O compositor, cantor e multi-instrumentista, Yohan Kisser, filho do guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, concedeu uma nova entrevista ao Sem Ensaio do Terra Brasil e, falou sobre a influência de seu pai na sua música e sua escolha de não seguir exatamente o mesmo caminho que Andreas pelo universo da música pesada. Indagado se esta escolha teria sido intencional para evitar comparações, Yohan respondeu:
“Sei lá, cara, acho que Freud deve explicar isso. Eu acho que acaba sendo meio natural tentar sair um pouco da asa e não competir. Tipo, o pai da pianista Martha Argerich, ela queria queria ser pianista e ele falou para ela: ‘Você vai viver na sombra da sua mãe para sempre porque ela é a maior de todos os tempos.’ Sei lá, a Martha é uma das melhores.
Meu pai é meu herói, ele é um guerreiro, dentro e fora do palco. O que ele fez com uma música que não é mainstream no Brasil, o Metal… Ter três filhos, sustentar os três filhos, é um orgulho gigantesco ele trabalhar com música e ser esse cara aberto que toca com tantos gêneros, e que recebe críticas por tocar com Ivete Sangalo, com Sandy e Júnior… Meu pai é o cara que me mostrou Villa-Lobos, violão clássico, me mostrou o Yes, que é uma banda progressiva que abriu o caminho para eu querer estudar música e ir para outros lugares.
Então ele é meu herói, mas ao mesmo tempo, existe essa comparação, e você me perguntou se foi proposital ou se não foi… Eu tive muitos projetos de Metal com ele, nós temos ainda, o Kisser Clan, onde a gente toca covers de Metal, e o Sioux 66, que eu estou para sair agora, vamos fazer o último show em novembro, o lançamento vai ser agora, talvez em primeira mão aqui… E nós vamos lançar um último material, são seis músicas inéditas, mais algumas que a gente lançou, e é um projeto de Hard Rock que eu entrei em 2018, uma banda que existe desde 2011, e lá eu sempre toquei Metal mas é mais Hard Rock, já foge um pouco da palhetada alternada e tudo o mais. Eu sinto que sempre que eu fui para esses lados do Metal… Primeiro que eu acho que eu não conseguiria… Não nasce em mim musicalmente , uma coisa que ‘Pô, vou fazer um riff, vou escrever o riff mais sangrento e sujo’ que nem eu vejo amigos meus do Metal. Não é uma coisa que nasce em mim naturalmente…
Eu amo Stevie Wonder, amo Mutantes, essas coisas borbulham dentro de mim, de falar, ‘Pô, eu fazer essa ponte aqui, eu vou fazer esse lado B, eu vou fazer essa melodia.’ É uma mistura de natural com uma coisa meio que de fugir, tipo quando eu tive esse projeto que se chama Antrvm e agora eu só tenho feito arranjos para eles, arranjos de música mais western, ou arranjo de cordas, e no meio das música de Death Metal, tem umas coisas assim. Mas eu fiz alguns shows, os primeiros shows eu fiz com eles tocando palhetada alternada e tinha um monte de roadies, um monte de amigos do meu pai, um monte de gente. E os olhares eu acho que são muito… Você não consegue tocar puramente ali… As pessoas já estão tipo, ‘Seu pai fez história, eu estava lá no Aramaçã em 89’… Assim, sabe? Então, não está no meu sangue, talvez… Talvez esteja no meu sangue, mas não está na minha alma querer batalhar por mais um capítulo do Metal, ou do Heavy Metal… Mas sim, naturalmente, a arte, a música, a pintura, a composição, o arranjo, essas coisas são naturais. Não é quero entrar em mais um lugar, tipo, ‘Ah, tem um espacinho para mim?’ Não. É uma coisa de dentro mesmo, eu sou apaixonado por música e… ‘Ah, porque não Metal?’ É o caminho inverso, né? Não é ‘Ah, vou seguir o Metal.’ Na verdade é de dentro que vem ‘Cara, você tem que falar isso aqui.’ É um pouco romântico mas eu acho que é verdade.”
