O Rock já sofreu diversas tentativas de censura no decorrer das décadas, desde sua criação. Dessa forma, o caso mais emblemático e conhecido no ocidente talvez tenha sido o do PMRC, ocorrido nos Estados Unidos na década de 80, onde Dee Snider e Frank Zappa precisaram comparecer ao senado norte americano para prestar esclarecimentos sobre o conteúdo lírico de suas músicas.
Para saber mais sobre o PMRC, o site Mundo Metal possui uma matéria completa que você pode acessar clicando AQUI.
Nos tempos atuais, podemos afirmar que o tema liberdade de expressão nunca foi tão discutido. A polarização política ajudou para que o assunto ficasse em exposição e muitos se questionam sobre os limites da liberdade. Onde exatamente uma pessoa deixa de exercer sua liberdade e passa a cometer um crime?
Obviamente, artistas e bandas, principalmente, de Rock e Heavy Metal, observam de perto tais discussões. É claro que vez ou outra algum músico decide opinar sobre o assunto, mas o grande problema é a polarização. Se nos anos 80, todos se uniram em defesa de um único ideal e decidiram afrontar um sistema que tentava tirar do Rock a sua maior arma (a expressão), hoje inegavelmente temos avaliações enviesadas que colocam outros interesses em primeiro plano.
A opinião de um quase censurado
Em nova entrevista a Mane Campos, da Heavyfonía, o frontman do WASP, Blackie Lawless, falou sobre o single “Animal (F**k Like a Beast)”. Na época do PMRC, a canção entrou na famigerada lista “The Filthy Fifteen”como uma das canções que decerto mereciam a censura.

40 anos após a polêmica, Lawless disse o seguinte:
“Honestamente, acho que a censura está pior agora do que nos anos 80, porque, com a internet, as pessoas simplesmente têm medo de falar.
A censura é uma coisa feia porque — a ideia de liberdade de expressão não é para proteger a expressão popular; ela foi criada para proteger a expressão impopular. E não me importa o que alguém tenha a dizer — eles podem inventar as ideias mais malucas que quiserem. Tenho fé suficiente nos meus semelhantes para que eles determinem o que é besteira e o que não é. E você dá às pessoas a capacidade de decidir, na maioria das vezes, que elas vão inventar as ideias certas. Então, como eu disse, não acho que tentar limitar a expressão de qualquer forma tenha sido uma boa ideia.”
Hoje em dia, as redes sociais determinam tendências e constituem correntes de pensamento. Questionado se as mídias sociais funcionam como uma forma democrática das pessoas se expressarem ou são apenas plataformas destinadas a “cultura do cancelamento” e visões polarizadas, Blackie disse o seguinte:
“Bem, são as duas coisas. Mas pelo que vejo… não passo muito tempo lá, então realmente não sei muito sobre isso, mas pelo que ouço, o conceito de poder cancelar pessoas é assustador.
Se você tem alguém como eu, não me importo com o que você diz sobre mim; eu simplesmente não me importo. Mas a maioria das pessoas no mundo não são assim; eles são muito sensíveis ao que os outros pensam. E então alguém assim seria fácil de cancelar. Alguém como eu, você não pode nos cancelar porque não nos importamos. Você só pode cancelar alguém se essa pessoa se importa. Se eu acredito em algo que estou fazendo, não me importo se alguém acredita ou não. O importante é o que eu penso. E eu passei minha carreira dizendo aos nossos fãs: a única coisa que realmente importa é pensar por si mesmo. Crie suas próprias ideias. Crie suas próprias opiniões. Não dê ouvidos ao que alguém ao seu lado está dizendo.
Sim, você pode ouvir, mas no final das contas, você tem que decidir o que é certo para você, e isso é muito, muito importante. Como eu disse, passei minha carreira inteira falando sobre essa ideia. Então, o conceito de censura definitivamente se encaixa nisso.”
Questionado se está “decepcionado” com a política atual, Lawless foi sincero:
“Sim, porque você conhece a velha expressão: ‘poder absoluto corrompe absolutamente’. E há muita verdade nisso. É tudo uma questão de dinheiro e poder — é isso que a política é — e eu sou o tipo de pessoa que não se dá bem em ambientes onde as pessoas não têm permissão para falar a verdade. Simplesmente não me dou bem nessas ocasiões. Então, estou muito melhor fazendo o que faço agora, porque posso dizer o que quero dizer sem restrições. Porque dizem que a política é a arte do compromisso, e eu não me dou bem quando se trata de compromisso.”
Sobre a capacidade do Rock And Roll de mudar o mundo, a qual Blackie Lawless defendeu por inúmeras vezes, ele foi questionado se ainda acredita nisso:
“Não, de jeito nenhum, porque se você olhar para os anos 60 e 70, o Rock And Roll ajudou a vencer a guerra. Sempre que você consegue fazer as pessoas ouvirem ideias, isso é algo poderoso. E essa é uma das razões pelas quais o Rock And Roll sempre assustou as pessoas, porque é perigoso. Porque é perigoso por causa das ideias que aborda. E é isso que o tornou tão revolucionário. E eu acho que falta isso ao Rock And Roll hoje. Eu gostaria que houvesse mais disso, porque quando era verdadeiramente revolucionário, era algo a se temer se você não concordasse com o que era dito. E eu sinto falta disso hoje.”