Ousadia Musical X Fãs Chatos, o que acontece na verdade?
No Mundo do Metal temos uma grande maioria de artistas que, ou preservam sua sonoridade durante toda a carreira, ou fazem discretas mudanças na mesma.
Temos ainda aqueles que mergulham de cabeça no Pop, fugindo completamente das raízes do Metal.
Há uma minoria ousada, que modifica, completamente, sua sonoridade, se arriscando com os fãs mais cabeças duras, porém o fazem de forma corajosa, mesmo sabendo dos riscos que correm.
É justamente sobre esses ousados que vamos tratar no texto.
Nosso primeiro exemplo é o saudoso Chuck Schuldiner.
A cada álbum do Death, ele foi evoluindo seu nível técnico e também o nível de suas composições.
Após a turnê do terceiro disco, “Spiritual Healing”, Chuck teve problemas com os músicos e resolveu “tomar” o Death para si, o transformando em seu projeto pessoal, trabalhando apenas com músicos contratados.
Chuck, que já havia mudado as temáticas das letras, fez de seu quarto trabalho, “Human”, o primeiro com músicos contratados, um dos precursores do Death Metal técnico.
Mas foi no álbum seguinte, “Individual Thought Patterns”, que o guitarrista/vocalista atingiu seu auge técnico, chegando à sonoridade que chamamos de Progressive Death Metal.
Para isso, ele contou com um poderoso line-up: Gene Hoglan (Dark Angel, Testament) na bateria, Andy LaRocque (King Diamond) na guitarra e Steve DiGiorgio (Sadus, Testament) no baixo.
Chuck manteve essa chama acessa nos últimos discos do Death, “Symbolic” e “The Sound Of Perseverance”.
Seu último álbum gravado, “The Fragile Art Of Existence”, com o projeto Control Denied, era ainda mais Progressivo que os mais recentes do Death e, para este registro, Chuck contratou um vocalista de ofício.
Em 2001, o câncer levou de nosso convívio esse que foi um dos maiores gênios da música extrema.

Mikael Åkerfeldt do Opeth
Agora vamos falar do sueco, também guitarrista, vocalista e compositor, Mikael Åkerfeldt do Opeth.
O Opeth começou como uma banda de Death Metal no início da década de noventa.
Desde seu primeiro álbum, “Orchid” de 1995, foi mesclado Death Metal, Black Metal e elementos de Rock/Metal Progressivo, até chegar a seu primeiro clássico, seu quinto full, “Blackwater Park”, no ano de 2001.
“Blackwater Park” já representou um Opeth completamente distinto daquele que gravou “Orchid”, tendo como elementos predominantes, Death, Prog Metal, Prog Rock e bem menos Black Metal que em seu início.
Mas, três álbuns depois, no disco “Ghost Reveries”, que um passo maior começou a ser dado.
A sonoridade exótica que é fruto da excentricidade de Åkerfeldt começou a dar sinais de uma metamorfose ainda maior.
Amados por uns e odiado por outros, “Ghost Reveries” começava a encerrar mais um período da carreira dessa inigualável banda sueca.
“Ghost Reveries” está ao lado de “Blackwater Park” entre os melhores trabalhos dessa fase com veia mais “extrema”.
Em 2008, “Watershed” dá o último suspiro dessa era.
A era Prog Metal do Opeth
Em 2011, com um álbum na mesma pegada pronto para ser gravado, Mikael decide simplesmente deixar o gutural de lado, fazendo com que a sonoridade da banda mergulhasse de vez no Prog/Rock/Metal.
Foi lançado “Heritage” em 2011 e três anos depois, “Pale Communion”, os dois tentando encontrar a fórmula ideal do “Prog Opeth”.
Porém, foi no álbum “Sorceress”, de 2016, que essa nova personalidade se consolidou.
Enquanto grande parte dos fãs da sonoridade mais extrema torceu o nariz para essa metamorfose, outros amantes de Prog passaram a notar a banda que até então lhes passava despercebida.
Em 2020, foi lançado, em minha opinião, o melhor dessa nova era, “In Cauda Venenum”, o qual saiu em duas versões, em sueco e em inglês, sendo um perfeito disco de Rock Progressivo que exala a atmosfera da década de setenta com uma pegada modernizada, porém que transborda competência musical.
Akfert, a exemplo de Schuldiner, é ousado e arrisca sem medo, sempre demonstrando competência e criatividade em suas criações.

Bem, até aqui mencionamos bandas revolucionárias por essência, mas até mesmo outras que executam estilos mais tradicionais e puristas também se renderam as experimentações, variações e guinadas repentinas em suas musicalidades.
Helloween, uma história de Power Metal, ou não?
Helloween, que executava um Power Metal melódico despretensioso nas duas partes de “Keeper Of The Seven Keys”, manteve-se nesta linha apenas adicionando alguns novos elementos em “Pink Bubbles Go Ape”.
Em seguida, chutou todos os alicerces que eles mesmos ajudaram a construir dentro do gênero para conceber “Chamaleon”.
O disco não foi bem, o vocalista queridinho dos fãs, Michael Kiske, foi chutado da banda e eles precisaram se remodelar completamente.
Os alemães renasceram em “Master Of The Rings” e “The Time Of The Oath”, mas quem pensou que iriam retornar ao happy Power Metal da era Keeper, se enganou completamente.
Com Andi Deris nos vocais, a banda ganhou peso e punch, além de uma pegada mais Hard Rock em diversas composições.
É correto afirmar que o Helloween se metamorfoseou seguidas vezes até encontrar o caminho que realmente iria trilhar.

É fato que todas as mudanças musicais que mencionei até aqui, foram de bandas que causaram certo choque inicial nos seus fãs, porém, mantiveram-se na ativa e, com o tempo, conseguiram domar ao menos aqueles não tão radicais.
No caso do Helloween, principalmente, a fase Deris conquistou uma base de fãs sólida que chegou até mesmo a reclamar quando começaram as negociações para que Kiske retornasse para a banda.
Mas nem sempre é assim e, apesar de termos uma infinidade de bandas ousadas e revolucionárias, algumas delas trilham por caminhos tão excêntricos, que acabam perdendo seus fãs antigos e não conseguem uma base forte de novos admiradores.
Kreator na década de 90
Esse é o caso do Kreator nos anos 90. É verdade que desde o debut “Endless Pain”, o quarteto vinha moldando seu Thrash até chegar ao técnico “Coma Of Souls”
Contudo, foi nesse momento que Mille, Ventor e seus asseclas resolveram “evoluir” e passar uma década experimentando em discos que, tirando eu, mais ninguém gostou.
“Renewal”, “Cause For Conflict”, “Outkast” e “Endorama” causaram asco nos fãs e a banda não teve escolha, retornou ao Thrash no início dos anos 2000.

Slayer e o Groove Metal:
Quem também se deu mal inovando foi o Slayer, principalmente no “Diabulos In Musica”, mas as mudanças não surgiram nele, já vieram anteriormente.
O Slayer nunca se repetiu.
Portanto, seus trabalhos contaram com diferenciais na sonoridade.
Mas, no sexto disco, “Divine Intervention”, o quarteto, literalmente, se reinventou.
Talvez, a razão seja a ausência de Dave Lombardo nas baquetas!
Ou foi tentativa seguir as tendências Groove do anos 90 (Pantera, Machine Head)?
Paul Bostaph entrou no lugar do lendário Lombardo, porém deu nova energia as composições.
Porém, o fato é que soou diferente dos trabalhos anteriores, e embora soara renovado, esse Slayer do “Divine Intervention” ainda agradou parte dos fãs.
Depois do álbum de covers, “Undisputed Attitude “, de 1997, veio o polêmico e muito criticado “Diabolous In Musica’.
Ao contrário do que aconteceu no “Divine Intervention”, nesse disco, parte dos fãs torceram o nariz, chegando a defini-lo como Nu Metal, o que logicamente é um absurdo, pois não tem nada a ver.
No máximo contém alguns elementos de Groove, que era um dos estilos que caracterizou a década de 90.
Lombardo voltou no segundo álbum após “Diabolous In Music” para gravar dois álbuns, “Christi Illusion” e “World Painted Blood”.
Em ambos, o Slayer resgatou suas sonoridades raízes, portanto agradando os seus fãs mais “chatos”.

Ousadia Musical X Fãs Chatos, será que conseguimos decifrar?
Para qualquer artista, ousar significa correr o risco de seus fãs amarem ou odiarem, pois a função da arte é chocar.
Ele pode conquistar uma legião de fãs, mas perder os antigos, como aconteceu com o Metallica após “Load”, “Reload” e “St. Anger”.
Por outro lado, pode ter êxito, agregando novas audições, porém não perdendo quase nada do que já conquistara, como foram os casos de Death, Opeth e Helloween.
Ou ainda, como nos casos de Slayer e Kreator, fazer com que grande parte dos fãs das sonoridades raízes dessas bandas tirasse “férias” e retornasse quando elas voltassem aos seus primórdios.

A matéria de opinião “Ousadia Musical X Fãs Chatos” teve como redator, Cristiano “Big Head “ Ruiz.
Colaborador: Fabio Reis
Conheço pessoas que curtem Death Metal 24 horas por dia, mas nunca foram fã da banda Death…essas mesmas pessoas diziam que Death é o Dream Theater em versão Death Metal!!!! Já tive os CDs Load e Reload do Metallica, já fui um grande fã…quando moleque ficava empolgado com qualquer coisa que o Metallilca lança-se, fui evoluindo até me encontrar e a gostar de outras coisas dentro do Metal!!!! Slayer em seu Diabolus in Musica custou a entrar na minha cabeça de vez, fui tentar entender o que era o New metal na época…tanto que além de ver clipes do estilo ainda fui pegar emprestado CDs do Korn e Deftones, com o tempo e hoje em dia gosto de ouvir muitas músicas do Diabolus in musica!!!! Com essa era New metal, particularmente eu não gosto de ouvir o disco Roots do Sepultura…com essas decepções do Metallica e Sepultura fui atrás de outras bandas, assim essas decepções só me fizeram curtir outras pérolas do Metal!!!! A evolução acontece também em nós ouvintes e não apenas em bandas que muitas vezes tentam fazer um album diferente toda vez que lançado!!!! Sobre Helloween, os fãs é que ganharam com essa junção dos 3 vocalistas e uma guitarra a mais em shows…acredito que o Iron Maiden deveria pelo menos fazer um show comemorativo reunindo os ex-vocalistas com Bruce Dickinson e assim lançado um DVD com essas participações, seria o maior evento de metal na minha opinião!!!! Valeu!!!!