Embrional é mais uma das gratas amostras do Metal extremo polonês. O país é conhecido dentro do cenário underground por conta de bandas como Vader, Hate, Besatt e Behemoth, sendo essa última, já fora do underground comum e mais a nível de mainstream. “Inherited Tendencies for Self-Destruction” é o quarto álbum lançado pela banda polaca de Death Metal, assim formando a sua primeira quadra de estrondos musicais.
Os representantes de Gliwice, Silesia, possuem em sua carta de vinhos sonoros os seguintes álbuns: o debut “Absolutely Anti-Human Behaviors” (2012), “The Devil Inside” (2015) e “Evil Dead” (2019). O Embrional iniciou suas atividades em 2003 com um nome bastante peculiar, por assim dizer. Embrional Necrophilism era o nome da criança e que logo depois resumiram simplesmente para Embrional. Em minha singela opinião, creio que esse nome maior combinaria mais com um nome de disco do que de banda.
Sobre o novo artefato musical, este foi lançado no dia 21 de março via Agonia Records. Entretanto, existe a impressão de que o álbum possui detalhes voltados para as bandas compatriotas citadas, ou pelo menos algumas delas. Será? Isso teremos de conferir juntos, mas sem precisar dar as mãos, certo? Se precisar de ajuda, te jogo uma corda.
Sem mais delongas e devaneios, vamos ao que, de fato, mais interessa.

Embrional e os coros do apocalipse em prol da autodestruição
Certamente, começar um álbum de modo bem sinistro é uma jogada prazerosa de se executar. Afinal, um bom disco de Death Metal merece uma introdução que te remeta ao que está por vir. E isso é feito através de “Choirs of Apocalypse”, que serve como uma luva para a morbidez inicial de “The World Deserves Self-Destruction”. Qualquer semelhança como os requintes tradicionais do Immolation é mera coincidência, não é mesmo? Principalmente por conta dos efeitos e alavancadas agudas de guitarra.
Porém, a receita sangrenta não fica apenas nisso e te joga em um mar de riffs ignorantemente inseridos na trama como se a banda tivesse apertado a campainha dos aposentos do Hate e saído correndo. Os elementos próximos aos seus compatriotas são bem evidentes e colocados de forma sábia e contundente. Entretanto, os mares densos com cortes feitos com palhetas ultra afiadas fazem da canção uma das mais insanas do álbum. A timbragem da bateria de Młody é o charme maldito da música, enquanto os vocais do também guitarrista Skullripper formam uma linha bem próxima a do Nergal. Porém, sem jamais soar como mera cópia. Trata-se, portanto, de inclinação à vocalização do respectivo cantor. O trecho final possui um solo de guitarra bastante gélido, feito com o sangue da vítima ao ouvir a nada nobre canção. Portanto, sendo um belo cartão de visitas.
Inspiração do Embrional para matar e massacrar os tímpanos do ser seduzido por mentiras
As músicas do Embrional atravessam os campos áridos das mentiras envolvendo religião e de um mundo repleto de sujeira e que merece o seu fim imediato, ou melhor, o fim da humanidade que só serviu para degradar o planeta até então. A inspiração para matar é encontrada no ritmo contagiante e devastador de “Inspiration to Slay”. Ao observar com os ouvidos bem atentos, é perceptível a caminhada mais direta nos primeiros passos da canção. A sonoridade prossegue a passos largos em direção do território mais extremo que possa encaixar na mesma.
Entretanto, as nuances surgem e você pode imaginar uma carreta descendo de forma bem incisiva e coletando toda a sede de sangue de vários assassinos em potencial. Além disso, temos solos condizentes com a estrutura e conjectura musical, abrindo um leque de alicerces voltado para o Krisiun. Porém, o veículo não tem freio…
A sedução através de mentiras ocorre por meio da verdade de uma sonoridade direta e agressiva. “Seduced by the Lies” promove uma carnificina sonora, aonde são reunidas todas as mentiras mundanas, seja por conta de religião ou de falsos princípios exigidos por uma sociedade vã e hipócrita. Os dedilhados em escalas de tensão denotam um ímpeto voraz e provocante aos ouvidos ávidos por glóbulos vermelhos efervescentes. O mesmo vale para os solos de guitarra, que por si só, são muito bem trabalhados e com uma estrutura impecável.
Deus mente o tempo todo, erguendo um verdadeiro santuário de puro e intenso colapso
Seguindo pelo caminho das mentiras, temos “Lies of God”. Sendo então, uma faixa bem acessível ao público oriundo da pancadaria desenfreada e insana. Blast beats provocam chamas nas baquetas de Młody, enquanto Chłosta impõe seus diferenciais, apoiado por Skullripper. O refrão é o charme infernal da canção, pois alterna com muita competência o flanquear da faixa com os trechos mais mórbidos da trama.
Após os belos solos, temos vozes em coro e depois mais solos gélidos para finalizar mais um capítulo apocalíptico dos poloneses.
O colapso mundano é tão grande que deveria ter um santuário para representá-lo. Portanto, coube ao arsenal de guerra nomeado “The Shrine of Collapse” a devida função. O dedilhado inicial e principal promove uma correria desenfreada e desesperadora das pessoas, trazendo à tona o verdadeiro colapso sonoro. Por entre nuances e diferenciais marcantes, temos no baixo de Armagog uma ótima condução da sapata musical. Contudo, temos riffs dissonantes e bem diferentes do convencional inseridos com precisão.
O colapso coberto de mentiras só poderia resultar em uma jornada puramente suicida. É o que ocorre ao ouvir “Suicide Journey”. Afinal, o Death Metal nunca morre e não haverá escapatória para quem não está adaptado a esse mundo caótico e sangrento em se tratando de boa “múzga”.
Em meio a um jogo de pedais duplos e pratos, a canção promove uma arrancada de velocidade controlada para que, mais adiante possa acelerar e dilacerar tímpanos à vontade. Destaque para o trecho crescente, abrindo outra sequência dedilhados e palhetadas precisas. Além disso, os solos surgem como gotas de sangue no asfalto gelado em plena madrugada.
O desejo sádico de ser purificado pela morte
“Purified by Death” inicia no formato em que, a guitarra base comanda a arte do peso e a guitarra solo contorna e apresenta um cartel requintado de notas menores e mais agonia em harmonia. Na sequência, temos vários muros desabando e o teto rachando no meio, causando uma queda vertiginosa e indo de encontro ao solo batido e coberto de sangue coagulado.
Conforme a canção ganha mais ímpeto e robustez, a mesma oferece solos magistrais e momentos cadenciados e hipnóticos, padrões do subgênero mais querido por mim. A morte purifica se souber ouvir com a devida atenção o que ela diz em música. Ou seja, aqui ela diz muitas coisas excelentes e honestas para com o próprio estilo.
Em contrapartida, “Sadistic Desire” oferece um lado ainda mais extremo, complementando sua antecessora. O desejo sádico ganha tons de ansiedade e desespero ao mostrar suas armas sonoras. O canivete em forma de guitarra e a marreta em forma de bateria dizem muito a respeito desse sadismo todo. Seu andamento após os versos, acontecendo antes dos próximos versos, trazem um lado bem tradicional do Metal mais mortífero dentre todos os principais subgêneros. E além disso, sem contar com mais momentos hipnóticos e distorcido no melhor dos formatos.
Segunda faixa instrumental para representar a extinção em massa e abrir caminho para um rito de pura obliteração
Antes do fim, temos o anúncio do fim premeditado através de mais uma faixa instrumental. “Extinction (Outro)” é o nome esquisito dessa trilha traz novamente um clima bem sinistro para a obra, abrindo caminho para a apoteose do disco.
Por fim, para terminar a trajetória repleta de mentiras, um deus fraco e falso, e mentes humanas corrompidas entrando em colapso, temos a extinção plena junto aos ritos de obliteração. “Obliteration Rites” começa com a locomotiva em forma de bateria a todo vapor. A carreta citada acima dá lugar à maria fumaça pintada com o próprio carvão e ganhando um tom fosco com cheiro de inferno em chamas.
A canção apresenta seu lado experimental, se aproveitando do próprio estilo para ir em busca de algo a mais para acrescentar ao enredo musical. O compasso repleto de quebras e contornada por momentos completamente insanos de devastadores de lares ortodoxos, aflinge a sua pobre alma e a coloca no devido lugar para ser devorada pelos demônios em riffs flamejantes. Seu final acontece de maneira simples, porém de acordo com as últimas notas agudas distorcidas. Assim, obliterando a tudo e a todos numa puxada de corda só.

Confissões de um sobrevivente dessa extinção sonora
Certamente, o Embrional carrega a tocha plena e bem acesa em prol do Metal extremo polonês. De fato, temos uma linhagem completamente voltada para o Death Metal feito por lá. Aqui vemos através dos riffs pesadíssimos e nuances bem carregadas de agressividade voltadas para esse tipo de som. Conhecer o som do Embrional, ainda mais através de “Inherited Tendencies for Self-Destruction”, um privilégio para quem aprecia o Metal da morte da bandeira alvirrubra.
Alguns dos vários destaques ficam por conta de praticamente todos os solos de guitarra distribuídos ao longo das músicas. Além das variações dentro das mesmas e os efeitos complementares de guitarra. A bateria surge mais impetuosa nos períodos certos, ao mesmo tempo que se apresenta mais cadenciada quando se faz necessário. O baixo cumpre bem o seu papel e aparece bem nos momentos em que lhe é cabível. “Seduced by the Lies”, com seu início categórico e dedilhados maléficos tenebrosos, e “The Shrine of Collapse”, com seus riffs dissonantes e diferenciais precisos, representam boa parte da qualidade contida no quarto trabalho da banda.
Comentários oficiais do Embrional e considerações obliteradoras finais
O Embrional comentou em seu Bandcamp oficial:
“Estamos muito satisfeitos com o álbum. Nossa assinatura sonora amadureceu e se destaca de nossos trabalhos anteriores. Conscientemente, aproveitando nossa experiência passada, as composições e a produção passaram por um tratamento deliberado, inédito na música do Embrional.”
A grata surpresa é semelhante ao ter conhecido o trabalho do Dammnatorum, “In Umbra Mortis” (2023), entre outras bandas oriunda deste nobre país. E se você é adepto da sonoridade de bandas do calibre de Vader, Hate e Behemoth, siga o caminho da “não-luz” e adentre às profundezas da caverna sangrenta do Death Metal feito na Polônia! Sendo assim, comece pelo Embrional e se torne mais um embrião dessa desgraça sonora (no melhor dos sentidos)!
nota: 9,0
Formação:
- Skullripper (guitarra, vocal)
- Armagog (baixo)
- Chłosta (guitarra)
- Młody (bateria)
Faixas:
1. Choirs of Apocalypse (intro)
2. The World Deserves Self-Destruction
3. Inspiration to Slay
4. Seduced by the Lies
5. Lies of God
6. The Shrine of Collapse
7. Suicide Journey
8. Purified by Death
9. Sadistic Desire
10. Extinction (outro)
11. Obliteration Rites