“Cerberus” é o segundo álbum da banda catarinense de Thrash/Death Metal, Matricidium, lançado no dia 15 de março, de forma independente. O registro vem oito anos após seu debut, “Rise To Army”, lançado em 2012.
É de encher o peito de orgulho, saber que o Metal tupiniquim é muito bem representado e extremamente produtivo, apesar de polarizações esdrúxulas e a triste desvalorização. E desde o seu registro de estreia, o Matricidium vem representando paulatinamente a nossa querida bandeira de “desordem e retrocesso”, com muita eficiência.

Fundada nos confins de Balneário Camboriú, no longínquo ano de 2004, a banda, liderada por Michel Johann, pode ser definida a principio como uma amalgama muito eficiente de Thrash e Groove, porém existe muito Death Metal na entranhas deste Power trio, evidenciada em momentos de específicos. Aliás, vamos desde já deixar bem claro aqui, o relatório oficial sobre os responsáveis por tão devastação sonora. No Vocal e guitarra temos o patrão já mencionado, Sr. Johann, que fica a cargo dos guturais e dos riffs “Panterosos”, sendo a cabeça central do cão de multiplicas cabeças. Sr. Michael Carvalho fica a cargo do fazedor de graves, num desempenho impressionante, que só alguém que conhece bem as nuances de seu instrumento consegue alcançar, e ocupando a cabeça direita do guardião dos portões de Hades. E por último, porém não menos importante, aquele que ao ver é o destaque incontestável desse registro, Sr. Mathias Sani, responsável pelas baquetas. Não apenas pela mixagem magistral da bateria no resultado final do álbum, mas pelo desempenho um tanto fora da caixa do Sr. Mathias, eu diria, que mescla várias levadas e ritmos já estabelecidos desde os primórdios do Metal, porém de maneira muitíssimo criativa e instigante, ocupando a cabeça esquerda do filho de Tífon e Equídna.

Dando inicio a nossa jornada pelo portões do Tártaro, nos deparamos com “Cerberus”, o monstruoso demônio do poço, devorador dos corpos condenados no reino subterrâneo. “Cerberus/Três é maior que quatro.” A faixa que abre o registro é marcada por linhas de baixo fantásticas e melancólicas, desde os primeiros segundos da audição. “Crash Test Dummy” derruba de vez os portões de Hades, destruindo tudo pelo caminho, naquele típico som “riff oriented”. É só porrada e batucada, destaque pro desempenho do patrão na composição dos riffs aqui. Em “War Never Changes” é onde começamos a ouvir de fato o trabalho em conjunto do power trio, a introdução da faixa é o momento onde os três abrilhantam o registro. Chegamos então na quarta faixa do registro, “Sisters of Destruction”, na qual o monstruoso Mathias Sani se destaca na bateria, dando uma atmosfera totalmente diferente pra faixa ritmicamente, fugindo da mediocridade. “Procurando por um monstro? / Apenas se olhe no espelho / A redenção virá com o tempo.”
“Sisters of Destruction”:
Seguindo no rastro de sangue deixado pela antecessora, “D.I.E” segue na mesma levada, porém muito mais agressiva, flertando de vez com o Death Metal, sem perder a essência do Groove, que é a sonoridade mãe que rege a banda. A partir de “Into the Void” se inicia a segunda metade do registro, mais agressiva e marcada por riffs sinistros, vocais mais intensos e uma cozinha pra ninguém botar defeito. Ouvintes advertidos, damos continuidade com a sétima faixa do passeio pelo Tártaro, intitulada “One of Us”, onde vai ficando cada vez mais difícil especificar apenas um aspecto que se destaca, porém dessa vez não posso deixar de louvar o desempenho vocal aqui, toda a raiva e violência impostada na voz do Sr. Johann é sentida com muita verdade na audição. “Symbiotic” tem uma das composições líricas mais legais e interessantes da obra, onde é descrita uma relação de simbiose, uma associação íntima entre dois seres vivendo como um só, se aproveitando das vantagens da união de dois organismos. Se aproximando dos momentos derradeiros, enquanto o cão de três cabeças está distraído despedaçando os corpos dos mortais que vagam pelo reino dos mortos, temos a continuação do single lançado no ano de 2017, “The Beating Never Stops II”, e para aqueles que não acompanham a banda, digamos a que primeira parte da “batucada não para nunca” é mais intensa e insana, porém cheia de mudanças de tempo e melodias complexas. Já parte II, é um tanto mais madura, mas não menos devastadora, e de bônus temos um breve, porém absurdo e genial solo de bateria, cortesia do já supracitado, Sr. Sani.
Creio que não tinha forma melhor de encerrar a jornada pelo reino de Hades, do que com “The Face of Hellucination”, talvez a melhor do registro. Apesar de ser em sua maior parte uma música cadenciada e pesada, tem certas nuances nela que vão aparecendo conforme o ouvinte vai escutando, mais precisamente na transição da metade do registro, que serve como uma mediadora entre o inicio e o fim da faixa, introduzindo um instrumental mais calmo e intrigante que vai crescendo aos poucos, até desaguar nos minutos finais. “O seu peito está comprimido com mentiras / Na qual você veste tentando se esconder da vergonha.”
Para concluir o pergaminho da matança, vamos novamente exaltar o quanto o Metal nacional é rico há muito tempo, como existem bandas e artistas tão dedicados á musica pesada, quanto qualquer outro artista e bandas fora do país, que por vezes são imensamente mais exaltados. Dito isso, o Matricidium tem muita lenha pra queimar ainda, estamos diante de um dos melhores lançamentos de Thrash Metal do ano de 2021, um daqueles álbuns que você sente a dedicação e a garra por trás das músicas, e estou aqui no aguardo de algo tão bom quanto ou no mesmo nível de “Cerberus” futuramente.
Nota:8,9
Integrantes:
- Michel Johann (guitarra, vocal)
- Michael Carvalho (baixo)
- Mathias Sani (bateria)
Faixas:
- 1.Cerberus
- 2.Crash Test Dummy
- 3.War Never Changes
- 4.Sisters of Destruction
- 5.D.I.E
- 6.Into The Void
- 7.One of Us
- 8.Symbiotic
- 9.The Beating Never Stops II
- 10. The Face Hellucination
Redigido por: Vaz
Salveee! Mathias por aqui! Muito obrigado pela resenha, pelo reconhecimento e pelos feedbacks! Grande abraço! 🙏🎼🥁