“Horror Show” é o sexto lançamento da banda norte americana de Heavy/Thrash Metal capitaneada por Jon Schaffer. Foi lançado no dia 26 de Junho de 2001 pela gravadora Century Media e dava continuidade à carreira do quinteto, que encontrava-se em ascensão.
Graças ao lançamento do álbum anterior, “Something Wicked This Way Comes”, em 1998, a banda tinha conseguido fazer sua maior turnê até então e, na opinião de muitos críticos e fãs, vivia seu auge em termos criativos e de performance ao vivo. Ao final dessa tour temos o lançamento de um dos melhores e maiores discos ao vivo da história do Heavy Metal, o excelente “Alive In Athens”, CD triplo gravado durante a passagem da banda por Atenas, na Grécia.
Este live mostra para o mundo o quanto o Iced Earth era competente ao vivo, executando músicas de todas as fases da discografia com precisão e paixão incríveis.
Formação estelar e temática arrasadora
Após esse pequeno contexto histórico, voltemos a “Horror Show”. Este lançamento foi esperado com muita expectativa por todos exatamente pela boa fase vivida. Contudo, nem mesmo as mudanças de formação que ocorreram na época da gravação abalaram a confiança dos envolvidos. Tivemos a saída do excelente baterista Brent Smedley, que cedeu lugar ao grande Richard Christy (Death e Control Denied). Assim como ocorreu na troca de baixistas, em que sai James MacDonough e entra Steve DiGiorgio (Sadus, Death, Condrol Denied, Testament, etc). Fechando a formação para a gravação, temos Matthew Barlow nos vocais, Jon Schaffer na guitarra base e vocais de apoio, assim como Larry Tarnowski na guitarra solo.

Partindo para a temática, de certo modo, podemos considerá-lo como um álbum conceitual. Não por desenvolver uma história no decorrer das suas faixas, mas por trazer diversos títulos inspirados em livros e filmes de terror. Como o próprio título do álbum já nos entrega, teremos um “show de horrores”, no melhor sentido do termo, abordando algumas das histórias mais clássicas do gênero.
Uma observação importante sobre esta resenha: não irei fazer uma análise apenas da musicalidade das faixas e da produção ou qualquer ponto mais técnico, a saber, irei um pouco mais além. A intenção é detalhar os temas de cada música e suas referências, para que o leitor literalmente entre no clima e tenha uma compreensão maior deste trabalho.
O Lobisomen

Começamos com “Wolf”, baseada no filme “The Wolf Man” (O Lobisomem). Este filme é um dos clássicos do terror da Universal Pictures, lançado em 1941. Tanto o filme quanto a música tratam da maldição de Larry Talbot, que passou a sofrer com a Licantropia, após ser atacado e mordido por um lobisomem enquanto vagava por um acampamento de ciganos que ocupava um território próximo à sua cidade natal. A música começa com uma batida cadenciada que é acompanhada pelo baixo, enquanto as guitarras nos trazem um conjunto de melodias criando um clima misterioso.
Do nada, acontece a explosão em riffs e palhetadas aceleradas, ao mesmo tempo em que o baixo e a bateria acompanham. Um grito agudo de Barlow entra ao fundo nesta parte. A música acelera ainda mais quando a letra começa a ser cantada. Os vocais de Barlow são agudos e com dobras. Finalmente, chegamos ao primeiro refrão, onde os destaques são a bateria e seu pedal duplo, o baixo de DiGiorgio acompanhando as batidas dos pedais e Barlow recitando o verso:
“Even a man who’s pure and says his prayers by night. Man become a wolf when the wolf bane blooms, and the autumn moon is bright”.
Para os cinéfilos, esse verso está presente no filme de 1941 e funciona como um “velho ditado” na cidade, quando se fala da lenda dos lobisomens. A música continua com a mesma pegada acelerada até o seu final e é um excelente ponto de partida para o que viria a seguir. Todos os músicos brilham nesta faixa, mas destaco o trabalho dos dois novos integrantes, que resolveram “mostrar serviço” logo de cara.
Anticristo

Na sequência, temos “Damien”, que é inspirada na trilogia de filmes “The Omen” (A Profecia). Em resumo, a trilogia fala sobre o nascimento do Anticristo, sua ascensão e queda. Posteriormente, temos uma introdução de baixo maravilhosa, acompanhada de um coro sinistro que na hora me remeteu ao famoso coro de “O Fortuna”, da ópera Carmina Burana, do compositor alemão Carl Orff. Seguimos com um breve dedilhado que ainda mantém o clima misterioso e tenso do início da música.
Logo temos uma mudança para um riff pesado, com levada cadenciada e vocais graves de Barlow, que usa e abusa dos drives nesta parte. A letra fala da compreensão de Damien, sobre como ele é diferente e sobre o que reside dentro de si. Temos então a entrada de mais um dedilhado soturno, com vocais menos agressivos, soando quase como um lamento. Voltamos aos riffs e vocais pesados que servem como ponte para o refrão, que também contém um verso que também é citado como um ditado popular no primeiro filme da trilogia.
É um refrão pesado, onde temos o vocal de Barlow um pouco mais agudo, tendo um vocal bem grave acompanhando cada palavra cantada. Após o refrão, temos mais uma parte dedilhada na música, onde Jon Schaffer, em tom ameaçador, fala sobre todo o ódio sobre o Anticristo e anuncia sua vingança. Nesse momento, percebemos que existe uma voz sussurrando ao fundo, falando algo impronunciável, pois foi gravado de trás pra frente. O refrão retorna mais uma vez e chegamos ao final da música, onde temos um piano, acompanhado de um mais um coral e novos sussurros gravados de trás pra frente. É uma faixa bastante pesada, densa e que transmite toda a tensão que o tema sugere. Na minha opinião, uma das melhores faixas do álbum.
O Estripador

Sem dar descanso, temos uma introdução rápida e pesada. “Jack” começa com mais um riff pesado, contando a história do notório assassino serial, Jack “O Estripador”, que aterrorizou as noites de Whitechapel, em Londres, entre os anos de 1888 e 1891. A faixa evolui ainda com muito peso, mas de uma forma mais cadenciada. As letras abordam o início da “carreira” de Jack, mostrando sua infância e a motivação para a escolha de suas vítimas. O refrão segue a pegada da música, quase que descrevendo o “modus operandi” dos crimes.
Inesperadamente, temos uma mudança repentina no andamento, com mais uma passagem climática. Os vocais de Barlow quase que sussurrados. A letra deixando claro que, na cabeça do assassino, seus crimes são uma forma de absolvição dos pecados de suas vítimas. A “calmaria macabra” é interrompida e, como resultado, a música volta a acelerar até chegarmos a mais um refrão, que marca o fim da faixa. Temos mais uma composição pesada, cadenciada e com tema denso. Outro grande destaque do tracklist.
Fantasma da liberdade

Seguimos com “Ghost Of Freedom”, a balada desta audição. Temos uma introdução em violão e o vocal de Barlow iniciando de forma suave, carregado de sentimento. A letra incia com a mensagem de um pai para seu filho. O pai, que faleceu na gerra, portanto, é o fantasma que o título da faixa cita. É um fantasma que irá acompanhar seu filho, que resolve seguir os passos do pai, lutando pela liberdade. Segundo Matt Barlow, em entrevistas da época, o filme “O Patriota”, com Mel Gibson, foi uma grande influência para essa letra. É uma bela faixa, com melodias muito bonitas e que traz um contraponto no álbum, já que todas as outras faixas possuem bem mais peso e velocidade. Importante dizer que este fato não tira o brilho da canção.
A múmia

A próxima faixa é “Im-Ho-Tep”, baseada no filme “A Múmia”, outro clássico do terror que, aliás, já teve diversas adaptações cinematográficas. Seguindo a temática do título, temos um início cadenciado, com as guitarras tocando uma melodia que traz à tona um certo clima egípcio. Em certas horas, me lembrou os trabalhos de guitarra de Adrian Smith e Dave Murray em Powerslave, álbum do Iron Maiden lançado em 1984. A banda britânica é uma influência velada para todos os integrantes do Iced Earth e será referenciada um outro momento do álbum. Voltando à faixa, a letra foca muito mais na visão do sacerdote Im-Ho-Tep em sua busca pela reencarnação e todo o tormento no período que ficou preso em sua tumba.
Aqui temos um riff simples e pesado ditando a levada da música, que muda drasticamente no refrão para uma palhetada mais intensa, com toda a parte rítmica acompanhando. Na hora do solo, temos uma bela melodia ainda inserida nessa vibração egípcia. A música retorna ao seu verso e posterior refrão. Ao fim, porém, retornamos às melodias iniciais da música. É uma faixa cadenciada, com grande destaques para a guitarra e para os vocais de Barlow, que transitam entre o grave e o agudo em diversos momentos. Um ponto que vale destacar é que nesse disco, tivemos o emprego de várias faixas de vocal em camadas, trazendo ainda mais profundidade à voz de Barlow.
O médico e o monstro

Para a próxima faixa, temos “Jeckyl & Hyde”, tema do clássico livro “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson, publicado em 1886. Tanto o livro, quanto os filmes baseados na obra, tratam da dualidade de comportamento entre o Dr. Jekyll e seu álter ego maligno, Mr. Hyde que, quando toma conta das ações, é responsável por muita violência e destruição. A música começa de forma calma, com dedilhados sendo acompanhados por um belo trabalho de pratos de Richard Christy. Repentinamente, a música entra em um riff bem pesado e relativamente complexo, em uma levada bem mais acelerada. Matt Barlow entrega um vocal em tom médio durante a maior parte da canção, mas usa alguns agudos no refrão. Nesta faixa, também temos uma mudança de andamento, com dedilhados e com Barlow e Schaffer assumindo as identidades do médico e do monstro, respectivamente. Mais uma boa faixa do álbum.
Monstro do Lago

“Dragons Child” é mais uma que começa com dedilhados dando um clima soturno, enquanto Barlow usa vocais bem graves e melancólicos como uma forma de aviso acerca da criatura que vive nas profundezas da Lagoa Negra. Essa música é inspirada em mais um clássico da Universal Pictures, “O Monstro da Lagoa Negra” (The Creature from the Black Lagoon), lançado em 1954. Nesse caso, temos apenas uma inspiração pois Barlow, durante a composição desta letra, preferiu focar mais na lenda do Monstro do que própriamente no enredo do filme.
A música então engrena em um riff muito bem trabalhado e pesado, com andamento mid tempo. Os vocais do Barlow possuem mais uma vez a dobra, dando profundidade, enquanto conta o que acontece com as pessoas que encontram com o monstro pré-histórico. Os solos são mais rápidos, mas sem deixar a melodia de lado. Essa é uma música mais direta, sem muitas mudanças de andamentos. Pra mim, é um dos destaques do disco, pela musicalidade em si, mas também pela temática.
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Mais acima, destaquei que teríamos mais referências ao Iron Maiden. Nesse caso, temos uma referência direta em forma de Cover. “Transylvania”, primeira faixa instrumental lançada pela lenda britânica no seu debut auto entitulado, é executada de forma quase idêntica pelo Iced Earth. Jon Schaffer e sua trupe fizeram algumas alterações nos riffs principais da música, executando-os de forma mais “abafada” que a original e, dessa forma, trazendo um peso diferenciado. A bateria tem uma pegada um pouco mais groovada, com emprego de pedais duplos em alguns momentos, assim como viradas um pouco mais complexas, se comparadas às viradas criadas pelo saudoso Clive Burr. Os solos trazem algumas semelhanças com os solos originais, mas com toques individuais. Um bela homenagem aos reis da NWOBHM.
Frankenstein

Agora é hora de “Frankenstein”, baseada no livro e filme homônimos. Um dos clássicos absolutos do terror, independente da mídia. A música começa com riffs simples, porém bem pesados. Logo o baixo e a bateria entram para acompanhar os riffs iniciais, encorpando ainda mais a música. Os riffs mudam para uma pegada mais cavalgada e os vocais começam agudos, contando a história do cientista que buscava vencer a morte, fazendo experiências macabras com corpos que roubava nos cemitérios.
Em algumas mudanças de andamento, a música retorna para o riff inicial, mas logo voltamos para as partes cantadas. O refrão possui vocais mais graves, com backing vocal de Jon Schaffer, onde o cientista afirma que, se Deus consegue criar vida à sua imagem e semelhança, ele também conseguiria, independente das consequências. Logo temos um pequeno solo, que é seguido por um belo dueto de trabalhos, enquanto o baixo e a bateria seguem no galope. Essa é uma música com um clima mais obscuro e pesado. Para mim, uma das melhores do disco.
O Conde

As duas últimas músicas trazem o clima épico que costuma servir como fechamento das obras do Iced Earth. A princípio, temos “Dracula”, que começa bastante melancólica, com um trabalho de guitarra bem suave e vocais graves de Barlow. O baixo é outro destaque, onde DiGiorgio usa seu baixo fretless para botar mais uma camada dramática nesta parte. Temos aqui o Conde descrevendo seus sentimentos pela sua falecida amada, de tal forma que percebemos o quanto as lembranças causam sofrimento a ele. Subitamente, a música explode em peso por conta do instrumental e, em ódio, pelos vocais agudos de Barlow que, sobretudo, entrega uma interpretação magistral nessa música. Você realmente sente a dor da traição, já que o Conde, que era um devoto fiel a Deus o renega, alegando ter sido enganado e injustiçado.
A música tem uma sonoridade bem melódica e um andamento acelerado. O refrão é épico, com vozes em coro junto ao vocal principal. Temos um solo rápido e logo retornamos para o refrão, que segue até o final da música. Como o próprio Barlow falava em todas as vezes que essa música era executada, essa é uma história de amor sombria, sendo contada ao estilo do Iced Earth. Esta música parece se basear mais no filme “Dracula de Bram Stoker”, de 1992, dirigido por Francis Ford Coppola, sobretudo, por abordar uma visão um pouco mais romântica da saga do Conde da Valáquia. Inegavelmente, se tornou um clássico que permaneceu sendo tocado pela banda até os tempos mais recentes. Na minha opinião, a melhor música de “Horror Show”.
O Fantasma da Opera

Fechamos a audição com “The Phantom Opera Ghost”, outra faixa épica, com quase 9 minutos de duração. A influência do conto clássico “O Fantasma da Ópera” é notória. Na história, temos um gênio musical que tem seu rosto deformado e que esconde seu problema com o uso de uma máscara. Ele é apaixonado por Christine e a sequestra, pois está compondo uma obra e sua amada seria a peça perfeita que faltava para a conclusão de tudo. Ela descobre que a obsessão de seu captor trouxe morte à sua companhia de Ópera e toda a trama se desenrola à partir daí.
Voltando para a música, temos um início tranquilo que, posteriormente, é interrompido por riffs rápidos e bastante pesados. Logo, temos um vocal feminino interpretado pela cantora americana Yunhui Percifield, que interpreta Christine. Em contrapartida, entra Barlow, interpretando o Fantasma e, novamente, temos diversas mudanças de andamento nessa música, que acompanham todo o conflito dos protagonistas. Esta é uma das faixas mais rápidas do disco, mesmo com tantas mudanças climáticas e, é preciso constatar, fecha perfeitamente o álbum, sendo mais um destaque.
Conclusão
“Horror Show” foi um álbum muito bem aceito na época de seu lançamento e sua turnê corria bem, até o fatídico atentado de 11/09/2001, que impactou profundamente os integrantes da banda. Esses impactos seriam inegavelmente sentidos ao final da turnê, com a saída do vocalista Matt Barlow, que acabou se juntando às forças policiais da sua região e deixando momentaneamente o mundo da música. Outro detalhe importante sobre a turnê é que Steve DiGiorgio não acompanhou a banda ao vivo, por ter outros compromissos profissionais agendados previamente. James MacDonough retornaria para assumir o baixo durante a tour.

Este álbum é uma obra bastante consistente e com uma excelente produção, que mais uma vez ficou ao encargo de Jim Morris, da Morrisound Studios.
Para muitos, inclusive este que vos escreve, está no top 5 da banda. Um clássico que acabou se tornando o fim de uma era por conta de todas as mudanças que iriam ocorrer nos próximos anos. Certamente, uma obra indispensável para quem está querendo conhecer o Iced Earth!
Nota: 9,5
Integrantes:
Matt Barlow (vocal)
Jon Schaffer (guitarra)
Larry Tarnowski (guitarra)
Richard Christy (bateria)
Steve DiGiorgio (baixo)
Faixas:
- Wolf
- Damien
- Jack
- Ghost of Freedom
- Im-Ho-Tep (Pharaoh’s Curse)
- Jekyll & Hyde
- Dragon’s Child
- Transylvania (Iron Maiden cover)
- Frankenstein
- Dracula
- The Phantom Opera Ghost
Redigido por Daniel Dante
Um dos melhores albuns da banda, considero!!!! Na verdade e na minha opinião, Iced era para ser o sucessor de Iron Maiden em termos de arte da capa, (Set Abominae), conceito e letras…infelizmente essas mudanças de vocalistas não me agrada, vejo isso como ponto negativo!!!! Devido aos últimos acontecimentos políticos, a banda em si está parada…não vejo um futuro promissor para a banda, posso estar errado!!!! Valeu!!!!