Geralmente, bandas clássicas tem problemas quando resolvem trocar de vocalista. Os fãs demoram para aceitar e, em muitos casos, os novos integrantes jamais conseguem criar um vínculo duradouro. Vide o caso de Blaze Bayley no Iron Maiden.
Com Tim “Ripper” Owens foi um pouco diferente, já que o vocalista apresentava performances ao vivo realmente matadoras. Contudo, os discos que ele gravou com o Judas Priest dividiram a opinião dos fãs e, mesmo tendo conquistado muitos admiradores com o passar dos anos, o lendário grupo britânico jamais executou qualquer música da era Owens desde que Rob Halford retornou.
Em uma nova entrevista a Andrés Durán do El Expreso Del Rock, o baterista Scott Travis falou justamente sobre este assunto. Questionado sobre a ausência de faixas dos álbuns “Jugulator” e “Demolition”, ele disse que trata-se de um posicionamento de Rob:
“Eu só acho que não é algo que Rob Halford realmente queira fazer, e eu entendo isso totalmente. E a outra coisa é que, com o Judas Priest, temos tantas músicas ótimas para tocar que é impossível conseguir tocar todas. Você sabe, nos shows sempre teremos que tocar ‘[You’ve Got] Another Thing Comin”, ‘Living After Midnight’, ‘Breaking The Law’, ‘[The] Green Manalishi [With the Two Pronged Crown]’, ‘Victim Of Changes’ — você sempre terá que tocar esses clássicos. Porque se você não toca esses, as pessoas gritam: ‘Por que você não tocou essa ou aquela música?’ Então você tem que fazer isso, e aí você só tem um tempo limitado para encaixar as outras músicas durante um set ao vivo. Para ser sincero, simplesmente, não há tempo. Decidimos não mexer nisso.”
Tim “Ripper” Owens comentou o fato do Judas Priest jamais ter tocado qualquer música gravada por ele depois do retorno de Rob Halford à banda. Na época, em 2021, Tim estava concedendo uma entrevista a Pierre Gutiérrez, do Rock Talks, e resolveu desabafar:
“Na verdade, não acho que faça sentido que eles não toquem músicas da minha época. Quer dizer, era o Judas Priest. Olha, você está comemorando 50 anos do Judas Priest, mas está deixando de fora 10 anos. A questão é que o Rob soaria tão incrível cantando aquelas músicas… Você consegue imaginar o Rob cantando ‘Burn In Hell’? Puta merda, soaria fantástico. Então, não há nada de errado em colocar uma música como ‘Burn In Hell’ em um setlist. Eu simplesmente não sei. Mas eles têm um ótimo setlist para tocar agora, então é muito incrível ver isso.
É incrível que o Judas Priest nunca tenha feito isso. Eles nem sempre precisam fazer isso, mas é incrível que nunca tenham feito. Quer dizer, o Rob supostamente nunca ouviu a minha era do Judas Priest, e está tudo bem, porque eu nunca ouvi nada solo dele também, exceto o Fight, então estamos meio que quites. Depois de Fight eu também não ouvi nada dele, então está tudo bem.
Quando eu estava no Judas Priest, eu não ouvia muita coisa, então eu realmente não ouvia as coisas do Halford — a menos que alguém as tivesse tocando em algum lugar que eu estava. E eu adoro o Rob — o Rob é um amigo, um mentor e um ídolo. Rob Halford e Ronnie James Dio são os dois caras que realmente me inspiraram. Então, não é nada contra ele, na verdade. Não é que eu não quisesse ouvir o trabalho solo dele; eu simplesmente nunca ouvi. Era meio que: ‘Estou no Judas Priest. Não preciso’. Mas depois que saí, ouvi os discos do Judas Priest. Gostando ou não, eu os ouvia.”
No mesmo ano, Halford havia comentado que nunca tinha sequer ouvido os álbuns gravados por Tim “Ripper” Owens:
“Não. Ainda não ouvi. Pode parecer egoísmo, mas como não sou eu quem está cantando, não me sinto atraído. Pareço um babaca, mas simplesmente não estou interessado. E isso não é desrespeito ao Ripper, porque ele é meu amigo.
Eu o conheci quando a banda passou por Ohio, e Tim veio ao show. Foi constrangedor? Nem um pouco. Nos abraçamos. Ele é um grande fã do Priest, e quando surgiu a oportunidade de eu voltar, ele disse: ‘Parabéns, é ótimo. Estou feliz pela banda, estou feliz pelo Rob’. Eu respeito a qualidade dele; ele é um ótimo cantor.”
Os dois discos gravados por Tim “Ripper” Owens não estão disponíveis para audição em plataformas extremamente populares como Spotify e Deezer, assim como o vocalista não foi chamado para a introdução do Judas Priest no Rock And Roll Hall Of Fame, em 2022.