O que torna um disco um grande clássico?
Vendagens, ranking nas paradas musicais, singles de sucessos nas FM ‘s, músicas marcantes daquelas que não desgrudam de seu cérebro ou a junção de tudo isso? Talvez provavelmente, ao lançarem um novo disco, as bandas não tenham noção de que num futuro distante, este se transforme em obra prima de sua carreira, seja aclamado e, principalmente, seja a fonte de inspiração e influências para outros grupos.
Na extensa lista de bandas que contribuíram com álbuns clássicos, estão os americanos do KISS. Eles são um dos grupos mais influentes de todos os tempos, dono de uma carreira musical consolidada e certamente uma das bandas mais cultuadas da história.
Kiss, sempre em busca do sucesso comercial
Em 1981, ao propósito de surfar no sucesso comericla de “The Wall” do Pink Floyd, Kiss lançou “Music From The Elder” (1981). O disco musicalmente apresentou uma sonoridade mais Pop/Progressiva, flertando também com o Classic Rock/Ópera. No entanto, “Music From The Elder”, que marcou a estreia do baterista Eric Carr, não foi bem aceito pelos fãs.
Já em outubro de 1982, foi a vez de “Creatures Of The Night”, décimo trabalho de sua longa discografia. Produzido por Michael James Jackson, Paul Stanley e Gene Simmons, o disco apresenta nove faixas inéditas, marcando o retorno ao Hard Rock, apresentado em trabalhos como “Destroyer”, “Rock And Roll Over”, “Love Gun” e “Dressed To Kill”.
“Creatures of The Night” é o primeiro álbum do Kiss a ter todas as funções vocais divididas apenas entre Gene Simmons e Paul Stanley, já que os anteriores traziam ao menos uma música com vocal de outro membro.

Bem recebido e figurando entre os mais vendidos, teve êxito de público e crítica e “I Love It Loud” foi a grande responsável pelo sucesso dos maquiados.
Sem delongas, é hora de conferir faixa a faixa as melodias deste que foi o último trabalho a contar com o guitarrista Ace Frehley, aqui ainda creditado como membro oficial. (Posteriormente, Frehley gravou “Psycho Circus”, lançado em 1998).
“Creatures Of The Night”
A recepção fica a cargo de “Creatures Of The Night”, que batiza o disco. Já a princípio, temos a bateria de Eric Carr soando tal qual Lee Kerslake na faixa “Over The Mountain” de Ozzy Osbourne. A conexão sonora entre as duas faixas são tão evidentes que em alguns momentos os vocais de Paul Stanley soam exatamente iguais aos do Madman.
Passeando nas trilhas do Hard Rock e Vinnie Vincent conduzindo suas guitarras incrivelmente afiadas, temos aqui uma canção bem escolhida para ser a grande anfitriã. Aliás, destaques vão para Eric Carr, o responsável por conduzir o peso necessário o qual a música pede, além das guitarras precisas de Vinnie Vincent. Com seus riffs iniciais calcados no Classic Rock, “Saint and Sinner” apresenta melodias mais cadenciadas, vocais mais rasgados de Simmons, e flerte com o Heavy. Talvez este flerte esteja ligado às bases pesadas de Simmons e seu contrabaixo monstruoso, aliado aos solos de Vincent e da bateria marcante e poderosa de Carr, dono de um estilo incomparável, pois o cara não perdoava e literalmente atropelava tudo à sua frente.
“Keep Me Comin”
“Keep Me Comin” é uma daquelas músicas que poderiam ser gravadas pelo Van Halen da fase David Lee Roth, já que os riffs iniciais de guitarras de Bob Kullick nos remete ao genial Eddie Van Halen. Com sua base calcada no Hard/Classic Rock, a música apresenta um refrão grudento, bem como um trabalho honesto na parte de backing vocals.

Além disso, do já citado Eddie Van Halen, podemos dizer que as guitarras trazem aquela sonoridade feita por músicos excepcionais como Jake E. Lee (Ozzy Osbourne, Rough Cutt, Badlands, Black Sabbath, etc), e John Sykes (Whitesnake, Blue Murder).
“Rock and Roll Hell”
Em mais um momento conduzido por Simmons, “Rock and Roll Hell” provavelmente seja a música onde as linhas de contrabaixo soam absurdamente pesadas. Dona de uma construção rítmica que nos remete a grupos como Blue Murder e Whitesnake (me refiro as guitarras), somado ao refrão pegajoso, daqueles onde o ouvinte canta seus versos à primeira ouvida, solos que parecem conduzidos por John Sykes e uma bateria monstruosa, pois fazem desta uma grande música, digna de elogios e respeito. Destaque para os versos onde a linha de baixo, vocal e bateria fazem um contraponto perfeito, preparando o terreno para as harmonias que vem em seguida.
“Danger”
Não fossem os riffs iniciais de “Detroit Rock City” , poderíamos dizer que “Danger” traz exatamente a mesma linha de bateria? É o que se percebe ouvindo atentamente, principalmente no início de sua execução.
Similaridades à parte, pois, a verdade é que, aqui a banda se encarregou de mais uma música com refrão grudento, backings bem encaixados, guitarras marcantes e solos bem construídos, mostrando que além do peso, técnica também é primordial na música, e quando bem feita, soa como a cereja do bolo.
Não por acaso, Eric Carr mostra o porquê ainda é considerado um dos melhores bateristas a integrar o Kiss.
“I Love it Loud”
Algumas músicas nascem hinos, não importa daqui a quantos anos você irá ouvi-las, soarão como se fosse a primeira vez, já que seus ouvidos jamais se cansarão de suas melodias. Sem sombra de dúvidas este é e será sempre o caso de “I Love It Loud”, uma das melhores músicas do Kiss, bem como uma das melhores músicas lançadas nos anos 80.
Suas harmonias simples, um híbrido perfeito entre a pegada cadenciada do Hard Rock e o peso encorpado do Heavy Metal, conduzem o ouvinte ao refrão grudento, as levadas grandiosas de baixo de Simmons, ao solo simples, porém preciso, e ao rolo compressor conduzido por Eric Carr.
Em suma, tente ignorar a tecla “Repeat”. Particularmente, duvido que seja possível.
“I Still Love You”
Qual o disco de Hard Rock onde a banda dispensa uma “baladinha”? Honestamente, desconheço! Provando que os brutos também amam, “I Still Love You” é o momento calmo e sucinto do disco.
Aquele onde os isqueiros são acesos, os olhos são fechados e os braços (erguidos) seguem o compasso da batida. Assumindo os vocais Stanley (Paul) conduz sua voz com certo ar melancólico, acompanhado pelas guitarras excepcionais de Vincent e por Eric Carr que esqueceu tratar-se de uma balada e sem dó injetou uma dose de peso em sua bateria.
* Uma observação pessoal:
A primeira vez que ouvi “Nothing Else Matters” do Metallica, associei algumas notas/acordes com “I Still Love You” do Kiss.
“Nothing Else Matters” ou “I Still Love You”?
Sempre achei similaridades entre as duas canções, principalmente no “compasso/tempo” de bateria, numa espécie de sinergia. Ok! Talvez eu esteja equivocado e meus ouvidos estejam ouvindo além do normal, mas que têm algo de familiar em suas melodias, isso tem.
“Killer”
Em sua reta final e com riffs iniciais lembrando “Action” dos britânicos do Sweet, “Killer” coloca a banda de novo nos trilhos do Hard Rock. Temos, ao mesmo tempo, uma canção com uma aura mais Rock ‘N Roll e uma pegada mais rápida, flertando inclusive com o Heavy Metal, conduzida pelos vocais mais “nervosos” de Simmons. Precisa falar do trabalho de bateria de Eric Carr?
Além do flerte com os britânicos do Sweet, em dado momento, é nítida a impressão de que iremos ouvir trechos de “Highway Star” do Deep Purple.
“War Machine”
Encerrando o disco, “War Machine” segue a mesma linha de sua antecessora, injetando uma dose extra de peso em sua parte instrumental. Vinnie Vincent empunha sua guitarra e executa seu solo com perfeição, auxiliado pela batida pesada e agressiva de Mr. Eric Carr, que por sua vez segue as linhas intensas do baixo agressivo de Simmons em uma música que difere das demais.
Aparentemente, as duas faixas mais pesadas do disco foram deixadas propositalmente para o final, exigindo, dessa forma, do Sr “Linguarudo” a responsabilidade de encerrar dignamente um trabalho honesto, coeso e musicalmente bem feito.
Destaques para o refrão onde os coros lembram o que fazem os alemães do Accept.

*Algumas observações e fatos acerca do disco:
- O álbum foi dedicado à memória do fundador da Casablanca e apoiador do Kiss, Neil Bogart, que morreu de câncer durante as sessões de gravações.
- Das nove faixas presentes no disco, “Creatures Of The Night”, ‘I Love It Loud” , assim como “Killer” foram escolhidas como singles.
- O disco atingiu posições importantes em países como: Austrália, Holanda, Alemanha, Japão, Noruega, Suécia e Reino Unido.
Billboard Americana
Na parada da Billboard Americana, o disco atingiu a 45a posição no ranking e contemplou a banda do disco de ouro pelas vendagens superiores a 500 mil cópias, na época de seu lançamento.
O single “I Love It Loud” atingiu a 22a posição da Mainstream Rock Track, a 76 a posição da UK Albums Chart, enquanto “Creatures Of The Night” figurou na 34a posição da US Pop Singles.
Capa Original
- * Em sua capa original, “Creatures Of The Night” traz a foto de Ace Frehley, enquanto na versão remasterizada lançada em 1985 aparece a foto de Bruce Kullick. Nenhum dos dois músicos tocou no disco.
- * “Creatures Of The Night” aparece na lista da banda como o disco com mais participantes, e é também o disco onde os integrantes tocaram outros instrumentos. Eric Carr (baterista) tocou baixo em “I Still Love You” e Gene Simmons tocou guitarra em “Killer” e “War Machine”.
- * Alguns dos guitarristas cotados para substituir Ace Frehley durante as gravações do álbum foram: Yngwie Malmsteen (Rising Force), Eddie Van Halen (Van Halen) e Doug Aldrich (Dio, Whitesnake, etc).

Ace Frehley / Vinnie Vincent
Logo depois que Ace Frehley deixou oficialmente a banda, seu substituto foi Vinnie Vincent. Porém, outros guitarristas participaram das gravações, contribuindo com seus préstimos em algumas faixas.
Foram eles: Bob Kullick, Michael James Jackson, Steve Farris, Adam Mitchell, Jimmy Haslip, Dick Wagner e Robben Ford.
* A bateria de Eric Carr foi gravada em um banheiro. Foram usados dois engenheiros de som para tratar somente das faixas de bateria.
* A turnê de divulgação para este disco lista os shows com maior público da carreira da banda. Segundo consta, algo em torno de 240 mil pessoas no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.
*O show seguinte realizado em São Paulo, no Estádio do Morumbi, foi o último a apresentar a banda com sua maquiagem.
N do R: Uma observação pessoal e deveras “cômica”, logo que comprei o disco. Ao ouvi-lo deparei-me com um pequeno “problema” e ele estava justamente em “I Love It Loud”, faixa que mais curti no disco.
O referido “problema” estava no final da música que repentinamente abaixava e aumentava o volume e me fez ir duas vezes até a loja de discos (na época) reclamar e efetuar a troca.
A quase terceira ida não ocorreu por conta de um amigo que também adquiriu o disco e percebeu que trata-se apenas do que chamamos de “Fade in/Fade Out” (aumento ou diminuição gradual do nível de um áudio), o qual inocentemente fui vítima (é burrada que chama?).
Anos depois, essa história ainda rende boas gargalhadas nas reuniões com amigos.
Integrantes:
- Paul Stanley (vocal, guitarra)
- Gene Simmons (vocal, baixo)
- Erica Carr (Bateria)
Faixas:
- Creatures of the Night
- Saint and Sinner
- Keep Me Comin
- Rock and Roll Hell
- Danger
- I Love It Loud
- I Still Love You
- Killer
- War Machine
Olá. É necessário fazer um trabalho de pesquisa sobre este álbum…
Não foi apenas Vinnie Vincent quem palhetou a guitarra. Robben Ford, Steve Ferris também fizeram parte, além de Bob Kulick. A bateria do saudoso Eric Carro teve níveis de gravação e produção incríveis, até poço de elevador foi utilizado.
Disco absurdamente fod@, mas faltou conhecimento sobre os bastidores da produção.
Tudo bem Carlos? Obrigado pelo contato, meu amigo. Se você descer até o final da matéria, mencionamos todos os guitarristas que participaram do disco, incluindo todos estes que você lembrou e mais alguns. Leia a matéria até o final que está tudo lá. Grande abraço!