando um belíssimo instrumental amparado pelos vocais “não convencionais” de Many Stürner, e pelas linhas sutis de teclados. Esta é daquelas composições a qual gostamos de imediato e não é necessária uma segunda audição para que cantemos seu refrão.
Destaque para os solos de guitarras de Sebastian Eder, e para as linhas de contrabaixo de Petra Hasselkuss. Apresentando uma sonoridade mais cadenciada, “Passion For Glory” é a bola da vez. Unindo de forma perfeita estilos como o Heavy, Power e Prog, damos de cara com uma composição espetacular e muito bem construída. Em dado momento as linhas de vozes de Many, nos remete aos vocais de Andi Deris, principalmente em sua época de Pink Cream 69, embora seu timbre seja um pouco mais grave se comparado ao de Deris.
Numa música onde todos os instrumentos soam perfeitamente bem, destaques mais uma vez para as guitarras de Sebastian. Ao final, aquele refrão que fica grudado no cérebro:
“…The passion for glory / For years the story goes/The wrong illusion / The earth will tell – you see / The passion for glory / For years the story goes / The wrong illusion / The earth will tell – you see…”
Após “Crystal Ball”, belíssimo e curto tema instrumental, os teclados geniais de “Through The Eye Of The End” dão o tom em uma das melhores faixas do disco. Numa fusão perfeita entre o Power e o Prog, destaques para os riffs, solos de guitarras, a bateria de Peter Kei, e os teclados espetaculares de Jens Kuckelkorn, responsáveis por fazerem com que mergulhemos de cabeça em suas belas harmonias. Ao final, Jens ainda nos oferece algumas notas afiadíssimas de piano, coroando assim mais um belo momento do disco.
As linhas iniciais de violões da ótima “Prisoner In My Mind” nos remetem às bandas de Hard Rock oitentistas, quando estas mergulharam na onda das composições voltadas especialmente aos violões acústicos. Estas impressões também estão aqui, e caso algum desavisado desconheça a sonoridade do Avalon, certamente apostará que esta canção foi gravada por grupos como Warrant, Lilian Axe, Guns ‘n Roses, Junkyard, Slaughter e Poison, do álbum “Native Tongue”.
Em resumo: Excelente faixa para dançar coladinho com a patroa, enquanto as crianças estão à passeio no Zoológico.
A grandiosidade e versatilidade de “Two Mental” é de fato surpreendente. Em seus “seis minutos e meio” de duração, somos conduzidos por uma composição instrumental estupenda, onde a banda desfila pela sonoridade de estilos como o Heavy, Power, Prog, Neo-Prog e até com o Neoclassical. Traçando um paralelo, podemos dizer que ouvindo atentamente suas harmonias nos remetemos a sonoridade de grupos como Ayreon, Dream Theater, Vanden Plas, Erik Norlander, Arena, IQ, Kenziner, Zanister, Chastain, Cacophony, Ivory Tower, entre outros.
Ao final, a difícil missão de tentar apontar um destaque especial, já que a cozinha conduzida pelas guitarras, baixo, bateria e teclados, soa absolutamente perfeita em toda sua extensão musical.
Ao término da última nota musical, pressione a tecla “replay” do seu aparelho de som.
Apresentando linhas de vocais mais agressivos, Many (Stürner), “Time Of Universe” é mais um momento grandioso de “Mystic Places”. Trazendo uma aura mais Heavy Metal, é quase possível acreditar que os vocais ficaram sob a responsabilidade de Zack Stevens (Savatage, Circle II Circle, Archon Angel, etc), e/ou Andy B. Frank (Brainstorm). Destaques para os trabalhos primorosos dos coros e backing vocals, bem como a bateria comandada por Peter Kei, cujo final nos remete a “Crossfire”, faixa presente no álbum “Love At Firts Sting” do Scorpions, cujo final traz referências àqueles tambores de guerra. Algo como “toque de recolher”.

Numa linha a la Magnitude 9, “Wasted Time” é mais um grande momento do álbum cujo final se aproxima. Com sua sonoridade voltada ao Power/Prog, temos aqui mais uma daquelas composições cuja construção sonora é devidamente bem arquitetada, garantindo a devida atenção do ouvinte. “Wasted Time” mantém-se fiel às suas antecessoras, elevando a grandiosidade do disco em mais uma canção espetacular, cujas guitarras dão um toque especial em mais um solo belíssimo.
*Um ponto a ser observado em “Mystic Places” é a divisão particular de seus instrumentos principalmente nas canções mais longas. O que se ouve no decorrer de seus 53 minutos de duração é o que chamo de equilíbrio sonoro. Ou seja, tudo aqui é devidamente bem distribuído, garantindo assim um belo e impressionante registro. Tente desgrudar este refrão de seu cérebro:
“…Wasted time / Is a wonderful thing and it’s my business / Make my day / Be my guest and waste your time / Wasted time/I can’t get enough when you are screaming / Make my day / Be so kind and buy my hope…”
O encontro dos teclados com os riffs de guitarras em “Burning Down the House” criou uma simbiose perfeita em uma das músicas mais belas e talvez a mais pesada em todo o disco. Traçando um equilíbrio entre o Heavy e o Prog, é possível assimilar suas linhas instrumentais aos americanos do Magnitude 9, os dinamarqueses do Narita e os holandeses do Elegy da fase “Labyrinth Of Dreams”.
Impossível ficar alheio a dupla Many Stürner & Peter Kei, embora tenhamos aqui mais um exemplo perfeito de sincronismo musical onde todas as peças se encaixam, e individualmente os músicos também se destacam em suas respectivas funções.
Ficar indiferente a este refrão é uma missão quase impossível:
“…Caught in the red hot burning heat of fire / Burning down the house / Look at their faces, the flames are so much higher / Burning down the house / Caught in the red hot burning heat of fire / Burning down the house/Look at their faces, I don’t care/Burning down the house…”
Talvez em um momento de exagero de minha parte, direi que temos aqui a vértice do disco, numa canção soando ora Prog, ora Heavy, formando assim aquela combinação perfeita de estilos. Que música espetacular!
Em sua reta final, a instrumental (mais uma) “Isolation” serve como um prelúdio para “Blind Dance”, faixa que traz em seu início as melodias intrincadas do Prog, descambando em seguida para uma levada totalmente Melodic Power Metal, com direito a bateria em ritmo acelerado, solos característicos o qual pede o estilo, e Many adicionando uma dose extra de agressividade em seus vocais.
Destaques para as linhas de violinos, soando perfeitos nos breve momentos que aparecem, sendo estes a cereja do bolo em uma música que mesmo destoando das demais, ainda assim consegue transmitir pro ouvinte que sua essência é devidamente Prog, fechando em altíssimo nível um disco coeso e fabuloso.
Numa avalanche de bandas e discos estupendos, lançados na metade dos anos 90, o Avalon pode se orgulhar de oferecer um registro fabuloso e obrigatório aos fãs dos grupos acima citados, bem como aos fãs de Progressive Power Metal.
Trazendo um line up de excelentes músicos (sem exceção) e uma música menos complexa e mais melódica, o quinteto tinha tudo para figurar no hall dos grandes nomes do estilo. Porém, definitivamente isso não aconteceu e a banda continuou na “Série B” do Progressive Metal.
Após “Mystic Places”, o quinteto lançou dois ótimos trabalhos, “Vision Eden” (1998) e “Eurasia” (2000), álbuns que trouxeram mudanças no vocais, já que Many Stürmen deixava o posto, ocupado em seguida por Chity Somapala (Red Circuit).
Com exceção a Many Stürner, que integraria a banda GloryDaze, com quem lançou um único álbum até o momento (“Octavirus” em 2016), Chity Somapala que integrou grupos como Civilization One, Red Circuit, Firewind, Powerquest, etc, e Petra Hasselkuss que formaria a banda Electric Ladyland, nenhum outro músico se envolveu com bandas e/ou projetos fora do Avalon. Pelo menos é o que transparece.
Apesar de não ter decretado oficialmente seu fim, o grupo permanece inativo e nenhuma notícia que um novo registro sonoro esteja sendo preparado, bem como nenhuma notícia sobre um possível retorno de seu hiato, que já dura 22 longos anos.
Numa lista de discos lançados, e que talvez tenham passado despercebido, revisitar os trabalhos do Avalon é uma excelente e inteligente ideia.
Banda e discos altamente recomendados.
PS: Em sua versão japonesa, o disco contém uma faixa bônus “Midnight”, que assim como sua antecessora mergulha fundo na sonoridade do Melodic Power Metal.
Integrantes:
- Many Stürner (vocal)
- Sebastian Eder (guitarra)
- Petra Hasselkuss (baixo)
- Jens Kuckelkorn (teclado)
- Peter Kei (bateria)
Faixas:
- 1.Mystic Places
- 2.I’m Falling
- 3.Passion For Glory
- 4.Crystal Ball
- 5.Through The Eye Of The End
- 6.Prisoner Of My Mind
- 7.Two Mental
- 8.Time Of The Universe
- 9.Wasted Time
- 10.Burning Down The House
- 11.Isolation
- 12.Blind Dance
Redigido por: Geovani “Vince Neil” Vieira
Excelente Texto, como sempre!
É uma viagem no tempo ler sobre todas essas bandas tão queridas (pelo menos por mim, que amo uma banda pobrinha! 🤣) .
A Petra Hasselkuss teve projetos fora do Avalon sim, um deles é o Electric Ladyland que era uma banda feminina que fazia cover de Jimi Hendrix! Dos outros integrantes não sei o nome dos projetos de cabeça, mas tbm participaram aqui e ali em outras bandas (mais PÓBRIS que o Avalon!!!) sim! Acredito que a maioria era fora do Metal pq nem no Metal Archives é creditado! Aliás, o Metal Archives dá umas vaciladas sinistras! 🤣
Parabéns, meu querido Gigio Magya! E vcs aí do Mundo Metal parem de xingar o coitadinho de “Vinte Mil” ! 😝 🤣
Deny Hexenschuss, Chity Somapala fez parte de outras bandas, e algumas delas de renome como o Firewind, por exemplo.
De fato acabei me equivocando na hora dessa informação (mas já está devidamente corrigida).
Sobre a baixista Petra, e os demais integrantes, de fato eu não sabia.
Sobre o Metal Archives, eles dão umas bolas foras de vez em quando.
Muito obrigado pelas observações relevantes e importantes.
Beijos (Gigio Magya).
Eita!!!! Mentira que o “Chip Champoula” participou do Firewind?! 🤣 Nem sabia!!! Todo mundo já passou pelo Firewind! 🤣 Taí mais uma banda pobre pro senhor resenhar! Fala do Immortals! Adoro esse play com o malandro do Metalium! 😍
Bêzu, coisa rica!
Deny Hexenschuss, Ele (Chupabala) cantou em “Forged By Fire”, terceiro disco lançado em 2005. A propósito, um excelente disco diga-se de passagem
Concordo plenamente contigo. Todo mundo já passou pelo Firewind. A banda é tipo a Malhação da Rede Globo. Primeiro passa por lá e depois desponta para o sucesso…..rsss.
Ok! resenharei “Immortals” em breve. ok?
Beijos